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sábado, fevereiro 28, 2009

Deambular

Sair sem destino,
estar atenta, reparar
nos sinais, nas mensagens,
no pormenor a escapar
noutros dias, sem paragens.
Admirar a luz, a sombra,
o pássaro a voar,
a gotícula da noite.
Interiorizar a beleza
que captamos, com certeza.
Basta abrir a atenção,
manter a chama acesa
do viver, em cada estação.


maria eduarda

sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Coisas que se pensam quando qualquer outra coisa seria menos inútil


Um muro não político e não geográfico nasceu inteiro.

Desse outro lado, estão eles, aqueles que não deixaremos.
Arriscamos as suas presenças no nosso quotidiano, no ponto mais distante em que nos perdemos do dia de hoje.

Vamos em velocidade estonteante de zebra assustada em sua busca, mas só os abraçamos em sonhos.

A cada um deles (Pai e Mãe)

Emoldurei-te ali,
naquela prateleira,
por onde passo
e me detenho,
em mim prazenteira.
Assim, posso ver-te,
apreciar o teu sorriso,
que permanece
na passagem deste piso.
Estás ao alcance
de um olhar,
de um acenar.
Pena,
não poder dialogar.
Terias que deixar a moldura,
passar por mim, de mansinho,
sem sofreguidão
e, como se nada fosse,
perguntar baixinho:
"-Que dia é hoje? Que horas são?"
maria eduarda

O absoluto do ser

- Deus não é bom?
- Não, para falar com propriedade, Deus não é bom: é. Bom, mau, são pobres palavras que se aplicam a um conjunto de regras respeitantes a alguns pormenores da nossa vida material. Porque é que Deus seria limitado pelas nossas pobres palavras e valores? Não, Deus não é bom. É mais do que isso. É a forma mais rica, mais completa, mais poderosa do ser, de qualquer maneira. Torna concreta a abstracção mesmo da forma do ser. E penso que o «envisagement» do ser não podia ser possível se Deus não lhe tivesse dado anteriormente o seu estado. Deus é a criação. É pois um princípio inextinguível, não orientado, a própria vida. Lembrem-se das palavras: «Eu sou Aquele que sou». Nenhuma outra palavra humana compreendeu e relatou melhor a forma divina. Intemporal, não, nem sequer intemporal e infinita. O princípio. O facto de que há qualquer coisa no lugar onde não havia nada.
- Mas então, Deus não tem necessidade...
- E até mesmo para lá de toda a expressão. Se quiser, eu sou Deus. Não há dúvida a sustentar, pergunta a fazer. Você existe. Portanto é Deus. Você não pode existir de outro modo. Se você não fosse Deus, não existiria.
- Um panteísmo, de certa maneira?
- Não, porque não se trata de louvar Deus em todas as coisas. Deus é exterior, e se eu lhe dizia que você é Deus, que eu sou Deus, não era para lhe dar a ideia que, segundo eu, Deus é uma espécie de corpo no interior do qual nós vivemos. Não, eu queria apenas insinuar uma espécie de analogia entre as duas palavras da frase, agir no ser determinando-o, por Deus. Sendo o Ser de certa maneira uma dimensão própria, tão relativa mas tão real como o tempo e o espaço. E Deus sendo o absoluto desta dimensão, como o infinito é o absoluto do espaço, e o eterno o absoluto do tempo. De facto, o absoluto do Ser é também o absoluto do espaço e o absoluto do tempo. Eis porque Deus é neste ponto inimaginável para os pobres espíritos dos homens.
Le Clézio, in "A Febre" (conto «Martin»)

quinta-feira, fevereiro 26, 2009

Desvario

Amaciei a bainha
do meu colete verde,
para não atrapalhar
o cair da saia.
Vestida a preceito,
hesitei na encruzilhada
dos semáforos, ao longe.
Não parei, não afrouxei,
e na bainha dobrada,
amaciada,
esqueci o devaneio,
retrocedi.
Alcancei o degrau,
e de passagem,
mudei de roupagem,
releguei o verde
do meu colete,
para usar talvez
numa outra viagem,
com paragem.

