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sexta-feira, abril 30, 2010

Gostos....

Foto de Isaura Tavares


Gosto do amanhecer,
daquela luz branca, pura, inexplicável,
como só a manhã sabe ter...

Gosto de sentir a temperatura do nascer do dia, revigorante,
como que a preencher-nos de luminosidade....


Gosto do entardecer,
daquela luz dourada, sábia, terna,
que só o final do dia sabe ter...

Gosto de sentir a temperatura do prenúncio da noite,
arrepiante, como que a inebriar-nos de escuridão...


Gosto dos dias de calor tórrido
que nos fazem esconder nas sombras,
enquanto caminhamos,
e dos dias frios que nos obrigam a procurar o sol,
ainda que pouco nos aqueça...


Gosto da Vida, do sonho, da verdade ...
Gosto de ser... de estar aqui!


Não gosto do desgosto!
Dinamene
foto: Isaura na Viagem à Jordânia

Pedras no caminho?...

... guardo todas...

Um dia vou construir um castelo! - Fernando Pessoa

quinta-feira, abril 29, 2010

Da dor

Hoje,
fechei portas e janelas,
e enjaulei-me em mim.
Foi reparo fácil,
o meu sorrir,
e sem intenção,
assim o creio,
vaticinaram-me a dor.
Balbucio a fuga,
não me quero solidária
em tamanha amargura!

maria eduarda

A vida chega a doer

"Não sei sentir,
não sei ser humano,
não sei conviver de dentro da alma triste,
com os homens,
meus irmãos na terra.
Não sei ser útil,
mesmo sentindo ser prático,
quotidiano,
nítido.
Vi todas as coisas e maravilhei-me de tudo.
Mas tudo ou nada sobrou ou foi pouco,
não sei qual,
e eu sofri.
Eu vivi todas as emoções,
todos os pensamentos,
todos os gestos.
E fiquei tão triste como se tivesse querido vivê-los e não conseguisse.
Amei e odiei como toda a gente.
Mas para toda a gente isso foi normal e instintivo.
Para mim sempre foi a excepção,
o choque, a válvula, o espasmo.
Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Não sei se sinto de mais ou de menos.
Seja como for,
a vida,
de tão interessante que é a todos os momentos,
a vida chega a doer,
a enjoar,
a cortar,
a roçar,
a ranger,
a dar vontade de dar pulos,
de ficar no chão,
de sair para fora de todas as casas,
de todas as lógicas,
de todas as sacadas,
e ir ser selvagem entre árvores e esquecimentos."

Álvaro de Campos

quarta-feira, abril 28, 2010

Um mimo da Em@

Obrigada Em@ , por te lembrares de nós.

das escritas..

O autor jovem fala sempre de si próprio, mesmo quando fala dos outros, enquanto o autor maduro fala sempre dos outros, mesmo quando fala de si próprio.
Stephen Vizinczey

terça-feira, abril 27, 2010

A verdade


A verdade
escorrega
pela pele.
O poro
selou-lhe
a entrada,
porque
há verdades
que só podem
deslizar,
não devem
o coração,
desfragmentar.

maria eduarda

segunda-feira, abril 26, 2010

Mais uma volta ao astro!!


Solange, um abraço grande ao estilo de Vladimir Boudnik...
Parabéns!!!

.. dos sonhos

"Os sonhos são a actividade estética mais antiga"
Borges

Parabéns Sol!

Um dia feliz, com a continuação de muitas viagens, sempre com sol dentro de ti.

Felicidades!


Mãe,


Feliz Aniversário!

Obrigada pelo teu maravilhoso exemplo de força, vida e alegria….

”Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe." (Oscar Wilde)

Pois tu és um desses raros casos que não se limita a existir…..

Que nos lembra, dia após dia, que

Viver é, simplesmente, extraordinário e

o quanto a nossa Vida é única e preciosa!

domingo, abril 25, 2010

25 de Abril

Mantenha-se a cor,

vermelha, aguerrida,

mas, se preciso for,

use-se outra flor.

maria eduarda

sábado, abril 24, 2010

das cidades..

As Virtudes da Cidade

Amo o ruído e a constante agitação das grandes cidades. O movimento contínuo obriga à observação dos costumes. O ladrão, por exemplo, ao ver toda a actividade humana, pensa involuntariamente que é um patife, e esta imagem alegre em movimento pode vir a melhorar a sua natureza decadente e arruinada. O boémio sente-se talvez mais modesto e pensativo quando vê todas as forças produtivas, e o devasso diz possivelmente a si mesmo, quando lhe salta aos olhos a docilidade das massas, que não é mais do que um sujeito miserável, estúpido e vaidoso, que só sabe ufanar-se com soberba. As grandes cidades ensinam, educam, e não com doutrinas roubadas aos livros. Não há aqui nada de académico, o que é lisonjeiro, pois o saber acumulado rouba-nos a coragem.

