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terça-feira, maio 27, 2008

Do Beijo..

"(...) A Maga não sabia que os meus beijos eram como olhos que começavam a abrir-se para lá dela e que eu andava como que saído, concentrado noutra figura do mundo, piloto vertiginoso de uma proa negra que cortava a água do tempo e a negava.(...)"
O jogo do mundo, Julio Cortázar

Existem beijos que são assim, ávidos de serem colhidos pela literatura porque incólumes a Cronos.

2 comentários:

solange disse...

Gabriela, não pude deixar de recordar o primeiro poema romântico que li, numa aula, com risadinhas pelo meio, já lá vão muitos e longos anos.

Aqui fica "BEIJO" de João de Deus

Beijo na face
Pede-se e dá-se:
Dá?
Que custa um beijo?
Não tenha pejo:
Vá!
Um beijo é culpa,
Que se desculpa:
Dá?
A borboleta
Beija a violeta:
Vá!
Um beijo é graça,
Que a mais não passa:
Dá?
Teme que a tente?
É inocente...
Vá!
Guardo segredo,
Não tenha medo...
Vê?
Dê-me um beijinho,
Dê de mansinho,
Dê!

Talvez te leve
O vento em breve,
Flor!
A vida foge,
A vida é hoje,
Amor!
Guardo segredo,
Não tenhas medo
Pois!
Um mais na face,
E a mais não passe!
Dois...
Oh! dois? piedade!
Coisas tão boas...
Vês?
Quantas pessoas
Tem a Trindade?
Três!
Três é a conta
Certinha e justa...
Vês?
E que te custa?
Não sejas tonta!
Três!
Três, sim: não cuides
Que te desgraças:
Vês?
Três são as Graças,
Três as Virtudes;
Três.
As folhas santas
Que o lírio fecham,
Vês?
E não o deixam
Manchar, são... quantas?
Três!

João de Deus
Campo de Flores

28 de Maio de 2008 17:32

G. Ludovice disse...

Obrigada, pelo poema partilhado com a sua infância. Não conhecia.