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quinta-feira, outubro 29, 2009
quarta-feira, outubro 28, 2009
A arte de ser feliz
Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade
que parecia ser feita de giz.
Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada,
e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde e, em silêncio,
ia atirando, com a mão ,umas gotas de água sobre as plantas.
Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual,
para que o jardim não morresse.
E eu olhava para as plantas, para o homem,
para as gotas de água que caíam de seus dedos magros
e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.
Outras vezes encontro nuvens espessas.
Avisto crinças que vão para a escola.
Pardais que pulam pelo muro.
Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como reflectidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.
Às vezes um galo canta.
Às vezes um avião passa.
Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
que estão diante de cada janela,
uns dizem que essas coisas não existem,
outros que só existem diante das minhas janelas,
e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar,
para poder vê-las assim.
Cecília Meireles
que parecia ser feita de giz.
Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada,
e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde e, em silêncio,
ia atirando, com a mão ,umas gotas de água sobre as plantas.
Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual,
para que o jardim não morresse.
E eu olhava para as plantas, para o homem,
para as gotas de água que caíam de seus dedos magros
e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.
Outras vezes encontro nuvens espessas.
Avisto crinças que vão para a escola.
Pardais que pulam pelo muro.
Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como reflectidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.
Às vezes um galo canta.
Às vezes um avião passa.
Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
que estão diante de cada janela,
uns dizem que essas coisas não existem,
outros que só existem diante das minhas janelas,
e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar,
para poder vê-las assim.
Cecília Meireles
Coisas que se pensam quando qualquer outra coisa seria menos inútil,
foto:G.Ludovice 2009
Verdadeiramente não sabemos partir indo nem partir ficando.
Não existe uma última palavra numa boca que se fechará em actualidade, haveria outra ainda igualmente importante e talvez mais bela; a que contamos como sendo o último pensamento constatado, foi apenas quebrada no seu deslizar.
Nunca nos despedimos de alguém,
mesmo que o nosso adeus seja da consistência de uma pedra.
Havia mais caminho à beira do vento e o que esvoaçar.
Não existe uma última palavra numa boca que se fechará em actualidade, haveria outra ainda igualmente importante e talvez mais bela; a que contamos como sendo o último pensamento constatado, foi apenas quebrada no seu deslizar.
Nunca nos despedimos de alguém,
mesmo que o nosso adeus seja da consistência de uma pedra.
Havia mais caminho à beira do vento e o que esvoaçar.
terça-feira, outubro 27, 2009
As coisas mais importantes não estão à venda
Pergunta: «Ser filho de um poeta foi determinante para o seu exercício da escrita?»
Mia Couto: «Acho que sim. Mas o meu pai não é apenas um poeta no sentido em que escreve poesia, é um poeta no sentido total, vive em poesia. Lembro-me que, nos momentos mais complicados da Guerra Colonial, passámos por esse período de uma forma totalmente distante, porque para ele o mais importante era irmos ver pelicanos ao final da tarde ou procurar pedrinhas para coleccionarmos. Ele ensinou-nos a procurar pequenas razões para sermos felizes, mesmo no meio dos destroços e é essa a educação que tento transmitir aos meus filhos. Toda a minha família tem a percepção de que as coisas mais importantes não estão à venda.»
Em entrevista a " Dica da semana"
A minha Mãe
Não houve tempo
para despedidas,
de beijos e abraços,
porque ela partiu,
sem estar(mos) preparada(os).
Porque ficámos sós,
filhos em crescimento,
filhos sem colo,
o colo da Mãe.
E porque hoje,
como ontem e sempre,
sinto que não a tenho,
e a explicação
não encontro.
Porque é assim, não é?
É a vida...
Não é o que se diz?
Uns partem, outros nascem...
Mas ela partiu demasiado cedo,
e não nos despedimos!
maria eduarda
para despedidas,
de beijos e abraços,
porque ela partiu,
sem estar(mos) preparada(os).
Porque ficámos sós,
filhos em crescimento,
filhos sem colo,
o colo da Mãe.
E porque hoje,
como ontem e sempre,
sinto que não a tenho,
e a explicação
não encontro.
