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sexta-feira, agosto 28, 2009

Nunca nos separamos do primeiro amor

in: http://olhares.aeiou.pt/clones_foto2595704.html


Já o disse em Hiroshima Mon Amour: o que conta não é a manifestação do desejo, da tentativa amorosa. O que conta é o inferno da história única. Nada a substitui, nem uma segunda história. Nem a mentira. Nada. Quanto mais a provocamos, mais ela foge.

Amar é amar alguém. Não há um múltiplo da vida que possa ser vivido. Todas as primeiras histórias de amor se quebram e depois é essa história que transportamos para as outras histórias.
Quando se viveu um amor com alguém, fica-se marcado para sempre e depois transporta-se essa história de pessoa a pessoa. Nunca nos separamos dele. Não podemos evitar a unicidade, a fidelidade, como se fossemos, só nós, o nosso próprio cosmo.
Amar toda a gente, como proclamam algumas pessoas e os cristãos, é embuste. Essas coisas não passam de mentiras. Só se ama uma pessoa de cada vez. Nunca duas ao mesmo tempo.

Marguerite Duras, in "Mundo Exterior "

quarta-feira, agosto 26, 2009

Coisas que se pensam quando qualquer outra coisa seria menos inútil

London 2009
Foto:G.Ludovice


Existem tons que são como pensamentos dos olhos, podem ser usados com sentires que se despem como poemas que se deixam à laia de roupa ao fim do dia num canto, que sabemos nosso.

Planta Betadine


Chelidonium majus

Já ouviram falar da planta-betadine?
Também conhecida por erva andorinha, erva leiteira , erva das verrugas, celidónia, cedronha, cerudia, quelidónia, ceredona, ceruda.etc…

Pois eu nunca tinha ouvido falar, até esta há dias, quando ao ver uma pequena queimadura pintada de “betadine” no braço de uma vizinha comentei: "Já se magoou?" E Ela disse-me ” Queimei-me e pus planta betadine, boa para as feridas” Eu, admirada, perguntei-lhe de que se tratava e lá me “apresentou” a planta do betadine (segundo ela) e mostrou-me, arrancando uma folha, como deitava a cor do betadine ao esfregar na pele...

Achei curiosa e cómica a terminologia…. A mistura das tradições antigas e tratamentos naturais com os medicamentos modernos (a planta existia antes do nome betadine, com certeza)…
Obviamente não é dali que tiram o betadine (com iodo na composição), em comum devem ter apenas a cor.

Por isso, fui pesquisar na net e aí vai um pouco do que li:

Propriedades medicinais:

- As folhas esmagadas e o líquido que deita, da cor da betadine e aplicado nas feridas dizem ter poderes cicatrizantes.
- Nos meios rurais, esta planta é conhecida como erva-das-verrugas, pois o seu suco cáustico faz desaparecer estas excrescências. Contudo, esta planta não é inofensiva, pois contém alcalóides tóxicos, pelo que é altamente desaconselhável ingerir a planta seca ou fresca, excepto por prescrição médica. Os homeopatas utilizam a sua raiz.

Floração: De Março a Setembro

Distribuição: Frequente em quase todo o país.

Curiosidades:
O seu nome “erva – andorinha” deriva da palavra grega chelidôn, andorinha, pois a planta floresce na época da sua migração.

segunda-feira, agosto 24, 2009

Felicidades Turyma!


Não Sou o Único

Pensas que eu sou um caso isolado
Não sou o único a olhar o céu
A ver os sonhos partirem
À espera que algo aconteça
A despejar a minha raiva
A viver as emoções
A desejar o que não tive
Agarrado às tentações

E quando as nuvens partirem
O céu azul brilhará
E quando as trevas abrirem
Vais ver, o sol brilhará
Vais ver, o sol brilhará

Não, não sou o único
Não, sou o único a olhar o céu
Não, não sou o único
Não, sou o único a olhar o céu

Pensas que eu sou um caso isolado
Não sou o único a olhar o céu
A ouvir os conselhos dos outros
E sempre a cair nos buracos
A desejar o que não tive
Agarrado ao que não tenho

Não, não sou o único
Não sou o único a olhar o céu
E quando as nuvens partirem
O céu azul ficará
E quando as trevas abrirem
Vais ver, o sol brilhará
Vais ver, o sol brilhará

Xutos e Pontapés

domingo, agosto 23, 2009

Coisas de Mãe....


