No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
-Duas de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
Tão jovem! que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
"O menino da sua mãe":
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira,
Ele é que já não serve.
De outra algibeira, alada
Pronta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço...Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
"Que volte cedo e bem!"
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.
Fernando Pessoa, Cancioneiro, 1926
(Às mães, que perderam os seus filhos, os seus meninos, acredito que lhes seja muito difícil, voltar a sorrir!!)
1 comentário:
É forte e comovente este poema!
Realmente, Pessoa tinha o Dom da Escrita.... Grande Poeta!
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