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sexta-feira, agosto 13, 2010

Louvor a uma bombeira

Josefa, 21 anos, a viver com a mãe. Estudante de Engenharia Biomédica, trabalhadora de supermercado em part-time e bombeira voluntária. Acumulava trabalhos e não cargos - e essa pode ser uma primeira explicação para a não conhecermos. Afinal, um jovem daqueles que frequentamos nas revistas de consultório, arranja forma de chamar os holofotes. Se é futebolista, pinta o cabelo de cores impossíveis; se é cantora, mostra o futebolista com quem namora; e se quer ser mesmo importante, é mandatário de juventude. Não entra é na cabeça de uma jovem dispersar-se em ninharias acumuladas: um curso no Porto, caixeirinha em Santa Maria da Feira e bombeira de Verão. Daí não a conhecermos, à Josefa. Chegava-lhe, talvez, que um colega mais experiente dissesse dela: "Ela era das poucas pessoas com que um gajo sabia que podia contar nas piores alturas." Enfim, 15 minutos de fama só se ocorresse um azar... Aconteceu: anteontem, Josefa morreu em Monte Mêda, Gondomar, cercada das chamas dos outros que foi apagar de graça. A morte de uma jovem é sempre uma coisa tão enorme para os seus que, evidentemente, nem trato aqui. Interessa-me, na Josefa, relevar o que ela nos disse: que há miúdos de 21 anos que são estudantes e trabalhadores e bombeiros, sem nós sabermos. Como é possível, nos dias comuns e não de tragédia, não ouvirmos falar das Josefas que são o sal da nossa terra?

Por FERREIRA FERNANDES, Diário de Notícias

sábado, junho 19, 2010

Da desilusão

A desilusão instala-se sofredora, quando era suposto que o que se cria real, verdadeiro, se assume agora como uma ilusão.

E a verdade é ter consciência de que estamos aqui de passagem, na passagem para um fim, para uns, nem tanto, para outros, derradeiro.

E quando o silêncio é uma arma que destrói a ponte, que julgávamos de partilha, bem alicerçada, acreditamos então que tudo é afinal ilusão, ou então, iludiram-nos na verdade que alimentávamos dentro de nós .

maria eduarda

quinta-feira, junho 03, 2010

O psicólogo


Há muito tempo que não via a Lurdes, minha antiga colega de faculdade. Daí a gargalhada de ambas quando esbarrámos no café, e lá abancámos diante de uma bica, a pôr a vida em dia. Saltaram as fotografias da carteira, e o relato fatal das gracinhas infantis.
É então que ela me diz, apontando para a cara risonha do seu neto de três anos, "este até já anda no psicólogo". Eu fiquei sem saber o que dizer, tanto mais que a Lurdes falara com um indisfarçável orgulho na voz, assim como se dissesse, "este já anda no judo e é cinturão negro".
Que eu soubesse não tinha havido revolução de maior na vida da criança, nem pais separados, nem um novo irmão, nem nenhum morto, mas a Lurdes, com um sorriso condescendente, lá explicou que o recurso ao psicólogo se devia ao facto de a criança ir entrar agora pela primeira vez para a escola infantil: "Eventualmente poderá haver um problema de rejeição da escola, e é preciso tratar." Ainda perguntei por que não eram os pais a ocupar-se disso - mas logo a Lurdes disse que nem pensar, porque os pais não tinham "preparação técnica".
E pronto. Lá vai a criança, de três anos de idade, todas as semanas ao psicólogo, que a ajuda a resolver um problema que muito possivelmente ela nem nunca terá. Ou seja: que lhe dirá (espero...) aquilo que nós todos dizemos às nossas crianças em alturas semelhantes: vais gostar muito de brincar com os outros meninos, vais aprender muitos jogos, e muitas cantigas, etc.,etc...
Mas hoje os pais já quase não sabem falar ou brincar com as crianças. Pensam que brincar é uma coisa que só se faz diante de um ecrã. Brincar com uma criança é, cada vez mais, pô-las a ver televisão, ou atirar-lhes com um computador para que fiquem horas a fazer jogos.
E não há nada mais triste do que uma pessoa que não sabe conversar nem brincar com uma criança.
Uma pessoa que olha para uma criança como se ela fosse um país estrangeiro. Um país inimigo.
Por isso, despeço-me da Lurdes e chego a casa estupidamente cheia de saudades da minha mesa da casa de jantar, que range mal se lhe toca, que tem a tábua do meio partida e as pernas desengonçadas - mas que os meus filhos me proíbem de substituir, porque foi nela que o pai os ensinou a jogar ping-pong; e nem me importo com os buracos ainda visíveis na parede ao fundo do corredor, do tempo em que lá estava pregado um cesto de basquete onde todos exercitavam a pontaria; e lembro a choradeira que foi no dia em que decidimos lavar a parede do quarto do meu filho (o rapaz já tinha entrado na faculdade!) onde ele e o pai escreviam todas as coisas que queriam dizer um ao outro e às vezes não tinham coragem.
E nunca sequer nos passou pela cabeça saber se tínhamos ou não preparação técnica.
Alice Vieira

in Opinião - Jornal de Notícias - 2009-10-24

terça-feira, março 30, 2010

Desconversar

fotografias de maria eduarda

Nunca gostei de conversas de circunstância, e com o passar dos anos, menos paciência tenho para nelas participar.