E depois há aqui tanto que incentiva, que sustenta e ajuda. Quase não conseguimos dizê-lo. É tão difícil dar uma expressão viva ao que é refinado e bom. Agradecemos as nossas vidas modestas, sentimo-nos sempre um pouco gratos quando somos empurrados, quando temos pressa. Quem tem tempo para esbanjar não sabe o que o tempo significa, é por natureza um ingrato. Nas grandes cidades qualquer moço de recados conhece o valor do tempo e nenhum ardina quer perder o seu tempo. E tudo o que há nisto de sonho, de pintura e de poesia! As pessoas passam com pressa e empurram-nos. Ora isto tem um signifcado, isto excita, isto põe o espírito em movimento vivo. Quando hesitamos por um momento já nos passaram cem, centenas de coisas pela cabeça e pelos olhos, e percebemos então nitidamente como somos vadios e madraços. Aqui todos têm pressa, porque todos pensam a cada momento que seria bom lutar por alguma coisa e consegui-la. A vida ganha um fôlego magnífico. As feridas e as dores são mais profundas, o júbilo de alegria é mais alegre e duradoiro que noutras partes, pois quem aqui se sente alegre pensa sempre tê-lo merecido árdua e justamente pelo trabalho e pelas fadigas.

Robert Walser, in "Jakob von Gunten"

sexta-feira, abril 23, 2010

Dia Mundial do Livro

daqui
O Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor comemora-se hoje, a 23 de Abril. Desde 1995 que, por iniciativa da UNESCO, se celebra em todo o mundo o prazer da leitura. Lisboa, Évora, Beja e Vila Franca de Xira são algumas das cidades que, em Portugal, têm actividades especiais neste dia.

quinta-feira, abril 22, 2010

No dia da terra



A liberdade, sim, a liberdade!
A verdadeira liberdade!
Pensar sem desejos nem convicções.
Ser dono de si mesmo sem influência de romances!
Existir sem Freud nem aeroplanos,
Sem cabarets, nem na alma, sem velocidades, nem no cansaço!
A liberdade do vagar, do pensamento são, do amor às coisas naturais
A liberdade de amar a moral que é preciso dar à vida!
Como o luar quando as nuvens abrem
A grande liberdade cristã da minha infância que rezava
Estende de repente sobre a terra inteira o seu manto de prata para mim…
A liberdade, a lucidez, o raciocínio coerente,
A noção jurídica da alma dos outros como humana,
A alegria de ter estas coisas, e poder outra vez
Gozar os campos sem referência a coisa nenhuma
E beber água como se fosse todos os vinhos do mundo!
Passos todos passinhos de criança…
Sorriso da velha bondosa…
Apertar da mão do amigo sério…
Que vida que tem sido a minha!
Quanto tempo de espera no apeadeiro!
Quanto viver pintado em impresso da vida!
Ah, tenho uma sede sã.
Dêem-me a liberdade,
Dêem-me no púcaro velho de ao pé do pote.
Da casa do campo da minha velha infância…
Eu bebia e ele chiava,
Eu era fresco e ele era fresco,
E como eu não tinha nada que me ralasse, era livre.
Que é do púcaro e da inocência?
Que é de quem eu deveria ter sido?
E salvo este desejo de liberdade e de bem e de ar, que é de mim?

Álvaro de Campos 17 - 8 - 1930

quarta-feira, abril 21, 2010

Da culpa

Às vezes,
inadvertidamente,
não alimento
a amizade,
e ela,
lentamente,
voa,
noutra direcção.

