Páginas

terça-feira, junho 30, 2009

A Lita e o Henda atribuíram-nos este prémio.
A Lita generalizou “à Dinamene e à sua equipa”, o Henda seleccionou um post.
Nós agradecemos e queremos merecer tal distinção!
O amor está no ar, está também em cada palavra, em cada frase, em cada poema da Didium.
Leram o post “Alado”?! É só amor!!!
Querem que digamos quais as pessoas mais importantes para nós.
Como somos cinco, torna-se complicado, mas calculo que poderei destacar os netos (só eu é que tenho : ) !!!), os filhos, os nossos pais, os companheiros, os amigos e todas as crianças do mundo!
Quanto aos 10 blogs merecedores do prémio, deixo essa tarefa à Didium. Ajudo com dois, retribuindo a “Pequenos Pormenores” e “M’bué de Lopes”.
Séries favoritas?! Complicadíssimo.
Eu não posso referir nenhuma, porque a verdade é que praticamente não vejo televisão. Meninas da equipa, vêem alguma???? E se fossem antes livros? Destaco, então, o que estou a ler e os últimos que li:
“O rastro do Jaguar”
“O apocalipse dos trabalhadores”
“A Viagem do Elefante”
“A menina que não falava”
“A menina que não sabia chorar”
Fui pouco cumpridora, eu sei! Didium, Gabi, Dinamene, ajuuuuudem-me!

segunda-feira, junho 29, 2009

Garantidamente

Mirror Image II
Alfred Gockel

A garantia
tem validade,
na sua utilidade.
E nós usufruimos
a vida, de verdade,
sem o limite
pré-definido
que desconhecemos,
que tememos.
Por isso, garantidamente,
ousamos prosseguir
em júbilo, afectuosamente,
sorrindo, chorando, sonhando
no espelho, a idade reflectida,
exacta, no momento,
sem tormento,
desafiando-nos,
ousando dizer-nos:
"Vai, prossegue a tua validade!"
maria eduarda

Era uma vez...

Era uma vez uma onda que balançava ao ritmo das marés e dos ventos. Um dia reparou que as ondas à sua frente se despenhavam nas rochas. Assustada, gritou: "Isto é terrível! Olha o que me vai acontecer "
Então, uma onda que vinha atrás perguntou-lhe porque estava triste…
Ao que a primeira respondeu: "Não entendes? Todas nós, ondas, vamos acabar em nada! Não é horrível?"
E a segunda onda disse: "Não, quem não compreende és tu. Tu não és uma onda, és parte do oceano."

O que É Perfeito não Precisa de Nada

Sim, talvez tenham razão.
Talvez em cada coisa uma coisa oculta more,
Mas essa coisa oculta é a mesma
Que a coisa sem ser oculta.
Na planta, na árvore, na flor
(Em tudo que vive sem fala
E é uma consciência e não o com que se faz uma consciência),
No bosque que não é árvores mas bosque,
Total das árvores sem soma,
Mora uma ninfa, a vida exterior por dentro
Que lhes dá a vida;
Que floresce com o florescer deles
E é verde no seu verdor.
No animal e no homem entra.
Vive por fora por dentro
É um já dentro por fora,
Dizem os filósofos que isto é a alma
Mas não é a alma: é o próprio animal ou homem
Da maneira como existe.
E penso que talvez haja entes
Em que as duas coisas coincidam
E tenham o mesmo tamanho.
E que estes entes serão os deuses,
Que existem porque assim é que completamente se existe,
Que não morrem porque são iguais a si mesmos
Que podem mentir porque não têm divisão [?]
Entre quem são e quem são,
E talvez não nos amem, nem nos queiram, nem nos apareçam
Porque o que é perfeito não precisa de nada.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"

sábado, junho 27, 2009

A aranha

A aranha, aquela aranha, era tão única: não parava de fazer teias! Fazia-as de todos os tamanhos e formas. Havia, contudo, um senão: ela fazia-as, mas não lhes dava utilidade. O bicho repaginava o mundo. Contudo, sempre inacabava as suas obras. Ao fio e ao cabo, ela já amealhava uma porção de teias que só ganhavam senso no rebrilho das manhãs.
E dia e noite: dos seus palpos primavam obras, com belezas de cacimbo gotejando, rendas e rendilhados. Tudo sem fim nem finalidade. Todo o bom aracnídeo sabe que a teia cumpre as fatais funções: lençol de núpcias, armadilha de caçador. Todos sabem, menos a nossa aranhinha, em suas distraiçoeiras funções.