Porque é assim, não é?
É a vida...
Não é o que se diz?
Uns partem, outros nascem...
Mas ela partiu demasiado cedo,
e não nos despedimos!
maria eduarda
O meu Pai
Porque é assim que te vejo,
Dedicado, garboso, voluntarioso.
Porque ficas bem com a tua farda,
cheia de galardões merecidos.
Porque há horas, como as de hoje,
de ontem e amanhã também,
em que sei
que não te posso abraçar.
Porque sinto que o último abraço
soube-me a pouco.
Porque reconheço,
que ainda haveria muito diálogo,
que ficou por ser ouvido.
E agora,
estou só, no meu monólogo.
Gosto de te ver assim vestido!
maria eduarda
Dedicado, garboso, voluntarioso.
Porque ficas bem com a tua farda,
cheia de galardões merecidos.
Porque há horas, como as de hoje,
de ontem e amanhã também,
em que sei
que não te posso abraçar.
Porque sinto que o último abraço
soube-me a pouco.
Porque reconheço,
que ainda haveria muito diálogo,
que ficou por ser ouvido.
E agora,
estou só, no meu monólogo.
Gosto de te ver assim vestido!
maria eduarda
segunda-feira, outubro 26, 2009
Atitude
Muitas vezes
vigio-me no meu silêncio,
e tento decifrar-me,
como se de um livro se tratasse.
Algumas vezes
encontro-me só,
no cruzar de conversas,
de conteúdo vazias.
Poucas vezes
deixo de sorrir
quando pretendo
que alguém distraído,
comigo sorria.
Nenhumas vezes
me adianto,
e me centro
ávida de atenção.
O saber vem de dentro,
sem roupagens de momentos,
sem artifícios sedentos
de exposição permanente.
Valiosa é a mente,
instruída, autêntica,
em constante procura,
em saudável loucura.
maria eduarda
vigio-me no meu silêncio,
e tento decifrar-me,
como se de um livro se tratasse.
Algumas vezes
encontro-me só,
no cruzar de conversas,
de conteúdo vazias.
Poucas vezes
deixo de sorrir
quando pretendo
que alguém distraído,
comigo sorria.
Nenhumas vezes
me adianto,
e me centro
ávida de atenção.
O saber vem de dentro,
sem roupagens de momentos,
sem artifícios sedentos
de exposição permanente.
Valiosa é a mente,
instruída, autêntica,
em constante procura,
em saudável loucura.
maria eduarda
domingo, outubro 25, 2009
sábado, outubro 24, 2009
O ASSALTO
"Um desses dias fui assaltado.
Foi num virar de esquina, num desses becos onde o escuro se aferrolha com chave preta. Nem decifrei o vulto: só vi , em rebrilho fugaz, a arma em sua mão. Já eu pensava fora do pensamento: eis-me!
(...) É assalto sem sobressalto.
Me conformei, e é como quem leva a passear o cão que já faleceu.
Afinal, no crime como no amor: a gente só sabe que encontra a pessoa certa depois de encontrarmos as que são certas para outros."
Mia Couto, in "O Assalto"
quinta-feira, outubro 22, 2009
A minha raiz
quarta-feira, outubro 21, 2009
Nebuloso Medo
Encontrava-me num daqueles momentos, raros na vida, em que chegamos ao fim de um caminho e poucas opções temos mais que seguir em frente, mesmo que de olhos semi-cerrados.
A passos do cartaz que dizia “dia 15, atira-te de cabeça”, lembro-me da angústia que sentia, da vontade de andar para trás, de fugir na direcção contrária. Olhava timidamente para os lados e não via nada mais a não ser neblina e, em frente, apenas nevoeiro. Nas minhas costas estava uma vida, de alguns sobressaltos e quase sempre feliz, ainda incompleta…
O Medo pode turvar-nos a visão, poderá por vezes assombrar-nos, fazer-nos sombra nebulosa.
Mais perto do mergulho no desconhecido (porque nem todas as mudanças na vida são escolhas planeadas ou pensadas, há escolhas que são urgências, mudanças que se impõem), comecei a vislumbrar finos raios luminosos, indicando-me subtilmente que do lado de lá não estava o fim temido, apenas luz, luz branca e colorida, como na vida.
