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domingo, maio 31, 2009

Enigmática

Enigmática,
envolta em disfarces,
sucumbe ao riso,
em clima agradável.
Conversas amenas,
vontade terrena,
de abraços em cena.
Amiga serena, afável,
de trato amigável.
Enigmática...
maria eduarda

sábado, maio 30, 2009

Uma carta do X.P.T.O.

Ponte de Soarez, 10 de Abril de 1998

Mariana:

Não sei que coragem me deu para escrever esta carta para a pessoinha mais incrível deste mundo. Eu desconfio que tu conheces a minha letra, mas resolvi disfarçá-la e acho que ficará bem disfarçada.

Mariana, eu já te vi a dormir, foi uma tarde de domingo e parecia que estavas com febre. Eu não vou dizer como foi, se não tu acabas por desconfiar. Mas tu és mais linda a dormir que acordada. Eu acho que os anjos são assim, nunca vi um anjo, isto é, vi um anjo sim, que és tu. Se a minha mãe perguntasse: "O que queres para o Natal: um computador ou um beijo da Mariana?" sabes o que eu respondia? Eu respondia: "Um beijo da Mariana." Mas acho que nunca vou merecer esse beijo, que uma estrela não olha para um sapo. Queria poder dizer-te que eu faria o que tu quisesses.
Se quiseres eu faço-te os trabalhos de Matemática até ao fim da vida. Tudo, Marianinha, tudo, tudo. Eu sei, Mariana, eu sou um bobo, o maior bobo da Terra, não sei fazer nada, nunca soube fazer nadinha, mas eu fazia um vestido azul bordado de estrelas para tu usares na festa de aniversário do Minhoca, aquele chato. Bem, eu não sei se vais à festa de aniversário dele. Vais? Eu não vou, que acho que ele é um gozão e um baboso, não achas?
Mariana, tu és linda, linda, linda, não me canso de dizer que tu és linda, linda, linda. Vou-te confessar um segredo: adoro ver-te a soprar os cabelos da testa. Os cabelos voam e é bonito. Já fico a torcer para os cabelos caírem em cima da tua testa, só para te ver soprá-los e eles voarem, aquela nuvem loura, que quando faz sol fica mais loura. Não é por tu seres loura que eu gosto de ti. É verdade, eu juro. Podias ser negra, morena, amarela, roxa ou encardida, que não tinha a menor importância. O amor não vê pele, não vê tamanho, não vê idade. Podias ser uma menininha de sete anos ou uma moça de quinze que era a mesma coisa, não fazia a mínima diferença. Vê lá se adivinhas a minha idade, experimenta. Se disseres que vou fazer onze anos, acertaste em cheio. Mas eu não vou fazer uma festa de aniversário porque acho que festa de aniversário de homens são uma bobagem. Só mesmo um panaça como o Minhoca é que fazia festa de anos.

Eu quero apenas dizer-te que tu tens mais valor para mim que tudo o resto. Mariana: tu és um anjo, tu és uma flor, tu és uma estrela. Eu não vou assinar o meu nome. Eu duvido que tu descubras, duvido, duvido mesmo.

Um beijão.

X.P.T.O

Haroldo Maranhão, A Porta Mágica (adaptado)

sexta-feira, maio 29, 2009

À minha irmã

Sempre me acarinhaste,
quando na adolescência
não estavas em ausência.
E, na mesma casa,
no mesmo quarto,
sempre me ouviste,
e me aconselhaste
em alturas críticas,
dolorosas, sangrentas.
Depois, partiste,
novos planos,
estudos outros,
outra terra.
Regressavas de férias,
tentavas minimizar a dor,
da perda da minha Mãe,
que consideras tua também.
Ficavas comigo,
fazias-me companhia,
e eu desabafava contigo.
Contava-te tudo...
das tristezas,
das loucuras,
dos amores...
E tu, ouvias-me
SEMPRE.
Viajámos para longe,
separámo-nos!
Eu visitava-te,
e tu apareceste,
quando precisei de alguém,
que olhasse por mim,
quando fui Mãe.
Vieste sem perguntar,
sabias-me de ti necessitada,
por ti esperada.
Os anos passaram,
aqui estamos nós,
já não vivemos na mesma casa,
já não partilhamos o mesmo quarto.
Construímos uma outra família,
vinda de nós,
mas temo-nos, SEMPRE!
E assim, o desejo mantém-se,
na aproximação,
no reapertar dos laços,
no fortalecer do amor,
nas irmãs que somos!
Para ti mana,
em ti, por ti, para ti, contigo,
Vivamos assim,
SEMPRE!

maria eduarda

Coisas que se pensam quando qualquer outra coisa seria menos inútil

Foto:G.Ludovice 2006 ANGOLA

Exercício com uma rolha

Está-se enraizado dentro de um lago, afastado o suficiente da margem de modo a que se lhe não chegue senão com o olhar, mas misteriosamente temos pé ou estamos sobre algo que nos permite que a água não nos cubra acima dos ombros.


