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sexta-feira, janeiro 29, 2010
quinta-feira, janeiro 28, 2010
Biblioteca
W.B.Yeats
Nenhum poeta ficará contente se ficar só com a dança e o modo de tocar nos vivos, e se perder a maneira como o ouvido gosta que as palavras toquem umas nas outras.
Gonçalo M. Tavares
Nenhum poeta ficará contente se ficar só com a dança e o modo de tocar nos vivos, e se perder a maneira como o ouvido gosta que as palavras toquem umas nas outras.
Gonçalo M. Tavares
quarta-feira, janeiro 27, 2010
Harmonia
October Song II
Robert Ichter
Não sei
se encontro nas palavras,
aquela que não destrói
o encanto da melodia,
que foi um dia
harmoniosa.
Não sei
se as notas musicais
ondulam com o vento,
e te tocam,
suavemente,
para que sintas
que a canção ficou,
mas a nota principal
já se alterou.
Calaram-se as vozes,
porque o tom
se ausentou
do espaço musical.
maria eduarda
Robert Ichter
Não sei
se encontro nas palavras,
aquela que não destrói
o encanto da melodia,
que foi um dia
harmoniosa.
Não sei
se as notas musicais
ondulam com o vento,
e te tocam,
suavemente,
para que sintas
que a canção ficou,
mas a nota principal
já se alterou.
Calaram-se as vozes,
porque o tom
se ausentou
do espaço musical.
maria eduarda
terça-feira, janeiro 26, 2010
TU
Eras Tu!
Ao cair do dia, com tuas vestes e símbolos.
Balbuciando signos inteligíveis apenas aos mais atentos.
Eras Tu!
Que caminhavas em serenidade... parecendo feliz e tendo já alcançado a verdade.
O teu ar não engana. Pareces-me bem! Depressa porém, percorro de memória a nossa história... e recordo viveres e sentires.
Sim. Agora sei:
De facto eras mesmo Tu.
segunda-feira, janeiro 25, 2010
sexta-feira, janeiro 22, 2010
E eles foram
E eles foram na delegação portuguesa, com uma mensagem de esperança.
Porque no Haiti há muitos que sofrem.
Também os há em Portugal e em Espanha e "na porta ao lado" e em toda a parte.
Mas jamais deve ser esse o motivo que nos impeça de auxiliar os que estão "mais longe".
Até porque a esmagadora maioria das vezes os "tais que estão mesmo ao lado" também não recebem o nosso auxílio. Não na medida em que poderíamos.
Mas assumimos que somos seres humanos.
Os "tais" racionais e que têm sentimentos.
Os "tais" que são diferentes dos outros animais.
Os "tais" que por pensarem, podem decidir em vez de corresponder ao instinto.
É pena que o nosso instinto seja de sobrevivência e não de espírito de amor ao próximo.
Mas podemos mudar.
Se o quisermos genuína e interiormente.
Aí sim. Seremos diferentes dos "outros".
quinta-feira, janeiro 21, 2010
terça-feira, janeiro 19, 2010
Ausência
Urban Abstract No 14...
Gregory Lang
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus
[braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade, in 'O Corpo'
Gregory Lang
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus
[braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade, in 'O Corpo'
domingo, janeiro 17, 2010
Coisas que se pensam quando qualquer outra coisa seria menos inútil
Exercício de independência impossível
Tornar o mundo um miolo, achatá-lo com peso de corpo sobre o tampo atoalhado da mesa, arredondá-lo sob a palma linhosa da mão que o sente ínfimo desperdício, coisa que se pode perseguir se rola desatenta para o chão.
Olhá-lo desinteressadamente mesmo que já entre os pés calçados há horas, sem alterar uma pequena parte que seja da sua vaga importância, portanto nem sequer adesivá-lo com palavras inventadas e ele, o miolo, a ponto de esmiuçar-se perante a nossa indiferença e nós, a ruborizarmos sobre os ombros.
Tornar o mundo um miolo, achatá-lo com peso de corpo sobre o tampo atoalhado da mesa, arredondá-lo sob a palma linhosa da mão que o sente ínfimo desperdício, coisa que se pode perseguir se rola desatenta para o chão.
