«Janeiro, 11 (de 1949) - Para começar, o metodólogo falou connosco durante uma hora. De acordo com o que disse, vão ser as aulas de Português o que eu gosto que elas sejam: um pretexto para estar a conviver com os rapazes, alegremente e sinceramente. E dentro dessa convivência, como quem brinca ou como quem se lembra de uma coisa que sabe e que vem a propósito, ir ensinando. Depois, esta nota importantíssima: lembrar-se a gente de que deve aceitar os rapazes como rapazes: deixá-los ser: "porque até o barulho é uma coisa agradável, quando é feito de boa-fé."
Houve nesta conversa uma palavra para guardar tanto como as outras, mais que todas as outras: "O que eu quero principalmente é que vivam felizes".»
Houve nesta conversa uma palavra para guardar tanto como as outras, mais que todas as outras: "O que eu quero principalmente é que vivam felizes".»
Sebastião da Gama, "Diário"
2 comentários:
É este o primeiro registo que o leitor pode encontrar no “Diário”. Começado a ser redigido em 11 de Janeiro de 1949, foi concluído em Março de 1950, data a partir da qual Sebastião da Gama ficou a aguardar a colocação para o ano lectivo seguinte, que não foi em Setúbal, como ele gostaria (já tinha leccionado na Escola João Vaz antes de ter entrado para o estágio), mas foi na Escola Industrial e Comercial de Estremoz.
O Diário surgiu por recomendação do próprio professor metodólogo, apresentado como um exercício de reflexão da prática lectiva. Sebastião da Gama respeitou a sugestão e usou-a a rigor. Nesta obra conhecemos um ano fascinante da relação de um professor com uma turma, as reflexões de um docente, a palavra dos alunos (que aqui têm voz própria, são transcritos e referidos), uma formação humanista extraordinária, uma cultura vastíssima, um conhecimento da literatura alargado, a discussão de práticas e a adopção de modelos, uma sensibilidade espantosa para a causa educativa, muitas reflexões pessoais.
O Diário de Sebastião da Gama é um poema pedagógico e mantém, volvidas seis décadas, toda a frescura da juventude de um professor e dos seus alunos, toda a crença na formação humana, todo o respeito pelo outro, ambos comungando numa vida de sinceridade e de aprendizagem do mundo. Ainda hoje se torna pertinente lê-lo e, provavelmente, a sua leitura ajudaria a encontrar soluções para muitos dos problemas de que a educação enferma no presente.
Texto de João Reis Ribeiro (Associação Cultural Sebastião da Gama)
Foi o livro recomendado pela minha formadora de Português. Eu própria redigi o meu, ainda o tenho.
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