Outro dia, ao entardecer, ao passar numa rua quase deserta, vi uma senhora, velhota, muito pequenina (para aí metade do meu tamanho!?), muitas rugas na cara franzida, muito branco o cabelo curto, o corpito redondo vestido de negro, a andar para cá e para lá (espreitando um terreno e um portão) como se procurasse alguém…. Sensibilizou a figura frágil e irrequieta pelo que lhe perguntei o que procurava…
Então, ela olhou-me com os seu olhitos muito azuis e aguados e disse-me numa voz trémula, melodiosa e muito baixinha: “Sim, procuro o meu filho. Importa-se de espreitar para ver se ele está ali ao fundo?”
Muito para lá do portão, quase perto do horizonte, havia uma casa e espreitei, não vendo ninguém. Ela, aflita, disse-me “Estou preocupada, já chamei e ele não responde. Eu trouxe-lhe o jantar porque é hora dele comer!”…
Pareceu-me tão estranha a situação que ainda pensei se a senhora não estaria a inventar um “filho” e sugeri:
"Vá para casa descansar, que ele aparece".
E ela, enervada: “Não, querida, ele já devia ter comido”
"Que idade terá o filho?"
– passava-me pela cabeça… Entretanto, lá apareceu ao fundo, perto da casa, um matulão ( que devia ter, mais que eu, a metade de tamanho que faltava à mãe para ser da minha altura), encorpado, que caminhava na nossa direcção…
Resolvi ir embora, visto que o problema se resolvia… Ainda ouvi a senhora para o filho naquela voz ternurenta, mimosa, trémula : “Então não respondias, estava tão preocupada. Qualquer dia dá-me uma coisa. Trouxe-te água, arroz, pão….” E o resto já não ouvi.

Coisas de mãe, sem dúvida. Aquele matulão é que já tinha corpinho para cuidar da mãe, coitadinha… Enfim, é a natureza da mulher-mãe que não a deixa tirar os olhos dos seus rebentos, mesmo que já voem, muito além de onde a vista pode alcançar!
Dinamene

sábado, agosto 22, 2009

Curiosidades estéticas

Poetry
Alphonse Mucha

O mais importante na vida
É ser-se criador - criar beleza.
Para isso,
É necessário pressenti-la
Aonde os nossos olhos não a virem.

Eu creio que sonhar o impossível
É como que ouvir uma voz de alguma coisa
Que pede existência e que nos chama de longe.

Sim, o mais importante na vida
É ser-se criador.
E para o impossível
Só devemos caminhar de olhos fechados
Como a fé e como o amor.

António Botto, As Canções de António Botto

quinta-feira, agosto 20, 2009

Encontro

in: http://olhares.aeiou.pt/geracoes_foto2303266.html
Se a vires,
diz-lhe que invento
sítios onde a revejo,
episódios que reinvento,
linhas de rosto esbatidas,
do tempo de ampla visão.

Se a ouvires,
alberga as suas palavras,
memoriza-as tal e qual,
e trá-las até mim,
para que eu entenda,
a presença em ausência.

Se a abraçares,
repara na sua beleza,
no seu sorriso sereno,
na sua vontade de amar,
no seu quê de doçura,
na brandura do seu gesto.

E vem...
Traz o brilho do seu olhar,
para que eu o alcance,
e faça dele, o meu serenar.

maria eduarda

terça-feira, agosto 18, 2009

Reagir

Às vezes vive-se embalado em vácuo, sem inércia, quase inanimado. Basta um pequeno sinal, e o invólucro rompe. Sai-se delirante, ofegante, pronto de braços e pernas, esbracejando, esperneando.

Liberto de sufoco, todo o chão é pouco para percorrer a liberdade e sorver a vida.

maria eduarda

segunda-feira, agosto 17, 2009

As iniciais do meu nome desenhadas pela Gabi


Thank you for visiting the Victoria & Albert Museum on 17/08/2009. Attached is the monogram that you designed during your visit to the British Galleries.We hope you enjoyed your time at the V&A and that you will visit us again.
Obrigada amiga!

sábado, agosto 15, 2009

Coisas que se pensam quando qualquer outra coisa seria menos inútil

Praga 2009
foto:G.Ludovice

Angustia-me que a minha memória me use como uma sala, que toda tenha decorado de ti.


Devo caminhar-te como um princípio deserto de sinais e abundante em hesitações, de modo a que possa abismar-me ao ainda tactear-te no vazio e que sejas afinal tu que me encontres, porque apenas te sei como num sonho.

sexta-feira, agosto 14, 2009

Morre lentamente...




