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sábado, maio 31, 2008

«SOU O POETA DO CORPO»

"Sou o poeta do Corpo e sou o poeta da Alma,
As aventuras do Céu estão em mim
E as penas do Inferno estão em mim,
As primeiras enxerto e reforço em mim mesmo,
As últimas traduzo para uma nova língua.
Sou o poeta da mulher e do homem.
E digo que é tão grande ser mulher como ser homem.
E digo que não há nada maior que a mãe dos homens.

Canto o canto do crescimento ou do orgulho,
Já baixámos bastante a cabeça, já implorámos,
Provo que a medida é apenas desenvolvimento.

Já excedeste o resto? És o Presidente?
É uma ninharia, eles excederão isso e muito mais.
Eu sou o que caminha entre a crescente e terna noite,
Convoco a terra e o mar meio abraçado pela noite.
Aperta-me, noite, no teu peito nu.
Aperta-me, noite magnética e abundante!

Noite silenciosa e sonolenta - louca e nua noite de Verão!
Sorri, oh voluptuosa terra fresca!

Terra das árvores adormecidas e cintilantes!
Terra do sol-posto - terra das montanhas cobertas de névoa!
Terra do fluir vítreo da lua cheia e azul!
Terra de luz e sombra derramadas sobre a maré do rio!
Terra de límpidas nuvens pálidas resplandecendo para mim!
Terra de braços arrebatados ao longe -
Rica terra de macieiras em flor!

Sorri, que aí vem o teu amante.
Pródiga, deste-me amor - e assim te dou amor!
Oh, indizível e apaixonado amor."
(Walt Whitman, «Canto de Mim Mesmo»)
Nota:
Walt Whitman nasceu a 31 de Maio de 1819 em West Hills, Long Island, já lá vão 189 anos!!!!

"De aqui de Portugal,
Todas as épocas no meu cérebro,
Saúdo-te, Walt, saúdo-te,
Meu irmão em Universo,
Eu, de monóculo
E casaco exageradamente cintado,
Não sou indigno de ti,
Bem o sabes, Walt,
Não sou indigno de ti,
Basta saudar-te para o não ser...
Eu tão contíguo à inércia,
Tão facilmente cheio de tédio,
Sou dos teus, tu bem sabes,
e compreendo-te e amo-te,
E embora te não conhecesse, nascido pelo ano em que morrias,
Sei que me amaste também, que me conheceste, e estou contente. "

(Excerto de Saudação a Walt Whitman de Álvaro de Campos)

Consciência


"A consciência é a faculdade que o homem tem de contemplar quanto se passa no seu íntimo, assitir à própria existência, ser, por assim dizer, espectador de si próprio."
Guizot

A descoberta que se não consegue tapar com pano nem vontade

Nas desconsiderações acostumadas com o destino, a moça embeiça pela vida no descuido próprio de quem ressabe fundos e quer desposar pelo mistério, um brinde solto, naquela rua que esgueira para o restolho do peito.
Por isso, de crença boquiaberta, deu com pousadas nas baixas mãos aquelas todas juntas palavras, em namoro com o milagre que faz trocar até as escadas de chão e, precipitá-la a ela, no manso acidente que mesmo todos, sonham: a tontura que corta a direito para o céu.

Foi assim, que rescendeu os sentires subidos das páginas no seu colo de vestido com seios, e se infernizou capazmente de doces vontades sem fim de vista. Aquelas palavrandades de cor madura, cozinham nela um feitiço de preto, ficam um beijo grosso num sítio onde não se vê senão, num repente, ternurentos e espumosos mares no sem parar dos olhos.
Saõ essas culposas palavras, que sem motor dentro delas, descabelam os medos nos seus rumores e sopram em chuvas de dentro, desejos de se ser melhor, nos quentes anseios.

Fica só !!- comanda a si mesma.
Onde aquieta ela, o seu palpitante volume apinhado de sensibilidades?
Se não baixo as suas cálidas costelas, então só mesmo no parapeito de dois andares de um coração, tão soba daquela escrita, que lhe engole a existência de hoje em hoje, numa irmã sede.

In:
http://doismaisdoisigualacinco.blogspot.com/
Gabriela

sexta-feira, maio 30, 2008

Alberto Manguel

O escritor argentino-canadense Alberto Manguel gostava tanto de ler, que queria "viver entre livros". Aos completar 16 anos foi trabalhar numa livraria em Buenos Aires onde conheceu o escritor Jorge Luís Borges, que já sofria com a cegueira. Borges disse-lhe que precisava de alguém que lesse para ele. Durante dois anos, Manguel encarregou-se da tarefa e leu para o grande escritor.
No livro "Uma História da Leitura", o autor intercala dados e relatos curiosos com sua própria experiência de rato de biblioteca. O autor prende a atenção do leitor ao informar que, nos primórdios da civilização letrada, os textos eram gravados em tabuletas de argila (como na Mesopotâmia do século 12 a.c.) e ao contar a história de um grão-vizir da Pérsia que carregava a sua biblioteca sempre que viajava. O extravagante persa enfileirava os livros em 400 camelos, treinados para andar em ordem alfabética!
Alberto Manguel começa o seu livro mais recente, "A Biblioteca à Noite", com uma confissão:
“Quando eu era adolescente queria ser bibliotecário.”
E numa entrevista declara:
“Sim, eu falo sempre sobre o mesmo assunto.”
Não é muito comum um autor admitir ser monotemático. O tal assunto de que ele trata sempre nos seus livros é, justamente, o mundo dos livros. Autor de "Os Livros e os Dias", o escritor desenvolve agora uma reflexão que começou dentro do seu quarto de trabalho, numa pequena colina ao sul do rio Loire, em França. Ali, num edifício construído inicialmente para ser um celeiro, no século XV, Manguel montou a sua biblioteca particular e a ela passou a fazer dificílimas perguntas, como por exemplo
“Para que servem, afinal, os livros?"
Excerto de uma entrevista que lhe fizeram:
Por que bibliotecas?
“De onde vem o nosso optimismo de pensar que algo tão caótico como o universo pode ter a ordem que os livros pretendem dar-lhe? Nós acreditamos que os livros contêm o que sabemos sobre o mundo. Mas o que sabemos é que ele não tem sentido e que a ordem do universo é, para nós, equivalente ao caos. Então por que continuamos a ler e a escrever livros?
Segundo sua explicação, as bibliotecas funcionariam como uma defesa inconsciente do homem diante do caos do conhecimento.
"Sim e, além disso, uma defesa contra o esquecimento. A biblioteca que nos parece organizada também é um caos. É um caos no qual, às vezes, podemos suspeitar que existe uma ordem.”
Você diz que os escritores são uma espécie de subespécie de leitores. O leitor ocupa para você um posto mais elevado na literatura?
"É claro! Um escritor escreve o seu livro e quer que ele seja lido. Pensa que esse livro tem um certo conteúdo, uma certa importância, mas, no final, são os leitores que decidem algo que esse escritor não pode suspeitar. Essencialmente, é o leitor quem decide o que é o livro, se esse livro vai sobreviver e, ainda, se esse escritor vai sobreviver. Todo escritor quer ser um clássico. Mas os leitores são impiedosos e decidem que só uma pequeníssima parte dos que escrevem serão recordados. O poder do leitor é imenso."
Jorge Luiz Borges, de quem você foi secretário particular, tinha uma obsessão com a ideia de como seria possível ordenar o conhecimento. Isso influenciou-o?
“A forma de pensar de Borges sobre esse tema é muito antiga, mas ele foi quem melhor o concretizou até hoje. Esse tipo de pensamento que permite uma grande liberdade e uma grande generosidade aos sistemas de pensamento é também muito antigo.”

