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quarta-feira, abril 08, 2009

Regresso à infância

volto à infância: aos tamarinos
ácidos como os frutos
proibidos, aos cajus
polpudos,
às mangas vermelhas como o sol

aos filmes do Zorro
no São Domingos, à quitaba
e ao bombó assado,
enchendo de felicidade o
estômago

ao espadachim de mentira,
com improvisados floretes retirados
às construções,
à caçambula, atreza
−NINGUÉM! NINGUÉM!−
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Com estes elementos:
a) Mangas furtadas sobre o sol;
b) Uma vara de romãzeira;
c) Insensatas disputas de espadachim;
d) Uma cabeça coberta docemente de sangue;
e) Alguns jogos – a semalha, a besta quadrada, etc.;
f) Periódicas desinterias inexplicáveis; e
g) A colossal imagem materna,
Faço uma composição talvez esotérica e cujo profundo ordenamento e sentido – para além de alguns esteriótipos poéticos – desconheço. A infância – penso – é uma série exaltada de fragmentos singelos, os quais, entretanto, e apesar de misteriosamente inúteis, se revelam, à medida que se degrada o tempo, cada vez mais imperativos e estranhamente iluminados.
Ainda hoje o sape-sape
Sempre me sabe à
Memória do meu avô

Ao comê-lo, um nó
Endurece-me a garaganta


Esse sabor-espólio
Da árvore de sape-sapes
Que ele tanto amou


João Melo “Auto-retrato”

3 comentários:

solange disse...

Para mim, eram os tamarindos. Tb se pode dizer assim. Este poema traz-me à memória muitas pequenas estórias. Ainda as virei contar, mas hj n, pois há outras prioridades!!!

dinamene disse...

Belo poema;-)
Ficamos à espera das estórias...
Beijo

solange disse...

Este autor é João Melo, angolano, não o João de Melo, dos Açores.

João Melo é escritor, jornalista, publicitário e professor. Nasceu em Luanda em 1955. Estudou Direito em Coimbra e em Luanda. Licenciou-se em Comunicação Social e fez o mestrado em Comunicação e Cultura no Rio de Janeiro. Dirigiu vários meios de comunicação angolanos, estatais e privados. Membro fundador da União dos Escritores Angolanos (UEA.