Fui… Aceitei… mergulhei no, já menos denso, nevoeiro!
Ri-me, sentindo a certeza do meu pulsar… Neste caminho novo que percorro, sinto a vida num trilho largo, longo, até lá onde a vista não alcança…
Para trás do cartaz, medo e sombra, nadas que agora são passado.
A passos do cartaz que dizia “dia 15, atira-te de cabeça”, lembro-me da angústia que sentia, da vontade de andar para trás, de fugir na direcção contrária. Olhava timidamente para os lados e não via nada mais a não ser neblina e, em frente, apenas nevoeiro. Nas minhas costas estava uma vida, de alguns sobressaltos e quase sempre feliz, ainda incompleta…
O Medo pode turvar-nos a visão, poderá por vezes assombrar-nos, fazer-nos sombra nebulosa.
Mais perto do mergulho no desconhecido (porque nem todas as mudanças na vida são escolhas planeadas ou pensadas, há escolhas que são urgências, mudanças que se impõem), comecei a vislumbrar finos raios luminosos, indicando-me subtilmente que do lado de lá não estava o fim temido, apenas luz, luz branca e colorida, como na vida.
Fui… Aceitei… mergulhei no, já menos denso, nevoeiro!
Ri-me, sentindo a certeza do meu pulsar… Neste caminho novo que percorro, sinto a vida num trilho largo, longo, até lá onde a vista não alcança…
Para trás do cartaz, medo e sombra, nadas que agora são passado.
Dinamene
Incentivo
terça-feira, outubro 20, 2009
As mãos nos bolsos
“As mãos nos bolsos de Klaus. Como era estranho aquele seu gesto de esconder as mãos nos bolsos. As mãos e os olhos eram o fundamento da guerra: sem mãos é impossível odiar, odeias pela ponta dos dedos, como se estes fossem o canal habitual e único de uma certa substância química má. As mãos nos bolsos são um processo de educar o ódio, processo lento quando comparado com aquele bem mais forte que é a amputação dos braços. Mas só com as mãos nos bolsos os homens já acalmam. Com as mãos nos bolsos um homem percebe que não é Deus. Não se chega às coisas. Se tocares no mundo com a cabeça obterás desse toque sentimentos secundários; afastados de uma intensidade mínima a que a existência das mãos te habituou. As mãos tornam-te intenso. O obsceno – isso mesmo -, o obsceno que é o homem que na guerra, mesmo que numa pausa, põe provocadoramente as mãos nos bolsos. Assumir que não se é Deus em momento de guerra, acto corajoso e, por estranho que pareça, o único divino. Só os cobardes fingem que são Deus. Mas por momentos a vida de Klaus perde os seus órgãos máximos do raciocínio que são as mãos: os órgãos especializados nesse instinto primário que é sobreviver: instinto primário e também instinto último a largar um corpo. Com as mãos nos bolsos Klaus não pode deixar de parecer um imbecil, um homem que não pensa. Claro que as mãos nos bolsos fazem acumular emoções no resto do corpo. Como se os dedos, às escondidas, destapassem algo. Com as mãos nos bolsos sente-se mais, pensa-se menos.(...)As mãos são órgãos susceptíveis de se emocionarem. As mãos não terão apenas sentimentos tácteis, mas também sentimentos mais complexos: como a grande tristeza. Supor que há elementos do corpo que não sofrem nem se exaltam, que apenas assistem, parece um equívoco evidente de uma certa anatomia analítica que vê cada bocado de corpo como louco individual, com o seu mundo próprio. Não há nenhum órgão que possas extrair do corpo, mantendo este vivo, de modo a que do organismo expulses apenas as emoções. Só extrairás as emoções quando eliminares por completo o organismo. A última célula que sobrevive ainda sente e provavelmente pensa.”
Gonçalo M. Tavares “Um Homem: Klaus Klump”
segunda-feira, outubro 19, 2009
Ao pai
Não é a tua mão, filha
que eu levo na minha mão
é uma raiz
que eu planto em mim mesmo.
