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domingo, novembro 30, 2008
Urgentemente
Inverno
sexta-feira, novembro 28, 2008
Coisas que se pensam quando qualquer outra coisa seria menos inútil
José Saramago: Sim. Todos nós damos vontade de rir. Somos uns pobres diabos. Usando um termo grosseiro: muita cagança, muita cagança e para quê? Somos pequeníssimos. Não é que uma pessoa tenha de aceitar a sua pequenez, mas parece-me bastante triste a vaidade, a presunção, o orgulho, tudo isso com que pretendemos ou queremos mostrar que somos mais do que efectivamente somos. Não será caricato ou ridículo, mas bastante triste.
quarta-feira, novembro 26, 2008
Por desatar!
cheia de nós apertados,
alguns, feitos por mim,
outros, por mim encontrados.
Quero desatá-los, totalmente,
às vezes, sem resultado,
porque outros nós, em mente,
surgem, vindos do passado.
Esses, não consigo apartar,
recordo o então já vivido,
dois vazios a retratar,
guardados, no tempo já ido.
Agora, vou prosseguir,
outros nós hão-de surgir.
Preciso de em paz estar,
para poder reagir!
Limites da tolerância
Não devemos ter tolerância com aqueles que têm poder de erradicar a vida humana do Planeta e de destruir grande parte da biosfera. Há que submetê-los a controles severos.
Não devemos ser tolerantes com aqueles que assassinam inocentes, abusam sexualmente de crianças, traficam órgãos humanos. Cabe aplicar-lhes duramente as leis.
Não devemos ser tolerantes com aqueles que escravizam menores para produzir mais barato e lucrar no mercado mundial. Aplicar contra eles a legislação mundial.
Não devemos ser tolerantes com terroristas que em nome de sua religião ou projeto político cometem crimes e matanças. Prendê-los e levá-los às barras dos tribunais.
Não devemos ser tolerantes com aqueles que falsificam remédios que levam pessoas à morte ou instauram políticas de corrupção que delapidam os bens públicos. Contra estes devemos ser especialmente duros, pois ferem o bem comum.
Não devemos ser tolerantes com as máfias das armas, das drogas e da prostituição que incluem sequestros, torturas e eliminação física de pessoas. Há punições claras.
Não devemos ser tolerantes com práticas que, em nome da cultura, cortam as mãos dos ladrões e submetem mulheres a mutilações genitais. Contra isso valem os direitos humanos.
Nestes níveis não há que ser tolerantes, mas decididamente firmes, rigorosos e severos. Isso é virtude da justiça e não vício da intolerância. Se não formos assim, não teremos princípios e seremos cúmplices com o mal.
A tolerância sem limites liquida com a tolerância, assim como a liberdade sem limites conduz à tirania do mais forte. Tanto a liberdade quanto a tolerância precisam, portanto, da protecção da lei. Senão, assistiremos à ditadura de uma única visão de mundo que nega todas as outras. O resultado é raiva e vontade de vingança, fermento do terrorismo.
Onde estão então os limites da tolerância? No sofrimento, nos direitos humanos e nos direitos da natureza. Lá onde pessoas são desumanizadas, aí termina a tolerância. Ninguém tem o direito de impôr sofrimento injusto ao outro.
Os direitos ganharam sua expressão na Carta dos Direitos Humanos da ONU, assinada por todos os países. Todas as tradições devem confrontar-se com aqueles preceitos. Se práticas implicarem violação daqueles enunciados não podem justificar-se. A Carta da Terra zela pelos direitos da natureza. Quem os violar perde legitimidade. Por fim, é possível ser tolerantes com os intolerantes? A história comprovou que combater a intolerância com outra intolerância leva à aspiral da intolerância. A atitude pragmática busca estabelecer limites. Se a intolerância implicar crime e prejuizo manifesto a outros, vale o rigor da lei e a intolerância deve ser enquadrada. Fora deste constrangimento legal, vale a liberdade. Deve-se confrontar o intolerante com a realidade que todos compartem como espaço vital. Deve-se levá-lo ao diálogo incansável e fazê-lo perceber as contradições de sua posição. O melhor caminho é a democracia sem fim que se propõe incluir a todos e a respeitar um pacto social comum.