A actualidade das palavras de Eça




O País perdeu a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos e os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido, nem instituição que não seja escarnecida.
Ninguém se respeita. Não existe nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Já não se crê na honestidade dos homens públicos. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia.
O povo está na miséria. Os serviços públicos vão abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima a baixo!
Todo o viver espiritual, intelectual, parado.
O tédio invadiu as almas. A mocidade arrasta-se, envelhecida, das mesas das secretarias para as mesas dos cafés. A ruína económica cresce, cresce, cresce... O comércio definha. A indústria enfraquece. O salário diminiu. A renda diminui. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.
Uma Campanha Alegre - Eça de Queirós

Oui


"...Ide para os vossos campos e jardins e aprendereis que o prazer da abelha consiste em retirar o mel da flor. Mas também a flor tem prazer em dar o seu mel à abelha. Pois para a abelha a flor é uma fonte de vida. E para a flor a abelha é mensageira de amor. E, para ambas, abelha e flor, o dar e o receber de prazer é uma necessidade e um êxtase."
Khalil Gibran

quinta-feira, maio 29, 2008

Ser eloquente!


A eloquência é um dom, tal como o são, a apetência para desenhar, tocar um instrumento musical, pintar, falar línguas estrangeiras...
Seres há, que registam tal facilidade no emprego de vocabulário vasto, variado, rico em metáforas, imagens, alegorias, sendo capazes de dominar uma plateia de ouvintes, extasiados, senão perplexos.

Ser eloquente, é muitas vezes narcísico, pois os detentores de tal dom, inflamam o discurso, e, na sua óptica, os sons que emitem, adquirem forma, cor, e até luz : o dourado cintilante, o azul celeste, repleto de estrelas , a palavra torneada e musical, com contornos e nuances.

É uma suprema delícia ouvir tal magia comunicativa que, eloquentemente, envolve a palestra, a reunião.

Os ouvintes que não dominam essa retórica, são invadidos pelo cansaço, pela sonolência e inaptência para a audição de tal discurso, para eles, bastante enigmático.

Ah! Que deleite ouvir alguém eloquente!
Que deleite poder disfrutar da companhia de alguém, cujo dom da palavra nos faça embrenhar numa outra realidade, mas sem a postura do narcisismo exagerado.

maria eduarda

Le discours sur la paix


Vers la fin d'un discours extrêmement important
le grand homme d'État trébuchant
sur une belle phrase creuse
tombe dedans
et désemparé la bouche grande ouverte
haletant
montre les dents
et la carie dentaire de ses pacifiques raisonnements
met à vif le nerf de la guerre
la délicate question d'argent.
Jacques Prévert


Aprendi o silêncio com os faladores, a tolerância com os intolerantes, a bondade com os maldosos;
e, por estranho que pareça, sou grato a esses professores.
Khalil Gibran

quarta-feira, maio 28, 2008

Desfecho


Não tenho mais palavras.
Gastei-as a negar-te...
( Só a negar-te eu pude combater
O terror de te ver
Em toda a parte ).

Fosse qual fosse o chão da caminhada,
Era certa a meu lado
A divina presença impertinente
Do teu vulto calado
E paciente...

E lutei, como luta um solitário
Quando alguém lhe perturba a solidão.
Fechado num ouriço de recusas,
Soltei a voz, arma que tu não usas,
Sempre silencioso na agressão.

Mas o tempo moeu na sua mó
O joio amargo do que te dizia...
Agora somos dois obstinados,
Mudos e malogrados,
Que apenas vão a par na teimosia.

Miguel Torga, Câmara Ardente, Coimbra Ed.


"O amigo é a resposta aos teus desejos. Mas não o procures para matar o tempo! Procura-o sempre para as horas vivas. Porque ele deve preencher a tua necessidade, mas não o teu vazio"
(Kahlil Gibran, O Profeta)


“O Profeta” é uma das obras primas da literatura universal. Iniciado pelo autor aos 15 anos, escrito e destruído três vezes em árabe, transformado através de cinco versões inglesas antes de surgir na sua forma definitiva em 1923, O Profeta alcançou um sucesso instantâneo e foi traduzido em dezenas de línguas. A sua linguagem, permeada de uma beleza poética profunda, mas ao mesmo tempo de uma simplicidade encantadora, liberta de qualquer elaboração retórica, tem cativado leitores das mais diversas épocas e culturas.
A sua personagem, Al Mustafá, dirige-se à multidão com imagens fugazes, retiradas da natureza. Não procurando convencer, alcança a universalidade propondo a meditação filosófica.
Este comovente canto da existência leva-nos numa viagem de descoberta da nossa própria paisagem interior, convidando a uma reflexão autêntica e sentida

Kahlil Gibran (Djubran Kahlil Djubran) nasceu em 1883 em Bcharré, uma aldeia nas montanhas do Norte do Líbano. Em 1895, tinha 12 anos, emigrou com a sua família para Boston. Após um período onde estudou em Paris, mudou-se para Nova Iorque e foi aí que escreveu “O Profeta”.
O homem mata o homem, quando odeia, quer o ódio seja inspirado pela rapina ou pela vingança; os povos matam e roubam colectivamente, chamando conquista ao roubo e guerra ao assassinato em grande escala.
Mantegazza

terça-feira, maio 27, 2008

Há tantos modos de ler um livro como de ver uma paisagem; o que dá interesse a um e a outra é o sentimento do leitor ou do espectador.
Valtour

É urgente!

A alegria é contagiante, por isso, contagiemo-nos, quando vemos um sorriso, ou quando ouvimos uma estrondosa gargalhada.
Há pessoas animadas, que levam a vida de semblante sereno, sem as expressões que revelam aborrecimento e alteram o rosto.
É urgente conviver com pessoas alegres, positivas, sempre dispostas a arrancar um sorriso ao outro. São seres que sabem estar na vida, sem sobressaltos, que gostam de viver!