António Reis, “Palavras de Cristal”
que eu levo na minha mão
é uma raiz
que eu planto em mim mesmo.
António Reis, “Palavras de Cristal”
domingo, outubro 18, 2009
As mãos
Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema - e são de terra.
Com mãos se faz a guerra - e são a paz.
Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas, mas de mãos.
E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.
E cravam-se no tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.
De mãos é cada flor, cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.
Manuel Alegre
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema - e são de terra.
Com mãos se faz a guerra - e são a paz.
Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas, mas de mãos.
E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.
E cravam-se no tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.
De mãos é cada flor, cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.
Manuel Alegre
A dor
Window Pain
Diana Ong
Diana Ong
É certo que a infelicidade não depende apenas da dor, mas a alegria, essa, só devia depender da ausência de dor física.
Vinte séculos inteiros e completos não inventaram uma explicação do sofrimento; sofre-se em comparação com o que é não sofrer, e nenhum homem saudável quer ser educado previamente para aquilo que é mau. Já não se treina a resistência à dor: evita-se, sim, a mistura com essa 'coisa' repelente.
Gonçalo M. Tavares, in "A Máquina de Joseph Walser"
sexta-feira, outubro 16, 2009
Coisas que se pensam quando qualquer outra coisa seria menos inútil,
Putney Bridge 2009
foto:G.Ludovice
foto:G.Ludovice
No bico deste vento que não sei se me está endereçado
há nadas que me tomam o colo todo
como se fossem a tua cabeça a descansar do mundo
sob as minhas mangas tão soltas.
Não sei o que fazer com eles
a não ser cobri-los também de dedos meus
até que fiquem alguma coisa
de que ainda assim se possa viver.
terça-feira, outubro 13, 2009
Interiores
Na beleza crepuscular,
incendeia-se a visão
de olhar além,
onde nada é ninguém.
Céu, mar e terra,
junção de forças,
alicerces a conquistar,
para que se possa ver sempre além,
quando não é preciso
haver alguém.
Basta sobrevoar,libertar,
naufragar, se preciso for:ESTAR.
Chegar além,
sem sair do lugar,
alcançar o luar, o mar,
e com eles voltar,
mais rico na busca
da paz, da leveza,
desta singular destreza,
do saber apreciar,
o que é nada para alguém,
que não vê com clareza!
incendeia-se a visão
de olhar além,
onde nada é ninguém.
Céu, mar e terra,
junção de forças,
alicerces a conquistar,
para que se possa ver sempre além,
quando não é preciso
haver alguém.
Basta sobrevoar,libertar,
naufragar, se preciso for:ESTAR.
Chegar além,
sem sair do lugar,
alcançar o luar, o mar,
e com eles voltar,
mais rico na busca
da paz, da leveza,
desta singular destreza,
do saber apreciar,
o que é nada para alguém,
que não vê com clareza!
maria eduarda
segunda-feira, outubro 12, 2009
Um livro
sábado, outubro 10, 2009
quinta-feira, outubro 08, 2009
Prémio Nobel da Literatura 2009
À novelista, ensaísta e poeta alemã de origem romena, Herta Müller foi atribuído o Prémio Nobel da Literatura de 2009.
A Academia sueca salientou o facto de Herta Müller conseguir, “com a densidade da sua poesia e a limpidez da sua prosa, retratar o universo dos deserdados”. Müller é autora de livros como “O Homem é um Grande Faisão Sobre a Terra”, editado em Portugal pela Cotovia, e “A Terra das Ameixas Verdes”, publicado a nível nacional pela Difel. Ambos os livros se encontram esgotados.
Nascida a 17 de Agosto de 1953, na aldeia de Nitzkydorf, perto de Timisoara, na Roménia, estudou alemão e literatura romena na sua terra natal e trabalhou depois como tradutora numa fábrica de Timisoara, antes de ser demitida das suas funções em 1979 por se ter recusado a colaborar com a Securitate, a polícia política de Nicolae Ceaucescu. Müller acabou por abandonar o seu país em 1987 para ir para a Alemanha com o marido, o também escritor Richard Wagner. Para trás deixou uma longa luta perdida pela publicação dos seus trabalhos frontalmente críticos ao regime totalitário de Ceausescu, que acabaria por ser derrubado dois anos depois. Vive em Berlim desde 1987.
