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sexta-feira, maio 01, 2009

"A criança que não queria falar" de Torey Hayden

Este livro conta-nos a história verídica de uma criança de seis anos, abandonada pela mãe, a viver com um pai alcoólico, e que “até então, apenas conheceu um mundo onde foi severamente maltratada e abusada”.
A autora fala-nos do seu trabalho com crianças que apresentam dificuldades mentais e emocionais. Este caso é, de facto, impressionante e, à medida que vamos acompanhando os progressos da pequena Sheila, o nosso envolvimento vai sendo cada vez maior.
É um livro que toda a gente devia ler. Deixo aqui um excerto do prólogo.
"Interrogam-me muitas vezes sobre o meu trabalho. Talvez a pergunta mais comum seja: Não é frustrante?
"Não é frustrante?", perguntam os alunos universitários, "conviver diariamente com violência, pobreza, droga e alcoolismo, abuso sexual e físico, negligência e apatia?" "Não é frustrante?", pergunta o vulgar professor primário "trabalhar tanto e receber tão pouco em troca?" "Não é frustrante?", perguntam todos, "saber que o maior sucesso obtido será provavelmente uma aproximação da normalidade; saber que estas crianças tão pequenas foram condenadas a viver uma vida que, pelos nossos padrões, nunca será produtiva, responsável ou normal? Não é frustrante?" Não. Na verdade, não é. Trata-se simplesmente de crianças, por vezes frustrantes, como todas as crianças o são. Mas elas também são de uma extrema ternura e de uma incrível percepção. Só a loucura parece permitir que seja dita toda a verdade. Contudo, estas crianças são ainda mais do que isso, são corajosas. (…) Algumas destas crianças vivem com pesadelos tão medonhos nas suas cabeças, que cada movimento fica imbuído de um terror desconhecido. Algumas vivem debaixo de uma violência e perversidade impossível de expressar por palavras. Algumas vivem sem a dignidade concedida aos animais. Algumas vivem sem amor. Algumas vivem sem esperança. No entanto, aguentam. E, na sua maioria, aceitam, por desconhecerem outro tipo de atitude. Este livro conta a história de uma só dessas crianças. Não foi escrito para despertar piedade. Nem para elogiar o trabalho de uma professora. Nem tão pouco para deprimir aqueles que encontraram a paz na ignorância. Trata-se, em vez disso, de uma resposta à pergunta sobre a frustração inerente ao trabalho psiquiátrico. É um cântico à alma humana, porque esta menina é como todas as minhas crianças. Como todos nós. É uma sobrevivente.”

1 comentário:

solange disse...

Todas as crianças deviam ser felizes. Todas!!!
Este livro comoveu-me como nenhum outro.
E o livro que ajuda a “salvar” a pequena Sheila é só um dos meus livros favoritos, “O Principezinho”.
Esta criança, infelizmente como tantas outras, foi vítima de abandono, de falta de amor, de rejeição, de tanta violência. Como é possível?! Todas, todas as crianças deviam ser felizes. Deviam ser amadas, mais que tudo!
Aqui deixo o poema que esta criança ofereceu à professora e que é de uma ternura sem igual.

«Todos os outros vieram
Tentaram fazer-me rir
Brincaram comigo
Algumas vezes para rir e outras a sério
E depois partiram
Abandonando-me nas ruínas das brincadeiras
E eu não sabia quais eram a sério.
Quais eram para rir e
Vi-me sozinha com os ecos de risos
Que não eram os meus.

E depois chegaste
Com os teus modos estranhos
Nem sempre humanos
E fizeste-me chorar
E não pareceste importar-te que chorasse.
Disseste que as brincadeiras tinham acabado
E esperaste
Até que as minhas lágrimas se transformassem
Em alegria.»

Torey Hayden escreveu:
“As pessoas interrogam-me, muitas vezes, sobre o poema pendurado na parede do meu gabinete. Parece-me de inteira justiça que conheçam a criança que o escreveu. Só espero ter tido metade do seu talento para escrever este livro.”