Por outro lado, existem pessoas amargas, cheias de dores não resolvidas. Destas pessoas, tento afastar-me, diariamente, porque a amargura, a tristeza, também são contagiantes.
Claro que há vidas muito sofridas... mas onde fica o sonho? Num lugar recôndito, onde é quase impossível chegar?

É urgente erguer o rosto, apagar o passado, e voltar a sorrir, porque enquanto vivemos, devemos segurar fortemente este alento que nos faz sorrir, que nos faz sonhar.
É urgente recomeçar! É urgente saber viver, sem ressentimentos contidos. Se o carro avariar, a meio do percurso, pede-se a alguém que o conserte, e a viagem prossegue, com a mesma serenidade com que foi iniciada.

É assim que o ser humano deve encarar a sua existência na Terra, e, se por acaso, se deparar com momentos dramáticos, ser capaz de se erguer, de sorrir e continuar a caminhar. Se, mesmo assim, se sentir incapaz de prosseguir, ter a coragem de pedir a ajuda de alguém que o ensine a sorrir de novo.
É urgente sorrir!
É urgente viver!
É urgente sonhar!

maria eduarda

Do Beijo..

"(...) A Maga não sabia que os meus beijos eram como olhos que começavam a abrir-se para lá dela e que eu andava como que saído, concentrado noutra figura do mundo, piloto vertiginoso de uma proa negra que cortava a água do tempo e a negava.(...)"
O jogo do mundo, Julio Cortázar

Existem beijos que são assim, ávidos de serem colhidos pela literatura porque incólumes a Cronos.
Se nos examinássemos de vez em quando, o resultado natural desse exame seria a nossa maior perfeição.


Montaigne

segunda-feira, maio 26, 2008

Pequeno poema


Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.

Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci,
não houve nada de novo
Senão eu.

As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...

Para que o dia fosse enorme,
bastava toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe.

Sebastião da Gama

Acaso

O acaso não é, e não pode ser, senão a causa ignorada de um efeito desconhecido.
Voltaire

O amor nos tempos de cólera

Li este livro, pela primeira vez, já lá vão mais de 20 anos. Fiquei impressionada e passou a ser, na altura, o livro mais bonito que já alguma vez lera. Outros se seguiram e cada vez é mais difícil dizer qual o livro de que mais gostei. A verdade é que, em 2006, a Dom Quixote reeditou este livro, que eu tinha lido emprestado, e comprei-o. Voltei a lê-lo, com o mesmo entusiasmo, pois a escrita de G. G. Marquez é, realmente, mágica. A forma como escreve é poética, única e encanta-nos da primeira à última palavra. Já adaptado ao cinema, penso que ainda não estreado em Portugal, é de certo modo, autobiográfico. O telegrafista, violinista e poeta Gabriel Elígio Garciá (pai do autor) apaixonou-se por Luiza Márquez, mas o romance enfrentou a oposição do pai da jovem, o coronel Nicolas, que tentou impedir o casamento, enviando a filha para o interior, numa viagem de um ano. Para manter o seu amor, Gabriel montou, com a ajuda de amigos telegrafistas, uma rede de comunicação que alcançava Luiza onde ela estivesse. Essa é a história real dos pais de Gabriel García Márquez e foi ponto de partida de “O amor nos tempos de cólera”, que acompanha a paixão do telegrafista, violinista e poeta Florentino Ariza por Fermina Daza.

domingo, maio 25, 2008

Pensar bem

"A nossa dignidade consiste no pensamento. Procuremos, pois, pensar bem. Nisto reside o princípio da moral."
Pascal

Livros


"... Peço desculpa a todos os profissionais de Televisão porque não acredito que sejam capazes de produzir nada tão fascinante como livros. Porque um livro escolhe-se a dedo na estante da livraria, não se carrega num botão. Porque é um acto individual e saboreado só por quem o lê.
No dia seguinte não é discutido no autocarro. Interrompe-se quando o leitor quer e não quando falha a luz do emissor ou se parte a bobine.
Recomeça-se fora de horas porque é essa a nossa vontade. Empresta-se, sublinha-se, relê-se 20 anos depois, não envelhece.
Os cenários são sempre ao gosto do leitor e não do coreógrafo e sobretudo não condicionam a imaginação nem o ouvido."

[TERESA PAIXÃO, Realizadora de Programas da RTP, in Livros de Portugal (APEL)].1996

Poema em linha recta


Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;

Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos de moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado,
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tnho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os piso e me falam.

Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e erróneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Álvaro de Campos

sábado, maio 24, 2008

Os amigos

Os amigos verdadeiros são aqueles que vêm compartilhar a nossa felicidade, quando os chamamos, e a nossa desgraça, sem serem chamados.
Demetrio de Falera

Boa sorte


EM TODO O LUGAR, EM TODO O TEMPO,
A TUA MAIS SEGURA PROBABILIDADE DE BOA SORTE
RESIDE EM TRÊS COISAS:
DECISÃO, JUSTIÇA E TOLERÂNCIA.
Goethe

Uma viagem de Almodôvar a Lisboa





Ontem o meu dia foi uma aventura, no melhor e no pior dos sentidos.No melhor, porque fui dar um passeio até à capital, no pior, porque acontecem-me sempre situações embaraçosas. Mas, o que é preciso, é manter a calma!

Quando vou a Lisboa faço-o sempre ao lado de alguém que conduz, ou então, viajo no Expresso e do outro lado está alguém à minha espera. Sou péssima em fixar indicações do tipo: vira à direita quando chegares a... e depois à esquerda, e por aí fora...
Saí de Almodôvar às 9h e rumei em direcção a Setúbal, onde tinha a minha filha à espera. Desta vez não me enganei no trajecto para o local onde ela mora, (da última vez estive cerca de 1h às voltas, sem conseguir encontrar a avenida que me leva ao bairro onde ela reside!).
Voltando à minha viagem! A meio do percurso começou a chover, e a água era tanta, que não se adivinhava sequer a presença do que quer que seja. Liguei os mínimos, reduzi a velocidade, mantive a calma e lá cheguei a Setúbal.
A viagem de Setúbal para Lisboa (tinha que deixar o carro no Fogueteiro e apanhar o comboio), não correu muito bem. Ao invés de seguir a seta que me indicava Lisboa-Almada, segui a direcção Lisboa-Montijo e, como se trata de uma auto-estrada, é impossível fazer uma inversão de marcha e lá íamos nós a caminho de Porto Alto... A minha filha a telefonar ao pai, para obter as tais indicações precisas, o pai já a ficar deveras preocupado, e eu às voltas...
Por fim encontrámos a seta milagrosa Lisboa- Almada, e lá prosseguimos viagem.
Chegadas ao Fogueteiro, não encontrei a entrada para o tal parque que me foi indicado, e mais uma vez, voltinhas e voltinhas, à procura de outro parque.
Estacionámos o automóvel e fomos comprar os bilhetes de ida e volta, que, ao serem introduzidos na máquina, foram rejeitados, com aquele aparato ruídoso, característico das máquinas deste tipo. Afinal estávamos a colocar os bilhetes numa posição incorrecta...
Apanhámos o comboio para Lisboa, chamámos um táxi, e fomos almoçar. Tudo a correr calmamente!
Depois de estarmos despachadas, fizemos o percurso inverso e lá fomos nós ter com a nossa viatura. Ponho o carro a trabalhar e dirijo-me para a saída do parque. Coloco o bilhete na máquina, para a cancela abrir, uma, duas, três vezes e nada, a teimosa não dava sinal de vida. Ainda ouvia a minha filha a dizer:"Não venho mais contigo, só nos acontecem coisas estranhas!" À quarta tentativa, saí do carro, introduzi o bilhete e a cancela abriu, só tive tempo de me atirar para dentro do carro e arrancar! Enfim!!!
Seguimos viagem e chegámos a Almodôvar por volta das 20h. Cheguei exausta, e não foi só por ter conduzido, mas estas peripécias cansam-me. Que hei-de fazer? Será que há alguma coisa a fazer?