Leonardo Boff
Todo o Mal Provém não da Privação mas do Supérfluo
Tolstoi salienta-nos que Pedro, após essa vivência, apreendera, não pela razão mas por todo o seu ser, que o homem nasceu para a felicidade e que todo o mal provém não da privação mas do supérfluo, e que, enfim, não há grandeza onde não haja verdade e desapego pelo efémero. Isto, aliás, nos é repetido por outra figura de Tolstoi, a princesa Maria, ao acautelar-nos com esta síntese desoladora: «Todos lutam, sofrem e se angustiam, todos corrompem a alma para atingir bens fugazes».
Fernando Namora, in 'Sentados na Relva'
terça-feira, novembro 25, 2008
Acreditar
Tentar que o gesto não mude,
manter os lábios risonhos.
Fixar no reflexo, a imagem,
de alguém que se desdobra,
numa outra personagem,
cuja coragem recobra.
Avançar nesta conquista,
acreditar em cada passo,
no troféu bem realista,
alcançado sem fracasso.
maria eduarda
5º Pergunta
E que mais necessitam as nossas crianças, adolescentes e famílias?
Pedro Strecht in Jornal Público, 2005
segunda-feira, novembro 24, 2008
"Mr. PIP"
domingo, novembro 23, 2008
Aceitação
O teu mundo continua a sê-lo,
se bem que mais pequeno,
limitado,
mas é o teu mundo!
Coloca-o dentro de ti,
tira-o do frio do Inverno,
aconchega-o, aquece-o.
Quando sossegares,
parte a parede e solta-o,
deixa-o apoderar-se do tempo,
revigorar-se.
Então, inclui-te nele,
enfeita-o com vontades,
pinta-o de quereres.
Depois, abre a porta,
deixa entrar quem vem.
Serve-lhes tolerância e um sorriso,
Então, sossega!
Não tenhas medo!
maria eduarda
sexta-feira, novembro 21, 2008
Da existência de Deus
O conceito de Deus, reduzido à sua abstração definidora, é o conceito de um criador inteligente do mundo. O ser interior ou exterior a esse mundo, o ser infinitamente inteligente ou não — são conceitos atributários. Com maior força o são os conceitos de bondade, e outros assim, que, como já notamos têm andado misturados com os fundamentais na discussão deste problema. Demonstrar a existência de Deus é, pois, demonstrar, (1) que o universo aparente tem uma causa que não está nesse universo aparente como aparente (2) que essa causa é inteligente, isto é, conscientemente activa. Nada mais está substancialmente incluído na demonstração da existência de Deus, propriamente dita.
Coisas que se pensam quando qualquer outra coisa seria menos inútil
Agradece o súbito contexto como o faria a uma apaixonada pressa, insurgida numa profunda região visceral sua, não avistável senão em impressões próprias, talvez ditáveis ainda assim a um coração atento.
quinta-feira, novembro 20, 2008
Analogias III
semente depositada em tropel.
terra ávida em receber.
Resultado em texto afável,
escrito com entrega e agrado,
labuta de ideias, reflexões.
O solo, em mudança viável,
labuta da entrega do arado,
conquista do trabalho, exaustões.
Ah! A escrita silabada, harmoniosa!
Ah! A terra cultivada, esplenderosa!
maria eduarda
A Lenda da Flor de Lótus
- Quanto tempo sem nos vermos em nossa nudez primitiva - disse o fogo cheio de entusiasmo, como é de sua natureza.
É verdade - disse o ar. - É um destino bem curioso o nosso. À custa de tanto nos prestarmos para construir formas e mais formas, tornamo-nos escravos de nossa obra e perdemos nossa liberdade.
- Não te queixes - disse a água -, pois estamos obedecendo à Lei, e é um Divino Prazer servir à Criação. Por outro lado, não perdemos nossa liberdade; tu corres de um lado para outro, à tua vontade; o irmão fogo, entra e sai por toda parte servindo a vida e a morte. Eu faço o mesmo.