Olhá-lo desinteressadamente mesmo que já entre os pés calçados há horas, sem alterar uma pequena parte que seja da sua vaga importância, portanto nem sequer adesivá-lo com palavras inventadas e ele, o miolo, a ponto de esmiuçar-se perante a nossa indiferença e nós, a ruborizarmos sobre os ombros.
sábado, janeiro 16, 2010
sexta-feira, janeiro 15, 2010
A descoberta
Sun Dance
Alfred Gockel
Alfred Gockel
Prometo recuperar um raio de Sol tímido, que se insinua em traços claros e dourados. O sonho apodera-se dessa claridade, e cavalga na imensidão do dia, que acordou límpido e cordial.
Em dias assim, desconheço a força que me fustiga, e me lança em acrobacias estonteantes de vida interior, pronta para novos desafios, reconhecendo o dia de hoje, como mais um dia nesta etapa. Daí a vida efervescente que me espera em ebulição, todos os dias, quando abro os olhos e me deparo inteira e viva.
maria eduarda
quinta-feira, janeiro 14, 2010
Cativar
(...) A raposa calou-se e olhou por muito tempo para o principezinho.
- Cativa-me por favor, disse ela.
- Tenho muito gosto, respondeu o principezinho, mas falta-me tempo. Preciso de descobrir amigos e conhecer muitas coisas.
- Só se conhecem as coisas que se cativam, disse a raposa. Os homens já não têm tempo para tomar conhecimento de nada. Compram coisas feitas aos mercadores. Mas como não existem mercadores de amigos, os homens já não têm amigos.
Se queres um amigo, cativa-me.
- Como é que hei-de fazer? - disse o principezinho.
- Tens que ter muita paciência, respondeu a raposa. Primeiro, sentas-te um pouco afastado de mim, assim, na relva. Eu olho para ti pelo rabinho do olho e tu não dizes nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, de dia para dia, podes sentar-te cada vez mais perto.
(...)
Antoine de Saint-Exupéry, in O Principezinho.
quarta-feira, janeiro 13, 2010
terça-feira, janeiro 12, 2010
Agressão
Autumn Leaves
Teri Jonas
Teri Jonas
A chuva cai copiosamente , o céu cinzento recolhe a esperança que se enforma no verde das árvores, agora inevitavelmente despidas dessa cor. Os ramos nus direccionados para o céu relembram-me a tenacidade necessária para lutar, libertar a tristeza que se infiltrou em mim, destituí-la dessa permanência e, enfim, viver aguardando a esperança, que rigorosamente aparecerá na cor das folhas, na próxima Primavera. Nesse espaço de tempo, tento saber conviver com o tempo agreste, que me veste de melancolia.
maria eduarda
domingo, janeiro 10, 2010
sábado, janeiro 09, 2010
Divagar
Julianna
O silêncio é um calmante, um apaziguador, na hora de proferir injúrias, porque não as dizendo, atenua-se a dor; por outro lado, o silêncio é arma cortante, dilacerante, se empregue em vez da fala, do diálogo, porque dói naquilo que se julga indiferente.
maria eduarda
sexta-feira, janeiro 08, 2010
Este mundo
Desde que possamos considerar este mundo uma ilusão e um fantasma, poderemos considerar tudo que nos acontece como um sonho, coisa que fingiu ser porque dormíamos. E então nasce em nós uma indiferença subtil e profunda para com todos os desaires e desastres da vida.
Os que morrem viraram uma esquina, e por isso os deixámos de ver; os que sofrem passam perante nós, se sentimos, como um pesadelo, se pensamos, como um devaneio ingrato. E o nosso próprio sofrimento não será mais que esse nada.
Neste mundo dormimos sobre o lado esquerdo, e ouvimos nos sonhos a existência opressa do coração.
Mais nada... Um pouco de sol,um pouco de brisa, umas árvores que emolduram a distância, o desejo de ser feliz, a mágoa de os dias passarem, a ciência sempre incerta e a verdade sempre por descobrir... Mais nada, mais nada... Sim, mais nada...
Fernando Pessoa,21-6-1934, in "Obra poética e em prosa",volume II.
Mais nada... Um pouco de sol,um pouco de brisa, umas árvores que emolduram a distância, o desejo de ser feliz, a mágoa de os dias passarem, a ciência sempre incerta e a verdade sempre por descobrir... Mais nada, mais nada... Sim, mais nada...
