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quarta-feira, agosto 06, 2008


(...) a felicidade, esse estado difuso resultante da impossível convergência de paralelas de uma digestão sem azia com o egoísmo satisfeito e sem remorsos, continua a parecer-me, a mim, que pertenço à dolorosa classe dos inquietos tristes, eternamente à espera de uma explosão ou de um milagre, qualquer coisa de tão abstracto e estranho como a inocência, a justiça, a honra, conceitos grandiloquentes, profundos e afinal vazios que a família, a escola, a catequese e o estado me haviam impingido para melhor me domarem, para extinguirem (...) no ovo os meus desejos de protesto e de revolta.
António Lobo Antunes, "Os cus de judas"

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