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quarta-feira, junho 18, 2008

Os outros


- Consideram-no uma pessoa céptica ou pessimista. Revê-se nisso?

J.Saramago - Não sou uma espécie de narciso que se vê ao espelho e diz "olha que bom, que pessimista que tu és". Parece que o que é bom é ser optimista. Mesmo que não haja nenhuma razão para isso. Há pessoas que têm razões para estarem contentíssimas com o mundo, têm tudo o que querem.

- O que é que lhe falta?

J.Saramago - Não me falta nada. Mas eu não sou um exemplo do que é viver neste mundo. Sou um privilegiado. Mas não posso estar contente. O mundo é o inferno. Não vale a pena ameaçarem-nos com outro inferno porque já estamos nele. A questão é saber como é que saímos dele.

quinta-feira, junho 12, 2008

Escolha ou destino?



O maior sonho de Eliane Araujoh era conhecer Richard Bach. Dedicou-lhe um livro com a intenção de que, um dia, ele soubesse que, no Brasil, existia alguém que partilhava e amava as suas ideias.
Enviou o livro para a editora em Março/2000 e, um mês depois, por "coincidências" da vida, estava a entrevistar Richard Bach em São Paulo, numa entrevista exclusiva, que durou uma hora.
Aqui está a entrevista, ainda que no português do Brasil. Vale a pena!!!
- Como surgiu a inspiração para escrever o livro "Fernão Capelo Gaivota"?
Richard Bach - Temos muitos níveis dentro de nós. Esta história foi-me dada por um desses níveis. Cada um tem uma história para contar. Eu estava procurando quem eu era e a história apareceu para mim como um filme diante de meus olhos. Eu vi o filme brilhante e escrevi tão rápido quanto pude, mas num determinado momento o filme parou e uma parede estava em minha frente. Foi como este nível tentasse dizer que eu não estava inventando esta história, que esta história não era minha. Ela estava sendo dada para mim por alguém. É como se eu ouvisse: "Se você acredita que você está inventando esta história, tente terminá-la." Eu não podia, eu não conseguia terminar. Oito anos depois, muito longe de onde eu estava, quando a história foi me dada pela primeira vez, às 5 horas da manhã, eu acordei. Havia tido um sonho que era o final desta história. Acordei, fui até a máquina de escrever, escrevi o final e pensei: "Isto é o que acontece! Este é o final da história!". Tive de encontrar este presente sozinho (o final da história) para depois poder compartilhar com outras pessoas, com outras gaivotas.
- Qual foi a obra que você mais gostou de escrever?
Richard Bach - Cada história tem um tempo e um lugar. Cada uma tem um presente para dar. Cada escritor tem que pensar: "Qual é a magia que nos chama a escrever estas histórias?". Quando ele escreve, fica contente com ele mesmo, e o produto desta felicidade é também compartilhar este presente com outras pessoas que têm as mesmas ideias. Quando os escritores escrevem, escrevem suas aventuras. E há pessoas que compartilham estas aventuras com eles quando lêem o que foi escrito. Cada uma das histórias que eu escrevi é uma aventura que eu vivi, seja em ficção ou não, verdade ou não. E eu compartilho estas aventuras com pessoas que têm as mesmas ideias que eu.
- Em seu livro "Um" você fala de suas experiências fora do corpo e da busca da espiritualidade. Como você sente a espiritualidade em sua vida?
Richard Bach - Há uma família que está espalhada por todo o mundo, que tem uma curiosidade de saber que há algo mais além do mundo que podemos ver. Tem que haver algo mais. Esta curiosidade é a espiritualidade, a busca. Somos criaturas de espírito, amor e luz. A minha experiência pessoal é saber que no mundo há mais do que podemos ver. Eu só tive experiências fora do corpo duas ou três vezes. Experiências de felicidade, de não necessitar do corpo para expressar vida. Somos mais que o nosso corpo. Esta experiência não é algo que eu possa controlar. Eu não posso fazer isso quando quero. Aconteceu e eu não sei como e porque, mas aconteceu. Com isso eu pude experimentar o que é não necessitar do corpo. Voar é outro meio de eu buscar a espiritualidade e de entender que há mais no mundo do que isso que vemos. Voar é uma metáfora. Temos que confiar naquilo que nós não podemos ver. Ao voar, eu sei que não posso levantar o avião sozinho, mas consigo voar. Eu aprendi que há um princípio de aerodinâmica. Nós, pilotos, não podemos ver este princípio de aerodinâmica, mas nós confiamos nele. As pessoas que voam, confiam neste princípio. Quanto mais confiamos, mais sentimos liberdade, felicidade e temos uma perspectiva maior daquilo que somos.
- Por favor, uma mensagem para o Brasil.
Richard Bach - Estou muito feliz, embora não entenda uma palavra de português, estou muito feliz de poder estar aqui. Porque esta é a comprovação de que há pessoas em todo mundo que compartilham das mesmas ideias, que sorriem das mesmas coisas, que choram pelas mesmas coisas e gostam das mesmas coisas. Possuem as mesmas ideias. Estas pessoas podem estar separadas fisicamente, mas estão conectadas espiritualmente. Estas pessoas são parte da mesma família. Fico muito feliz em saber que não estou só, e que aqui, como em todo mundo, há pessoas que pensam a mesma coisa que eu. E para todos aqueles que se sentem deslocados, fora do mundo, saibam que não estão só. Há pessoas em todo o mundo que tem a mesma sensação. Somos todos parte de uma mesma família espiritual, todos conectados.

