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terça-feira, abril 21, 2009

Proeza da multiplicação dos pães e dos peixes

«Queríamos ver o céu a perguntar se tinham por ali um celeiro grande ou, na sua falta, uma nave industrial , onde se pudessem recolher por uma noite os animais e as pessoas, o que de todo não seria impossível, basta que recordemos a peremptória afirmação daquele famoso Jesus de galileia que, nos seus melhores tempos, se gabou de ser capaz de destruir e reconstruir o templo entre a manhã e a noite de um único dia. Ignora-se se foi por falta de mão-de-obra ou de cimento que não o fez, ou se foi por ter chegado à sensata conclusão de que o trabalho não merecia a pena, considerando que se algo se vai destruir para construí-lo outra vez, melhor será deixar tudo como estava antes. Proeza, essa sim, foi o episódio da multiplicação dos pães e dos peixes, que se aqui chamamos à colação é tão-somente porque, por ordem do comandante e esforço da intendência da cavalaria, vai ser servida hoje comida quente para quantos humanos vão na caravana, o que não é pequeno milagre se considerarmos a falta de comodidades e a instabilidade do tempo. Felizmente não choverá.»

(pág. 70)

josé saramago "A viagem do elefante"

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