Não importa perceber por que motivo lá estamos, porque teríamos a mesma resposta que temos para explicar por que estamos aqui nesta vida. Seriam muitas e nenhuma.
Parece que ali estando, temos também um sonho, um majestoso aveludado que por vezes se confunde com uma necessidade ou com o sentido da nossa existência.

Estamos capacitados de músculos para o agarrar como se ele pudesse ser uma presa ou de inteligência para o integrarmos plasticamente no nosso quotidiano ou ainda a natureza facilitou-nos uma espécie de antenas, para de imediato o distinguirmos da vulgaridade.
Imaginemos que esse veludo nos chegará em forma de rolha.

E eis que a uns metros do nosso corpo, surge boiando a rolha.
De todas as vezes o entusiasmo, o desespero, a vontade, a cegueira, a ambição, o merecimento ou a saudade provocam considerada agitação.
Os braços nascidos para assinalar, erguem-se então espantados e deixam-se repetidamente cair robustos nas águas em que estamos metidos, desenhando círculos atrás de círculos na sua lisa superfície, enquanto por tais movimentos criados no auge do desassossego, a rolha que se aproximava naturalmente e sabe-se lá porquê, é de súbito levada na nova ondulação e afasta-se para o parecido com o inacessível.
Um tal objecto flutuante, permite-nos a visão da sua proximidade e ao mesmo tempo ensina-nos a medir a habilidade com que vivemos.
Notemos como a quietude a teria trazido.
in: Contos e exercícios

O Guilherme escreveu ao Pai


quinta-feira, maio 28, 2009

Água

Rever-se na água,
no espelho ondulante,
traços imprecisos,
olhar suplicante
na corrente permanente,
que passa, não espera,
dá o instante.
Só fugaz, o momento,
outro avança,
apaga o primeiro,
opera a mudança.
E assim flui
na vida vivida
ontem, já hoje,
e o amanhã, esperado,
porque desejado.

maria eduarda

Coisas que se pensam quando qualquer outra coisa seria menos inútil

O POEMA
G.Ludovice 200ss

Sobre um Poema


Um poema cresce inseguramente na confusão da carne, sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,talvez como sangue ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo.
Fora, a esplêndida violência ou os bagos de uva de onde nascem as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveisdo nosso amor,os rios, a grande paz exterior das coisas, as folhas dormindo o silêncio,as sementes à beira do vento,- a hora teatral da posse. E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único, invade as órbitas, a face amorfa das paredes, a miséria dos minutos, a força sustida das coisas, a redonda e livre harmonia do mundo.
- Em baixo o instrumento perplexo ignora a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.
Herberto Helder

quarta-feira, maio 27, 2009

Sedução

Escrever assim
a história a narrar,
começada um dia.
O desejo esquecido,
tal como o verbo
esperar, o desejado.
Gavetas fechadas,
no desenrolar da vida,
de tantos momentos,
únicos uns, banais outros,
inesquecíveis, alguns.
Primaveras passadas,
fez sentido o verbo,
que não foi respeitado.
E este impôs-se,
empertigou-se, revoltou-se.
Decidiu remendar,
coser os anos,
voltar a encontrar
o interesse,
o quase esquecido.
O tempo, esse, passou
por gentes assim,
tal como o verbo
esperar, ou afim.
Olham-se por dentro,
vislumbram a luz,
forte, reacendida,
que ainda seduz.

maria eduarda

Vamos beber um café??!


Um professor diante da sua turma, sem dizer uma palavra, pegou num frasco grande e vazio de maionese e começou a enchê-lo com bolas de golfe. A seguir perguntou aos estudantes se o frasco estava cheio. Todos estiveram de acordo em dizer que 'sim'.


O professor pegou, então, numa caixa de fósforos e a esvaziou para dentro do frasco de maionese. Os fósforos preencheram os espaços vazios entre as bolas de golfe. O professor voltou a perguntar aos alunos se o frasco estava cheio, e eles voltaram a responder que 'Sim'.
Logo, o professor vazou uma caixa de areia dentro do frasco. Obviamente que a areia encheu todos os espaços vazios e o professor questionou novamente se o frasco estava cheio. Os alunos responderam-lhe com um 'Sim' retumbante.


