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domingo, agosto 24, 2008

A Idade do Divórcio


Devia haver uma idade para o divórcio como há para o casamento. As desilusões domésticas têm o seu tempo para se transformarem cicatrizes que vão desaparecendo com o passar dos anos. Por isso é que nos velhos casais há uma recordação da vida em comum que se assemelha à santidade. Contam peripécias leves e dão ao passado um colorido quase caricato pela força do distanciamento em que se encontram. A verdade é que sofreram os mesmos desenganos e turbulências que os jovens arrumam e põem de lado sem dar tempo a transformarem-nos em recalques.


Agustina Bessa-Luís, in 'Antes do Degelo'
1950

2 comentários:

wednesdays disse...

tudo tem o seu tempo. uma relação para se chegar a velho e só ter recordações coloridas é porque é preciso tempo e dedicação.
muita confiança e muita entrega.
desilusões domésticas todos têm, até os pais, às vezes até mesmo os filhos.
peripécias leves que dão ao passado um colorido quase caricato ainda muitos fazem mesmo com o passado pequeno que (por enquanto) tiveram, basta talvez saber ser se agradecido por aquilo que (ainda) se tem e as pessoas que cruzaram pelo nosso caminho.

dinamene disse...

É precisa muita sabedoria para aceitar as desilusões/discussões e até rir delas! Afinal também se aprende com "as coisa menos boas"!

Penso que actualmente há tantos divórcios porque as pessoas não têm paciência para "aceitar o outro", "calçar as suas sandálias", ou seja: colocar-se no lugar do outro. Muitas pessoas separam-se por coisa insignificantes, quando analisadas à lupa.
Também é verdade que, antigamente, se mantinham casamentos sem amor, sem respeito, apenas para manter aparencias...

Não há amores perfeitos, nós é que os aperfeiçoamos nos defeitos.