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domingo, maio 11, 2008

Ao meu Pai - um Comandante na Vida!

Dedico ao Homem determinado, corajoso e destemido perante a vida, que partiu, faz hoje cinco meses, esta singela Homenagem.
Desde miúda que me lembro do meu Pai, garboso, dentro da sua farda de Comandante dos Bombeiros Voluntários. Sempre preocupado em servir, em ajudar os outros, sempre pronto!
Lembro-me de um Homem muito trabalhador, preocupado com o conforto da sua família, um Homem lutador, um Comandante na vida, sempre!!!
Refiro-me a um Comandante que foi capaz de decidir o caminho a seguir e ir sempre em frente, sem medo, com muita convicção. Um Homem que lutou até ao último instante da sua vida, sempre com vontade de viver!

O meu Pai dizia sempre esta frase: "É tão bom viver!", e mesmo já doente, quando eu lhe perguntava: "Então, Pai?", ele respondia pronto :"Cá estamos, filha!". E eu ficava triste, amargurada, porque sentia que ele lutava, enfrentava a vida, mas aos poucos, esta virava-lhe as costas
Mas ele continuava, firme, sempre com vontade de partilhar connosco o mesmo caminho!
Foi assim, durante muitos meses, o meu Pai a agarrar os minutos, as horas, os dias, e o tempo a fugir-lhe, um bocadinho de cada vez...
Mesmo perto do fim, o meu Pai olhou para nós, e falou, falou, falou, mas a voz já enfraquecida, não soou, e ficámos sem saber o que ele nos quis dizer... Penso que nos quis sossegar, porque ele preocupava-se connosco. Porque sabia que não estava sozinho e que o carinho, a ternura com que o envolvíamos, era imensa.
Este Comandante nunca se queixou, nunca se lastimou, esteve sempre firme, sempre corajoso, até ao fim!
Aprendemos muito com ele, porque nos fez passar a vivência de um Homem honesto, trabalhador, lutador e vitorioso na VIDA!

Lamento profundamente, até chego a sentir revolta, a agonia em que viveu durante meses, o sofrimento pelo qual passou sem se queixar, sem dramatizar.
O meu Pai sempre foi um homem de carácter, apaixonado pela Vida, só partiu, porque o cansaço começou a apoderar-se dele , porque as armas que tinha para lutar , eram-lhe roubadas, aos poucos, todos os dias, e ele capitulava ... Como lutar, então?
A saudade é imensa e será sempre, até ao fim das nossas vidas!

Eduardinha (era assim que o meu Pai me chamava)

3 comentários:

dinamene disse...

Bom dia!

Tão bonitas as tuas palavras…Escreves com o coração!
Que homem de luz, também, o teu pai!
Emocionei-me com a sua vontade de falar até na despedida!...
Já espreitei o blog http://comandantearmandocardososoares.blogspot.com
e gostei de conhecer a grandiosidade do Comandante!

Sito Pablo Neruda (um dos seus últimos poemas):

Se cada dia cai

Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.

há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência.

Xinho disse...

Li, no mesmo dia, o que escreveste. Passados 2, 3 dias não sei o que te dizer. Lido com as suas memórias, todos os dias. Tive vários Pais. Um distante, outro mais próximo, outro menos distante e outro ainda um pouco mais próximo. Num dos últimos meses do ano passado, fui visitá-lo. Ficamos sozinhos no quarto. Calados. A Terezinha entrou e perguntou: Então, Armandinho, o Xinho está aqui e não lhe dizes nada? E ele disse: Dizer o quê, ele sabe que eu estou aqui.

didium disse...

Querido Xinho:
É difícil, e tem sido muito difícil para ti, a perda do pai e tudo o que isso envolve.
Ele sabia que não precisava de nos dizer mais nada, que nós o aceitávamos e ponto final. Para quê desenterrar o passado, quando o pai tanto se agarrava à vida.
Perante a resposta que ele te deu, entende-se o que ele quis dizer. Nada precisava de ser esclarecido, bastava ele estar lá e tu também, mesmo que calados.
Ainda é muito recente a sua partida, mas tu tens que tentar ultrapassar tudo isto. Vive mais intensamente. Um dia falamos. Eu ainda ando por cá! Não te esqueças!
Bjs