A sua obra dá voz às inquietações das duras condições de vida de minorias durante a ditadura de Ceausescu. No caso de «O Homem é um Grande Faisão Sobre a Terra», a acção centra-se no destino de uma família alemã que espera com ansiedade a autorização para abandonar a Roménia, situação que Herta e seu marido dramaticamente viveram. A corrupção, a perseguição e a intolerância política, são as temáticas mais exploradas por Herta.
Herta Müller, dez anos depois de Günter Grass, é a décima autora alemã a receber o Nobel. Thomas Mann (1875-1955), galardoado em 1929, o autor de «A Montanha Mágica», foi um dos escritores germânicos premiados cuja obra mais perdurou para além da fama efémera do famoso galardão. O prémio atribuído pela Academia Sueca tem actualmente um valor de 980 mil euros e será entregue em Estocolmo no dia 10 de Dezembro.
Nascida a 17 de Agosto de 1953, na aldeia de Nitzkydorf, perto de Timisoara, na Roménia, estudou alemão e literatura romena na sua terra natal e trabalhou depois como tradutora numa fábrica de Timisoara, antes de ser demitida das suas funções em 1979 por se ter recusado a colaborar com a Securitate, a polícia política de Nicolae Ceaucescu. Müller acabou por abandonar o seu país em 1987 para ir para a Alemanha com o marido, o também escritor Richard Wagner. Para trás deixou uma longa luta perdida pela publicação dos seus trabalhos frontalmente críticos ao regime totalitário de Ceausescu, que acabaria por ser derrubado dois anos depois. Vive em Berlim desde 1987.
A sua obra dá voz às inquietações das duras condições de vida de minorias durante a ditadura de Ceausescu. No caso de «O Homem é um Grande Faisão Sobre a Terra», a acção centra-se no destino de uma família alemã que espera com ansiedade a autorização para abandonar a Roménia, situação que Herta e seu marido dramaticamente viveram. A corrupção, a perseguição e a intolerância política, são as temáticas mais exploradas por Herta.
Herta Müller, dez anos depois de Günter Grass, é a décima autora alemã a receber o Nobel. Thomas Mann (1875-1955), galardoado em 1929, o autor de «A Montanha Mágica», foi um dos escritores germânicos premiados cuja obra mais perdurou para além da fama efémera do famoso galardão. O prémio atribuído pela Academia Sueca tem actualmente um valor de 980 mil euros e será entregue em Estocolmo no dia 10 de Dezembro.
Reticências
Arrumar a vida, pôr prateleiras na vontade e na acção.
Quero fazer isto agora, como sempre quis, com o mesmo resultado;
Mas que bom ter o propósito claro, firme só na clareza, de fazer qualquer coisa!
Vou fazer as malas para o Definitivo,
Organizar Álvaro de Campos,
E amanhã ficar na mesma coisa que antes de ontem — um antes de ontem que é sempre...
Sorrio do conhecimento antecipado da coisa-nenhuma que serei.
Sorrio ao menos; sempre é alguma coisa o sorrir...
Produtos românticos, nós todos...
E se não fôssemos produtos românticos, se calhar não seríamos nada.
Assim se faz a literatura...
Santos Deuses, assim até se faz a vida!
Os outros também são românticos,
Os outros também não realizam nada, e são ricos e pobres,
Os outros também levam a vida a olhar para as malas a arrumar,
Os outros também dormem ao lado dos papéis meio compostos,
Os outros também são eu.
Vendedeira da rua cantando o teu pregão como um hino inconsciente,
Rodinha dentada na relojoaria da economia política,
Mãe, presente ou futura, de mortos no descascar dos Impérios,
A tua voz chega-me como uma chamada a parte nenhuma,
como o silêncio da vida...
Olho dos papéis que estou pensando em arrumar para a janela,
Por onde não vi a vendedeira que ouvi por ela,
E o meu sorriso, que ainda não acabara, inclui uma crítica metafisica.