O professor, em seguida, adicionou duas chávenas de café ao conteúdo do frasco e preencheu todos os espaços vazios entre a areia. Os estudantes riram-se nesta ocasião. Quando os risos terminaram, o professor comentou:


'Quero que percebam que este frasco é a vida. As bolas de golfe são as coisas importantes, a família, os filhos, a saúde, a alegria, os amigos, as coisas que vos apaixonam. Mesmo que perdêssemos tudo o resto, a nossa vida ainda estaria cheia. Os fósforos são outras coisas importantes, como o trabalho, a casa, o carro etc. A areia, as pequenas coisas. Se primeiro colocamos a areia no frasco, não haverá espaço para os fósforos, nem para as bolas de golfe. O mesmo ocorre com a vida. Se gastamos todo o nosso tempo e energia nas coisas pequenas, nunca teremos lugar para as coisas que realmente são importantes.
Prestem atenção às coisas que realmente importam. Estabeleçam as vossas prioridades, e o resto é só areia.'


Um dos estudantes levantou a mão e perguntou: Então e o que representa o café?
O professor sorriu e disse: 'Ainda bem que perguntas! Isso é só para vos mostrar que por mais ocupada que a vossa vida possa parecer, há sempre lugar para tomar um café com um amigo'.
Autor desconhecido

terça-feira, maio 26, 2009

Amar...



"A experiência mostra que amar não é olhar um para o outro,

mas olhar juntos na mesma direcção!"


Saint-Exupéry

segunda-feira, maio 25, 2009

Não choro...



A dor não me pertence.

Vive fora de mim,

na natureza,

livre como a electricidade.

Carrega os céus de sombra,

entra nas plantas,desfaz as flores...

Corre nas veias do ar,

atrai os abismos,

curva os pinheiros...

E em certos momentos de penumbra

iguala-me à paisagem,

Surge nos meus olhos

presa a um pássaro

a morrer no céu indiferente.

Mas não choro.

Não vale a pena!

A dor não é humana.


José Gomes Ferreira

domingo, maio 24, 2009

Descruzamento de fios difíceis..´

Foto:G.Ludovice 2009

O Engano da Bondade

Endureçamos a bondade, amigos. Ela também é bondosa, a cutilada que faz saltar a roedura e os bichos: também é bondosa a chama nas selvas incendiadas para que os arados bondosos fendam a terra. Endureçamos a nossa bondade, amigos. Já não há pusilânime de olhos aguados e palavras brandas, já não há cretino de intenção subterrânea e gesto condescendente que não leve a bondade, por vós outorgada, como uma porta fechada a toda a penetração do nosso exame. Reparai que necessitamos que se chamem bons aos de coração recto, e aos não flexíveis e submissos. Reparai que a palavra se vai tornando acolhedora das mais vis cumplicidades, e confessai que a bondade das vossas palavras foi sempre - ou quase sempre - mentirosa. Alguma vez temos de deixar de mentir, porque, no fim de contas, só de nós dependemos, e mortificamo-nos constantemente a sós com a nossa falsidade, vivendo assim encerrados em nós próprios entre as paredes da nossa estuta estupidez. Os bons serão os que mais depressa se libertarem desta mentira pavorosa e souberem dizer a sua bondade endurecida contra todo aquele que a merecer. Bondade que se move, não com alguém, mas contra alguém. Bondade que não agride nem lambe, mas que desentranha e luta porque é a própria arma da vida. E, assim, só se chamarão bons os de coração recto, os não flexíveis, os insubmissos, os melhores. Reinvindicarão a bondade apodrecida por tanta baixeza, serão o braço da vida e os ricos de espírito. E deles, só deles, será o reino da terra.

Pablo Neruda, in "Nasci para Nascer"

O conteúdo da necessidade...

Foto:G.Ludovice 2006

...Dar prendas está a tornar-se cada vez mais difícil. Onde há ainda lugar vago? Oh, esta dor de já não sabermos o que desejar! Foi tudo satisfeito. O que nos falta, dizemos, é a necessidade, como se quiséssemos fazer dela um desejo. E continuamos a dar presentes inexoravelmente. Já ninguém sabe quem, nem o quê, nem quando lhe caiu benevolamente em cima. Saciado e carente era o meu estado, quando pus a mim próprio, a pergunta sobre o que queria no Natal e desejara que fosse uma ratazana.
Naturalmente, fizeram troça de mim. Não faltaram as perguntas:- Na tua idade? É mesmo a sério? É só porque estão na moda? Por que não uma gralha? Ou, como no ano passado, peças de vidro soprado artesanalmente? Bom, se é isso que queres, gostos não se discutem...
In: Gunter Grass, A ratazana

sábado, maio 23, 2009

"Pavement Picasso"





"A arte é de todos"
Julian Beever

Aos amigos

Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado.
Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos, com os livros atrás a arder para toda a eternidade.
Não os chamo, e eles voltam-se profundamente dentro do fogo.
-Temos um talento doloroso e obscuro.
construímos um lugar de silêncio.
De paixão.