Talvez me leve,
naquilo que deixou
em mim, vazio.

maria eduarda

terça-feira, abril 20, 2010

Ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus
[braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade, in 'O Corpo'

domingo, abril 18, 2010

O ESPECTÁCULO DA VIDA

Que você seja um grande empreendedor. Quando empreender, não tenha medo de falhar. Quando falhar, não tenha receio de chorar. Quando chorar, repense a sua vida, mas não recue. Dê sempre uma nova chance para si mesmo. Encontre um oásis em seu deserto. Os perdedores vêem os raios. Os vencedores vêem a chuva e a oportunidade de cultivar. Os perdedores paralisam-se diante das perdas e dos fracassos. Os vencedores começam tudo de novo. Saiba que o maior carrasco do ser humano é ele mesmo. Não seja escravo dos seus pensamentos negativos. Liberte-se da pior prisão do mundo: o cárcere da emoção. O destino raramente é inevitável, mas sim uma escolha. Escolha ser um ser humano consciente, livre e inteligente. Sua vida é mais importante do que todo o ouro do mundo. Mais bela que as estrelas. Apesar dos seus defeitos, você não é um número na multidão. Ninguém é igual a você no palco da vida. Você é um ser humano insubstituível. Jamais desista das pessoas que ama. Jamais desista de ser feliz. Lute sempre pelos seus sonhos. Seja profundamente apaixonado pela vida. Pois a vida é um espectáculo imperdível.

Augusto Cury

sexta-feira, abril 16, 2010

Viajo sem mim

Amanhã,
no azul do dia,
no canto da ave,
no bater das asas,
saio sem mim.
Volto mais tarde,
evadida sem lugar,
colo-me inteira
à nudez do tempo,
à sombra da noite,
à escuridão consentida.

Vou sem mim,
nos dias em que não estou.

maria eduarda

quarta-feira, abril 14, 2010

Encomenda

Desejo uma fotografia
como esta - o senhor vê? - como esta:
em que para sempre me ria
com que vestido de eterna festa.

Como tenho a testa sombria,
derrame luz na minha testa.
Deixe essa ruga, que me empresta
um certo ar de sabedoria.

Não meta fundos de floresta
nem de arbitrária fantasia...
Não... Neste espaço que ainda resta,
ponha uma cadeira vazia.
Cecília Meireles

segunda-feira, abril 12, 2010

Em busca


fotografia de maria eduarda

Persigo a paz,
constantemente.
Às vezes, insinuante,
ela
espreita-me e foge.
Na solidão,
exijo-a por companhia.
Quando me distraio,
na indecisão,
ela,
criança rebelde,
não me obedece,
e parte comigo
na lágrima
da ilusão.

maria eduarda

Não me importo com as rimas

Alberto Caeiro, pormenor do mural de Almada Negreiros na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1958).


Não me importo com as rimas.
Raras vezes
Há duas árvores iguais, uma ao lado da outra.
Penso e escrevo como as flores têm cor
Mas com menos perfeição no meu modo de exprimir-me
Porque me falta a simplicidade divina
De ser todo só o meu exterior.
Olho e comovo-me,
Comovo-me como a água corre quando o chão é inclinado,
E a minha poesia é natural como o levantar-se o vento...
Alberto Caeiro

sábado, abril 10, 2010

Laços

Já me despedi de pessoas muito queridas, de lugares que julgava de mim inseparáveis, de cumplicidades inquestionáveis.
Os meus braços continuam a abarcar o que deixei, o que me foi retirado. Impossibilitada estou de baixar os braços, porque desse modo é como se desistisse do aconchego do laço, fizesse deslizar por mim a ternura com que os relembro. Neste afago persisto, insisto e resisto.
maria eduarda

Reagir

fotografia de maria eduarda


Há intervalos na vida
onde nada acontece,
e a força estremece.
Mas, reajo,
reaprendo a ver,
elevo o olhar,
e reparo por ti,
na persistência,
às vezes débil,
mas insistente,
neste caminhar.

maria eduarda

quinta-feira, abril 08, 2010

Memórias

imagem google

Abro o livro
das memórias,
e soletro o teu nome.
Abre-se o tempo
no brilho do teu olhar,
e revejo-te sorrindo.

Trazes uma flor
em jeito de oferta,
em sinal revelador,
do segredo ao ouvido,
de uma prova de amor.

maria eduarda

Partilhar

Porque partilhar é dar e receber,
porque este blogue fez ontem dois anos,
porque tem sido muito bom poder,
umas vezes mais presente, outras não,
usar este espaço para reflectir, para saudar,
para lembrar, para abrir a alma,
para sentir que vale a pena
ler e viver,
quero deixar aqui um abraço enorme à Didium,
que o criou e me convidou para estar aqui com ela,
partilhar alguns momentos da nossa vida.
Agradeço-lhe
e a todos os que aqui têm vindo deixar o seu testemunho.

Solange

terça-feira, abril 06, 2010

Da certeza

fotografia de maria eduarda
Somos
o arco e a flecha
do arqueiro aguerrido.
No gesto certeiro,
disparada a flecha,
lançamo-nos
no incerto,
que por ser certo,
e desconhecido,
é temido.