Para a mãe-aranha aquilo não passava de mau senso. Para quê tanto labor se depois não se dava a indevida aplicação? Mas a jovem aranhiça não fazia ouvidos. E alfaiatava, alfinetava, cegava os nós. Tecia e retecia o fio, entrelaçava e reentrelaçava mais e mais teia. Sem nunca fazer morada em nenhuma. Recusava a utilitária vocação da sua espécie.

Mia Couto, "O Fio das Missangas"

sexta-feira, junho 26, 2009

Interiorizar

http://olhares.aeiou.pt/heaven_pyramid_foto2611495.html

Desço aos saltos os degraus do meu corpo. Deixo pegadas no canto das ilusões, descalço os sapatos na curva das lamentações, e os pés nus tocam a fragilidade da vida, e saio, consciente do patamar efémero, que me aguarda, de chinelos.

maria eduarda

quinta-feira, junho 25, 2009

Coisas que se pensam quando qualquer outra coisa seria menos inútil

Diário gráfico 2009 Stop thinking
Sim, escrever sobre ti não é útil.

Útil é estar do outro lado dos teus olhos a morder devagar
o teu cozinhado de camarões,
tacteando o tempo, como se fosse sedoso contigo
e avermelhar-me quando caças com esse azul, em vez de rede ou armas.
Não há poema suficiente que seja esse momento
nem essa brancura de lã pairando como um topo em ti,
agasalhadora não sei bem de que modo de sentir-te.

Escrever é mostrar que talvez numa asa para algures, ficas um ponto. Apenas isso.
Esqueceria todas as palavras se num exercício inverso.
Deixaria de pensar, até.
Sim, escrever é teres partido... e não ser Deus.

A Nossa Vida como um Conjunto de Metáforas

Pensemos, por exemplo, nos grandes escritores.
Podemos orientar a nossa vida por eles, mas não podemos extrair das suas obras o elixir da vida. Eles deram uma forma tão rígida àquilo que os moveu que tudo isso está ali, mesmo nas entrelinhas, como metal laminado. Mas, que disseram eles na verdade? Ninguém sabe. Eles próprios nunca o souberam explicar cabalmente. São como um campo sobre o qual voam as abelhas; e ao mesmo tempo, eles são esse próprio voo. Os seus pensamentos e sentimentos assumem toda a escala da transição entre verdades ou erros que, se necessário, podem ser demonstrados, e seres mutáveis que se aproximam ou afastam de nós quando os queremos observar. É impossível destacar o pensamento de um livro da página que o encerra. Acena-nos como o rosto de alguém que passa rapidamente por nós, numa fila com outros rostos, e por um instante surge carregado de sentido. Estou outra vez a exagerar um pouco. Mas agora queria perguntar-lhe: que coisa acontece na nossa vida que não seja aquilo que acabo de descrever? Não falo das impressões mais exactas, mensuráveis e definíveis; todos os outros conceitos em que baseamos a nossa vida não passam de metáforas que ficaram cristalizadas. Entre quantas ideias não oscila e paira um conceito tão simples como o da virilidade? E como um sopro que muda de forma a cada respiração, e nada é estável, nenhuma impressão, nenhuma ordem. Se, como eu disse, pomos de lado na literatura aquilo que não nos convém, tudo o que fazemos é reconstituir o estado original da vida.
Robert Musil, in 'O Homem sem Qualidades'

quarta-feira, junho 24, 2009

Expectativa

http://olhares.aeiou.pt/por_sete_mares_foto2717597.html


Assim,
na espera inquietante,
frustrante,
de tudo, de nada,
do sonho, da evasão
na contida solidão,
na memória do riso,
das palavras, dos abraços,
do reajustar dos laços,
do continuar os traços,
juntos no mesmo desenho.
Eu e tu,
em espera
de um dia em tamanho
certo, adequado,
propício, enquadrado,
em espera, por ora,
agora,
a toda a hora,
ou talvez não,
com ou sem razão,
de coração!
maria eduarda

segunda-feira, junho 22, 2009

Arrumação

Frasco de perfume da minha Mãe


O nosso corpo tem várias gavetas de saudade, bem etiquetadas. De vez em quando o pensamento viaja até lá dentro, abre uma das gavetas e faz reviver a saudade do episódio, da pessoa, da terra...