HERBERTO HELDER

Fogo

Um abraço,
o calor de um afago
no fogo da pele,
nas incandescências do corpo
invadido pela brasa,
que logo,
reaviva o fogo
sem perder o fôlego,
ciente da necessidade
do corpo quente,
de amor carente.

maria eduarda

sexta-feira, maio 22, 2009

O Génio da lâmpada



O Aladino pega na lâmpada, limpa-lhe a poeira, e de repente aparece o Génio.

O Génio diz sempre a mesma coisa: “O seu desejo é uma ordem!”.

A história diz que existem três desejos, mas se a seguirmos até às suas origens, não existe nenhum limite para os desejos.

Agora vamos pegar nessa metáfora e aplicá-la á vida:

Lembra-te que o Aladino é uma pessoa que pede sempre o que quer. E há o Universo como um todo, que é o Génio. As tradições chamam-lhe muitas coisas – o teu anjo da guarda, o teu eu Superior...
Podes pôr-lhe qualquer etiqueta, e escolher a que te parecer que funciona melhor contigo.

O Génio diz sempre a mesma coisa: “O seu desejo é uma ordem!”

Esta história maravilhosa demonstra como toda a tua vida e tudo o que nela existe foi criado por Ti. O Génio limitou-se a responder a todas as tuas ordens. O Génio é a lei da atracção, está sempre presente, sempre a ouvir tudo o que tu pensas e dizes e a ver como ages. O Génio presume que tudo aquilo em que pensas é aquilo que desejas.

Tu és o Mestre do Universo, e o Génio está ali para te servir. O Génio nunca questiona as tuas ordens. Tu pensas e o Génio começa imediatamente a equilibrar o Universo, através das pessoas, das circunstâncias e dos acontecimentos, para realizar o teu desejo.

Rhonda Byrne, “O Segredo”

O sonho do escravo



Passeio por um caminho solitário.
Desfruto do ar, do sol, dos pássaros
e do prazer de ser levado pelos meus pés
Para onde quer que eles me levem.
De um lado do caminho
encontro um escravo a dormir.
Aproximo-me e descubro que está a sonhar.
Pelas suas palavras e expressões adivinho…
Sei o que sonha:
O escravo está a sonhar que é livre.
A expressão do seu rosto reflecte paz e serenidade
Pergunto-me…
Devo acordá-lo e mostrar-lhe que é apenas um sonho
para que saiba que continua a ser um escravo?
Ou devo deixá-lo dormir o tempo todo que puder,
desfrutando, nem que seja apenas em sonhos,
da sua realidade fantasiada?

Jorge Bucay "Deixa-me que te conte"

quinta-feira, maio 21, 2009

Luz

Lanço o meu olhar
até ti.
Envolvo-te em esperança,
embalo-te no verde
para agarrares a vida,
fugidia, vadia!
Recolhe na ramagem
o brilho da cor,
veste-te assim,
nudez colorida,
essência sentida!
maria eduarda

"Construímos muros demais ...
e pontes de menos."

Newton

quarta-feira, maio 20, 2009

Carta de Amor

Não há palavras para definir cada pessoa…
Talvez num poema possamos falar de alguém,
Com palavras entrelaçadas em rimas,
Como pequenas estrelas brilhando no imenso céu.
Talvez um poema possa ser um pequeno reflexo luminoso,
da imensidão de luz que é cada ser.

Mas hoje não estou para poesias, nem rimas, nem jogos estrelares de palavras de luz.

Hoje, apetecer-me escrever-te,
Porque é o dia em que a tua mãe deu “à luz” o Universo que és…
Não foi nesse dia que te conheci,
Pois não era esse o momento em que me cabia a mim ser.
Dia já longe no tempo, nesse tempo em que nem sequer eu era eu,
mas em que tu passaste a existir.
É com orgulho e alegria que te chamo Pai e me sinto parte de ti, continuação…
Evocando as minhas memórias apareces, desde sempre,
em lembranças afectuosas, felizes, ternurentas….

Obrigada por estares sempre presente e por seres especial.

Sei que para mim sonhaste (e sonhas) as asas mais belas, que me levem alto,
em voos seguros, planando com graciosidade…
Sei que sempre que cair estarás lá, torcendo para que me levante e, erguida,
não desista e acredite…
Que esperas que, então, corra, até ganhar balanço suficiente,
para de novo levantar voo, sem medo, tendo como destino os meus sonhos…

Além de seres o pai maravilhoso que és, és um ser humano que admiro pela sensibilidade, humanismo, criatividade, espírito de sacrifício, perseverança, alegria, energia, criatividade, etc!

Parabéns! Obrigada por existires!

