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segunda-feira, março 30, 2009

Eu não Quero o Presente, Quero a Realidade

Vive, dizes, no presente,
Vive só no presente.
Mas eu não quero o presente,
quero a realidade;
Quero as cousas que existem,
não o tempo que as mede.
O que é o presente?
É uma cousa relativa ao passado e ao futuro.
É uma cousa que existe
em virtude de outras cousas existirem.
Eu quero só a realidade, as cousas sem presente.
Não quero incluir o tempo no meu esquema.
Não quero pensar nas cousas como presentes;
quero pensar nelas como cousas.
Não quero separá-las de si próprias,
tratando-as por presentes.
Eu nem por reais as devia tratar.
Eu não as devia tratar por nada.
Eu devia vê-las, apenas vê-las;
Vê-las até não poder pensar nelas,
Vê-las sem tempo, nem espaço,
Ver podendo dispensar tudo
menos o que se vê.
É esta a ciência de ver, que não é nenhuma.


Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"

1 comentário:

dinamene disse...

Lindíssimo poema … Não conhecia, deliciei-me ao lê-lo!
E que grande sabedoria do autor!

Citando Osho:

“O passado já se foi e o futuro ainda não chegou: ambos estão a movimentar-se em direcções que não existem. Um existia, mas não existe mais, e o outro nem sequer começou a existir ainda.
A pessoa equilibrada é a que vive momento a momento, cuja atenção está voltada para o momento presente, que sempre está aqui e agora.
Onde quer que ela se encontre, toda a sua consciência, todo o seu ser está envolvido na realidade do aqui e na realidade do agora. Essa é a única direcção certa.”