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domingo, agosto 23, 2009

Coisas de Mãe....


Outro dia, ao entardecer, ao passar numa rua quase deserta, vi uma senhora, velhota, muito pequenina (para aí metade do meu tamanho!?), muitas rugas na cara franzida, muito branco o cabelo curto, o corpito redondo vestido de negro, a andar para cá e para lá (espreitando um terreno e um portão) como se procurasse alguém…. Sensibilizou a figura frágil e irrequieta pelo que lhe perguntei o que procurava…
Então, ela olhou-me com os seu olhitos muito azuis e aguados e disse-me numa voz trémula, melodiosa e muito baixinha: “Sim, procuro o meu filho. Importa-se de espreitar para ver se ele está ali ao fundo?”
Muito para lá do portão, quase perto do horizonte, havia uma casa e espreitei, não vendo ninguém. Ela, aflita, disse-me “Estou preocupada, já chamei e ele não responde. Eu trouxe-lhe o jantar porque é hora dele comer!”…
Pareceu-me tão estranha a situação que ainda pensei se a senhora não estaria a inventar um “filho” e sugeri:
"Vá para casa descansar, que ele aparece".
E ela, enervada: “Não, querida, ele já devia ter comido”
"Que idade terá o filho?"
– passava-me pela cabeça… Entretanto, lá apareceu ao fundo, perto da casa, um matulão ( que devia ter, mais que eu, a metade de tamanho que faltava à mãe para ser da minha altura), encorpado, que caminhava na nossa direcção…
Resolvi ir embora, visto que o problema se resolvia… Ainda ouvi a senhora para o filho naquela voz ternurenta, mimosa, trémula : “Então não respondias, estava tão preocupada. Qualquer dia dá-me uma coisa. Trouxe-te água, arroz, pão….” E o resto já não ouvi.

Coisas de mãe, sem dúvida. Aquele matulão é que já tinha corpinho para cuidar da mãe, coitadinha… Enfim, é a natureza da mulher-mãe que não a deixa tirar os olhos dos seus rebentos, mesmo que já voem, muito além de onde a vista pode alcançar!
Dinamene

3 comentários:

G. Ludovice disse...

é metafísico o amor, mas ao debruçar-se tem mãos já abertas e tudo para dar..

Andy disse...

Realmente!
Será que eu vou ser assim?

solange disse...

Ri-me com toda a estória, com os pequenos pormenores e, sobretudo, com a "ingenuidade" da sugestão:
"Vá para casa descansar, que ele aparece".
Pensaste que a senhora estaria louca, senil, e que talvez nem houvesse filho, tendo ela aquela idade. Filho pequenino n seria, de certeza!!! :)
As mães têm destas coisas!
É ternurenta a velhinha que se preocupa com o matulão, encorpado e oportunista!!!