Apatia

A todos os ausentes
habitados em mim,
guardo num raio de sol,
em saudades prementes,
em angústias intermitentes.
E, mesmo em dias de sol,
claros, luminosos,
quando o acordar não coincide
com a natureza envolvente,
o olhar é a tristeza,
no sorriso apagado,
com remetente identificado.
Resta a espera,
do sorriso aperfeiçoado,
no esforço feito
para prosseguir, sair,
abandonar a apatia,
lembrar alguns presentes,
em delírio, sobreviventes.
maria eduarda

segunda-feira, maio 18, 2009

Amizade




A amizade é uma árvore grande e forte,
Com raízes profundas e sólidas,
Um tronco largo e robusto,
Ramos longos que crescem à sorte…

Os amigos são esses ramos,
Crescendo com diferentes ângulos de luz,
Em diferentes direcções...
Ao sabor de desiguais passagens de vento,
Com folhas, frutos, ninhos, ou sem eles!


Os amigos são irmãos que escolhem pertencer à mesma árvore.


Dinamene

Falou Amizade


Falou amizade
E por toda cidade ecoa
A letra dos livros voa
Falando amizade
Por toda cidade boa
Falou amizade
E por toda cidade boa
A letra dos livros voa
Falando amizade
Por toda cidade boa
O sonho já tinha acabado quando eu vim
E cinzas de sonhos desabam sobre mim
Mil sonhos já tinham sonhados
Quando nós perguntamos ao passado
Estamos sós?
Mil sonhos serão urdidos na cidade
Na escuridão, no vazio, há amizade
A velha amizade
Esboça um país mais real
Um país mais que divino
Masculino, feminino e plural.
Caetano Veloso

domingo, maio 17, 2009

Haja o que houver


O meu porto de abrigo
Haja o que houver
espero por ti
Volta no vento ó meu amor
Volta depressa por favor
Há quanto tempo, já esqueci
Porque fiquei, longe de ti
Cada momento é pior
Volta no vento por favor...
Eu sei quem és pra mim
Haja, o que houver espero por ti...
Há quanto tempo,já esqueci
Porque fiquei, longe de ti
Cada momento é pior
Volta no vento por favor
Eu sei quem és pra mim
Haja o que houver, espero por ti...

Madredeus
Composição: Pedro Ayres Magalhães

Efectivamente faltam-nos as palavras

«Faltam-me as palavras. Efectivamente faltam-nos as palavras. Diz-se que numa das línguas faladas pelos indígenas da américa do sul, talvez na amazónia, existem mais de vinte expressões, umas vinte e sete, creio recordar, para designar a cor verde. Comparando com a pobreza do nosso vocabulário quanto a esta matéria, parecerá que devia ser fácil para eles descrever as florestas em que vivem, no meio de todos aqueles verdes minuciosos e diferenciados, apenas separados por subtis e quase inapreensíveis matizes. Não sabemos se alguma vez o tentaram e se ficaram satisfeitos com o resultado. O que, sim, sabemos, é que um monocratismo qualquer, por exemplo, para não ir mais longe, o aparente branco absoluto destas montanhas, também não decide a questão, talvez porque haja mais de vinte matizes de branco que a olho não pode perceber, mas cuja existência pressente. A verdade, se quisermos aceitá-la em toda a sua crueza, é que, simplesmente, não é possível descrever uma paisagem com palavras. Ou melhor, ser possível, é, mas não vale a pena. Pergunto se vale a pena escrever a palavra montanha se não sabemos que nome se daria a montanha a si mesma. Já a pintura é outra coisa, é muito capaz de criar sobre a paleta vinte e sete tons de verde seus que escaparam à natureza, e alguns mais que não o parecem, e a isso, como compete, chamamos arte. Às árvores pintadas não caem as folhas.»

josé saramago “A viagem do elefante”

sábado, maio 16, 2009

Buganvília

Eu vi a buganvília a dançar na ventania
a trepar numa janela
eu vi a buganvília entre o acender da lua
e o encanto da manhã

Eu vi a buganvília de noite junto ao lago
a molhar o seu sorriso
Sonhara que morrera nos ramos da buganvília
nos tons do seu vestido

Eu vi a buganvília a fazer do teu vermelho
um bordado marinheiro
quando encontras o sol no branco da cal
te pões de amarelo

Eu vi a buganvília a dançar na ventania
a trepar numa janela
eu vi a buganvília entre o acender da lua
e o encanto da manhã

Eu vi a buganvília de noite junto ao lago
a molhar o seu sorriso
sonhara que morrera nos ramos da buganvília
nos tons do seu vestido

João Afonso

sexta-feira, maio 15, 2009

Coisas que se pensam quando qualquer outra coisa seria menos inútil

foto:G.Ludovice 2009

O que me faz não ser de algum lado são os limites desse lado.
Às vezes seria uma toupeira, o chão sempre é mais solarento na sua profundidade que muitas superfícies, no entanto, habitáveis.