De facto, é preciso que se origine a circunstância, para colocar lá dentro, as frases sobre o tempo, a falta dele ... que nem sequer chegam a ser conversas. Dizeres soltos, em contexto de nada querer dizer.

Assim sendo, basta a saudação do bom dia, boa tarde ou boa noite, e a circunstância ausenta-se, assim como o diálogo. Prefiro então o monólogo, o conversar com os meus botões, mesmo que não os tenha. E sozinha, reflicto, avalio-me, o que me traz vantagens - não é preciso forçar uma situação e ouvir banalidades.

maria eduarda

sexta-feira, março 12, 2010

Profecia

imagem google
Um dia, a Terra vai adoecer. Os pássaros cairão do céu, os mares vão escurecer e os peixes aparecerão mortos na correnteza dos rios. Quando esse dia chegar, os índios perderão o seu espírito. Mas vão recuperá-lo para ensinar ao homem branco a reverência pela sagrada terra. Aí, então, todas as raças vão se unir sob o símbolo do arco-íris para terminar com a destruição. Será o tempo dos Guerreiros do Arco-Íris.

(Profecia feita há mais de 200 anos por "Olhos de Fogo", uma velha índia Cree)

segunda-feira, março 08, 2010

Dia 8 de Março

fotografia de maria eduarda

A todas as mulheres, todos os dias do ano, mas principalmente àquelas que vivem sem identidade, numa qualquer sombra, convencidas de que a luz não as iluminará, desejo força interior e coragem para se libertarem.

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

Meditação é viver alegremente


Foto de maria eduarda
A vida é sem propósito. Não fique chocado. Toda ideia de propósito é errada — origina-se da ganância.
A vida é pura alegria, contentamento, diversão, riso — sem qualquer propósito absolutamente. A vida é a sua própria meta, não há nenhuma outra meta.
No momento em que você compreende isso você compreendeu o que é meditação. É viver a sua vida prazerosamente, divertidamente, totalmente, e sem nenhum propósito no final, sem nenhum propósito em vista, nenhum propósito absolutamente.
Exatamente como as criancinhas brincando na praia, pegando conchas e pedras coloridas — com que propósito? Não há absolutamente nenhum propósito.

Tirado daqui

domingo, fevereiro 14, 2010

O silêncio

Silence

Fabio Calvetti

O silêncio é um bem raro e precioso. Nos dias que correm, o estilo de vida e o ritmo vertiginoso em que vivemos tornam difícil encontrá-lo, quer estejamos a falar de silêncio interior ou exterior.Infinito na sua potencialidade e riqueza, o silêncio reveste-se de múltiplas dimensões.

Para um árabe, por exemplo, estar em silêncio dentro de um grupo de amigos nada tem de chocante, uma vez que isso faz parte da sociabilidade e do seu código de comunicação, onde o silêncio é sentido como um prazer sereno.

Os ocidentais, por seu lado, incomodam-se com os longos silêncios dos japoneses, desorientam-se, irritam-se ou questionam a atitude. A este propósito, Marc Smedt, autor do livro O elogio do silêncio, afirma que "se soubéssemos viver na calma deste silêncio, os nossos assuntos avançariam mais rapidamente, uma vez que os japoneses ponderam, avaliam e tentam perceber intuitivamente o que se encontra por detrás das palavras."


Inês Menezes, revista XIS, in Público, 16-10-2004 (adaptado)

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

Palavra "saudade" é de difícil tradução

Imagem retirada daqui

A palavra portuguesa "saudade" foi considerada o sétimo vocábulo mais difícil de traduzir, segundo uma votação realizada por mil linguístas, levada a cabo pela agência londrina de tradução e interpretação Today Translations.
A mais votada foi "ilunga", de uma língua falada numa região da República Democrática do Congo e que significa "uma pessoa que está disposta a perdoar qualquer abuso pela primeira vez, a tolerar uma segunda vez, mas nunca uma terceira vez": Em segundo lugar ficou "shlimazl", que é a palavra em iídiche(língua falada por algumas comunidades de judeus oriundos da Europa central e oriental) para uma "pessoa cronicamente sem sorte". A palavra japonesa "Naa", da área Kansai, foi a terceira mais difícil de traduzir e significa"enfatizar declarações" ou "concordar com alguém". Apesar de as definições parecerem bastante precisas, o problema é tentar transmitir as referências locais associadas a tais palavras", afirma a presidente da Today Translations, Jurga Zilinkiene, que conduziu a sondagem.

in Público, 25-06-2004 (adaptado)

quinta-feira, fevereiro 04, 2010

Era uma vez...

http://olhares.aeiou.pt/


É assim que se inicia cada história. Não lhe encaro o final, e dou-lhe tempo e espaço, nos meus dias, quando acordo e me vejo, me contemplo.