Bom, para a próxima vai tudo correr bem, não haverá sobressaltos, resta saber se a minha filha ainda quer a minha companhia, na qualidade de condutora! O que é preciso é não desitir, e eu sou muito teimosa.
Bom fim de semana, sem aventuras destas!
maria eduarda

sexta-feira, maio 23, 2008

A vida é alegria

"Dormia e sonhava que a vida era alegria; despertei e vi que a vida era serviço; servi e vi que o SERVIÇO era ALEGRIA".
Robindranath Tagore, Prémio Nobel da Literatura em 1946

quinta-feira, maio 22, 2008

Goethe em Viena

Todos os dias

Todos os dias devíamos ouvir um pouco de música, ler uma boa poesia, ver um quadro bonito e, se possível, dizer algumas palavras sensatas.
Goethe

terça-feira, maio 20, 2008

AS ROUPAS DOS ANJOS

foto de Luna Sousa

A ti dedico, Pai
"As roupas dos ANJOS"

NUM DIA ENCOBERTO, SEM CHUVA,
ESTAVA A PASSAR NUMA RUA,
QUANDO DE REPENTE OLHEI PARA O CÉU E VI,
SUSPENSAS NUM ESTENDAL, AS ROUPAS DOS ANJOS…
NÃO ERAM MUITAS, NEM TINHAM PLUMAS, NEM BRILHANTES!
AS CORES ERAM ESCURAS, DESBOTADAS,
ALGUMAS PARECIAM REMENDADAS….
ESVOAÇAVAM VACILANTES PARA CÁ E PARA LÁ….
NUMA DANÇA DE EMBALAR, NO CÉU CARREGADO DE NUVENS!

REGRESSEI A CASA PENSANDO QUE,
AFINAL, OS ANJOS VESTIAM-SE SIMPLES,
EM PURO ALGODÃO,
TINHAM ROUPAS DE TRABALHO, RELAVADAS E ESFREGADAS,
SEM PLUMAS, NEM BRILHANTES!

NOUTRO DIA,
PASSEANDO AO CALOR DO SOL,
PASSEI, NOVAMENTE, NAQUELA RUA
E VI ENTÃO, ATÓNITA, A SILHUETA DE UM ANJO,
CONTORNADO PELO SOL QUE O ILUMINAVA,
PENDURANDO, NUM BRILHO DELICADO, ROUPAS NO ESTENDAL!

ACENOU-ME COM A MÃO E PERPLEXA ME APROXIMEI,
VERIFICANDO QUE O ANJO NÃO TINHA ASAS E
TINHA OS PÉS BEM ASSENTES NUM TERRAÇO ALTO,
ONDE SE PRENDIA O ESTENDAL.

RI-ME ESTUPEFACTA E DUVIDEI SE SERIA HOMEM OU SER CELESTIAL…
GRISALHOS OS CABELOS, BRANCA, BRANCA A CURTA BARBA,
A PELE MUITO ENRUGADA,
NUM OLHAR TREMELICANTE, QUASE NUM PISCAR DE OLHO,
DESCOBRI, JUNTO ÀS PESTANAS, UM BRILHO ESPECIAL…
TALVEZ UM SINAL!?
UMA LÁGRIMA CRISTALIZADA, PROVANDO QUE OS ANJOS SÃO FEITOS
DE CHOROS, DE SUORES, DE RISOS E CANSAÇOS, DE TRABALHO,

DE VIDA, DE VIDA VIVIDA!

A ti, que vives sem acreditar em anjos ou em milagres, te dedico, pois acreditas nas pessoas, na Terra, nas mãos que constroem, no trabalho!

E vives sem cansaços, lutando sempre, para que o Homem seja o detentor da Vida e da sua própria Felicidade!

Primavera

Vincent Van Gogh
"Há uma Primavera em cada VIDA, é preciso cantá-la assim florida!"
Florbela Espanca

segunda-feira, maio 19, 2008

"Mais co'o saber se vence, que co'o braço."
Camões

domingo, maio 18, 2008

AS MENINAS DA GERAÇÃO NOVA EM LISBOA E A EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA

A valia de uma geração depende da educação que recebeu das mães. O homem é "profundamente filho da mulher", disse Michelet. Sobretudo pela educação. Na criança, como num mármore branco, a mãe grava; - mais tarde os livros, os costumes, a sociedade só conseguem escrever. As palavras escritas podem apagar-se, não se alteram as palavras gravadas. A educação dos primeiros anos, a mais dominante e a que mais penetra, é feita pela mãe: os grandes princípios, religião, amor do trabalho, amor do dever, obediência, honestidade, bondade, é ela que lhos deposita na alma. O pai, homem de trabalho e de actividade exterior, mais longe do filho, impõe-lhe menos a sua feição; é menos camarada e menos confidente. A criança está assim entre as mãos da mãe como uma matéria transformável de que se pode fazer - um herói ou um pulha.
Diz-me a mãe que tiveste - dir-te-ei o destino que terás.
A acção de uma geração é a expansão pública do temperamento das mães. A geração burguesa e plebeia de 1789 a 93, em França, foi livre, sensível e humana - porque as mães que a conceberam tinham chorado e pensado sobre as páginas de Rousseau.

A geração de 1830, gerada durante o primeiro império - foi nervosa, idealista, romântica, porque as mães tinham vivido nas emoções heróicas das guerras, na contemplação das fortunas maravilhosas

Eça de Queirós - Março de 1872, in "As Farpas".

A compreensão das coisas

Dominar um assunto e percebê-lo bem dá-nos, ao mesmo tempo, a perspectiva e a compreensão de muitas coisas.
Vincent Van Gogh

sábado, maio 17, 2008

Um excerto do diário do André (parte I)

02-03-2005
Primeira entrada!

