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quinta-feira, março 31, 2011

Para meditar

A solidão é muito bela, mas quando se tem perto de si alguém a quem o dizer.

Gustavo Bécquer

quarta-feira, março 30, 2011

Quem não dava a vida por um amor?


O essencial é amar os outros. Pelo amor a uma só pessoa pode amar-se toda a humanidade. Vive-se bem sem trabalhar, sem dormir, sem comer. Passa-se bem sem amigos, sem transportes, sem cafés. É horrível, mas uma pessoa vai andando.
Apresentam-se e arranjam-se sempre alternativas. É fácil.
Mas sem amor e sem amar, o homem deixa-se desproteger e a vida acaba por matar.
Philip Larkin era um poeta pessimista. Disse que a única coisa que ia sobreviver a nós era o amor. O amor. Vive-se sem paixão, sem correspondência, sem resposta. Passa-se sem uma amante, sem uma casa, sem uma cama. É verdade, sim senhores.
Sem um amor não vive ninguém. Pode ser um amor sem razão, sem morada, sem nome sequer. Mas tem de ser um amor. Não tem de ser lindo, impossível, inaugural. Apenas tem de ser verdadeiro.
O amor é um abandono porque abdicamos, de quem vamos atrás. Saímos com ele. Atiramo-nos. Retraímo-nos. Mas não há nada a fazer: deixamo-lo ir. Mais tarde ou mais cedo, passamos para lá do dia a dia, para longe de onde estávamos. Para consolar, mandar vir, tentar perceber, voltar atrás.
O amor é que fica quando o coração está cansado. Quando o pensamento está exausto e os sentidos se deixam adormecer, o amor acorda para se apanhar. O amor é uma coisa que vai contra nós. É uma armadilha. No meio do sono, acorda. No meio do trabalho, lembra-se de se espreguiçar. O amor é uma das nossas almas. É a nossa ligação aos outros. Não se pode exterminar. Quem não dava a vida por um amor? Quem não tem um amor inseguro e incerto, lindo de morrer: de quem queira, até ao fim da vida, cuidar e fugir, fugir e cuidar?

Miguel Esteves Cardoso, in Último Volume

segunda-feira, março 28, 2011

Prémio atribuído pela Em@

Obrigada Em@.

terça-feira, março 22, 2011

Da poesia esquecida


Esqueci-me de assinalar o dia 21, como o dia da poesia, de tão embrenhada que estava a sonhar sem rimas, e a divagar ao sabor do contorno das letras, que do papel sibilaram a favor do vento, e eu parti com elas.

maria eduarda

terça-feira, março 08, 2011

A viagem

Abri-te a porta,
e tu levaste-me
a navegar
a favor da maré.
Confusão de sentidos,
em uníssono disparo
no mesmo alvo.
Enclausurada
no teu abrigo
repleto de luz,
percorremos juntos
o caminho,
sem perguntas,
porque as respostas
já as assimilámos
nos nossos sentires.


maria eduarda

segunda-feira, março 07, 2011

o tempo, subitamente solto

Symphony in Red and ...
Laurie Maitland


o tempo, subitamente solto pelas ruas e pelos dias, como a onda de uma tempestade a arrastar o mundo, mostra-me o quanto te amei antes de te conhecer. eram os teus olhos, labirintos de água, terra, fogo, ar, que eu amava quando imaginava que amava. era a tua a tua voz que dizia as palavras da vida. era o teu rosto. era a tua pele. antes de te conhecer, existias nas árvores e nos montes e nas nuvens que olhava ao fim da tarde. muito longe de mim, dentro de mim, eras tu a claridade.

José Luís Peixoto