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segunda-feira, novembro 10, 2008

Terra-Mãe

Cartas guardadas, de outrora,
amarelecidas na gaveta,
num elástico apertadas.
Missivas não rasgadas,
lembranças de uma outra hora,
de um recanto trazido na maleta,
em viagem morosa, de poucas risadas,
vazia na vontade de gargalhadas.

Mudança radical, transferida,
para lugar distante, desconhecido.
Tempo de partida, de desistir:
da casa, da rua, do resistir.
Deixar o conforto, a partilha consentida,
voar é preciso, de coração contido.
Anos, mais anos, num crescendo devir,
acumula-se o desejo de lá ir.

Voltar ao princípio, ao sabor, ao cheiro,
deixado para trás, com receio,
de não se ajustar ao aparecido,
ao novo mundo, então surgido.
Assim é, aquele lugar inteiro,
guardado, aconchegado, em devaneio.
Regressar um dia, num tempo ido,
que transitou do papel amarelecido.

Hoje, volvidos anos, mais saberes,
escrevo outras cartas, com amor,
a aceitação quiçá, resolvida.
A infância, a adolescência, transmitida
aos que me trazem outros viveres.
Missivas estas, cheias de calor,
buscando, não uma gaveta colorida,
mas o partilhar de uma vida.

maria eduarda

3 comentários:

dinamene disse...

Gostei muito do poema…
Traz-me memórias, lembranças, muitas que nem são minhas e pertencem aqueles que lá viveram muitos anos!

A imagem do embondeiro transmite-me paz, sabedoria, a grandiosidade da vida...

Beijinhos

didium disse...

Escrevi um texto, há tempos,sobre Angola, apaguei-o ao fazer uma operação qualquer no blogue. Escrevi este ontem, para que conste...

solange disse...

Revejo-me nos teus sentires!
E o poema é lindo. Lá está, percebe-se que muito sentido!!!