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segunda-feira, novembro 24, 2008

"Mr. PIP"

«Era quase madrugada quando ouvimos os helicópteros dos peles-vermelhas passarem sobre a aldeia e depois regressarem. Pairaram sobre nós como libélulas gigantes, inspeccionando a clareira. Viram uma fila de casas abandonadas e uma praia vazia, pois nós fugíramos. Toda a gente. [...] O bloqueio fora imposto na primeira metade de 1990. Julgámos que seria apenas uma questão de tempo até que o mundo exterior viesse ajudar-nos.» Sem surpresa, o mundo exterior tinha mais em que pensar. Um dia, já na Austrália, Matilda descobre que Mr. Watts lhes lera (a ela e às outras crianças) uma versão simplificada daquilo que considerava «um som novo no mundo». A seu modo, as palavras de Dickens tinham instaurado uma ordem nova no tumulto de Bougainville. Agora, na biblioteca da escola de Townsville, exemplar na mão, «sublinhando cada palavra de cada frase com a ponta do dedo», Matilda percebera. Percebera que Mr. Watts lera «uma versão diferente, uma versão mais simples. Pegara nas partes mais importantes de Grandes Esperanças e simplificara as frases, chegara a improvisar, para nos ajudar a chegar a um lugar mais definido nas nossas mentes. Mr. Watts reescrevera a obra-prima de Mr. Dickens.» A partir dali seria com ela, teria de ser Matilda a descobrir o porquê das omissões de Mr. Watts. A desenvoltura narrativa permite-lhe manter o fôlego discursivo num plano estritamente ficcional, jogando com as várias peripécias da realidade (o conflito armado desencadeado pelo controlo das minas de cobre da ilha) e as expectativas de ascensão social de Matilda, que no fim da história decide partir para Inglaterra.

1 comentário:

solange disse...

Foi o livro que acabei d ler na semana passada.
É emocionante!!!
Já aqui coloquei um excerto, "AZUL", mas o livro é muito mais do que o azul. São todas as cores, todos os sentimentos, grandes esperanças e grandes aprendizagens.