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sexta-feira, junho 13, 2008

MORREU FERNANDO PESSOA



MORREU FERNANDO PESSOA
Grande poeta de Portugal


Fernando Pessoa, o poeta extraordinário da "Mensagem", poema de exaltação nacionalista, dos mais belos que se tem escrito, foi ontem a enterrar.
Surpreendeu-o a morte,num leito cristão do Hospital de S.Luís, no sábado à noite.
A sua passagem pela vida foi um rastro de de luz e de originalidade.
[...]
Desconcertante, profundamente original e estruturalmente verdadeiro, a sua personalidade era vária, como vário o rumo da sua vida.Ele não tinha uma actividade "una", uma actividade dirigida: tinha múltiplas actividades.

Na poesia não era só ele: Fernando Pessoa; ele era também Álvaro de Campos e Alberto Caeiro e Ricardo Reis.E era-os profundamente, como só ele sabia ser. E na poesia como na vida. E na vida como na arte.
Tudo nele era inesperado.Desde a sua vida, até aos seus poemas, até à sua morte.

Inesperadamente, como se se anunciasse um livro ou uma nova corrente literária por ele idealizada e vitalizada, correu a notícia da sua morte. Um grupo de amigos conduziu-o ontem a um jazigo banal do cemitério dos Prazeres.Lá ficou, vizinho de outro grande poeta que ele muito admirava, junto do seu querido Cesário, desse Cesário que ele não conhecera e que, como ninguém, compreendia.

Se Fernando Pessoa morreu, se a matéria abandonou o corpo, o seu espírito não abandonará nunca o coração e o cérebro dos que o amavam e admiravam. Entre eles fica a sua obra e a sua alma. A eles compete velar para que o nome daquele que foi grande não caia na vala comum do esquecimento.
Tinha 47 anos o poeta que foi ontem a enterrar. Quarenta e sete anos e um grande amor à Vida, à Arte e à Beleza.
[...]
Em frente do jazigo que Fernando Pessoa passa a habitar, Luís de Montalvor, seu companheiro de 24 anos de vida literária, proferiu simples e emotivas palavras em nome dos sobreviventes do grupo "Orpheu".
E disse:
"Duas palavras sobre o trânsito mortal de Fernando Pessoa. Para ele chegam duas palavras, ou nenhumas. Preferível fora o silêncio que já o envolve a ele e a nós, que é da estatura do seu espírito. Com ele só está bem o que está perto de Deus. Mas também não deviam, nem podiam, os que foram pares com ele no convívio da sua Beleza, vê-lo descer à terra, ou antes, subir, ganhar as linhas da Eternidade, sem enunciar o protesto calmo, mas humano, da raiva que nos fica da sua partida.
[...]
Lastimamos o homem, que a morte nos rouba, e com ele a perda do prodígio do seu convívio e da graça da sua presença humana. Somente o homem, é duro dizê-lo, pois que ao seu espírito e ao seu poder criador, a esses deu-lhes o Destino uma estranha formosura, que não morre.
O resto é com o génio de Fernando Pessoa."

Notícia publicada no Diário de Notícias, de 3-12-1935

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