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sexta-feira, junho 06, 2008

Dos Pensamentos..

Viena de Áustria, 2008
Foto:G.
Ludovice


"(...) De facto um pensamento que não tem uma finalidade prática é uma ocupação secreta pouco decente; sobretudo aqueles pensamentos que dão grandes saltos, como se tivessem andas e tocam a experiência apenas com minúsculas solas, são suspeitos de terem uma origem pouco legítima. Antigamente falava-se do voo dos pensamentos, e no tempo de Schiller um homem cujo peito desse abrigo a problemas de tão alto gabarito seria certamente muito considerado. Hoje, pelo contrário, ficamos com a impressão de que há qualquer coisa que não bate certo num homem assim, a menos que se trate da sua profissão e fonte de rendimento. Deu-se sem dúvida, uma reorganização das prioridades.
Dterminadas preocupações foram retiradas do coração dos homens. Criou-se para os pensamentos de alto voo, uma espécie de aviário a que se chama filosofia, teologia ou literatura, onde eles se reproduzem à maneira e cada vez mais a perder de vista; e é bom que assim seja, porque perante tal multiplicação ninguém precisa de se censurar por não poder ocupar-se pessoalmente de cada um deles (...)"

in: , O homem sem qualidades, Robert Musil, trad.J.Barrento, ed.D.Quixote, 2008


Quando nos encontramos com Musil (escritor austríaco), pára-se como uma rocha que minutos antes era um desassossego exterior disseminado em areias. Fica-se em peso, por dentro.
Existe na sua obra a reflexão não como esporádica mancha, mas definitiva no seu desconcertar o real, esse guarda-chuva desmantelável pelos pensamentos.

3 comentários:

didium disse...

Os pensamentos de alto voo, devem ser tratados pelos peritos. Nós, falo por mim, limitamo-nos a pensamentos que rasam o chão e que tentamos resolver!
Gosto de ler este autor,senhora professora de Filosofia.
:)

G. Ludovice disse...

qual professora? é a vida que é uma professora e digamos que rude quase sempre, com as mãos sem meneios primários ou secundários, yap?
eu tb gosto do Musil, haveríamos de morar mais perto...
bj
:))

didium disse...

O longe faz-se perto...
Temos que ensinar algo à vida, por exemplo, quando ela nos marcar "o último teste", faltar e não justificar!