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segunda-feira, agosto 23, 2010

Reatar

Rasgões no tempo
perdem-se ao luar,
filtram-se à luz
nos reencontros.
E nasce o sorriso
meio perdido,
por que longe,
desencontrado.
E a amizade
revê-se nos olhos
que fitamos,
e lembra que agora
é o momento
de agarrar o abraço,
é o momento
de não poder
arrefecer o calor
que nos retoma.
E somos nós,
detentoras
do mesmo alento.

maria eduarda

domingo, agosto 22, 2010

Prémio


A querida Andy, do blogue Lua ofereceu este prémio ao nosso blogue (Sol, Gaby,Dinamene... por onde andam?????), que agradeço muito.
Aqui seguem as regras;

1. Colocar a imagem do selo no blogue;
2. Indicar o link do blogue que me indicou;
3. Indicar três blogues para receber o selo;
4. Comentar nos blogues indicados.

E os eleitos são:
as velas ardem sempre até ao fim;
Confissões de uma existência;
Just-a-girl.

domingo, agosto 15, 2010

Aguardo

É no ombro
onde sossegam
desabafos incontidos,
feridas abertas,
cicatrizes visíveis.
Acolho-os
no meu baú,
e ouço,
estendo a voz,
dou-te a calma,
aguardo-te serena,
quero-te feliz.
Marcas, mágoas, angústias,
posso suportá-las contigo,
para te dar espaço,
para te oferecer luz,
para que tu sejas
simplesmente TU!
Agarra a luz,
festeja comigo,
quando puderes,
eu espero!

maria eduarda

sexta-feira, agosto 13, 2010

Louvor a uma bombeira

Josefa, 21 anos, a viver com a mãe. Estudante de Engenharia Biomédica, trabalhadora de supermercado em part-time e bombeira voluntária. Acumulava trabalhos e não cargos - e essa pode ser uma primeira explicação para a não conhecermos. Afinal, um jovem daqueles que frequentamos nas revistas de consultório, arranja forma de chamar os holofotes. Se é futebolista, pinta o cabelo de cores impossíveis; se é cantora, mostra o futebolista com quem namora; e se quer ser mesmo importante, é mandatário de juventude. Não entra é na cabeça de uma jovem dispersar-se em ninharias acumuladas: um curso no Porto, caixeirinha em Santa Maria da Feira e bombeira de Verão. Daí não a conhecermos, à Josefa. Chegava-lhe, talvez, que um colega mais experiente dissesse dela: "Ela era das poucas pessoas com que um gajo sabia que podia contar nas piores alturas." Enfim, 15 minutos de fama só se ocorresse um azar... Aconteceu: anteontem, Josefa morreu em Monte Mêda, Gondomar, cercada das chamas dos outros que foi apagar de graça. A morte de uma jovem é sempre uma coisa tão enorme para os seus que, evidentemente, nem trato aqui. Interessa-me, na Josefa, relevar o que ela nos disse: que há miúdos de 21 anos que são estudantes e trabalhadores e bombeiros, sem nós sabermos. Como é possível, nos dias comuns e não de tragédia, não ouvirmos falar das Josefas que são o sal da nossa terra?

Por FERREIRA FERNANDES, Diário de Notícias

quinta-feira, agosto 12, 2010

Coisas que se pensam quando qualquer outra coisa seria menos inútil

Ser consciencioso é estranhamente, por vezes, denegrir a parte pela qual a consciência se sente menos atraída. A consciência é apenas o instrumento, que nos permite inclinar a existência mais para um lado do que para o outro, como quando se vai a estatelar o nosso corpo mas ainda há a possibilidade de perceber a aproximação ao futuro da queda e num impulso emocional, ele é por nós orientado para onde há mais pedras ou não, para o receber.
É-se consciencioso quando se magoa alguém para se não  ferir alguém? Aqui o instrumento parece mesmo que não funciona, mas sim o medo. E quem nos inflige mais temor é sempre quem mais alto grita  ou pode ser ouvido nos seus gestos agigantados, porque quem se toma apenas como uma ideia, não sofrendo as três dimensões em si, perde também a voz, ou seja, torna-se inofensiva a sua expressão, o seu poder de mostrar sofrimento.
A consciência guia-se pelo susto que a assoma, mas parece ser que os seus ponteiros ainda assim se movimentam, como uma cauda de lagartixa abandonada.

sexta-feira, agosto 06, 2010

O leitor

Acredito que a vida de um livro enquanto está nas mãos do autor não é mais importante do que quando está nas mãos do leitor. O leitor é quase sempre um autor ele próprio. É ele que dá significado às palavras e por isso até acho muito interessante quando as pessoas me vêm apontar coisas que não eram minha intenção, mas que de facto estão lá. E há muitas outras coisas que foram minhas intenções e que nunca ninguém me referiu, e no entanto também lá estão. Se calhar alguém reparou nelas ou ainda vai reparar. Tudo o que um leitor leia num livro é legítimo porque nessa fase o leitor é tudo, é ele que faz o livro .

A leitura depara-se com uma série de obstáculos, é muito mais fácil sentarmo-nos no sofá a ver televisão do que a ler um jornal até. E a questão parece ser esta sociedade de facilitismo em que deixou de se perceber que as coisas que dão algum trabalho também são as que dão mais prazer, porque são conquistadas. A leitura dá algum trabalho e temos de conquistar um espaço para ela na nossa vida, temos de nos empenhar para absorvê-la completamente, para que faça sentido. Isso é que se perdeu um pouco de vista, mas penso que quem procura acabará por encontrar e tenho esperança de que as pessoas não deixem de procurar, não desistam, porque baixar os braços é ficar sempre no mesmo sítio.

José Luís Peixoto