Descri de todos os deuses diante de uma secretária por arrumar,
Fitei de frente todos os destinos pela distração de ouvir apregoando,
E o meu cansaço é um barco velho que apodrece na praia deserta,
E com esta imagem de qualquer outro poeta fecho a secretária e o poema...
Como um deus, não arrumei nem uma coisa nem outra...
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Quero fazer isto agora, como sempre quis, com o mesmo resultado;
Mas que bom ter o propósito claro, firme só na clareza, de fazer qualquer coisa!
Vou fazer as malas para o Definitivo,
Organizar Álvaro de Campos,
E amanhã ficar na mesma coisa que antes de ontem — um antes de ontem que é sempre...
Sorrio do conhecimento antecipado da coisa-nenhuma que serei.
Sorrio ao menos; sempre é alguma coisa o sorrir...
Produtos românticos, nós todos...
E se não fôssemos produtos românticos, se calhar não seríamos nada.
Assim se faz a literatura...
Santos Deuses, assim até se faz a vida!
Os outros também são românticos,
Os outros também não realizam nada, e são ricos e pobres,
Os outros também levam a vida a olhar para as malas a arrumar,
Os outros também dormem ao lado dos papéis meio compostos,
Os outros também são eu.
Vendedeira da rua cantando o teu pregão como um hino inconsciente,
Rodinha dentada na relojoaria da economia política,
Mãe, presente ou futura, de mortos no descascar dos Impérios,
A tua voz chega-me como uma chamada a parte nenhuma,
como o silêncio da vida...
Olho dos papéis que estou pensando em arrumar para a janela,
Por onde não vi a vendedeira que ouvi por ela,
E o meu sorriso, que ainda não acabara, inclui uma crítica metafisica.
Descri de todos os deuses diante de uma secretária por arrumar,
Fitei de frente todos os destinos pela distração de ouvir apregoando,
E o meu cansaço é um barco velho que apodrece na praia deserta,
E com esta imagem de qualquer outro poeta fecho a secretária e o poema...
Como um deus, não arrumei nem uma coisa nem outra...
Álvaro de Campos, in "Poemas"
quarta-feira, outubro 07, 2009
Desalento
Um sonho!
Parecia real,
repleto de afectos,
de vontades,
indomáveis,
intermináveis...
Esse sonho
abriu uma fissura
e espreitou a vida,
tal qual ela é.
Não soube onde pousar,
se na vida tal e qual,
se na memória real.
Há-de encontrar assento,
longe do lamento,
num lugar de destaque,
para que prossiga,
talvez, um dia,
num qualquer momento!
Parecia real,
repleto de afectos,
de vontades,
indomáveis,
intermináveis...
Esse sonho
abriu uma fissura
e espreitou a vida,
tal qual ela é.
Não soube onde pousar,
se na vida tal e qual,
se na memória real.
Há-de encontrar assento,
longe do lamento,
num lugar de destaque,
para que prossiga,
talvez, um dia,
num qualquer momento!
maria eduarda
segunda-feira, outubro 05, 2009
Dia Mundial do Professor
Da M., do J., e da C.,. Já estão na Universidade. Como me comovi no dia em que me entregaram este envelope, carregado de carinho! E atrás vinha a M., com um grande ramo de flores.
Mais tarde recebi sms dos três, poque acharam que ser professor não é só alargar os horizontes dos alunos, é deixá-los também enriquecer o nosso, e partilhar !É tão fácil gostar desta profissão, quando se ganham alunos e amigos únicos.
Obrigada M., J. e C.
maria eduarda
Sorrir assim...
Sorrir assim, é sentir a infância liberta de perigo, resguardada no colo, sossegada nas mãos que amparam a criança.
Sorrir assim, é a inocência de não pensar, de tomar como certo o momento precioso da ternura contagiante.
Sorrir assim, é saber que, com toda a certeza, as mães são eternas nas marcas profundas que deixam, resultantes do amor que investem, porque amam incondicionalmente.
sexta-feira, outubro 02, 2009
Reflexão: Experiência ?