- Em todo o caso, sou eu quem deveria me queixar - disse a terra - pois estou sempre imóvel, e mesmo sem minha vontade, dou voltas e mais voltas, sem descansar no mesmo espaço.
- Não entristeçais minha felicidade ao ver-nos - tornou a dizer o fogo - com discussões supérfluas. É melhor festejarmos estes momentos em que nos encontrarmos fora da forma. Regozijemo-nos à sombra destas árvores e à margem deste lago formado pela nossa união.
Todos o aplaudiram e se entregaram ao mais feliz companheirismo. Cada um contou o que havia feito durante sua longa ausência, as maravilhas que tinham construído e destruído. Cada um se orgulhou de se haver prestado para que a Vida se manifestasse através de formas sempre mais belas e mais perfeitas. E mais se regozijaram, pensando na multidão de vezes que se uniram fragmentariamente para o seu trabalho. Em meio de tão grande alegria, existia uma nuvem: o homem. Ah! como ele era ingrato. Haviam-no construído com seus mais perfeitos e puros materiais, e o homem abusava deles, perdendo-os. Tiveram desejo de retirar sua cooperação e privá-lo de realizar suas experiências no plano físico. Porém a nuvem dissipou-se e a alegria voltou a reinar entre os quatro irmãos. Aproximando-se o momento de se separarem, pensaram em deixar uma recordação que perpetuasse através das idades a felicidade de seu encontro. Resolveram criar alguma coisa especial que, composta de fragmentos de cada um deles harmonicamente combinados, fosse também a expressão de suas diferenças e independência, e servisse de símbolo e exemplo para o homem. Houve muitos projetos que foram abandonados por serem incompletos e insuficientes. Por fim, refletindo-se no lago, os quatro disseram: - E se construíssemos uma planta cujas raízes estivessem no fundo do lago, a haste na água e as folhas e flores fora dela? - A ideia pareceu digna de experiência. Eu porei as melhores forças de minhas entranhas - disse a terra - e alimentarei suas raízes. - Eu porei as melhores linfas de meus seios - disse a água - e farei crescer sua haste. - Eu porei minhas melhores brisas - disse o ar - e tonificarei a planta. - Eu porei todo o rneu calor - disse o fogo - para dar às suas corolas as mais formosas cores.
Dito e feito. Os quatro irmãos começaram a sua obra. Fibra sobre fibra foram construídas as raízes, a haste, as folhas e as flores. O sol abençoou-a e a planta deu entrada na flora regional, saudada como rainha.
Quando os quatro elementos se separaram, a Flor de Lótus brilhava no lago em sua beleza imaculada, e servia para o homem como símbolo da pureza e perfeição humana. Consultaram-se os astros, e foi fixada a data de 8 de maio - quando a Terra está sob a influência da Constelação de Taurus, símbolo do Poder Criador - para a comemoração que desde épocas remotas se tem perpetuado através das idades. Foi espalhada esta comemoração por todos os países do Ocidente, e, em 1948, o dia 8 de Maio tornou-se também o "Dia da Paz".
quarta-feira, novembro 19, 2008
terça-feira, novembro 18, 2008
O que é escrever?
"Um amigo meu, o Daniel Sampaio, talvez o melhor psiquiatra português, costuma dizer que só os psicóticos são criadores. Você fala com um neurótico e são tipos que não são nada, que são chatos, repetitivos. Os psicóticos são espantosos, dizem frases espantosas, estou-me a lembrar de uma que era «aquele homem tem uma voz de sabonete embrulhado em papel furtacores». Isto é uma frase do caraças."
A. Lobo Antunes in Expresso, 7 de Novembro de 1992
A. Lobo Antunes in Jornal de Letras, Artes e Ideias, ano I, nº23, Janeiro de 1982
Uma Palavra Imprópria
domingo, novembro 16, 2008
Vontades
Reflexo na água, ao luar,
ou o celeste límpido,
também o branco, a par.