Tentei levantar-me a horas. Queria estar às 10 em ponto no escritório (detesto chamá-lo assim, mas também se usar a expressão FORUM - Europejskie Forum Mlodziezy - ainda parece mais ridículo!), mas naturalmente, como sempre, não consegui. Devo ter chegado por volta das 10h40. Não sei, não reparei nas horas. Se bem que, a não ser que tenha explicações de inglês (ou conversações como dizemos em inglês e em polaco, mas não me soa lá muito bem em português) ou alguma reunião, não faz sentido nenhum estar lá exactamente às 10h00. Acontece é que já cheguei atrasado às explicações e às reuniões! Por isso, queria começar a ganhar o hábito de lá estar às 10 em ponto, mas depois (no quentinho dos lençóis) argumentamos contra nós próprios e acabamos sempre por perder... ou será por ganhar? eh eh :-)

Bem, de qualquer maneira, até foi produtiva a minha passagem de hoje no "escritório" (arrrgh que até arranha!). Consegui finalmente fazer o download do ACE MEGA CODECS PACK 6.03 (deve ter demorado para aí umas 3 horas), de maneira que agora já devo poder ver filmes no laptop, depois de desinstalar o SP2. Fora isso, recolhi material para as apresentações da próxima Euroweek. Além das apresentações sobre Portugal e sobre a história da UE (que já fiz duas vezes), vou também fazer sobre o orçamento da UE e a estrutura da UE (com a Sílvia). Como a Lelde (da Letónia) se foi embora, as apresentações dela têm de ser repartidas pelos outros voluntários. A ver se preparo a tempo alguma coisa sobre a Constituição da UE ou sobre "Stress Management" e afins! Ajudámos, eu e a Marzena, a Stella a mudar-se. Saiu de casa "Agroturystyczne" da Ewa e foi ocupar o lugar da Lelde junto da Ana (Áustria). E pronto, para além de mails mandados (para o Marco, para o Fred e para o Tiago), de conversas no Gadu Gadu e de "A Bola" relida várias vezes, este foi mais ou menos o meu dia laboral. Acabei por comprar este cadernito por 9zt (2,25 euros) e chegar a casa com uma fome daquelas! Agora de barriguinha cheia ouvimos Beethoven (a Ewa está ali a jogar às cartas no portátil). Vou-lhe dar na leitura do Orçamento Europeu e do processo de decisão na UE. Tem que ser!
André Soares

sexta-feira, maio 16, 2008

"Aparentemente... Diário do SVE na Polónia"


ADVERTÊNCIA!


Isto não é uma obra literária. Não é minha intenção sequer, tentar chamar livro a este modesto relato. A ideia foi aproveitar a oportunidade do projecto "capital futuro", parte integrante do Serviço de Voluntariado Europeu (SVE) até 2006, e consubstanciar pensamentos e vivência soltas, num punhado de páginas com capa.

A base destas notações é, sem dúvida, o meu primeiríssimo diário ,redigido enquanto voluntário num projecto de longa duração ( de Fevereiro a Julho de 2005 ), numa vila situada no sudoeste da Polónia, muito perto da fronteira da República Checa, de seu nome Bystrzyca Klodzka. A este, juntei outros escritos de outros tempos, cuja grande maioria tem também como pano de fundo a Polónia ,e as suas repercussões indeléveis nos últimos anos da minha vida.

Portanto, pode-se mesmo dizer, que esta advertência tem início em 2003, quando, pela primeira vez no semestre de Verão participei no programa Erasmus. Seguiu-se mais um semestre de Verão em Varsóvia, em 2004, o SVE e , por fim, o primeiro semestre de Gestão de Informação, quase completo (!), em Graz, na Áustria, de fins de Setembro de 2005, a meados de Março de 2006.

A linguagem utilizada no diário é parca em adjectivos, sinónimos, figuras de estilo e outras expressões maiores da linguística portuguesa, chegando mesmo a titubear, quer o coloquialismo saloio, quer registos mais ambiciosos. Tentei ser o mais fiel possível na sua transcrição, pese embora a actual divergência com algumas ideias e pontos de vista, e a necessidade de tornar a mensagem mais clara, acrescentando um ponto aqui e ali. É, contudo, de uma maneira por vezes rude, extremamente directa e parcial. Era exactamente essa fragância que queria registar em "papel oficial", dela não me arrependo nem por um segundo.


André Soares

À beira chamei por ti

À beira chamei por ti
como se pudesses escutar...
depois tu não... e eu fugi
de novo em direcção ao mar.
perdido camunhei e sigo
até nas ondas encontrar refúgio
e tu ecoas e eu digo
não atentes mais, vem de um búzio
que não ressoa como devia
que faz por enganar, que finge
fica-te antes pela maresia,
que quase sempre como ninguém atinge
o epicentro dos teus sentidos
que lutam para não serem subjugados, comidos,
parados, mutilados, frustrados,
perdidos, esquecidos... sentidos.
André Soares(10-11-2005)

O carteiro de Pablo Neruda



A propósito de Pablo Neruda, lembrei-me do belíssimo filme baseado no livro homónimo “O carteiro de Pablo Neruda” de António Skármeta.
Quantas vezes vi o filme, sinceramente, não sei. É daqueles filmes que se vê sempre, com grande agrado. Aliás, só li o livro depois de ver o filme, o que não é costume.
O livro, que tem ainda o subtítulo “Ardente Paciência” é, também, surpreendente.
No filme, o carteiro enche-nos o coração de doçura, pela sua simplicidade, às vezes até ingenuidade, pela forma, bela e pura, como sente as coisas. Também no livro, parafraseando quem mo ofereceu no longínquo Natal de 1996,
“A poesia e a beleza da vida toca-nos e faz-nos chorar ou rir”.
A história do carteiro, que ficou amigo do poeta Neruda durante o exílio deste numa ilha do Mediterrâneo, foi montada primeiro como peça de teatro, saiu publicada em livro e foi, finalmente, adaptada ao cinema em 1994.
Para aqueles que ainda não sabem quem é Skármeta, aconselho a rever o excelente filme e a ler o excelente livro. Antonio Skármeta mostra que é um grande contador de histórias, misturando elementos históricos com ficção. O autor nasceu no Chile, em 1940.

