envolta em disfarces,
sucumbe ao riso,
em clima agradável.
Conversas amenas,
vontade terrena,
de abraços em cena.
Amiga serena, afável,
de trato amigável.
Enigmática...
maria eduarda
Ponte de Soarez, 10 de Abril de 1998
Foto:G.Ludovice 2006 ANGOLA
Escrever assim

Foto:G.Ludovice 2009

Não há palavras para definir cada pessoa…
Mas hoje não estou para poesias, nem rimas, nem jogos estrelares de palavras de luz.

O meu porto de abrigo
«Faltam-me as palavras. Efectivamente faltam-nos as palavras. Diz-se que numa das línguas faladas pelos indígenas da américa do sul, talvez na amazónia, existem mais de vinte expressões, umas vinte e sete, creio recordar, para designar a cor verde. Comparando com a pobreza do nosso vocabulário quanto a esta matéria, parecerá que devia ser fácil para eles descrever as florestas em que vivem, no meio de todos aqueles verdes minuciosos e diferenciados, apenas separados por subtis e quase inapreensíveis matizes. Não sabemos se alguma vez o tentaram e se ficaram satisfeitos com o resultado. O que, sim, sabemos, é que um monocratismo qualquer, por exemplo, para não ir mais longe, o aparente branco absoluto destas montanhas, também não decide a questão, talvez porque haja mais de vinte matizes de branco que a olho não pode perceber, mas cuja existência pressente. A verdade, se quisermos aceitá-la em toda a sua crueza, é que, simplesmente, não é possível descrever uma paisagem com palavras. Ou melhor, ser possível, é, mas não vale a pena. Pergunto se vale a pena escrever a palavra montanha se não sabemos que nome se daria a montanha a si mesma. Já a pintura é outra coisa, é muito capaz de criar sobre a paleta vinte e sete tons de verde seus que escaparam à natureza, e alguns mais que não o parecem, e a isso, como compete, chamamos arte. Às árvores pintadas não caem as folhas.»
Eu vi a buganvília a dançar na ventania
foto:G.Ludovice 2009
Às vezes,
Tenho uma harpa à mão,
Fiquei mais só!
É difícil ser feliz; requer espírito, energia, atenção, renúncia e uma espécie de cortesia que é bem próxima do amor. Às vezes é uma graça ser feliz. Mas pode ser, sem a graça, um dever. Um homem digno desse nome agarra-se à felicidade, como se amarra ao mastro em mau tempo, para se conservar a si mesmo e aos que ama. Ser feliz é um dever. É uma generosidade.
"Sou da terra onde nasci...". Gosto desta frase, melhor, gosto do sentimento que traduz. Provavelmente sinto falta desta ligação ao espaço-berço, porque eu não sou da terra onde nasci. Embora ela me tenha legado esta nostalgia dos grandes espaços e lhe deva esta emoção que sinto perante os imensos areais ou a planície a perder-se na linha do horizonte - eu não sou da terra onde nasci. Porque o que me liga a ela é a memória, não a saudade. Sem dúvida, a memória dos grandes e pequenos espaços - primeiro a casa, depois a escola, por fim o mar.
- Ele escreve versos!
«Uma pessoa olha o mapa e fica logo cansada. E, no entanto, parece que tudo ali está perto, por assim dizer, ao alcance da mão. A explicação, evidentemente, encontra-se na escala. É fácil aceitar que um centímetro no mapa equivalha a vinte quilómetros na realidade, mas o que não costumamos pensar é que nós próprios sofremos na operação uma redução dimensional equivalente, por isso é que, sendo já tão mínima coisa no mundo, o somos infinitamente menos nos mapas. Seria interessante saber, por exemplo, quanto mediria um pé humano àquela mesma escala. Ou a pata de um elefante. Ou a comitiva toda do arquiduque maximiliano de áustria.»
Este livro conta-nos a história verídica de uma criança de seis anos, abandonada pela mãe, a viver com um pai alcoólico, e que “até então, apenas conheceu um mundo onde foi severamente maltratada e abusada”.