É a vontade de lutar,
de ser, de viver, de estar!
Apetece-me voar!
Alcançar o azul, o branco,
não para fugir,
mas para voltar.
Voltar para ficar,
mudar ou não,
mas para continuar,
até me fartar!
Agora, o verde e o vermelho,
-a esperança e a garrra-,
de me fixar à vontade,
de me colar ao querer,
à vida, ao pulsar da alegria.
Apetece-me cantar!
Cantar em uníssono,
contagiar toda a gente,
sorrir, gargalhar, gritar!
Apetece-me gostar!
Gostar do meu jardim,
das flores,das folhas caídas no chão,
do musgo, dos galhos partidos,
e do ladrar do meu cão.
Apetece-me gostar de estar!
maria eduarda
sábado, novembro 15, 2008
A desordem da minha natureza
sexta-feira, novembro 14, 2008
Conta uma popular lenda do Oriente que um jovem chegou à beira de um lago junto a um povoado e aproximando-se de um velho perguntou-lhe:
- Que tipo de pessoa vive neste lugar?
- Que tipo de pessoa vivia no lugar de onde você vem? - perguntou por sua vez o ancião.
- Oh, um grupo de egoístas e malvados - replicou o rapaz - estou satisfeito de haver saído de lá.
A isso o velho replicou:
- A mesma coisa você haverá de encontrar por aqui.
No mesmo dia, um outro jovem se acercou do oásis para beber água e vendo o ancião perguntou-lhe:
- Que tipo de pessoa vive por aqui?
O velho respondeu com a mesma pergunta:
- Que tipo de pessoa vive no lugar de onde você vem?
O rapaz respondeu:
- Um magnífico grupo de pessoas, amigas, honestas, hospitaleiras. Fiquei muito triste por ter de deixá-las.
- O mesmo encontrará por aqui - respondeu o ancião.
Um homem que havia escutado as duas conversas perguntou ao velho:
- Como é possível dar respostas tão diferentes à mesma pergunta?
Ao que o velho respondeu:
- Cada um carrega no seu coração o meio em que vive. Aquele que nada encontrou de bom nos lugares por onde passou, não poderá encontrar outra coisa por aqui.
Aquele que encontrou amigos ali, também os encontrara aqui, porque, na verdade, a nossa atitude mental é a única coisa na nossa vida sobre a qual podemos manter controle absoluto.
Coisas que se pensam quando qualquer outra coisa seria menos inútil
O que é uma coisa? É quando se dá o caso de a olhar sem ainda perceber, a sua existência em mim.
quinta-feira, novembro 13, 2008
Flor de Lótus
Sentei-me numa das 13 cadeiras
Da esplanada do café do nº 13
Abri o livro na página 13
E, subitamente, um gato preto
Passou-me à frente a uma velocidade felina
Depois lá fui apanhar o autocarro 13
Porque já eram 13h e 13m.
Com a pressa, tive de passar mesmo debaixo de um escadote muito velho…
Ao sair do autocarro, que ia cheio, com 13 pessoas em pé, incluindo eu,
Pus os pés numa poça de lama,
Pensei mesmo que estava com azar, apesar de não ser supersticiosa.
Ia visitar a minha amiga, que fazia anos,
Ainda queria comprar-lhe um presente especial e já estava em cima da hora!
Repentinamente, lembrei-me do parágrafo que vi na 13ª linha
da página 13 do livro que tinha em mãos:
"A flor de lótus nasce do lodo e representa o poder da transformação que temos dentro de nós. Nascida da sujidade, aparece à superfície das águas e abre as suas pétalas, incólume a tudo o que o rodeia. Por crescer imaculada em águas pantanosas, a esta flor simples e bela é atribuída uma origem divina."
Entretanto vi um senhor, com um carrinho de mão carregado com 13 vasos de flores …
Mesmo sem ser sexta-feira, o pobre homem tropeçou, caiu e espalhou, no meio da rua, terra, cacos e flores.