Já fiz cócegas no meu sobrinho, só para ele parar de chorar.
Já me queimei, brincando com o lume.
Já fiz balões com pastilha e fiquei com o rosto todo colado.
Já conversei com o espelho e até já me mascarei de Homem Biombo!
Já quis ser astronauta, violinista, mágico, caçador e trapezista...
Já me escondi atrás da cortina, mas esqueci-me dos pés de fora.
Já passei secas ao telefone.
Já tomei banho de chuva e adorei.
Já roubei beijos.
Já confundi sentimentos.
Já percorri atalhos errados e continuo andando pelo desconhecido.
Já raspei o fundo da panela de arroz doce.
Já fui pai.
Já me cortei, fazendo a barba apressado.
Já chorei ouvindo música.
Já tentei esquecer algumas pessoas, mas descobri que essas são as mais difíceis de esquecer.
Já subi escondido ao telhado para contar estrelas.
Já subi árvores para roubar fruta.
Já caí da escada.
Já fiz juras eternas.
Já escrevi no muro da escola.
Já chorei às escondidas no cinema.
Detalhes Adicionais
Já fugi de casa para sempre, mas voltei no outro instante.
Já corri para não deixar alguém chorando.
Já fiquei sozinho no meio de mil pessoas sentindo falta de uma só.
Já vi o pôr-do-sol cor-de-rosa e alaranjado.
Já me atirei à piscina sem vontade de voltar.
Já bebi uísque até sentir dormentes os meus lábios.
Já olhei a cidade de cima e, mesmo assim, não encontrei meu lugar.
Já senti medo do escuro.
Já tremi de nervoso.
Já quase morri de amor, mas renasci novamente para ver o sorriso de alguém especial.
Já acordei no meio da noite e fiquei com medo de me levantar.
Já apostei que correria descalço na rua.
Já gritei de felicidade.
Já roubei rosas num enorme jardim.
Já me apaixonei e achei que era para sempre, mas sempre era um "para sempre" pela metade.
Já me deitei na relva de madrugada e vi a Lua transformar-se em Sol.
Já fiquei triste por ver amigos partir, mas descobri que logo chegam novos, e a vida é mesmo um ir e vir sem razão.
Foram tantas coisas feitas, momentos fotografados pelas lentes da emoção, guardados num baú chamado coração. E agora uma pergunta me interroga, encosto-me na cama e oiço gritar: 'Qual é a tua experiência?' Essa pergunta ecoa no meu cérebro: “Experiência”... “Experiência...”
Será que ser "plantador de sorrisos" é uma boa experiência? Não, talvez o mundo ainda não saiba colher sonhos! Gostaria de indagar uma pequena coisa para quem formulou esta pergunta:
“Experiência? Quem a tem, se a todo momento tudo se renova?”
Já fiz cócegas no meu sobrinho, só para ele parar de chorar.
Já me queimei, brincando com o lume.
Já fiz balões com pastilha e fiquei com o rosto todo colado.
Já conversei com o espelho e até já me mascarei de Homem Biombo!
Já quis ser astronauta, violinista, mágico, caçador e trapezista...
Já me escondi atrás da cortina, mas esqueci-me dos pés de fora.
Já passei secas ao telefone.
Já tomei banho de chuva e adorei.
Já roubei beijos.
Já confundi sentimentos.
Já percorri atalhos errados e continuo andando pelo desconhecido.
Já raspei o fundo da panela de arroz doce.
Já fui pai.
Já me cortei, fazendo a barba apressado.
Já chorei ouvindo música.
Já tentei esquecer algumas pessoas, mas descobri que essas são as mais difíceis de esquecer.
Já subi escondido ao telhado para contar estrelas.
Já subi árvores para roubar fruta.
Já caí da escada.
Já fiz juras eternas.
Já escrevi no muro da escola.
Já chorei às escondidas no cinema.
Detalhes Adicionais
Já fugi de casa para sempre, mas voltei no outro instante.
Já corri para não deixar alguém chorando.
Já fiquei sozinho no meio de mil pessoas sentindo falta de uma só.
Já vi o pôr-do-sol cor-de-rosa e alaranjado.