Fraqueza

Fraqueza é dar ajuda ao mais potente.
Camões

quarta-feira, maio 14, 2008

ANGOLA, MÃE TERRA


ANGOLA MINHA TERRA,
MÃE TERRA!
De ti não sinto o cheiro,
nem calor...
Não vejo as cores com que te vestes,
não provo tuas frutas!...
Mas recordo, Angola,
o cheiro, as cores, os gostos com que me impregnaste desde infância!
Recordo-os como o filho que se aparta
da mãe, ainda menino, e já homem sente
no corpo a sua lembrança terna.
Terra bonita, bonita...
Deixei-te ainda criança porque em ti,
doente, teus filhos morriam!
Ainda oiço essas bombas, como trovões,
destruindo tudo...queimando, rasgando,
ferindo teu ventre...MÃE TERRA!
Agora teus olhos sangram, vendo a
fome, as misérias deixadas pela guerra,
a dor de tantos irmãos sofrendo.
Choro contigo.
Mas também nasce em mim a esperança,
MÃE ANGOLA,
De te voltar a ver, de pisar teu chão,
De então sentir esse cheiro, o calor,
ver tuas cores, falar com tuas gentes... meus irmãos!
E, então, percorrer longas distâncias que,
ante a tua beleza, se tornam curtas.

Dinamene (10/Maio/2003)

Se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina,
Sê um arbusto no vale,
Mas sê
O melhor arbusto à margem do regato.
Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
E dá alegria a algum caminho.
Se não puderes ser uma estrada,
Sê apenas uma senda,
Se não puderes ser o Sol,
Sê uma estrela.
Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso...
Mas sê o melhor no que quer que seja.

Pablo Neruda
(a foto é da Isaura)

Viver feliz

"...Viva hoje! Arrisque hoje! Faça hoje! Não se deixe morrer lentamente!
NÃO SE ESQUEÇA DE SER FELIZ! Feliz...Feliz... Arriscar a fazer, para Viver Feliz !!!"

Pablo Neruda (prémio Nobel da Literatura em 1971)

terça-feira, maio 13, 2008

Cântico Negro

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: " Vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há nos meus olhos ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é essa:
Criar desumanidade,
Não acompanhar ninguém.
Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha Mãe.

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos.
Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Porque me repetis: "Vem por aqui?"

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?
Corre nas vossas veias sangue velho dos avós.
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos e sábios.

Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga:"vem por aqui!"
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...

Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
- Sei que não vou por aí!

José Régio

ANGOLA

Não nasci do teu ventre
mas amei-te em cada Primavera
com a exuberância de semente...

Não nasci do teu ventre
mas foi em ti que sepultei
as minhas saudades
e sofri na minha carne
as tempestades
o destino e os anseios
da tua gente...

Não nasci do teu ventre
mas bebi o teu sortilégio
em noites de poesia
transparente...

Não nasci do teu ventre
mas foi à tua sombra
que fecundei rebentos novos
e abri os braços
para um destino transcendente...

Angola,
não serás terra do meu berço
mas és terra do meu ventre!

Amélia Veiga

"Amélia Veiga afirmou-se já como dona de um excepcional talento poético que encontra ampla confirmação neste seu novo livro de poemas, alguns dos quais, como outros anteriores, foram presentes ao concurso literário da Câmara Municipal de Sá da Bandeira, no ano passado, merecendo o Prémio Fernando Pessoa.

in "O Século" - 1963

ng goi sai, frangipanis!!!

Ia eu muito bem a caminho da CTM, para devolver o modem velho e tratar do meu telele, quando dou-me de caras com duas gémeas a olhar para mim... e pensei... "eh pah, não posso deixar escapar esta oportunidade"... São lindas!...

Falei-lhes, sorriram de volta, uma visivelmente mais tímida que a outra... ansiosa de ir para a minha casa...


Perguntei "ng goi, kei chin ah?" (qto custa?)

"sei sap ng" (45 = 4.5 €)
"ok, ni koh" (ok, esta)

e levei-a para casa, debaixo do sol imenso... Era pesadita, grandinha, mas tinha uma alma colorida. Cheguei feita em água a casa, o modem ainda à espera de ser devolvido à CTM...

Umas bananas, entretanto, olharam-me e disseram "Temos potássio, só te faz bem de manhã, antes das corridas!"

"pang yau, ng goi, kei chin ah?" (amigo, qto custa?)

"pat man" (8 = 0.8€)

"ng goi sai" (obrigada)

"oh toh che sai" (obrigada eu)

"bye bye"

"bye bye"

Subimos 6 andares e ficou a descansar na sombra que se tinha acabado de pôr ali. Fez duas amizades de imediato e ficaram na galhofa, enquanto eu desci até ao 5º andar para lavar-me de novo e trocar de camisola.

Bem dito desodorizante novo... adidas, sports for women! can't go wrong!
em água, mas sem o cheiro! que mais é que uma mulher pode querer?

voltei com o modem e finalmente fomos até à CTM! tudo tratado...

e telefone na casa nova já existente! Ironicamente, apenas sei dizer os números em chinês, depois de ouvir o senhor falar com a CTM ao telefone a confirmar a ligação:
"yi yat lock yi chat cow" (216279)
Fiquei contente, já tinha o meu número.
um dia que está a correr bem! um dia que tem tudo para acabar bem também!


Sara (Macau)

Sorrio sempre de volta

Quando não queremos, acordamos de um sonho,
que às vezes não podia ser mais real,
Olhamos à volta, e deparamos com a nossa situação
Uns dias menos bons, outros menos mal
Jogamos tudo a perder com cada decisão que tomamos,
Com cada impulso que damos
Mas nem sempre perdemos tudo o que jogamos
Nascemos sem nada,
Apenas a certeza de que estamos vivos
E quando aquele dia chega
E quando tudo o que antes julgávamos certo, acaba
Como continuar?
Apenas com tudo o que sempre tivemos
Nós próprios
Se largarmos o nosso amor e ele regressar,
É porque é nosso para guardar,
Se o largarmos e não voltar,
Então nunca foi nosso para começar
E assim, com cada jogada, com cada impulso, com cada decisão…
Sou feliz no meu próprio ser.
Não procuro nada que não tenho,
E sorrio sempre de volta,
Para uma vida que nunca fez por não sorrir para mim!

A si, Tia, minha segunda mãe!
Com todo o amor e carinho do mundo

Sara - hoje, em Macau
(escrito num impulso momentâneo)

Educação

Proclamai a instrução gratuita obrigatória;
Ter direito à ignorância é ter direito ao mal.
Alevantai o povo ao nível da moral;
A escola é para isso a única alavanca.



Guerra Junqueiro

segunda-feira, maio 12, 2008

O livro

"O livro é uma voz que se ouve, uma voz que nos fala; é o pensamento de uma pessoa separada de nós pelo espaço e pelo tempo; é uma alma."

E. Laboulaye

domingo, maio 11, 2008

Interpretem a mensagem deste texto.

As folhas celulosas estão dispostas em camadas perfeitamente lisas, ante a estreia do nebuloso céu de Outono.
O ambiente nefasto devora a neglitude esplenderosa da manhã submersa.
Perante o espectáculo sem par, o homem desfolha o jornal rasgado, já de tanta leitura feita até aquele dia. Mas a bruma precipita-se e o ambiente lúgubre tem o seu começo, no desenrolar dos acontecimentos tardios.
A submissão é lenta, mas eficaz.
O alvorecer precipita-se, de uma forma quadrada, com os seus vértices apontando para o centro da testemunha oblíqua.