Fui imediatamente em seu auxílio, dei-lhe a mão, perscrutei se estava magoado. Ajudei-o a recuperar as flores, com cuidado e terra nas mãos.
Então, humildemente, num gesto agradecido, o homem, quase careca, com apenas 13 cabelos grisalhos espetados ao vento, estendeu-me a mais bonita de todas as flores, 13 pétalas (ou pouco mais) rosas, luzidias, e li-lhe nos olhos "obrigado".
Com a flor húmida na mão, mãos de terra, pés de lama, cabelos desalinhados,
Rodeada de 13 mirones estupefactos à luz do sol e que não arredavam pé,
Sorri-lhe delicadamente, ao que esboçou um cumprimento tímido, e então disse-lhe emocionada:
"É para a minha amiga, que faz hoje 13 anos (vezes quanto?)…"
Bem feitas as contas, é mesmo para ti esta Flor de Lótus. Parabéns.
Eu, agradeço!
PARA TI
quarta-feira, novembro 12, 2008
A evasão
Do nada, faz tábua rasa,
agarra a vontade, o querer.
Acontece o rumor, o ruído,
envolvendo o vazio, o nada.
Reabre-se a fonte, o ouvido,
e em melodia pautada,
faz-se vida, faz-se música.
O corpo adormecido reage,
reformula a hora única,
não se abandona e age.
Assim são momentos sombrios,
silenciosos, inquietantes,
e a harmonia, em dias frios,
recoloca na vida, variantes.
O só, existe, por vezes,
à espera do som, do despertar.
A obstinação enfrenta os revezes,
adianta-se à vontade de voar.
Surge o tumulto, a mudança,
capaz de alterar a solidão,
liberta-se em melodia de dança,
no cenário onírico da evasão.
maria eduarda
Mentes Escuras, com Ideias muito Pretas
Recém chegada de Angola (a vizinhança sabia), pedi "chuingas", não lhes conhecia outro nome, ao que o vendedor respondeu, com um ar pouco amistoso: "não temos cá disso!"…
Fui-me embora, com uma lagrimazita a querer saltar … Era o meu primeiro encontro com o preconceito, o xenofobismo.
Desde então abomino qualquer tipo de intolerância cultural, sexista ou racial. Detesto anedotas de pretos, de loiras, de alentejanos, de mulheres, de ciganos, etc…
Talvez me achem radical, talvez pensem que exagero!...
Eu sei o quanto me é insuportável ver um animal maltratado ou humilhado, quanto mais uma pessoa! Repugna-me o racismo e, apesar de adorar o bairro onde moro, perto de Lisboa, no campo, tenho-me deparado com um excessivo número de racistas à minha volta.
Criancinhas com medo de outras crianças, só porque têm a pele mais escura! Os paizinhos blasfemantes:
" -Os pretos isto, os pretos aqui, os pretos roubam…"
" -Vamos embora que vêm aí os ciganos!…."
"blá blá blá"
Hoje mesmo, a minha vizinha do lado, uma velhota afável, que de vez em quando me oferece legumes da horta, dizia-me:
"-O meu neto não gosta de ir no autocarro por causa dos pretos!"
E eu, cansada de tantos discursos ignorantes e maldizentes, repliquei:
"-Talvez seja devido às suas ideias pretas!"
Fui-me embora e ela ficou a olhar-me, fingindo-se de surda, que é o que faz sempre que a conversa não lhe interessa.
Ainda estou para ver o dia em que se acenderão lâmpadas em muitas cabecinhas, quase ocas, carregadinhas de mentiras… Mentes Escuras, com Ideias muito Pretas!
terça-feira, novembro 11, 2008
Coisas que se pensam quando qualquer outra coisa seria menos inútil
Foto:G.Ludovice
Foi naquele ali que tudo intensamente começou, se nos perguntamos por quem somos nós e por que somos aqui.
segunda-feira, novembro 10, 2008
Terra-Mãe
num elástico apertadas.
Missivas não rasgadas,
lembranças de uma outra hora,
de um recanto trazido na maleta,
em viagem morosa, de poucas risadas,
vazia na vontade de gargalhadas.
