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sexta-feira, maio 30, 2008

A actualidade das palavras de Eça




O País perdeu a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos e os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido, nem instituição que não seja escarnecida.
Ninguém se respeita. Não existe nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Já não se crê na honestidade dos homens públicos. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia.
O povo está na miséria. Os serviços públicos vão abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima a baixo!
Todo o viver espiritual, intelectual, parado.
O tédio invadiu as almas. A mocidade arrasta-se, envelhecida, das mesas das secretarias para as mesas dos cafés. A ruína económica cresce, cresce, cresce... O comércio definha. A indústria enfraquece. O salário diminiu. A renda diminui. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.
Uma Campanha Alegre - Eça de Queirós

2 comentários:

solange disse...

Impressionante!!!
Eu é que fico sem palavras. A sociedade do século XIX igual à do séc.XXI.
Será que os homens não aprendem nada com a História?!
Parece, realmente, que está tudo na mesma. Direi até, pior!!!
Enfim, aproveitemos o que ainda temos de bom e barato. Já não é muita coisa, mas, pelo menos, o "celestial girassol", as praias, o ar puro, por enquanto, nos campos, a amizade e a honestidade de algumas pessoas, a alegria e a pureza das crianças. E viva a VIDA e vivam os livros!!!

dinamene disse...

Olá!

Realmente surpreendente a actualidade das palavras do Eça!

Sem dúvida um Escritor sempre actual!...

Os serão os tempos que não mudam???
Ou mudarão devagar, devagarinho....