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domingo, maio 10, 2009

Coisas que se pensam quando qualquer outra coisa seria menos inútil

Foto:G.Ludovice

Na porta à porta, entendo a impossibilidade de para uns ficar e para outros tantos ir.
Por isso, as varandas são construídas sobre as portas, para quem parte poder ainda avistar quem nelas se pousa.
E por essa razão têm um número ou nome as portas, para que quem fica saiba que quem foi tem um caminho de volta, caso tenha ainda coração que o traga.

Não dizer a cor da tua porta com os meus olhos, faz com que sem pressa sejas uma miragem no meu pensamento, quase tanto como não conseguir imaginar-te mais, de tanto te imaginar.
Pode-se ficar menos real, assim, por nada.

4 comentários:

maria eduarda disse...

É verdade, de tanto se pensar nisto ou naquilo, damo-nos conta do nada que ficou e do muito que partiu!

dinamene disse...

QUE BELO TEXTO...

solange disse...

Texto profundo, ternurento, escrito por quem percebe do ofício de escrever!
Acabei, há poucos minutos, de passar por essa experiência de quem fica, vendo quem vai, mas com a certeza d que quem vai tem coração que o traga.
A minha irmã, ausente desta casa mais d dois anos,sabia o nº da porta e o nome da rua e chegou com o Turyma, sobrinho querido, que tem o sorriso mais bonito do mundo.
Foram só algumas horas que valeram por meses. Foi bom, especial, porque deixaram de ser miragens e os afectos renovaram-se, ainda que sempre presentes na ausência.
Gosto destes textos da Gabi, que nos obrigam a reflectir e a sentir as verdades escondidas nas palavras.

Rita disse...

Sonhar o outro é estar em casa sem varanda de porta sem número. Porque quem entrou nunca chegou a sair. Pode-se, querendo, construír uma varanda e pôr um número na porta. Ou não se fazer nada disto. Não é mais fácil e mais real,às vezes, viver na irrealidade?