Mudança radical, transferida,
para lugar distante, desconhecido.
Tempo de partida, de desistir:
da casa, da rua, do resistir.
Deixar o conforto, a partilha consentida,
voar é preciso, de coração contido.
Anos, mais anos, num crescendo devir,
acumula-se o desejo de lá ir.
Voltar ao princípio, ao sabor, ao cheiro,
deixado para trás, com receio,
de não se ajustar ao aparecido,
ao novo mundo, então surgido.
Assim é, aquele lugar inteiro,
guardado, aconchegado, em devaneio.
Regressar um dia, num tempo ido,
que transitou do papel amarelecido.
Hoje, volvidos anos, mais saberes,
escrevo outras cartas, com amor,
a aceitação quiçá, resolvida.
A infância, a adolescência, transmitida
aos que me trazem outros viveres.
Missivas estas, cheias de calor,
buscando, não uma gaveta colorida,
mas o partilhar de uma vida.
maria eduarda
domingo, novembro 09, 2008
Ser criativo
Decide, também, que todas as mães, todos os pais, tios e tias, irmãos e irmãs mais velhas poderiam ir partilhar com a turma o que sabiam do mundo. Punha-se de lado enquanto a visita contava a história, anedota ou teoria.
“Procurávamos-lhe sempre no rosto algum sinal de que aquilo que ouvíamos era um disparate. O seu rosto nunca o revelou. Apresentava um interesse respeitoso, mesmo quando foi a vez de a avó do Daniel, velha e curvada com as suas bengalas, observar a nossa turma com os olhos cansados.
«Existe um lugar chamado Egipto», informou ela. «Não sei nada acerca desse lugar. Quem me dera poder falar-vos, meninos, acerca do Egipto. Perdoem-me por não saber mais. Mas, se quiserem escutar-me, dir-vos-ei tudo o que sei acerca da cor azul.»
E, então, ouvimos acerca da cor azul.
«Azul é a cor do Pacífico. É o ar que respiramos. Azul é o espaço vazio no ar de todas as coisas, como as palmeiras e os telhados de chapa. Se não fosse o azul, não veríamos os morcegos da fruta. Obrigada, Senhor, por nos dares a cor azul.»
«É surpreendente onde a cor azul aparece», continuou a avó do Daniel. «Procurem e encontrarão. Podem ver o azul a espreitar pelas fendas do molhe, em Kieta. E sabem o que está tentar fazer? Tenta apanhar as vísceras malcheirosas dos peixes, para as levas para casa. Se o azul fosse um animal, uma planta ou um pássaro, seria uma gaivota. Mete o bico pegajoso em todo o lado.»
«O azul também pode ter poderes mágicos», continuou. »Observem um recife e digam-me se estou a mentir. O azul bate no recife e o que é que liberta? Liberta branco! Agora, digam-me lá porquê?»
Procurámos Mr. Watts com o olhar, para que nos explicasse, mas ele fez de conta que não viu as nossas expressões inquisidoras. Sentou-se na ponta da mesa, com os braços cruzados. Cada parte dele parecia concentrar-se no que a avó de Daniel tinha para dizer. Um a um, voltámos a concentrar a nossa atenção na velhota com a boca manchada de pimenta.
«Uma última coisa, meninos, e depois deixo-vos em paz. O azul pertence ao céu e não pode ser roubado, por isso os missionários puseram azul nas janelas das primeiras igrejas que construíram na ilha.»
Mr. Watts fez agora aquele gesto familiar de abrir os olhos, como se tivesse acabado de acordar. Aproximou-se da avó de Daniel com a mão estendida. A velhota estendeu-lhe a dela e ele virou-se para a turma.
«Hoje tivemos muita sorte. Muita sorte. Fizeram-nos lembrar que, embora não possamos conhecer o mundo todo, poderemos, se formos suficientemente inteligentes, renová-lo. Podemos inventá-lo com as coisas que encontramos e vemos à nossa volta. Só temos de olhar e tentar ser imaginativos como a avó de Daniel.» Pôs um braço no ombro da velhota. «Obrigado», disse-lhe. «Muito obrigado.»