E fica-se assim, absorta, nessa imensa lembrança, quase embriagada, esquecida do Mundo.

A gaveta aberta, espera o tempo suficiente para a recolher, guardá-la de novo e fechar-se, até uma próxima vontade de lembrança.

Mas há saudades que não cabem em gavetas e recusam etiquetas. São as que nos acompanham, as que nos dão alento para recordar a beleza desta caminhada, muitas vezes em loucura, algumas vezes pouco valorizada, outras vezes mal amada, mas necessária prosseguir, porque sempre na esperança do dia que é hoje, grandioso!

Amanhã? Talvez continuemos fora de uma gaveta, que se quer retirada, porque se quer vivida sem saudade, à solta, revigorada ...

maria eduarda

sábado, junho 20, 2009

Mambo 17

Quando é que se pode dizer, "tudo azul esboroado"?
Existirão instantes ainda mais propícios a tal excesso, deveremos contar com desa/agravamentos dos profundos já rendilhados estados de prostração/adoração à existência?
O esboroado não será um termo inenarrável, que significa passar a ser de outro modo em torrões de fragilidades?
E o azul, que activa? Os filtrantes olhos, da mãe que escolhe quase com devassidão os mundos onde sentar pouco as suas crianças de vidro, presas também do seu olhar? Quem rapta o azul à nossa alma sem guarida? Que arrepio sem sul, tão justamente se reparte pelas partes do corpo?
Não servem as analogias para saber da vida?
Talvez azul esboroado imite bem o vermelho vivo perdivelmente a descer--se em rodopios lentos, sem ambição de lugar último.
Mais facilmente se sabe do "tudo azul esboroado" quando se está deitado sobre o chão, sem visão alguma de pedaço de céu ou de olhos que bem o imitem.

G.Ludovice in blogue: 2+2=5

quinta-feira, junho 18, 2009

Tentativa

Tenho a saia a condizer
com a vontade de sair,
de me evadir,
de me desfazer
da blusa escura,
do sapato obtuso,
da vontade de não ir.
E vou...
nos passos vagarosos,
inalo o ar quente,
quebro o cansaço,
retomo o ausente.
Regresso,
mudo de saia
e de vontade,
e permaneço,
na roupagem adequada,
na pele que me mereço,
da miragem...
Enlouqueço!

maria eduarda



«Na tua fita, não reparaste, mas eu assinei com tinta invisível, porque durante a noite uma fada fez o favor de a trazer, para que eu pudesse enviar-te mil beijos por teres completado o 1º ciclo.





Escrevi esta frase na fita:

O essencial é invisível aos olhos, só se vê bem com o coração »


(sms enviada por uma avó especial a uma neta especialíssima, que gostava que a avó tivesse assinado a sua fita de finalista…)

quarta-feira, junho 17, 2009

Paixão

Passion 4
Rabi Khan

Sempre
me dei aos teus braços
como um pássaro aprisionado.

O meu olhar
cintilava ao fremir das asas
do teu voo
e juntos voávamos mais.

Rasguem-me as penas
sadicamente uma por uma
e mesmo assim verão
que belo pássaro aprisionado
incansável esvoaça contigo
doido no amarelo da esperança
à nudez de cada manhã.

José Craveirinha

Criança

O seu tempo é mágico.
Bruxas, fadas, duendes povoam seus sonhos.
Na sua realidade,
os brinquedos ganham vida e tanta fantasia,
Às vezes espanta,
Nos encanta,
De seu sorriso puro,
De sua ingenuidade,
A mentira não faz parte.
Você não tem vergonha
de extravasar sua sensibilidade.
Brinca,
Pula,
Grita,
Chora,
Reclama,
Abraça,
Faz graça,
Não guarda rancor.
Não entende a dor,
O abandono,
Pois você é amor.
Sonhe criança,
Cresça,
Mostre ao homem que sua lição de verdade
pode conduzir à Fraternidade.

Vivian Regina

terça-feira, junho 16, 2009

AS PALAVRAS


São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.

Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade

segunda-feira, junho 15, 2009


Por mais longa que seja a caminhada o mais importante é dar o primeiro passo.
Vinícius de Moraes

Alado


Reparei que os filhos trazem coladas, talvez desde crianças, umas asas incolores. Digo isto porque eu não as vejo, mas existem na certa.
Um dia eles aprendem a voar, e partem, saem do ninho que lhes construímos e mimámos, mas partem...
E eu fico a pensar nas tais asas, que nunca vi, mas que sei existirem.
Como voariam sem a sua ajuda? E devem ser grandes, agora, poderosas, do tamanho do seu crescimento!

E hoje, o meu filho voltou a voar, porque este ninho, este aconchego, é temporário, já é nómada nele.

Voou rápido, porque em segundos, deixei de o avistar, mas também em segundos, o vazio instalou-se em mim, e no ninho que lhe criei.

E sinto cá dentro uma ferida, que só eu sei que existe, que me dói. Também sei que esta ferida vai fechando lentamente, porque o vi voar seguro e feliz.

Já tentei fotografar essas asas, mas encontram-se dentro dele, e só se abrem na altura certa, no momento da despedida, do adeus, do até breve.
E eu fiquei a vê-lo, ao longe, já um pontinho... mas asseguro-vos, era o meu filho, era ele que voava...

maria eduarda

Camões universal

Assentemos, pois, que Camões está onde houver alguém que fale a língua com que ele cantou o encontro do Ocidente e do Oriente. Camões está onde houver alguém que perfilhe as suas ideias humanistas contra a soberba, a prepotência, a corrupção e o preconceito.
Mais do que o Poeta do renascimento, como disse Jaime Cortesão, Camões com o seu poema épico foi o Poeta do Nascimento. Dum novo Génesis. Duma nova idade. De uma cultura nova, de formação essencialmente portuguesa, a que ele chamou o humanismo universalista – sentido novo da vida, feito juízo crítico e de fé, de obediência e rebeldia, de fria observação experimental e proselitismo ardente; de comunhão divina e amor humano; e, mais que tudo, duma larga, generosa e fraterna compreensão dos outros homens e dos outros povos. Na capacidade de compreender e amar a diversidade humana, no quente abraço de fraternidade com que se conquista o próprio inimigo, está verdadeiramente gravada a marca lusitana. Apesar disso, ou por isso mesmo, Camões há muito deixou de nos pertencer. Património cultural da nação, sem dúvida, mas porque sempre e em toda a parte, Camões é também património cultural universal.

Eduardo RibeiroCamões em Macau Uma certeza histórica”

sábado, junho 13, 2009

Dormir até os olhos se abrirem ( frase de uma criança, que pode até chamar-se Filipe )

Dormir,
até os olhos se abrirem.
Entrar no mundo do sono,
às vezes misturado
com outros sonos
de sonhos já sonhados,
de olhos abertos também.
Até os olhos se abrirem,
estar nesse mundo,
onde as fantasias,
imaginadas e reais
se misturam.
E, no meu voar
nesses mundos,
entro e saio,
entreabro portas,
para passar a luz.
Continuo livre, isenta,
segura, numa mistura
de paz, que em mim assenta,
no sono, que me refaz,
me revigora,
dormir,
até os olhos se abrirem!

maria eduarda

quinta-feira, junho 11, 2009


A beleza é a eternidade a olhar-se ao espelho.
Vós sois a eternidade e o espelho.


Kahlil Gibran

quarta-feira, junho 10, 2009

Difícil ser

Equilibra-te
nesse carreiro.
Tiveste a estrada
larga, alcatroada.
Perdeste-lhe as bermas,
os teus amuletos,
as tuas defesas,
nas dúvidas,
nos aconchegos...
Eram outras as medidas...

E agora?
Reordena-te, tenta
no pouco espaço,
avança, ou recua.
Difícil! Hesitas!
Qual o peso na balança?
Qual a medida certa?
Qual a atitude correcta?

maria eduarda

terça-feira, junho 09, 2009

Condecoração

Eu sou Luz e quero Iluminar...

oferecido por Henda (Lopes)


...Os trilhos escuros nos caminhos dos amigos,
os rostos desconhecidos para melhor reconhecer sorrisos
e ser arco-íris, em dias de chuva, na vida da família…


As regras criadas por quem começou a corrente são estas:
1) Completar a frase "Eu sou Luz e quero Iluminar..."
2) Deixar um aviso de recepção a quem enviou o prémio.
3) Passar o selo a cinco blogues que consideremos blogues de luz.