Que estranho o serem habitáveis e o serem como os rostos quando se entra neles e antes que se chegue ao seu fundo, há já lá um muro alto, sem no entanto qualquer buganvília.

quinta-feira, maio 14, 2009

Às vezes

Às vezes,
momentos, horas
vividas ao segundo,
tocam-nos, renascem-nos,
cumprimentam-nos
na alegria inundada,
na felicidade sentida.
E essas horas
são momentos,
instantâneos de vida
finalizados depois,
para serem (re)começados,
(re)vividos, sentidos.
E a felicidade assim,
quase em apoteose,
inunda-nos o corpo,
a alma, os sentires.
E o tempo entra,
em delícia,
toca-nos ao de leve,
resgata o silêncio,
exige ternura,carinho,
num tempo que agora é nosso,
de efémero que é...
maria eduarda

terça-feira, maio 12, 2009

Descrédito

Tenho uma harpa à mão,
a música à espera,
cordas imóveis, descrentes
de mãos inaptas desse toque,
as minhas,
da harpa de um crente.

Talvez um outro instrumento,
um piano, quiçá,
dentes brancos enfileirados
à espreita de duas mãos
que mais os branqueiem,
na suavidade da melodia,
na harmonia, no saber deslizar,
no vestir de tocador,
serenidade falseando a dor.
maria eduarda

segunda-feira, maio 11, 2009

Os Actos Valem mais que as Palavras


Nenhuma explicação verbal poderá alguma vez substituir a contemplação. A unidade do Ser não é transmissível pelas palavras. Se eu quisesse ensinar a homens, cuja civilização o desconhecesse, o que é o amor a uma pátria ou a uma quinta, não disporia de argumento algum para os convencer. São os campos, as pastagens e o gado que constituem uma quinta. Todos e cada um deles têm como missão produzir riqueza. No entanto, há alguma coisa na quinta que escapa à análise dos seus componentes, pois existem proprietários que, por amor à sua quinta, se arruinariam para a salvar. Pelo contrário, é essa «alguma coisa» que enriquece com uma qualidade particular os componentes. Estes tornam-se gado de uma quinta, prados de uma quinta, campos de uma quinta...
Assim se passa a ser homem de uma pátria, de um ofício, de uma civilização, de uma religião. Mas, para que alguém se reclame de tais Seres, convém, antes de mais, fundá-los em si próprio. E, se não existir o sentimento da pátria, nenhuma linguagem o transmitirá. O Ser de que nos reinvindicamos não o fundamos em nós senão por actos. Um Ser não pertence ao domínio da linguagem, mas dos actos. O nosso Humanismo desprezou os actos. Fracassou na sua tentativa.


Antoine de Saint-Exupéry, in 'Piloto de Guerra'

domingo, maio 10, 2009

Coisas que se pensam quando qualquer outra coisa seria menos inútil

Foto:G.Ludovice

Na porta à porta, entendo a impossibilidade de para uns ficar e para outros tantos ir.
Por isso, as varandas são construídas sobre as portas, para quem parte poder ainda avistar quem nelas se pousa.
E por essa razão têm um número ou nome as portas, para que quem fica saiba que quem foi tem um caminho de volta, caso tenha ainda coração que o traga.

Não dizer a cor da tua porta com os meus olhos, faz com que sem pressa sejas uma miragem no meu pensamento, quase tanto como não conseguir imaginar-te mais, de tanto te imaginar.
Pode-se ficar menos real, assim, por nada.

sábado, maio 09, 2009

O boxer Rufy

Fiquei mais só!

Solidão no meu espaço,
vazio dentro de mim.
Ausência do ser vivo,
que me aguardava
diariamente,
e se anunciava,
pela ternura,
pela companhia,
pela gratidão!
Lançava-me o seu olhar,
exigia-me atenção.
O meu cão Rufy,
não era pessoa,
claro que não,
mas era aquele ser
que de mim esperava
cuidados, afagos, emoção,
e me retribuía lealdade, devoção.
Fiquei mais só!
07-05-09
maria eduarda

quinta-feira, maio 07, 2009

Palavra AMOR



Indagando o sentimento Amor,
Perscrutando-lhe a verdade,
Peguei na palavra AMOR
E desmanchei-a, desarrumei-a, reagrupei-a,

A O M A R M O R A O R O M A
R A M O M O R A M R

Peguei em cada letra da palavra, uma a uma,
E vi, no AMOR, a

A
ntecipação
M aravilhosa,
O
nírica e
R eal, da Eternidade.

Vi…

A migos
M anipulando e transformando,
O cupados e cuidadosos,
R estos de Emoções…

A mantes
M imando-se,
O bservando-se,
R epletos de Ternuras.


A s águas do
M ar…
O ndulando em
R efluxos na Areia!

A paixonados,
M ães e Filhos,
O lhando-se em
R eflexos de Luz…

Peguei na palavra AMOR
E atirei-a ao Ar…
Então, de novo, caiu em mim….
Caí em mim!
Voltou em muitas palavras, infinitas letras, várias emoções…
Porque no Amor cabe o Mundo, o Universo, o Sonho e o Real…
Porque se há imagens que valem por mil palavras,
Também a palavra AMOR vale
… por mil imagens e infinitos belos sentimentos.

