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quinta-feira, maio 28, 2009

Sobre um Poema


Um poema cresce inseguramente na confusão da carne, sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,talvez como sangue ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo.
Fora, a esplêndida violência ou os bagos de uva de onde nascem as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveisdo nosso amor,os rios, a grande paz exterior das coisas, as folhas dormindo o silêncio,as sementes à beira do vento,- a hora teatral da posse. E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único, invade as órbitas, a face amorfa das paredes, a miséria dos minutos, a força sustida das coisas, a redonda e livre harmonia do mundo.
- Em baixo o instrumento perplexo ignora a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.
Herberto Helder

2 comentários:

dinamene disse...

Forte e vivo, belíssimo texto!

maria eduarda disse...

Fazer um poema é mesmo o acto de seduzir, de me apropriar das palavras, e de sentir em mim, os seus sentidos.
É assim que me sinto, quando escrevo.