Vamos quebrar a regra 3 (como, tão bem, vimos fazer a Lita no seu blog) e passamos o prémio a toda a lista de blogues e seguidores.... Já que TODOS nos enviam LUZ e inspiração!...

Ler é Viver

segunda-feira, junho 08, 2009

Afectos

O sorriso existe
antes do riso.
Plantado lá dentro,
pede alimento,
a seiva, o afecto,
sem comedimento.

Para abrir o sorriso,
é preciso a vontade,
qualquer complemento,
no riso sedento
da força, do alento,
da vontade, da vida
a todo o momento!
maria eduarda



Há dias assim…
Em que qualquer pequena coisa nos irrita e parece que nada está no lugar certo, em que fazemos tempestades em copos de água, em que os sorrisos são escassos e pequenos nadas parecem o fim do mundo…
Não percebo para que servem estes dias… Talvez seja da chuva a demorar-se mais que o habitual, ou de ter dormido uma hora a menos do que queria, ou simplesmente porque sou sempre demasiado tolerante, calma, compreensiva e um bocadinho de stress/adrenalina reequilibra-me??!
Hoje, por favor, não me digam nada…
Estou a perceber tudo ao contrário.
Mesmo assim, e porque vocês me alegram com as vossas palavras, tenham uma boa semana…


E, “sejam como a água que abre caminho através das pedras: não se oponham aos obstáculos; contornem-nos se puderem, sejam água que não tem forma definida,
adaptem-se e construam a vossa própria, deixem expandir
.” Bruce Lee

o apocalipse dos trabalhadores

«As mulheres descritas por Valter Hugo Mãe são determinadas, lutadoras, tolerantes e corajosas, lançam-se à vida e rompem com o passado. Li maravilhado “O apocalipse dos trabalhadores” como o país da coragem, das vaidades e contradições, onde a Etelvina recebe hospitaleiramente, tal como nós, e não só, em Vila Flor. É um livro de gente crescida onde Glória, irmã de Quitéria, regressa à procura de uma segunda oportunidade. Claro que nem todos vão alcançar a felicidade, mas há quem se lance alegremente no abismo e quando aparece um rafeiro logo se põe o nome de Portugal. O livro de Valter Hugo Mãe deve encher-nos de orgulho, pela luminosidade, pelo fertilizante da escrita, pelas catapultas que lançam o mundo arcaico directamente no futuro. Para quem está céptico sobre a grandeza dos nossos vultos, ou acredite, mesmo piamente, que estamos acabrunhados e a caminho do eclipse, talvez se revele indispensável conhecer o que escreve Valter Hugo Mãe.»

Beja Santos

domingo, junho 07, 2009

A infidelidade ao real..

...Que haverá de mais real, por exemplo, no nosso universo, do que uma vida de homem, e como esperar revivê-la melhor do que num filme realista? Mas em que condições será um tal filme possível? Em condições puramente imaginárias.
Seria preciso, com efeito, supor uma camara ideal focada, de noite e de dia, sobre esse homem e registando sem paragem os seus menores movimentos.
O resultado seria um filme cuja própria projecção duraria uma vida de homem e que não poderia ser visto senão por espectadores resignados a perder a sua vida para se interessarem exclusivamente nos pormenores da existência de um outro. Mesmo em tais condições esse filme inimaginável não seria realista. E isso pela razão simples de que a realidade de uma vida de homem não se encontra somente onde ele está...
"O artista e o seu tempo" -Albert Camus
Conferência de 14 de Dezembro de 1957, Universidade de Upsala

sábado, junho 06, 2009

Uma prenda do amigo Henda, para todos nós


O nosso amigo Henda ofereceu-nos esta prendinha, que ponho à consideração dos autores deste blogue. Permanecerá como post ou substituímo-lo pelo actual cabeçalho?

Sol, Gabi, Dinamene e Armando, decidam!

Merece um post!

