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Desde miúda que me lembro do meu Pai, garboso, dentro da sua farda de Comandante dos Bombeiros Voluntários. Sempre preocupado em servir, em ajudar os outros, sempre pronto!
Lembro-me de um Homem muito trabalhador, preocupado com o conforto da sua família, um Homem lutador, um Comandante na vida, sempre!!!
Refiro-me a um Comandante que foi capaz de decidir o caminho a seguir e ir sempre em frente, sem medo, com muita convicção. Um Homem que lutou até ao último instante da sua vida, sempre com vontade de viver!
O meu Pai dizia sempre esta frase: "É tão bom viver!", e mesmo já doente, quando eu lhe perguntava: "Então, Pai?", ele respondia pronto :"Cá estamos, filha!". E eu ficava triste, amargurada, porque sentia que ele lutava, enfrentava a vida, mas aos poucos, esta virava-lhe as costas
Mas ele continuava, firme, sempre com vontade de partilhar connosco o mesmo caminho!
Foi assim, durante muitos meses, o meu Pai a agarrar os minutos, as horas, os dias, e o tempo a fugir-lhe, um bocadinho de cada vez...
Mesmo perto do fim, o meu Pai olhou para nós, e falou, falou, falou, mas a voz já enfraquecida, não soou, e ficámos sem saber o que ele nos quis dizer... Penso que nos quis sossegar, porque ele preocupava-se connosco. Porque sabia que não estava sozinho e que o carinho, a ternura com que o envolvíamos, era imensa.
Este Comandante nunca se queixou, nunca se lastimou, esteve sempre firme, sempre corajoso, até ao fim!
Aprendemos muito com ele, porque nos fez passar a vivência de um Homem honesto, trabalhador, lutador e vitorioso na VIDA!
Lamento profundamente, até chego a sentir revolta, a agonia em que viveu durante meses, o sofrimento pelo qual passou sem se queixar, sem dramatizar.
O meu Pai sempre foi um homem de carácter, apaixonado pela Vida, só partiu, porque o cansaço começou a apoderar-se dele , porque as armas que tinha para lutar , eram-lhe roubadas, aos poucos, todos os dias, e ele capitulava ... Como lutar, então?
A saudade é imensa e será sempre, até ao fim das nossas vidas!
Eduardinha (era assim que o meu Pai me chamava)
3 comentários:
Bom dia!
Tão bonitas as tuas palavras…Escreves com o coração!
Que homem de luz, também, o teu pai!
Emocionei-me com a sua vontade de falar até na despedida!...
Já espreitei o blog http://comandantearmandocardososoares.blogspot.com
e gostei de conhecer a grandiosidade do Comandante!
Sito Pablo Neruda (um dos seus últimos poemas):
Se cada dia cai
Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.
há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência.
Li, no mesmo dia, o que escreveste. Passados 2, 3 dias não sei o que te dizer. Lido com as suas memórias, todos os dias. Tive vários Pais. Um distante, outro mais próximo, outro menos distante e outro ainda um pouco mais próximo. Num dos últimos meses do ano passado, fui visitá-lo. Ficamos sozinhos no quarto. Calados. A Terezinha entrou e perguntou: Então, Armandinho, o Xinho está aqui e não lhe dizes nada? E ele disse: Dizer o quê, ele sabe que eu estou aqui.
Querido Xinho:
É difícil, e tem sido muito difícil para ti, a perda do pai e tudo o que isso envolve.
Ele sabia que não precisava de nos dizer mais nada, que nós o aceitávamos e ponto final. Para quê desenterrar o passado, quando o pai tanto se agarrava à vida.
Perante a resposta que ele te deu, entende-se o que ele quis dizer. Nada precisava de ser esclarecido, bastava ele estar lá e tu também, mesmo que calados.
Ainda é muito recente a sua partida, mas tu tens que tentar ultrapassar tudo isto. Vive mais intensamente. Um dia falamos. Eu ainda ando por cá! Não te esqueças!
Bjs
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