Dinamene

Ser Feliz é um Dever

É difícil ser feliz; requer espírito, energia, atenção, renúncia e uma espécie de cortesia que é bem próxima do amor. Às vezes é uma graça ser feliz. Mas pode ser, sem a graça, um dever. Um homem digno desse nome agarra-se à felicidade, como se amarra ao mastro em mau tempo, para se conservar a si mesmo e aos que ama. Ser feliz é um dever. É uma generosidade.


Louis Pauwels, in 'Carta Aberta às Pessoas Felizes'

quarta-feira, maio 06, 2009

Sou da terra onde nasci

"Sou da terra onde nasci...". Gosto desta frase, melhor, gosto do sentimento que traduz. Provavelmente sinto falta desta ligação ao espaço-berço, porque eu não sou da terra onde nasci. Embora ela me tenha legado esta nostalgia dos grandes espaços e lhe deva esta emoção que sinto perante os imensos areais ou a planície a perder-se na linha do horizonte - eu não sou da terra onde nasci. Porque o que me liga a ela é a memória, não a saudade. Sem dúvida, a memória dos grandes e pequenos espaços - primeiro a casa, depois a escola, por fim o mar.
Na verdade eu não sou da terra onde nasci como não sou de outra qualquer. Talvez não saiba, nem queira ser. Seguramente estar.

(não tenho indicação do autor)

A missanga, todos a vêem.

Ninguém nota o fio que, em colar vistoso, vai compondo as missangas.

Também assim é a voz do poeta:
um fio de silêncio costurando o tempo.

Mia Couto

terça-feira, maio 05, 2009

Ele escreve versos

- Ele escreve versos!
Apontou o filho, como se entregasse criminoso na esquadra. O médico levantou os olhos, por cima das lentes, com o esforço de alpinista em topo de montanha.
- Há antecedentes na família?
- Desculpe, doutor?
O médico destrocou-se em tintins. Dona Serafina respondeu que não. O pai da criança, mecânico de nascença e preguiçoso por destino, nunca espreitara uma página. Lia motores, interpretava chaparias. Tratava-a bem, nunca lhe batera, mas a doçura mais requintada que conseguira tinha sido em noite de núpcias:
- Serafina, você hoje cheira a óleo Castrol.

O Fio das Missangas, Mia Couto

Em Plena Vida e Violência

Em plena vida e violência
De desejo e ambição,
De repente uma sonolência
Cai sobre a minha ausência.
Desce ao meu próprio coração.
Será que a mente, já desperta
Da noção falsa de viver,
Vê que, pela janela aberta,
Há uma paisagem toda incerta
E um sonho todo a apetecer ?

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro

A Força Exacta é Violência

a Força Exacta é violência.
a Força em espirro, ao acaso, não é violência, é existência.
O mal é Fixar a Força (direccioná-la)
porque a natureza espontânea não o FAZ.
Natural é ser FORTE, isto é, avançar.
Violento é o Percurso que antecede o viajante.
Antes dos pés: Sapatos; a estrada.
A Força Exacta é violência.
A natureza não tem, nunca teve, Forças EXACTAS.
E tudo o que o homem faz é tornar exacta a FORÇA.
Ser violento é construir; todo o Edifício é violência.
O homem é o Exacto da Natureza; a falha NATURAL; o Erro.
Deus errou: fez o homem EXACTO.

Gonçalo M. Tavares, in "Investigações. Novalis"

segunda-feira, maio 04, 2009

infinitamente menos nos mapas

«Uma pessoa olha o mapa e fica logo cansada. E, no entanto, parece que tudo ali está perto, por assim dizer, ao alcance da mão. A explicação, evidentemente, encontra-se na escala. É fácil aceitar que um centímetro no mapa equivalha a vinte quilómetros na realidade, mas o que não costumamos pensar é que nós próprios sofremos na operação uma redução dimensional equivalente, por isso é que, sendo já tão mínima coisa no mundo, o somos infinitamente menos nos mapas. Seria interessante saber, por exemplo, quanto mediria um pé humano àquela mesma escala. Ou a pata de um elefante. Ou a comitiva toda do arquiduque maximiliano de áustria.»


josé saramago «A viagem do elefante»

domingo, maio 03, 2009

Sobre a Vida...