Morre lentamente quem não viaja,
Quem não lê,
Quem não ouve música,
Quem destrói o seu amor-próprio,
Quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito,
Repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
Quem não muda as marcas no supermercado,
não arrisca vestir uma cor nova,
não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem evita uma paixão,
Quem prefere O "preto no branco"
E os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis,
Justamente as que resgatam brilho nos olhos,
Sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
Quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
Quem não se permite,
Uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte
ou da Chuva incessante,
Desistindo de um projecto antes de iniciá-lo,
não perguntando sobre um assunto que desconhece
E não respondendo quando lhe indagam o que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves,
Recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior
do que o Simples acto de respirar.
Estejamos vivos, então!

Martha Medeiros

quinta-feira, agosto 13, 2009

Refúgio

Permanece aí,

ao alcance de um chamamento,

no desnortear de um lamento,

no enebriar de um sonho.

Traça o local,

para que o veja,

quando me dispersar,

e me abarcar em ti.

Alcança-me então,

no refúgio da tua mão.

maria eduarda

quarta-feira, agosto 12, 2009

Deambular

Evening On Canal Str...
Diane Millsap

Desço a rua deserta, plena em mim de multidões, ávidas de deambular. Prossigo sem freios, respiro todos os aromas, desinquieto-me, abasteço-me de cores e formas diversas.

Subo a rua, já liberta de multidões, que cansadas, se retiraram de mim, na procura de alguém, cioso de não ter saída.
maria eduarda

A criação do Mundo

No início era o caos. O céu e a terra eram como a clara e a gema do ovo. Então nasceu Pan-Kou, o primeiro homem, que deu forma ao céu e à terra. O céu ele fez das coisas claras e brilhantes, e da escuridão e da impureza a terra. Pan-Kou se transfigurava nove vezes por dia, e a cada dia o céu e a terra se elevavam dez pés. No final de sua vida, que durou dezoito mil anos, o céu estava muito alto e a terra muito densa. Então, Pan-Kou chorou. E do caudal de suas lágrimas fizeram-se o Hoang-Ho e o Iang-Tse, o rio das águas amarelas e o rio das águas azuis; ele respirou e o vento soprou; falou e ouviu-se o trovão; olhou à sua volta e de seus olhos surgiram raios. Se Pan-Kou estava alegre, o tempo era ameno; se estava enfurecido, o tempo era escuro e nublado. Quando morreu, seu corpo se desfez em pedaços e deles se formaram as Cinco Montanhas Sagradas da China. Seus olhos transformaram-se no sol e na lua; sua carne se fundiu em mares e rios, e seus cabelos penetraram no chão e formaram raízes, cobrindo a terra de plantas.

Mito tradicional chinês

domingo, agosto 09, 2009

Dispersão

A minha sombra dispersa-se,
já não me acompanha
colada ao ser que sou.
Com ela tenho caminhado,
sem ela sou inacabado,
na procura da silhueta,
que não sendo só eu,
é outrem
que de mim se descolou,
e de mim se desvia.
Deverei segui-la,
ou por fim aguardar
que se perfile em mim?

maria eduarda

sábado, agosto 08, 2009

As festivaleiras

A música é o verbo do futuro
Victor Hugo

sexta-feira, agosto 07, 2009

Gerações


Concerto "Rock One" - Portimão
05.08.09

Cantar, dançar,
em sintonia, na música,
vibração contínua,
neste entusiasmo sentido.
Gerações,
no gosto ondeante do som,
numa noite desigual,
de diferente, quase irreal.
Sons que as unem,
esses do Concerto,
outros se mesclam
no afecto, na afeição,
no sentir, dedicação!

maria eduarda

quinta-feira, agosto 06, 2009

A gargalhada é um

tranquilizante sem efeitos secundários.

Arnold. H. Glasow

quarta-feira, agosto 05, 2009




Confiança


O que é bonito neste mundo, e anima,

É ver que na vindima

De cada sonho

Fica a cepa a sonhar outra aventura...

E que a doçura

Que se não prova

Se transfigura

Numa doçura

Muito mais pura

E muito mais nova...



Miguel Torga

terça-feira, agosto 04, 2009


Ter um destino

é não caber no berço onde o corpo nasceu,

e transpor as fronteiras uma a uma e morrer sem nenhuma.



Miguel Torga

segunda-feira, agosto 03, 2009


"O beijo é uma forma de diálogo."

