Outro dia, ao entardecer, ao passar numa rua quase deserta, vi uma senhora, velhota, muito pequenina (para aí metade do meu tamanho!?), muitas rugas na cara franzida, muito branco o cabelo curto, o corpito redondo vestido de negro, a andar para cá e para lá (espreitando um terreno e um portão) como se procurasse alguém…. Sensibilizou a figura frágil e irrequieta pelo que lhe perguntei o que procurava…
Então, ela olhou-me com os seu olhitos muito azuis e aguados e disse-me numa voz trémula, melodiosa e muito baixinha: “Sim, procuro o meu filho. Importa-se de espreitar para ver se ele está ali ao fundo?”
Muito para lá do portão, quase perto do horizonte, havia uma casa e espreitei, não vendo ninguém. Ela, aflita, disse-me “Estou preocupada, já chamei e ele não responde. Eu trouxe-lhe o jantar porque é hora dele comer!”…
Pareceu-me tão estranha a situação que ainda pensei se a senhora não estaria a inventar um “filho” e sugeri:
"Vá para casa descansar, que ele aparece".
E ela, enervada: “Não, querida, ele já devia ter comido”
"Que idade terá o filho?" – passava-me pela cabeça… Entretanto, lá apareceu ao fundo, perto da casa, um matulão ( que devia ter, mais que eu, a metade de tamanho que faltava à mãe para ser da minha altura), encorpado, que caminhava na nossa direcção…
Resolvi ir embora, visto que o problema se resolvia… Ainda ouvi a senhora para o filho naquela voz ternurenta, mimosa, trémula : “Então não respondias, estava tão preocupada. Qualquer dia dá-me uma coisa. Trouxe-te água, arroz, pão….” E o resto já não ouvi.
Coisas de mãe, sem dúvida. Aquele matulão é que já tinha corpinho para cuidar da mãe, coitadinha… Enfim, é a natureza da mulher-mãe que não a deixa tirar os olhos dos seus rebentos, mesmo que já voem, muito além de onde a vista pode alcançar!
Dinamene
3 comentários:
é metafísico o amor, mas ao debruçar-se tem mãos já abertas e tudo para dar..
Realmente!
Será que eu vou ser assim?
Ri-me com toda a estória, com os pequenos pormenores e, sobretudo, com a "ingenuidade" da sugestão:
"Vá para casa descansar, que ele aparece".
Pensaste que a senhora estaria louca, senil, e que talvez nem houvesse filho, tendo ela aquela idade. Filho pequenino n seria, de certeza!!! :)
As mães têm destas coisas!
É ternurenta a velhinha que se preocupa com o matulão, encorpado e oportunista!!!
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