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terça-feira, novembro 18, 2008

Uma Palavra Imprópria

Numa peça teatral ou romance, uma palavra imprópria é apenas uma palavra: e a impropriedade, seja ou não percebida, não acarreta consequência alguma. Num código legal — especialmente composto de leis tidas como constitucionais e fundamentais — uma palavra imprópria pode ser uma calamidade nacional: e a guerra civil, a consequência disso. De uma palavra tola podem irromper mil punhais.
(...) E se o significado de todas as palavras, especialmente de todas as palavras pertencentes ao campo da ética, [... ] algum dia vier a ser fixado? Que fonte de perplexidade, de erro, de discórdia, e até mesmo de derramamento de sangue não seria estancada!

Jeremy Bentham, in 'Anarchical Fallacies' e 'Chrestomathia'

3 comentários:

solange disse...

As palavras são ou não impróprias, consoante o contexto e até a entoação!!! A propósito, lembrei-me deste poema:

As palavras

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade

solange disse...

«Os leitores são umas putas, amam-nos e depois deixam-nos.»
Que palavra imprópria!!! :)

São afirmações como esta que têm tornado polémicas as discussões em torno da obra de António Lobo Antunes.

didium disse...

Que pena!O sentido metafórico poderia ser menos contundente!