Coisas que se pensam quando qualquer outra coisa seria menos inútil

Se não fosse mamífera, Mãe, não te sentiria assim, sempre tão por perto mesmo quando me vês fugidia; é que os mamíferos apesar de não possuirem fisicamente as asas, são de um esguio molhado nas suas emoções.
Não fujo nunca de ti mas talvez porque a tua protecção me parece éfemera, isso assusta-me quase tanto como nunca a ter tido, o que num mundo de mamíferos é aterrador.
Já pensaste mãe, se fossemos outros animais, o seres minha fonte de vida não teria nenhum sentido próprio, nem de afecto nem metafísco, provavelmente nem teria noção de ti.
Alegro-me portanto, da minha espécie.
És um tesouro e eu posso sentir isso de todas as maneiras.
(para uma mãe bióloga)

Palavras para a Minha Mãe

mãe, tenho pena.
esperei sempre que entendesses as palavras que nunca disse e os gestos que nunca fiz.
sei hoje que apenas esperei, mãe, e esperar não é suficiente.
pelas palavras que nunca disse,
pelos gestos que me pediste tanto e eu nunca fui capaz de fazer,
quero pedir-te desculpa, mãe,
e sei que pedir desculpa não é suficiente.
às vezes, quero dizer-te tantas coisas que não consigo,
a fotografia em que estou ao teu colo é a fotografia mais bonita que tenho,
gosto de quando estás feliz.
lê isto: mãe, amo-te.
eu sei e tu sabes que poderei sempre fingir que não escrevi estas palavras,
sim, mãe,
hei-de fingir que não escrevi estas palavras,
e tu hás-de fingir que não as leste, somos assim, mãe, mas eu sei e tu sabes.

José Luís Peixoto, in "A Casa, a Escuridão

Dia da Mãe, todos os dias

MÃE

Quem a não tem?
Por perto ou muito além,
onde o olhar não a alcança,
onde a saudade não cansa,
Quem a não tem?

sexta-feira, maio 01, 2009

Ao caçula, meu irmão

Tenho a memória viva
do ser pequenino de então,
que me olhava,me pedia atenção,
querendo de mim,
o sorriso, o afecto,
as cantigas de menino,
que eu cantava com emoção.
Atento, fixava-me,
à espera da minha reacção.
E eu, extasiada,
embalava-o numa canção.
Alerta, renovava o carinho,
sentia-me mais amada.
E, à medida que crescia,
em mim, engrandecia,
e, no amor, no carinho,
mantenho-te vivo, meu irmão,
no homem que és,
no ser presente,
nesta afeição,nesta nossa união!
Manana (assim me chamavas)

"A criança que não queria falar" de Torey Hayden

Este livro conta-nos a história verídica de uma criança de seis anos, abandonada pela mãe, a viver com um pai alcoólico, e que “até então, apenas conheceu um mundo onde foi severamente maltratada e abusada”.
A autora fala-nos do seu trabalho com crianças que apresentam dificuldades mentais e emocionais. Este caso é, de facto, impressionante e, à medida que vamos acompanhando os progressos da pequena Sheila, o nosso envolvimento vai sendo cada vez maior.
É um livro que toda a gente devia ler. Deixo aqui um excerto do prólogo.
"Interrogam-me muitas vezes sobre o meu trabalho. Talvez a pergunta mais comum seja: Não é frustrante?
"Não é frustrante?", perguntam os alunos universitários, "conviver diariamente com violência, pobreza, droga e alcoolismo, abuso sexual e físico, negligência e apatia?" "Não é frustrante?", pergunta o vulgar professor primário "trabalhar tanto e receber tão pouco em troca?" "Não é frustrante?", perguntam todos, "saber que o maior sucesso obtido será provavelmente uma aproximação da normalidade; saber que estas crianças tão pequenas foram condenadas a viver uma vida que, pelos nossos padrões, nunca será produtiva, responsável ou normal? Não é frustrante?" Não. Na verdade, não é. Trata-se simplesmente de crianças, por vezes frustrantes, como todas as crianças o são. Mas elas também são de uma extrema ternura e de uma incrível percepção. Só a loucura parece permitir que seja dita toda a verdade. Contudo, estas crianças são ainda mais do que isso, são corajosas. (…) Algumas destas crianças vivem com pesadelos tão medonhos nas suas cabeças, que cada movimento fica imbuído de um terror desconhecido. Algumas vivem debaixo de uma violência e perversidade impossível de expressar por palavras. Algumas vivem sem a dignidade concedida aos animais. Algumas vivem sem amor. Algumas vivem sem esperança. No entanto, aguentam. E, na sua maioria, aceitam, por desconhecerem outro tipo de atitude. Este livro conta a história de uma só dessas crianças. Não foi escrito para despertar piedade. Nem para elogiar o trabalho de uma professora. Nem tão pouco para deprimir aqueles que encontraram a paz na ignorância. Trata-se, em vez disso, de uma resposta à pergunta sobre a frustração inerente ao trabalho psiquiátrico. É um cântico à alma humana, porque esta menina é como todas as minhas crianças. Como todos nós. É uma sobrevivente.”