Não a desiludo, porquanto a combato de frente, e prossigo a minha história, que até pode começar por:"Era uma vez..."
maria eduarda

terça-feira, janeiro 26, 2010

TU


Eras Tu!
Ao cair do dia, com tuas vestes e símbolos.
Balbuciando signos inteligíveis apenas aos mais atentos.
Eras Tu!
Que caminhavas em serenidade... parecendo feliz e tendo já alcançado a verdade.
O teu ar não engana. Pareces-me bem! Depressa porém, percorro de memória a nossa história... e recordo viveres e sentires.
Sim. Agora sei:
De facto eras mesmo Tu.

sexta-feira, janeiro 22, 2010

E eles foram


E eles foram na delegação portuguesa, com uma mensagem de esperança.
Porque no Haiti há muitos que sofrem.
Também os há em Portugal e em Espanha e "na porta ao lado" e em toda a parte.
Mas jamais deve ser esse o motivo que nos impeça de auxiliar os que estão "mais longe".
Até porque a esmagadora maioria das vezes os "tais que estão mesmo ao lado" também não recebem o nosso auxílio. Não na medida em que poderíamos.
Mas assumimos que somos seres humanos.
Os "tais" racionais e que têm sentimentos.
Os "tais" que são diferentes dos outros animais.
Os "tais" que por pensarem, podem decidir em vez de corresponder ao instinto.
É pena que o nosso instinto seja de sobrevivência e não de espírito de amor ao próximo.
Mas podemos mudar.
Se o quisermos genuína e interiormente.
Aí sim. Seremos diferentes dos "outros".

sexta-feira, janeiro 15, 2010

A descoberta

Sun Dance
Alfred Gockel

Prometo recuperar um raio de Sol tímido, que se insinua em traços claros e dourados. O sonho apodera-se dessa claridade, e cavalga na imensidão do dia, que acordou límpido e cordial.

Em dias assim, desconheço a força que me fustiga, e me lança em acrobacias estonteantes de vida interior, pronta para novos desafios, reconhecendo o dia de hoje, como mais um dia nesta etapa. Daí a vida efervescente que me espera em ebulição, todos os dias, quando abro os olhos e me deparo inteira e viva.

maria eduarda

sábado, janeiro 09, 2010

Divagar

Silence of Autumn
Julianna
O silêncio é um calmante, um apaziguador, na hora de proferir injúrias, porque não as dizendo, atenua-se a dor; por outro lado, o silêncio é arma cortante, dilacerante, se empregue em vez da fala, do diálogo, porque dói naquilo que se julga indiferente.

maria eduarda

domingo, janeiro 03, 2010

Em 2010

A pedido da Anabela, e porque é urgente olhar com mais respeito pelo ambiente, salvemos o rio Tâmega.

quinta-feira, dezembro 17, 2009

O gesto

Symbol of Love
Paul Desny
Envolver alguém num abraço, sentir o corpo do outro, é dizer que o gesto permanece, mesmo depois de solto, porque estamos sempre ali, ao alcance de um olhar.
Não há palavras que registem o calor humano, a força que se transmite a alguém, sem pronunciar uma palavra.
E quando se desatam os braços, e ficamos sós, acreditamos que valeu a pena toda a ternura transmitida , mesmo sem sabermos muitas vezes, que a pessoa abraçada fomos nós.
maria eduarda

segunda-feira, novembro 30, 2009

Revejo-me

Revejo-me no Outono, não porque os dias se vistam muitas vezes de cinzento, mas porque sei, que cada folha que esvoaça, caindo de uma árvore, dará lugar a outra, nova, a despertar na Primavera, nessa estação mágica onde tudo renasce e se embeleza!

maria eduarda

domingo, novembro 29, 2009

O instante

Golden Moment
Zelena


E o que é o instante?

É o momento que é agora e já passou? Aquele que te passou despercebido e podia ser o teu instante?
É aquele que te marcou de algum modo, ou é aquele onde nunca estás, porque quando quase o alcanças, já era?
É o agora, neste momento já não é... É o momento que sempre recordarás?

maria eduarda

domingo, novembro 22, 2009

Confiança

Abri a carta, a mim endereçada.
Li-a e reli-a, na letra rigorosa, na mensagem exacta, de teor dolorido.
Descansei os olhos. De caneta em punho, escrevi outra, e nesta outra, aproveitei as cores do arco-íris que me espreitavam através da janela. Então, tonalizei as letras, colori a mensagem, abreviei a dor, e sorri...
maria eduarda

segunda-feira, outubro 05, 2009

Sorrir assim...

Sorrir assim, é sentir a infância liberta de perigo, resguardada no colo, sossegada nas mãos que amparam a criança.
Sorrir assim, é a inocência de não pensar, de tomar como certo o momento precioso da ternura contagiante.
Sorrir assim, é saber que, com toda a certeza, as mães são eternas nas marcas profundas que deixam, resultantes do amor que investem, porque amam incondicionalmente.