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quinta-feira, janeiro 07, 2010

Para Ti

Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo

Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre

Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida

Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

3 comentários:

www.angeloochoa.net disse...

...Não sei porquê, Dudú, mas agrada-me particularmente este e outros textos de Mia Couto. Bem escolheste.
Um à-parte:
Mia entrou já para a clã 'choa:
É nome de gata que afinal é gato.
Meu «genro» descobriu a diferençazinha importante...
Mia, Mia, bchbchbch vem cá e Mia (O Mia) vem logo... Não como o «Crise…» bichano, que, de tanto o nomearem por rádio e tv, já não reage... Depois conto-te a anedota, Eduardinha. Bom dia!

maria eduarda disse...

Bom dia Ângelo. O poema é lindo, assim como a sua gata, que afinal é gato e se chama Mia.
Bom dia para si também!

Em@ disse...

Ai o meu Mia- irmão do outro lado da costa!