Tout ça m'est arrivé, il y a longtemps. Je me souviens toujours de mon enfance, laquelle j'ai passé pleine de bonheur!
Qu'est-ce que tu fais? Je suis ici, près de toi, n'aies pas peur!

maria eduarda
(texto escrito em 1978, em Linda-a-Velha)

Ao meu Pai - um Comandante na Vida!

Dedico ao Homem determinado, corajoso e destemido perante a vida, que partiu, faz hoje cinco meses, esta singela Homenagem.
Desde miúda que me lembro do meu Pai, garboso, dentro da sua farda de Comandante dos Bombeiros Voluntários. Sempre preocupado em servir, em ajudar os outros, sempre pronto!
Lembro-me de um Homem muito trabalhador, preocupado com o conforto da sua família, um Homem lutador, um Comandante na vida, sempre!!!
Refiro-me a um Comandante que foi capaz de decidir o caminho a seguir e ir sempre em frente, sem medo, com muita convicção. Um Homem que lutou até ao último instante da sua vida, sempre com vontade de viver!

O meu Pai dizia sempre esta frase: "É tão bom viver!", e mesmo já doente, quando eu lhe perguntava: "Então, Pai?", ele respondia pronto :"Cá estamos, filha!". E eu ficava triste, amargurada, porque sentia que ele lutava, enfrentava a vida, mas aos poucos, esta virava-lhe as costas
Mas ele continuava, firme, sempre com vontade de partilhar connosco o mesmo caminho!
Foi assim, durante muitos meses, o meu Pai a agarrar os minutos, as horas, os dias, e o tempo a fugir-lhe, um bocadinho de cada vez...
Mesmo perto do fim, o meu Pai olhou para nós, e falou, falou, falou, mas a voz já enfraquecida, não soou, e ficámos sem saber o que ele nos quis dizer... Penso que nos quis sossegar, porque ele preocupava-se connosco. Porque sabia que não estava sozinho e que o carinho, a ternura com que o envolvíamos, era imensa.
Este Comandante nunca se queixou, nunca se lastimou, esteve sempre firme, sempre corajoso, até ao fim!
Aprendemos muito com ele, porque nos fez passar a vivência de um Homem honesto, trabalhador, lutador e vitorioso na VIDA!

Lamento profundamente, até chego a sentir revolta, a agonia em que viveu durante meses, o sofrimento pelo qual passou sem se queixar, sem dramatizar.
O meu Pai sempre foi um homem de carácter, apaixonado pela Vida, só partiu, porque o cansaço começou a apoderar-se dele , porque as armas que tinha para lutar , eram-lhe roubadas, aos poucos, todos os dias, e ele capitulava ... Como lutar, então?
A saudade é imensa e será sempre, até ao fim das nossas vidas!

Eduardinha (era assim que o meu Pai me chamava)

sexta-feira, maio 09, 2008

À minha Mãe - a doce Judith!

A ela, à mãe que partiu muito cedo, para um lugar desconhecido, quando os filhos ainda aprendiam a caminhar sozinhos!
Os anos vão passando, e já são muitos, mas a memória é de ontem e dolorosa!
Parece incrível, depois destes anos todos, ser possível ainda sentir tanta saudade da doce mãe!
Não há dia nenhum, e já lá vão 36 anos, que me esqueça que ela é a mãe que eu sempre quis ter! Não há dia nenhum que eu não sinta a falta dela! Não há dia nenhum em que, quando me olho no espelho, não a consiga rever, num sorriso, num esgar, num olhar!

Minha doce mãe ! Nunca deu um sinal, por mais pequeno que fosse, para eu acreditar nalguma coisa depois da morte, NADA, nem um indício de nada...
Ela foi uma mãe exemplar, sempre atenta à família, muitas vezes esquecendo-se dela própria, muitas vezes! Mas era assim que a doce Judith gostava de viver, para o marido e para os filhos, e foi assim que ela viveu, enquanto teve força e ânimo!

E já doente, nunca se queixou, nunca se lastimou, a doce Judith só se preocupava em saber se estava tudo bem, e perguntava:" Eduardinha, como estão as coisas em casa, está tudo bem?"
E é assim que eu a revejo, doce, bela, com os seus olhos azuis, de um azul suave, brilhante, e é assim que me lembro de Angola, do Lubango, onde ela ficou, na terra que a viu nascer e onde ela foi feliz!
Continuo a sentir por ela tanta ternura, que muitas vezes parece que o peito rebenta com falta de espaço para abarcar tanto afecto! Mas há sempre espaço, quando se gosta muito de alguém ,e agora, nesse espaço, está também o meu pai, abafado em ternura.


Vamos em frente, porque eu sei que, se por acaso a minha doce mãe estiver algures por aí, gostaria de nos ver felizes, os seus filhos e os seus netos, que nunca conheceu.

Eduardinha (era assim que a minha Mãe me chamava)

quarta-feira, maio 07, 2008

Dedico "Na Vida"

"a todos os que percorreram comigo parte do caminho, lado a lado, pisando o mesmo chão, decalcando nas mesmas pegadas.
aos que se cruzaram comigo e não me pisaram!
a todos os que me ajudaram a escolher um caminho em vez de outro e contribuíram para que chegasse até aqui.
Continuarei, com certeza, com novos passos, com novas descobertas, com o objectivo de crescer interiormente e de um dia ser tão grande como o universo, e de ser tudo então, terra, ar, água, fogo...."

Dinamene

Na Vida

Houve passos que dei,
Como se pisasse água,
Como se com as mãos ao céu chegasse,
Como se tão alto o coração!
E no cimo o sonho subisse.
Também houve passos na terra,
Na terra fecunda, que de manhã deram fruto!
Que de noite deram chão para aquecer o corpo frio.
Houve passos no fogo,
Prenhados de morte, tão quente, tão viva.
Houve lágrimas...
Tão tristes, como poças na terra,
Tão leves como bolas de sabão,
Tão explosivas como álcool na chama.
Houve risos!
Tão grandes como sonho que voa e à terra desce repleto de fogo ardente.
Houve tanto e tão pouco.
Agora, ainda há passos, tantos!!!!
De tantos elementos também!
Mas agora conheço-os melhor,
Sinto cada pegada que cravo no chão,
Cada ilusão que de mim sobe ao cosmos,
Cada fogo que em mim cresce,
Cada gota em lágrima que de mim desce....
Cada riso!

