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quarta-feira, fevereiro 04, 2009

A história do Hidroavião

Em «A história de um hidroavião», A. Lobo Antunes semeia o néctar da lucidez, de como a vida dos cruéis obstáculos pode ser tão bem contada. Raízes de África (haverá raíz mais instintiva na sua prosa?) numa Lisboa demasiado descolorada pela vontade de fuga, de regresso, no direito da árvore voltar à raiz, do homem cego a tactear a luz do útero. Numa Lisboa que nunca pertence a quem não a deseja. E, no caso extremo da personagem cega que ilumina o texto, a quem nem a conseguiu ver.
A história do Hidroavião é uma crónica maior – por ser (também) para os mais pequenos, desconfio. É a síntese implacável da incapacidade humana em adaptar-se (conformar-se) a destinos afastados do coração, da trágica obsessão por nunca desistir, mesmo que tal signifique perder-se no azul, agarrado a um balão de sonho.
Lobo Antunes ajustou a sua sensibilidade às ventoinhas de um hidroavião imprevisível. Vitorino, o indomável cantautor, deu tons, linhas e cor à imprevisibilidade do aparelho. O hidroavião e a sua história são a prova irrefutável de que qualquer carcaça, desde que sonhadora, tem como génese um vírus de voo.


(texto de Sílvio Mendes, 2006)

1 comentário:

solange disse...

"Uma história de amizade passada em Lisboa. A saudade de África. A nostalgia da infância. O Tejo como ponte de memórias e como cenário de fundo. Um texto de António Lobo Antunes ilustrado por aguarelas do músico e compositor Vitorino, propositadamente recriadas para esta edição da Dom Quixote. Para ser lido e admirado por jovens e adultos."
(na contracapa)