Comentário do Henda (Lopes) ao "Blog Boom".
Há acasos que não são. Não são acasos porque têm intuito, têm objectivo e são palavras que nos sussurram para prestar atenção.
Enquanto leio o "Blog Boom" Sara Tavares canta "Ponto de Luz"... mágico!
Estou a aprender. Estou a ser levado nas ondas das palavras. Adoro falar. Adoro escrever para mim. Tenho muito para mostrar, e mais ainda para esconder... estou a aprender!A palavra é cada vez mais viral, não pertence ao lado de lá do ecrã, viaja... viaja!
Tudo isto apenas para dizer, que quando comecei a dar de mim, comecei a receber tanto... e quem me deu nem sabe, não desconfia como foi importante.Obrigado "tu"
Jah Bless
(Espero que não te importes, mas resolvi aceitar a sugestão da Dinamene, e porque me identifico nestas tuas palavras. Obrigada Henda!)

A maior flor do mundo

Para o Guilherme, para a Luna, para a Mariana, para todas as crianças cujos papás vêm aqui espreitar, deixo esta "delícia", adaptada do livro de José Saramago, o tal que foi escrito, com hesitação, para crianças e que sempre adorei, muito antes de estar publicado em livro com ilustrações.

sexta-feira, junho 05, 2009

Blog boom

Confesso-vos que sou um pouco “desligada” de certas realidades, não sei se por “alienismo” da minha parte ou por algum outro motivo oculto…
Passando à frente, se não fosse a Didium a sugerir que me juntasse à equipa do “Ler é Viver” suponho que ainda estaria por entrar na Blogosfera.
Recentemente apercebi-me da Blogmania que anda por aí (por trás do computador ou por dentro, por dentro de cada um de nós?, e por cima em espaços paralelos), da enormidade de blogs que há para tudo. Quase toda a gente tem um email e muitos (mesmo!) têm blogs, sendo a palavra, na maioria, o veículo preferencial de comunicação. Também há blogs que privilegiam a imagem, o som, o vídeo… Podem ser dedicados a pessoas, ou à poesia, à ciência, etc, alguns são informativos, ou de opinião, críticos, apresentam artes ou publicitam produtos artesanais, pertencem a grupos, associações ou são individuais… Há blogs para todos os gostos e desgostos, mesmo!
Nenhum omite palavras, mesmo que possa silenciar algumas. Pergunto-me, até, se as palavras terão o mesmo poder mágico de comunicação que tem um olhar nos olhos, em silêncio…
Quantas vezes não podemos olhar nos olhos de amigos, ou até de desconhecidos que gostaríamos de conhecer e, então, lemos-lhes as palavras que são, nalguns casos, espelhos de alma?!
Muitos dos autores dos blogs utilizam nos perfis nomes diferentes dos que usam no dia a dia (ao vivo e a cores), fotos pouco perceptíveis ou imagens que não são a “sua cara”, não sei se para ocultar verdades se para revelar outras identidades.
Há também prémios que uns bloguistas enviam a outros (também não somos excepção), coleccionando-os, e que ainda não percebi se gosto ou se me irritam (sem querer ofender ninguém), nem sei quem terá inventado tal teia.
Serão os blogs portas para novas dimensões, algumas fúteis, outras profundamente belas?
Saberíamos viver sem palavras?
A verdade é que por mais palavras que se inventem, reagrupem, baralhem, o todo, a essência, é impossível de escrever….e descrever…
As palavras são por si um mundo, um todo, um Universo!
Podemos dizer o mesmo de tantas formas, com diferentes palavras…
Quando escrevemos, com as nossas palavras, que vos pertencem, lêem o que escrevemos?
Ler é criar?
Como escrever, Ler é Viver….
Dinamene

quinta-feira, junho 04, 2009


"Onde o amor impera, não há desejo de poder;

e onde o poder predomina, há falta de amor.

Um é a sombra do outro."


Jung

(Des) encontro

My Love II
Willem Haenraets

E tem sido assim, ele e ela. Marcam o encontro, e dirigem-se ao abraço perdido no tempo. À hora esperada, vêem-se e sorriem, felizes, só eles. À volta, nada existe, o mundo é habitado naquele momento por duas pessoas, ele e ela.
Dão-se as mãos, trocam-se beijos, ternuras. Acontece o diálogo. A separação foi longa, de anos, muitos, há sempre algo a relembrar, a ser dito, porque desconhecido, dele e dela.
Prosseguem o caminho, o chão não existe, por ele voam e não aterram, tão cedo.
Envolvem-se em ternuras, entregam-se e vivem momentos felizes, só deles. Conversam sobre as pessoas que são agora, muito iguais ao que eram, sobre os sentimentos, o passado, e intensificam o presente, o agora.