(Dinamene, Faro, Abril de 2003)

Coisas que nem sei bem o quê

Ainda há bocado olhei para uma folha. Realmente as folhas são um bocado privilegiadas. Não têm que fazer nada, mas têm acesso a tudo. A todos os olhares e a todas as conversas, presenciam todas as situações e todas as confusões. O que não saberá uma folha! Certamente saberá que o Valente já está farto de trabalhar na oficina e que a Frederica não gosta do cão do marido, porque é alérgica ao seu pelo. Azar. Tenho a certeza que a folha ouve e vê todos estes arranhões da vida e diz “azar.” E não tem razão? No final, a única coisa que a folha tem que fazer é esperar por um rasgo de vento para poder seguir o seu caminho. E a partir daí se verá. Para onde irá a folha? Cada vez mais tenho a certeza que a folha diz “azar”.

O problema da folha é que por ser folha não pode folhear por aí e por aqui. E não folhear não tem piada. Mas o que chateia a folha, é que ela sabe que as pessoas podem folhear e não querem, só querem que o vento chegue, para saber como é o fim da história. Não, eu tenho a certeza que a folha aproveita a viagem toda, de outro modo, porque estaria ela ali? Para servir de confidente natural da agitação social? Não, nunca. Ao menos a folha desfruta do ramo, do vento e da poluição. A folha lida bem com tudo. Nunca está triste, zangada, magoada ou chateada. A folha não tem disposição, tem esta que tem e pronto. Se ao menos as pessoas fossem mais como as folhas. Se fossem como as folhas não lhes tinhamos que dizer nada. Cresciam e pronto, ficavam como a folha, aberta e disposta. Mas se assim o fosse seriam pessoas, porque passavam ao lado da viagem, e as pessoas fazem sempre a viagem, só não percebem que a estão a fazer.

Há coisas que não te sei explicar. Sim, é mais ou menos isso, mas agora tens que agir desse modo e não apenas falar. Essa é a diferença entre nós. Não, não, não em tudo, mas em várias coisas. Tu sabes bem que é assim. Tens que ser tão complicada porquê? Não percebo. Sim, claro, o eterno cliché feminista. Ah pois! Agora sou eu que sou machista. Não, eu só defendo o uso da lógica. Mas podes ao menos ouvir-me? Não te percebo. Nem vou perceber. Nem quero perceber. E não quero partilhar a minha viagem.


Vasco


segunda-feira, maio 05, 2008

A minha a avó, todos os dias!

Tem os cabelos brancos brilhantes, ondulados em caracóis de ternura. Parecem mesmo cabelos de anjos, feitos de nuvens e raiados de sol!
Eram negros na sua juventude, e com o tempo foram ganhando outros encantos… aparentemente descolorados são repletos de arco-íris. A pele tem rugas serenas, marcadas com suavidade, desenhadas sem vergonha do tempo…Rugas de rir, rugas de aceitar, rugas de dar, rugas de perdoar…Porque é assim mesmo a minha avó.
Generosa, imensa, doce no olhar, suave nos gestos, alegre na alma, bem-humorada na vida…
As roupas que veste são leves, como o seu pensamento, coloridas como a sua vontade de viver! Nunca se vestiu de negro, nem se carregou de tristeza perante as desgraças da vida!... Apesar da vida nem sempre lhe dar o melhor, procura sempre o melhor de cada momento e por isso vive plenamente, intensamente e feliz!
É tão grande e tão bonita! É tão forte e corajosa que só de pensar nela me encho de lágrimas de encantar, de emoção, de gargalhadas no coração! Falar dela é como falar do universo, da eternidade, da tolerância, do infinito….
Há dois meses adoeceu de repente, perante a perplexidade de todos à sua volta, gravemente doente, com uma meningite, e pensei que ia perdê-la para as estrelas… que fosse a hora de se ir embora! Mas ela recuperou quase tão rapidamente como adoeceu, porque não é mulher de desistir, porque sabia que ainda precisamos da sua contagiante alegria.
Repentinamente perdeu a audição e nem por isso se inibe de nos falar!!! Fala tanto, com tanta ternura na voz, com tanta sabedoria, que até me arrepia de espanto! A voz sai diferente, às vezes alta, às vezes baixa…Que coragem, projectar assim a voz num espaço de silêncio para comunicar aos outros!
"Tanto amor, tanto amor que nos tens, querida avó! Gostas tanto de música, de ouvir rádio, de passear, sabes tanto de tudo, sabes tanto da vida!!! Que difícil deve ser passar de um momento para o outro para um mundo calado…. Mas tu não deixas que o silêncio seja maior que as palavras que te rodeiam, que as cores, os cheiros, o toque das coisas, das pessoas, da vida!… E até sonhas com poesia!"
Dizia-me há dias, a minha avó, que sonhou com um poema lindo, com uma bonita música a acompanhá-lo!
Sempre preocupada com os outros, com o marido, com a filha, com todos… "Diz à tua mãe que está tudo bem, tudo bem!".
Ainda me lembro, outro dia, no jardim… Estava sentada num banco com uma revista… quem a observasse não diria que ainda estava a recuperar de uma grave doença!.... À sombra de uma árvore, a luz do sol que entrava timidamente pelos ramos, a revista erguida na sua mão e o olhar atento pousado nas palavras!
E os livros que agora lê!!!.... Aproveita o mundo de ausência de sons para o povoar de histórias, de contos…. Lê tanto!!! Quando a vou ver conta-me as histórias dos livros com tanto entusiasmo! E que vontade me dá de os ler também.
Com os seus cabelos de nuvens, reflectindo arco-íris, as mãos suaves, o sorriso pronto, vai "sempre em frente" a minha avó! Não desiste em depressões, não se deita sem vontade de outro dia! Levanta-se, movimenta-se, mesmo que com dificuldade, e lê, para nunca estar só e para não deixar "de ouvir".
Dinamene

quinta-feira, maio 01, 2008

Memorial do Convento - uma leitura


A acção principal do romance Memorial do Convento é a construção do Convento de Mafra. D João V promete mandar construir o convento, se a sua esposa engravidar. A História reaparece através da ficção, aliás, os dados históricos entrelaçam-se constantemente com episódios ficcionais.

O narrador coloca-se do lado do trabalhador, que dia e noite edifica o convento: "por via destes e outros tolos orgulhos é que se vai disseminando o ludíbrio geral, com suas formas nacionais e particulares, como esta de afirmar nos compêndios e histórias, Deve-se a construção do Convento de Mafra ao rei D. João V, por um voto que fez se lhe nascesse um filho, vão aqui seiscentos homens que não fizeram filho nenhum à rainha e eles é que pagam o voto, que se lixam, com perdão de anacrónica voz" (p.257).

São também relatados os autos-de-fé praticados pela Inquisição e, a par da acção principal, viajamos para um mundo doce, mágico, que envolve Baltasar Sete-Sóis e Blimunda Sete-Luas, que consegue ver dentro das pessoas. Estas duas personagens são muitas vezes o fio condutor da intriga, conferindo-lhe ternura.

Muito mais haveria a referir mas, tal não vai suceder aqui, porque se trata somente de uma simples abordagem da narrativa.

Boa leitura!