Já me atirei à piscina sem vontade de voltar.
Já bebi uísque até sentir dormentes os meus lábios.
Já olhei a cidade de cima e, mesmo assim, não encontrei meu lugar.
Já senti medo do escuro.
Já tremi de nervoso.
Já quase morri de amor, mas renasci novamente para ver o sorriso de alguém especial.
Já acordei no meio da noite e fiquei com medo de me levantar.
Já apostei que correria descalço na rua.
Já gritei de felicidade.
Já roubei rosas num enorme jardim.
Já me apaixonei e achei que era para sempre, mas sempre era um "para sempre" pela metade.
Já me deitei na relva de madrugada e vi a Lua transformar-se em Sol.
Já fiquei triste por ver amigos partir, mas descobri que logo chegam novos, e a vida é mesmo um ir e vir sem razão.
Foram tantas coisas feitas, momentos fotografados pelas lentes da emoção, guardados num baú chamado coração. E agora uma pergunta me interroga, encosto-me na cama e oiço gritar: 'Qual é a tua experiência?' Essa pergunta ecoa no meu cérebro: “Experiência”... “Experiência...”
Será que ser "plantador de sorrisos" é uma boa experiência? Não, talvez o mundo ainda não saiba colher sonhos! Gostaria de indagar uma pequena coisa para quem formulou esta pergunta:
“Experiência? Quem a tem, se a todo momento tudo se renova?”
Pudimcaseiro
Professores
Que bom se todos os professores fossem perfeitos… O ideal seria até uma pessoa inteligente, interessante e engraçada, com grande capacidade para explicar a matéria, justa a dar notas, que só fizesse testes fáceis e, claro, que ao mesmo tempo admirasse e aprovasse tudo o que fizesses. Belo sonho…
Podes até acabar por ter um professor que se aproxime muito da pessoa que gostarias que te desse aulas, no entanto, a maior parte das vezes, quem está sentado à secretária não tem só qualidades. E o mesmo acontece contigo.
Um professor pode ser capaz de descrever uma batalha histórica com tanto pormenor que te parecerá estares a presenciá-la; mas, quando chega ao teste, as suas perguntas mais se assemelham a uma emboscada… Pode também acontecer o professor ser capaz de te meter com toda a facilidade na cabeça conceitos matemáticos mais complicados, mas depois te tire 1% no teste só porque fizeste um errozinho de nada. (…)
O teu objectivo é resolveres da melhor forma possível tudo o que te apareça pela frente. Isso implica admitires que talvez estejas a contribuir para algumas das dificuldades criadas e alterares o teu comportamento de forma a evitares problemas futuros.
O ingrediente mais importante de todos é o respeito. É importante não esqueceres que, para respeitares uma pessoa, não é preciso gostares dela. Do mesmo modo, para que te respeitem, não é preciso que gostem de ti.
Tens o dever de respeitar os professores e de aprender.
Podes até acabar por ter um professor que se aproxime muito da pessoa que gostarias que te desse aulas, no entanto, a maior parte das vezes, quem está sentado à secretária não tem só qualidades. E o mesmo acontece contigo.
Um professor pode ser capaz de descrever uma batalha histórica com tanto pormenor que te parecerá estares a presenciá-la; mas, quando chega ao teste, as suas perguntas mais se assemelham a uma emboscada… Pode também acontecer o professor ser capaz de te meter com toda a facilidade na cabeça conceitos matemáticos mais complicados, mas depois te tire 1% no teste só porque fizeste um errozinho de nada. (…)
O teu objectivo é resolveres da melhor forma possível tudo o que te apareça pela frente. Isso implica admitires que talvez estejas a contribuir para algumas das dificuldades criadas e alterares o teu comportamento de forma a evitares problemas futuros.
O ingrediente mais importante de todos é o respeito. É importante não esqueceres que, para respeitares uma pessoa, não é preciso gostares dela. Do mesmo modo, para que te respeitem, não é preciso que gostem de ti.
Tens o dever de respeitar os professores e de aprender.
Meg F. Schneider, “Socorro, o Meu Professor Odeia-me”
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