sexta-feira, maio 30, 2008

Alberto Manguel

O escritor argentino-canadense Alberto Manguel gostava tanto de ler, que queria "viver entre livros". Aos completar 16 anos foi trabalhar numa livraria em Buenos Aires onde conheceu o escritor Jorge Luís Borges, que já sofria com a cegueira. Borges disse-lhe que precisava de alguém que lesse para ele. Durante dois anos, Manguel encarregou-se da tarefa e leu para o grande escritor.
No livro "Uma História da Leitura", o autor intercala dados e relatos curiosos com sua própria experiência de rato de biblioteca. O autor prende a atenção do leitor ao informar que, nos primórdios da civilização letrada, os textos eram gravados em tabuletas de argila (como na Mesopotâmia do século 12 a.c.) e ao contar a história de um grão-vizir da Pérsia que carregava a sua biblioteca sempre que viajava. O extravagante persa enfileirava os livros em 400 camelos, treinados para andar em ordem alfabética!
Alberto Manguel começa o seu livro mais recente, "A Biblioteca à Noite", com uma confissão:
“Quando eu era adolescente queria ser bibliotecário.”
E numa entrevista declara:
“Sim, eu falo sempre sobre o mesmo assunto.”
Não é muito comum um autor admitir ser monotemático. O tal assunto de que ele trata sempre nos seus livros é, justamente, o mundo dos livros. Autor de "Os Livros e os Dias", o escritor desenvolve agora uma reflexão que começou dentro do seu quarto de trabalho, numa pequena colina ao sul do rio Loire, em França. Ali, num edifício construído inicialmente para ser um celeiro, no século XV, Manguel montou a sua biblioteca particular e a ela passou a fazer dificílimas perguntas, como por exemplo
“Para que servem, afinal, os livros?"
Excerto de uma entrevista que lhe fizeram:
Por que bibliotecas?
“De onde vem o nosso optimismo de pensar que algo tão caótico como o universo pode ter a ordem que os livros pretendem dar-lhe? Nós acreditamos que os livros contêm o que sabemos sobre o mundo. Mas o que sabemos é que ele não tem sentido e que a ordem do universo é, para nós, equivalente ao caos. Então por que continuamos a ler e a escrever livros?
Segundo sua explicação, as bibliotecas funcionariam como uma defesa inconsciente do homem diante do caos do conhecimento.
"Sim e, além disso, uma defesa contra o esquecimento. A biblioteca que nos parece organizada também é um caos. É um caos no qual, às vezes, podemos suspeitar que existe uma ordem.”
Você diz que os escritores são uma espécie de subespécie de leitores. O leitor ocupa para você um posto mais elevado na literatura?
"É claro! Um escritor escreve o seu livro e quer que ele seja lido. Pensa que esse livro tem um certo conteúdo, uma certa importância, mas, no final, são os leitores que decidem algo que esse escritor não pode suspeitar. Essencialmente, é o leitor quem decide o que é o livro, se esse livro vai sobreviver e, ainda, se esse escritor vai sobreviver. Todo escritor quer ser um clássico. Mas os leitores são impiedosos e decidem que só uma pequeníssima parte dos que escrevem serão recordados. O poder do leitor é imenso."
Jorge Luiz Borges, de quem você foi secretário particular, tinha uma obsessão com a ideia de como seria possível ordenar o conhecimento. Isso influenciou-o?
“A forma de pensar de Borges sobre esse tema é muito antiga, mas ele foi quem melhor o concretizou até hoje. Esse tipo de pensamento que permite uma grande liberdade e uma grande generosidade aos sistemas de pensamento é também muito antigo.”