George Sand

domingo, agosto 02, 2009

Existes

Não me despeço de ti, estás na brisa que vem de mansinho e me refresca a memória e o olhar. Dir-te-ei adeus, em dia parado de vontade, de fala, e de aragem, que não te leva o meu dizer, quando nada mais houver para partilhar.

maria eduarda

sábado, agosto 01, 2009

Carta de Fernando Nobre

Sexta-feira, 31 de Julho de 2009
Meus amigos,

(...) quero deixar aqui algumas reflexões sobre o que vi durante a minha última estadia no Bangladesh, que terminou há dias. Nos últimos dez anos, foi a terceira vez que fui ao Bangladesh, cuja capital Dhaka (floresta) foi fundada por padres portugueses no sec. XVII e onde ainda hoje continuam a morrer habitantes, de uma minoria católica, com apelidos portugueses: Albergaria, Soares, Costa…

O objectivo desta viagem foi o de contactar uma ONG local em Jessore, uns 280Km para sul de Dhaka, para financiarmos projectos que aprovei, nas áreas da saúde e educação, e tomar contacto com a realidade das tragédias repetitivas que ocorrem no delta do Ganges.

Os bengalis do Bangladesh são o mesmo povo que habita o estado indiano do West Bengal, que tem como capital Calcutá, onde já estive muitas vezes. Com a densidade populacional que tem (é como se Portugal tivesse 100 milhões de habitantes), qualquer tragédia climática, como tem acontecido em crescendo nas últimas duas décadas no delta do Ganges (maioritariamente situado no Bangladesh), afecta centenas de milhares ou milhões de pessoas nesse país. Até há duas ou três décadas havia, em média, um ciclone que fustigava o Golfo de Bengal com efeitos temíveis no delta do Ganges, todos os 7 a 10 anos.

Desde 1991 (ano em que um ciclone matou nesse delta mais de 200 000 pessoas) que os ciclones, como os furacões no Golfo do México, mercê das gravíssimas e aceleradas alterações climáticas em curso, fustigam o Golfo de Bengala, 2 a 3 vezes por ano. O último foi em Maio do corrente ano e foi isso que me levou aos dois distritos de delta (Satkhira e Khulna). Foram dias intensos de carro, estradas perigosíssimas com autocarros bailarinos lançados que nem mísseis, de travessias de jangadas, de barcos, de canoas…

O delta continua gravemente submerso, afectando profundamente a vida de muitas dezenas de milhares de pessoas que vivem em situações de insalubridade e de precariedade inimagináveis, amontoados em tugúrios, frágeis e instáveis, ao longo dos caminhos-estradas, os pontos mais altos que circundam os campos, hoje imensos lagos ou mares… As latrinas, múltiplas, à beira das águas correm directamente para as mesmas, salobras e extremamente poluídas mas de onde se bebe…

Não espanta que 80% das enfermidades tenham a ver com essa água infecta! Essas populações precisam de tudo embora ainda alguns consigam apanhar uns peixitos, que comem, e alguns camarões para venda. Precisam de água potável, comida, assistência médica, abrigos, saneamento básico (latrinas estanques) embora o espaço para tal seja milimétrico… Como sempre os três elos mais fracos dessa cadeia humana, toda flagelada, são as crianças, as mulheres, os idosos… seres humanos como nós!... caso alguém tenha esquecido, ou finja não ver, que eles são seres humanos como nós…

Perante tudo o que vi, e após conversas com as autoridades locais das comunidades afectadas em Satkhira, decidi que a AMI vai financiar a construção e apetrecho (equipamento, medicamentos, médico e enfermeiro locais) de um hospital rural com 10 camas, no ponto mais alto possível e com estrutura para resistir a cheias e furacões, e a sanitação (clorificação da água e latrinas). É pouco, mas é o que podemos fazer. Para os pseudo-cientistas, sem ética nem coluna vertebral, que insistem em dizer e escrever que as alterações climáticas são um mito proponho-lhes, se tiverem coragem, uma viagem ao delta do Ganges no Bangladesh.

O futuro será bem pior: degelo progressivo também dos Himalaias (origem do Ganges, Rio Amarelo…) e subida do nível das águas dos oceanos… Ainda mais dramático: centenas de milhões de pessoas serão afectadas ou mortas, em regiões e países densamente povoados e financeira e tecnologicamente frágeis, que não podem já construir os diques, como os meus familiares holandeses…

Desculpem-me: vou continuar a gritar!
Até breve!

Texto integral no blog de Fernando Nobre (o autor)
London, Camden 2009


O fim da viagem é apenas o começo doutra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no Verão, ver de dia o que se viu de noite, com sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já.» José Saramago.