Continuam a sorrir, e a gostar de estar assim...

Tudo é fugaz, e os momentos de felicidade ainda o são mais.O Mundo parou, só o relógio teima em lembrar o tamanho do limite.
Descem a rua, juntos, unidos, cada vez mais. Nos anos que passaram, apurou-se a paixão, e acontece a loucura, que não pode ser adiada.
E separam-se, sorrindo por fora, lamentando por dentro.
Sucedem-se os dias, e aguardam a ternura, a entrega, numa próxima vez. Quem sabe quantas vezes?
Continuam assim, à espera que algo aconteça, que eles aconteçam, e que a história faça ainda mais sentido.

E fará, um dia!
Quando nada se puser em causa, quando tudo estiver resolvido, quando se libertarem, quando não houver culpas, quando...
Para se ser feliz, não pode haver culpas. Estas pertencem àqueles que se acomodam, aos que adiam o prazer, aos que não se lançam na paixão, aos que simplesmente sobrevivem...
Uma história de encontro, desencontro e reencontro. Pessoas que se querem no reencontro, reencontrar-se em definitivo, e aí permanecer.
Sempre há histórias assim!

maria eduarda

Poema do alegre desespero

Compreende-se que lá para o ano três mil e tal
ninguém se lembre de certo Fernão barbudo
que plantava couves em Oliveira do Hospital,ou da minha virtuosa tia-avó Maria das Dores
que tirou um retrato toda vestida de veludo
sentada num canapé junto de um vaso com flores.
Compreende-se.
E até mesmo que já ninguém se lembre que houve três impérios no Egipto
(o Alto Império, o Médio Império e o Baixo Império)
com muitos faraós, todos a caminharem de lado e a fazerem tudo de perfil,
e o Estrabão, o Artaxerpes, e o Xenofonte, e o Heraclito,
e o desfiladeiro das Termópilas, e a mulher do Péricles, e a retirada dos dez mil,
e os reis de barbas encaracoladas que eram senhores de muitas terras,
que conquistavam o Lácio e perdiam o Épiro, e conquistavam o Épiro e perdiam o Lácio,
e passavam a vida inteira a fazer guerras,
e quando batiam com o pé no chão faziam tremer todo o palácio,
e o resto tudo por aí fora,
e a Guerra dos Cem Anos,
e a Invencível Armada,
e as campanhas de Napoleão,
e a bomba de hidrogénio,
e os poemas de António Gedeão.
Compreende-se.
Mais império menos império,
mais faraó menos faraó,
será tudo um vastíssimo cemitério,
cacos, cinzas e pó.
Compreende-se.
Lá para o ano três mil e tal.
E o nosso sofrimento para que serviu afinal?

quarta-feira, junho 03, 2009

Os Meios de Comunicação Têm Sempre Razão

A dominação intelectual é difícil se não dispomos de uma tribuna mediática. Em vez de perdermos longos anos a reflectir sobre o sentido da vida, as relações entre homens e mulheres, a influência da alimentação transgénica na produção leiteira das vacas normandas (conheço um investigador que passou quarenta anos a estudar as térmitas; admite não ter conseguido desvendar-lhes o segredo que, no seu entender, existe!) ou qualquer assunto mais ou menos relacionado com o destino da Humanidade, mais vale começarmos por arranjar meios de aceder à redacção de um jornal ou, melhor, de um canal televisivo. Com efeito, é a importância do meio de comunicação em termos de audiência que determina a supremacia de uma opinião. Qualquer tolice catódica emitida entre as 20 e as 20:30 horas é mais credível que a conclusão amadurecida de um colóquio de especialistas. Porquê mais credível? Porque mais acreditada.

Georges Picard

terça-feira, junho 02, 2009

Justificação

No sofrer,
procuram-se razões
dentro de nós,
para as inquietações,
os tumultos, os desassossegos.
Um conjunto de emoções
que transbordam dos olhos,
em lágrimas jorrantes,
em soluços ofegantes.
Secar esta fonte,
recolher o tormento,
suavizar-lhe o lamento.
Sorrir depois,
alma lavada,
coração aberto,
atenta à hipótese,
de viver amada
em altura, de agora,
porque o tempo acaba,
um dia, numa hora...
maria eduarda

