"Como tudo na vida: muitas vezes o difícil é começar.
Iniciar a caminhada através do novo. Do desconhecido.
Percorrer os caminhos iniciáticos e atravessar as paisagens inóspitas dentro de cada um de nós. Saborear o sabor da vertigem... aquele travo estranho que quase nos atropela por dentro... e que nos interpela, questionando os porquês de tudo e de todos.
Mas igualmente é bom arriscar.
Um livro novo - uma viagem. Um novo poema - porque não um momento de viragem?
Se "dar o início", se no fundo começar... significa um amanhecer, um novo acordar... porque não renascer. Porque não iniciar?"
E assim o será:
- Pois que sejam abertas as portas de todos os mistérios e seja então dado: O INÍCIO."
2 comentários:
Texto muito belo.
E porque não o gosto pela reflexão/escrita, pelo teu início neste blogue, que também é teu?
Bjs
31 de Julho de 2008 13:39
Que texto bonito, bem escrito e verdadeiro!!!
E vem de encontro à fábula da “Águia”. Tem de haver sempre um início. E é preciso ter coragem e arriscar.
Há várias versões de “A águia e a galinha”. A lenda foi narrada por um educador popular, James Aggrey, de um pequeno país da África Ocidental, do início do século XX, como metáfora para reflectir sobre a dualidade das forças que habitam a mente do ser humano.
Podemos pensar várias coisas a partir dessa lenda. A águia e a galinha são dois seres que podem representar, pelas suas características específicas, algumas de nossas tendências diante do modo com que vivemos a vida e enfrentamos os desafios inerentes.
Vejamos a galinha. A sua própria imagem sugere adaptação, acomodação e dependência. Ela representa a realidade concreta, essa do dia-a-dia, do quotidiano, das coisas previsíveis, dos limites determinados, do enraizamento. A galinha cisca os grãos que lhes são jogados pelo tratador. O ambiente é seguro, certo, mas está limitado ao que é conhecido.
E a águia? Sobre ela existe, ainda, uma lenda contando que é uma ave capaz de durar 70 anos, mas que para isso precisa passar por um duro desafio quando chega à metade da sua vida. O seu bico cresce e se enverga, as suas unhas também e as suas penas ficam grossas e pesadas. Ela tem duas alternativas, então: ou se rende a essa condição e morre ou tem de passar por uma situação que lhe garantirá uma nova vida. Para isso ela terá de se recolher no alto de uma montanha e perto de alguma parede, onde possa bater o bico até ele se quebrar. Outro bico tem de surgir para poder cortar as unhas crescidas, assim como tirar também as penas. É um processo que leva 150 dias e é extremamente doloroso e solitário, mas que implica uma renovação.
Com essas associações, podemos pensar na águia como símbolo de superação de limites, de encorajamento, de desejo de viver. Ela representa o ilimitado, o sonho, o imprevisível, a coragem e a criatividade. Através da metáfora da águia e da galinha, podemos reflectir sobre impulsos antagónicos que se alternam e se dinamizam, revelando movimentos e estados psíquicos que podem pender mais para um lado ou para outro, dependendo do momento em que a pessoa se encontra.
Não podemos esquecer que a civilização controla-nos bastante, em prol da preservação da convivência social. Isso requer de nós um lado “galinha”, necessário para que seja possível, então, uma ordem suficiente para o estabelecimento de uma base sobre a qual se assentaria qualquer processo de desenvolvimento. Mas, há momentos em que a família, a escola, o Estado, nos querem como “galinhas”, porque é conveniente que sejamos conformistas e bonzinhos, iguais e dependentes. O medo excessivo pode desencorajar-nos a viver a nossa vida com os riscos inerentes a toda escolha, decisão ou mudança.
Cabe-nos, então, fazer um contínuo exercício de equilíbrio dessas forças, na tentativa de mantermos uma condição que integre os elementos necessários para que a vida não se reduza ao marasmo medíocre e empobrecedor, e tampouco descambe para um estado maníaco de aventuras arriscadas e auto-destrutivas.
Escutemos, então, a nossa natureza interior. Se ela não estiver esmagada, comunicar-nos-á sobre os nossos legítimos anseios e necessidades.
(reflexão adaptada de um texto de Élide Camargo Signorelli)
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