Fernando Pessoa,21-6-1934, in "Obra poética e em prosa",volume II.
quinta-feira, janeiro 07, 2010
Para Ti
Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo
Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre
Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida
Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo
Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre
Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida
Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"
quarta-feira, janeiro 06, 2010
Indefinição
terça-feira, janeiro 05, 2010
Cartografia
( autoria desconhecida)
Na cartografia do meu corpo
há saudades
que roubaram a cor dos rios
e partiram em pedaços
o espelho que estes eram.
.
Os meus sentidos despertos
sentem a chamada do Sul
nos cheiros e nas cores
que os ventos trazem
de longe..longe...longe
e
um arrepio de emoção
põe-me a pele em turbulência.
.
Em@
há saudades
que roubaram a cor dos rios
e partiram em pedaços
o espelho que estes eram.
.
Os meus sentidos despertos
sentem a chamada do Sul
nos cheiros e nas cores
que os ventos trazem
de longe..longe...longe
e
um arrepio de emoção
põe-me a pele em turbulência.
.
Em@
E nessa turbulência
permito-me sonhar,
sentir, extasiar-me,
repleta de sensações,
sempre despertas,
quando sinto os cheiros
de longe, lá longe,
onde pertenço,
onde me encontro,
onde sou EU.
maria eduarda
segunda-feira, janeiro 04, 2010
Os mesmos erros
foto de J.
Mesmo um exame superficial da história revela que nós, seres humanos, temos uma triste tendência para cometer os mesmos erros repetidas vezes. Temos medo dos desconhecidos ou de qualquer pessoa que seja um pouco diferente de nós.
Quando ficamos assustados, começamos a ser agressivos para as pessoas que nos rodeiam. Temos botões de fácil acesso que, quando carregamos neles, libertam emoções poderosas. Podemos ser manipulados até extremos de insensatez por políticos espertos. Dêem-nos o tipo de chefe certo e, tal como o mais sugestionável paciente do terapeuta pela hipnose, faremos de bom grado quase tudo o que ele quer - mesmo coisas que sabemos serem erradas.
Carl Sagan, in "O Mundo Infestado de Demónios"
Carl Sagan, in "O Mundo Infestado de Demónios"
domingo, janeiro 03, 2010
Em 2010
Nota nostálgica
sábado, janeiro 02, 2010
ANÁLISE
Tão abstracta é a ideia do teu ser
Que me vem de te olhar, que, ao entreter
Os meus olhos nos teus, perco-os de vista,
E nada fica em meu olhar, e dista
Teu corpo do meu ver tão longemente,
E a ideia do teu ser fica tão rente
Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me
Sabendo que tu és, que, só por ter-me
Consciente de ti, nem a mim sinto.
E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto
A ilusão da sensação, e sonho,
Não te vendo, nem vendo, nem sabendo
Que te vejo, ou sequer que sou, risonho
Do interior crepúsculo tristonho
Em que sinto que sonho o que me sinto sendo.
Do sonho e pouco da vida.
Fernando Pessoa, 12-1911, in "A obra poética e em prosa."
sexta-feira, janeiro 01, 2010
Melrinho fiel
Ângelo Ochôa dedicou-me este "poeminha", como ele diz,
Melrinho fiel,
que cedo me visitas,
saltitando esvoaçante,
a cantarolar
cantitos puros absolutos,
sílabas dum chão empedrado e turvo,
na antemanhã liberta das rosas;
vou para filmar, e idealizo uns planos picados
para acompanhar-te a divagação magnífica,
enquanto me deixas
por erva húmida,
antes dum sol desconhecido.
Ângelo Ochôa
Melrinho fiel,
que cedo me visitas,
saltitando esvoaçante,
a cantarolar
cantitos puros absolutos,
sílabas dum chão empedrado e turvo,
na antemanhã liberta das rosas;
vou para filmar, e idealizo uns planos picados
para acompanhar-te a divagação magnífica,
enquanto me deixas
por erva húmida,
antes dum sol desconhecido.
Ângelo Ochôa
Receita de ano novo
(Poema colocado pela Vera Y. Silva, nos comentários.)
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
Carlos Drummod de Andrade
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
Carlos Drummod de Andrade
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