Luta desigual,
por ser afinal
o único caminho,
o único destino.

maria eduarda

Um Só Coração

"Este belo livro, escrito do coração das autoras,
dá maravilhosos exemplos de como
a vida pode mudar para melhor..."
Patrícia Crane, coordenadora internacional do método criado por Louise Hay

Encontro


fotografia de maria eduarda


Felicidade, agarrei-te
Como um cão, pelo cachaço!
E, contigo, em mar de azeite
Afoguei-me, passo a passo...
Dei à minha alma a preguiça
Que o meu corpo não tivera.
E foi, assim, que, submissa,
Vi chegar a Primavera...
Quem a colher que a arrecade
(Há, nela, um segredo lento...)
Ó frágil felicidade!
— Palavra que leva o vento,
E, depois, como se a ideia
De, nos dedos, a ter tido
Bastasse, por fim, larguei-a,
Sem ficar arrependido...

Pedro Homem de Mello, in Eu Hei-de Voltar um Dia

sábado, abril 03, 2010

Coisas que se pensam quando qualquer outra coisa seria menos inútil

Exercício da Velhice


Dói-nos a cabeça mais um olho e dentro dele, o que são os pensamentos enclausurados que se arrastam sem que se casem com a vida, nalguma coincidência.
Temos veias salientes nas costas das mãos e já as não conseguimos tirar do seu relevo, ao elevarmos os braços para as nuvens, que bem podiam embelezar o tecto enegrecido pelas horas a fio, do colar do tempo à pele.
Custa-nos, o não poder no último momento de sol, empurrar o nada mais para lá como se fosse um objecto afável.
Continua a doer-nos a cabeça onde guardamos tudo.
Já nela são tantas coisas, que as não achamos pela ordem em que as vivemos mas antes vão-nos espreitando, como um vizinho curioso que se mudou há pouco para a casa da frente.

À beira dos nossos amores tememos pela hora seguinte, e levantamo-nos de madrugada para os ouvir respirar, tal como se vai ouvir o mar para se não morrer.

A monotonia

fotografia de maria eduarda
Estou num dia em que me pesa, como uma entrada no cárcere, a monotonia de tudo. A monotonia de tudo não é, porém, senão a monotonia de mim. Cada rosto, ainda que seja o de quem vimos ontem, é outro hoje, pois que hoje não é ontem. Cada dia é o dia que é, e nunca houve outro igual no mundo. Só em nossa alma está a identidade - a identidade sentida, embora falsa, consigo mesma - pela qual tudo se assemelha e se simplifica. O mundo é coisas destacadas e arestas diferentes; mas, se somos míopes, é uma névoa insuficiente e contínua.

Fernando Pessoa, in Obra poética e em prosa

sexta-feira, abril 02, 2010

Dia Internacional do livro infantil

texto e imagem retirados daqui
"O patinho feio", "O soldadinho de chumbo" e "A pequena sereia" são histórias conhecidas por quase todos os que são ou foram crianças. O seu autor, o escritor dinamarquês, Hans Christian Andersen nasceu a 2 de Abril de 1805.
O impacto de Andersen, que morreu a 4 de Agosto de 1865, na literatura infantil foi tal, que 2 de Abril foi consagrado Dia Internacional do Livro Infantil.
A International Board on Books for Young People atribui a Medalha Hans Christian Andersen aos maiores nomes da literatura infanto-juvenil.
Filho de um sapateiro, passou a infância num meio humilde, o que lhe permitiu conhecer a desigualdade social, realidade que transpôs para muitas das suas histórias.
Hans Christian Andersen era filho de um sapateiro e sua família morava num único quarto. Apesar das dificuldades, ele aprendeu a ler desde muito cedo e adorava ouvir histórias.

quinta-feira, abril 01, 2010

Analogias…

Alentejo vivo em mim…
Nesta imensa razão
Das raízes ressequidas
Das searas d’onde brota o pão.

Do pôr do sol há tanto perdido
Revejo-o, agora
Em teus campos de trigo.

Fugindo ao calor, um coqueiro
Aqui e agora
Na sombra do teu sobreiro.

Da ruidosa selva, gritando
Ouço, agora
Tuas pequenas aves, piando.

Das dunas de areia escaldantes
Sinto, agora
O calor das lareiras fumegantes.

Das gentes alegres, folias e risadas
Encontro, agora
Rostos tristes de gargantas abafadas.

Do merengue e batuque ritual
Aqui e agora
Lentos movimentos num som espiritual.



MARG
Almodôvar, Janeiro de 1996