A avó de Daniel sorriu para a turma e vimos como tinha poucos dentes, e os poucos que lhe restavam explicavam por que razão assobiava ao falar.”
Ser Mãe
Ser mãe é ter no alheio lábio que suga,
o pedestal do seio, onde a vida,
onde o amor, cantando, vibra.
Ser mãe é ser um anjo que se libra
sobre um berço dormindo!
É ser anseio, é ser temeridade, é ser receio,
é ser força que os males equilibra!
Todo o bem que a mãe goza é bem do filho,
espelho em que se mira afortunada,
Luz que lhe põe nos olhos novo brilho!
Ser mãe é andar chorando num sorriso!
Ser mãe é ter um mundo e não ter nada!
Ser mãe é padecer num paraíso!
Coelho Neto
Carta de Fernando Pessoa a Ophélia Queiroz
sábado, novembro 08, 2008
Analogias II
Coisas que se pensam quando qualquer outra coisa seria menos inútil
A palma da mão a rasar o nada ou a curva poesia em descanso nas montanhas, o rosto em murmúrio de mar ou o beijo que se esmaga noutro, são todo o sentido.
Em última instância.
Sendo esta a possibilidade de ser a única, no vasto corredor das supostas instâncias.
sexta-feira, novembro 07, 2008
APRENDIZAGEM
No seu livro “Os sons do silêncio” relata:
«O meu objectivo era ensiná-los a respeitarem-se a eles próprios e aos outros. A sentirem-se novamente homens, de forma a facilitar a não-violência na sociedade civil e a sua integração na sociedade e no mercado de trabalho.
“Intimidades” foi o tema escolhido para o primeiro curso. Nos meus cursos escolho sempre um tema adequado ao interesse geral dos alunos. Seria a maneira mais fácil para entrarem a fundo dentro dos seus próprios problemas e este método quase sempre resulta.
A fotografia é a base, o ponto de partida. Depois, os alunos entram numa fase de interiorização pessoal que os faz irem além de si próprios. Dependendo de cada grupo, os resultados são extraordinários porque os presos tinham a possibilidade de utilizar a sua criatividade e de se dedicar a uma nova aprendizagem.
Para o bom funcionamento do curso, uma das regras essenciais, definida logo no início, foi a de respeitar os horários das aulas. Era preciso criar alguma disciplina, mas perante um grupo conflituoso como aquele, qualquer tentativa de impor à força seria desajustada. Não gosto de métodos impostos à força, só podem provocar o efeito contrário. Sendo assim, optei por criar incentivo.
As aulas começavam às nove horas e quem chegasse um pouco mais cedo tinha direito a fumar um cigarro. Todos gostavam de fumar o seu cigarro, e o tabaco não era coisa que circulasse em abundância na prisão. Estes cigarros matinais, dados a título de bónus, era eu quem os comprava. Comprava um maço e distribuía. Resultou em cheio. Antes da hora lá estavam quase todos, depois de fumar o seu cigarro, prontos para a aprendizagem.
Texto e foto de Nuno Lobito
quinta-feira, novembro 06, 2008
Aparentemente...
terça-feira, novembro 04, 2008
Para ti, Sol
à inovação do querer,
ao baloiçar do andar.
Caminhar com afoiteza,
fortalecer o gesto,
percorrer o caminho,
para abraçar quem vem.
Aquela que, com intenção,
nos focaliza a luz,
nos abraça com as palavras,
nos conforta com o olhar,
nos acrescenta na lista,
dos amigos a conservar!
maria eduarda
Foto:G.Ludovice 2008
segunda-feira, novembro 03, 2008
Noctívaga
A vida
Impressão digital
sábado, novembro 01, 2008
Coisas que se pensam quando qualquer outra coisa seria menos inútil
Foto:G.Ludovice 2008
EXERCÍCIO COM ELEMENTO PESADO