Páginas

quinta-feira, maio 31, 2012

Janela

Das muitas janelas da minha casa,


Aquela mantinha-se fechada há anos, já nem me lembrava sequer para que lado do jardim dava...

Sabia que não era para um local desagradável, pois alguma luz entrava por ali, mesmo com as persianas fechadas...

Não podia ser, com certeza, para o lado escuro do jardim, húmido e fresco de arvoredos, escondendo obscuros segredos.



A minha casa é imensa, parece que todo o universo está lá dentro, até me perco por vezes nos corredores do meu mundo interior...

Por isso vou abrindo janelas, algumas todos os dias, tentando que o mundo exterior me recorde quem sou....

Parecem espelhos as minhas janelas, vejo-me melhor quando espreito por elas...

Gosto de sentir o universo inteiro entrar no universo que sou.



Porém, aquela janela, não tinha pressa em abri-la... Como tantas outras que mantenho encerradas...

Estava assim, à espera do momento certo,

Aguardava que alguém batesse do outro lado, talvez o vento....



Algumas sei que não vou abrir, sei onde vão dar, e não quero ver esses mundos densos, estão bem fechadas...



Aquela grande janela estava no esquecimento, talvez...

(Não tenho pressa, sei que há um momento para tudo, que somos guiados por uma voz interior que sabe exatamente o que é melhor para nós.)

Porém, ao passar pela sala azul, olhei a janela de soslaio e vi como estava cheia de pó e como a luz já não entrava com tanta intensidade nas sombras da poeira da sala.

Cuidadosamente limpei-a e ouvi uma melodia do outro lado.... um assobio.....

Ao abri-la o vento de luz foi de tal maneira forte e intenso que caí ao chão arrebatada e logo suavemente o vento me segurou com doçura e me fez voar para fora da janela em sonhos de mil cores... E brilhos dourados.



De súbito, na minha ilusão, a janela fechou-se num estrondo, vi-me parada a olhar para ela, a luz a tentar entrar, o vento lá fora a bater.



Está fechada agora a janela, evito passar pela sala para não demorar ali o olhar,

Parvoíce, receio que a luz me cegue….





Um dia vou lá, perco o medo, abro-a de par em par....