Ar e Água

Pelo ar, cai sôfrega
a água, a jorros.
Suicida-se
ao bater no chão,
espalha-se, desintegra-se,
falta-lhe a união,
trazida inicialmente.
Mas, a outras águas
então se une,
imensas, belas,
espelhos do céu.
Em dias assim,
repletos de vida,
assim renascida.
E, no ar que respiramos,
que insuflamos,
obtemos o fôlego
para continuar,
para descortinar
a singela beleza
que se desintegra,
porque a sua função
é seguir
com aptidão e destreza,
em perfeita união,
fruto de uma primeira
desintegração.
maria eduarda

segunda-feira, junho 01, 2009

Prémio

Este blogue, que não é só meu, recebeu, recebemos ,este prémio da querida Anabela. Já lhe perguntei quais as regras a seguir. Então, teremos que o atribuir a seis blogues de mulheres. Que me perdoem, mas recaírá nalguns blogues, já merecedores de tal prémio, noutras ocasiões.

E os blogues são:









Pronto, já estão os mimos distribuídos

Terra

Este é o chão
que piso,
o lugar, outro,
que aspiro
um dia chegar
a estar!
Calor envolvente,
local distante,
presente, em mente.
Vitórias, derrotas,
longe vividas.
O eterno, o final,
por lá, outonal,
fim ou recomeço,
do amor autêntico
à terra natal.

maria eduarda

Choro e Sonho, Menino

Menino Rasgado,
Nu, Esfarrapado!
Na Rua Vivendo, sem Tecto/Telhado!
Na Rua, Na Rua…
Menino Coitado!

Menino Esquecido
Com Suor Escorrido
Trabalha
Horas Sem Sentido,
Trabalha, Trabalha…
Menino Vivido!

Menino Desgraçado
Marchando Fardado
Na Guerra
Matando, Irmão-Odiado
Na Guerra, Na Guerra…
Menino Soldado!

Menino Vestido
Em Belo Tecido
Em Casa
Guardado/Aquecido!
Em Casa, Em Casa…
Menino Protegido!

Menino (Des)Amado 0u Mal Amado?
Na Sala Fechado
Sozinho
Olhando a TV Deitado!
Sozinho, Sozinho…
Menino Ensonado!

Onde estão teus direitos Menino?
Não é hoje o Teu Dia?
Por ti choro Menino!

E Choraria se um Menino houvesse na Rua,
sem casa, conforto, comida, carinho
E há muitos!

Choraria se um Menino houvesse no Trabalho,
sem brincar, sem sonhar, em suor a se desgastar
E há muitos!

Choraria se um Menino houvesse na Guerra,
a lutar, a matar, a morrer devagar
E há muitos!

Choraria se um Menino houvesse Em Casa,
sem sair, sem amigos, com medo do frio, dos desconhecidos
E há muitos!

Choraria se um Menino houvesse Sozinho,
sem colo, sem companhia, a ver TV noite e dia
E há muitos!

Onde estão vossos direitos Meninos?
Não é hoje o Vosso Dia?
Por vós choro Meninos!

Também por vós Sonho!
Porque vejo em vossos olhos, mesmo na Tristeza,
o brilho da Esperança….
Sonho com vosso Sorriso de Criança!

Por vós Choro e Sonho,
Meninos esfomeados, maltratados, abandonados, raptados, explorados, encarcerados…

Dinamene

Crianças



Dia da Criança

Ode à Criança

A criança é criativa porque é crescimento e se cria a si própria. É como um rei, porque impõe ao mundo as suas ideias, os seus sentimentos e as suas fantasias. Ignora o mundo do acaso, pré-elaborado, e constrói o seu próprio mundo de ideais. Tem uma sexualidade própria. Os adultos cometem um pecado bárbaro ao destruir a criatividade da criança pelo roubo do seu mundo, sufocando-a com um saber artificial e morto, e orientando-a no sentido de finalidades que lhe são estranhas. A criança é sem finalidade, cria brincando e crescendo suavemente; se não for perturbada pela violência, não aceita nada que não possa verdadeiramente assimilar; todo o objecto em que toca vive, a criança é cosmos, mundo, vê as últimas coisas, o absoluto, ainda que não saiba dar-lhes expressão: mas mata-se a criança ensinando-a a ater-se a finalidades e agrilhoando-a a uma rotina vulgar a que, hipocritamente, se chama realidade.

Robert Musil, in 'O Homem sem Qualidades'