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segunda-feira, junho 09, 2008

Um grande povo de heróis adiados



O português é capaz de tudo, logo que não lhe exijam que o seja. Somos um grande povo de heróis adiados. Partimos a cara a todos os ausentes, conquistamos de graça todas as mulheres sonhadas, e acordamos alegres, de manhã tarde, com a recordação colorida dos grandes feitos por cumprir. Cada um de nós tem um Quinto Império no bairro, e um auto-D.Sebastião em série fotográfica do Grandela. No meio disto (tudo), a República não acaba.

Somos hoje um pingo de tinta seca da mão que escreveu Império da esquerda à direita da geografia. É difícil distinguir se o nosso passado é que é o nosso futuro, ou se o nosso futuro é que é o nosso passado. Cantamos o fado a sério no intervalo indefinido. O lirismo, diz-se, é a qualidade máxima da raça. Cada vez cantamos mais um fado.

O Atlântico continua no seu lugar, até simbolicamente. E há sempre Império desde que haja Imperador.

Fernando Pessoa (texto sem data, com a indicação Ecolalia interior).

1 comentário:

solange disse...

Que prosa!!!

"É difícil distinguir se o nosso passado é que é o nosso futuro, ou se o nosso futuro é que é o nosso passado."

O nosso futuro será passado e o nosso passado já foi futuro!
Tão simples, afinal!!!