Neste frenesim racionalista, esquecemo-nos de que o corpo é governado pela cabeça. E a cabeça, entregue a si própria, sem pontos de referência, é extremamente frágil: as emoções devastam-na e tornam-na tão instável como uma extensão de água atravessada por uma tempestade. Pode ter-se mandado analisar, fotografar e investigar os recantos mais ocultos do nosso corpo e não se ter recebido um diagnóstico satisfatório.
Então, em vez de procurarmos a causa do mal-estar dentro de nós, começamos a pensar que somos vítimas de qualquer coisa externa – qualquer coisa obscura e misteriosa – que a pouco e pouco nos vai afastando dos outros e de nós próprios.E se o médico nos tivesse dito desde o início uma coisa diferente? Se, em vez de propor que fizéssemos análises e colheitas, nos tivesse perguntado: «Porque é que tem uns olhos tão tristes? Que mágoa tem no coração? Quando foi a última vez que se deitou num campo e olhou para o céu através dos fios da erva? Quando é que ouviu o vento entre as folhas? Alguma vez sentiu gratidão pelo facto de existir e fazer parte desta extraordinária aventura que é a vida?»
Então, em vez de procurarmos a causa do mal-estar dentro de nós, começamos a pensar que somos vítimas de qualquer coisa externa – qualquer coisa obscura e misteriosa – que a pouco e pouco nos vai afastando dos outros e de nós próprios.E se o médico nos tivesse dito desde o início uma coisa diferente? Se, em vez de propor que fizéssemos análises e colheitas, nos tivesse perguntado: «Porque é que tem uns olhos tão tristes? Que mágoa tem no coração? Quando foi a última vez que se deitou num campo e olhou para o céu através dos fios da erva? Quando é que ouviu o vento entre as folhas? Alguma vez sentiu gratidão pelo facto de existir e fazer parte desta extraordinária aventura que é a vida?»
Susanna Tamaro in Cartas a Mathilda
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