maria eduarda

A Tristeza dos Portugueses

Porque é que os portugueses são tristes? Porque estão perto da verdade. Quem tiver lido alguns livros, deixados por pessoas inteligentes desde o princípio da escrita, sabe que a vida é sempre triste. O homem vive muito sujeito. Está sujeito ao seu tempo, à sua condição e ao seu meio de uma maneira tal que quase nada fica para ele poder fazer como quer. Para se afirmar, como agora se diz, tão mal. Sobre nós mandam tanto a saúde e o dinheiro que temos, o sítio onde nascemos, o sangue que herdámos, os hábitos que aprendemos, a raça, a idade que temos, o feitio, a disposição, a cara e o corpo com que nascemos, as verdades que achamos; mandam tanto em nós estas coisas que nos dão que ficamos com pouco mais do que a vontade. A vontade e um coração acordado e estúpido, que pede como se tudo pudéssemos. Um coração cego e estúpido, que não vê que não podemos quase nada.
Aí está a razão da nossa tristeza permanente. Cada homem tem o corpo de um homem e o coração de um deus. E na diferença entre aquilo que sentimos e aquilo que acontece, entre o que pede o coração e não pode a vida, que muito cedo encontramos o hábito da tristeza. Habituamo-nos a amar sem nos sentirmos amados e a esse sentimento, cortado por surpresas curtas, passamos a chamar amor. E com verdade. No mundo das ausências, onde a tristeza vem de sabermos muito bem o que nos falta, a nós e àqueles que nos rodeiam, a bondade, que nos torna vulneráveis aos sofrimentos daqueles que nos acompanham e nos faz sofrer duas vezes mais do que se estivéssemos sozinhos, é o preço que pagamos por não sermos amargos. É graças à bondade que estamos tristes acompanhados. Há uma última doçura em sermos tristes num mundo triste. Igual a nós.
Miguel Esteves Cardoso, in 'As Minhas Aventuras na República Portuguesa'

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Mambo 19


Entrava-se lá para os fundos, por um corredor entre um prédio e a casa. Na sala composta por quatro ou cinco mesas compridas em madeira, os alunos sentavam-se em bancos corridos. Em cada uma delas morava uma classe, da primeira à quarta. Todas as classes tinham a mesma professora que ensinava, dirigia, controlava, no mesmo espaço e em simultâneo todas elas. Havia respeito, também algum medo. A professora ensinava em sua casa, era portanto uma escola particular. À hora do recreio, saía-se ao pátio onde saltitavam os seus gatos. Havia tempo, para se comer o lanche trazido e para se brincar um pouco à macaca, às escondidas... Quando a professora chamava, as crianças entravam sem ser a mastigar. Sabiam que se passassem uma determinada porta estariam na intimidade do seu lar, por isso ficavam-se pela sala grande e pelo pátio. A única casa de banho da casa era no quintal, quando chovia tinham que ir a correr. Não a podiam deixar suja, porque seriam responsabilizados de forma séria. Quando um aluno da última classe não sabia alguma matéria básica, um miúdo das classes anteriores tinha de responder e o outro era então confrontado com a sua falta de estudo perante a sabedoria do mais novato, ficava enxovalhado no seu orgulho de mais velho e o vencedor da resposta ganhava brilhos nos olhos da professora. Todos os erros eram uma declaração de guerra por parte da professora, que armada das palmatórias de vários tamanhos segundo as palmas dos garotos, desencadeava a matança à ignorância de forma muito física. Um erro de ortografia num ditado, correspondia a uma palmatoada. Uma conta enganada, outra. Entre as suas armas estavam também as puxadelas de orelhas de preferência com vinco de unha, os abanões de bochechas, os deveres carregados para casa, a folha de reprimenda escrita no caderno diário para o pai assinar, a não ida ao recreio e uma muito especial para os casos mais graves de indisciplina ou preguiça. A nossa professora tinha em casa uns chifres de impala. Guardava-os lá numa parte da sala. Estavam munidos com um fio, que servia para os segurar à cabeça de algum menino. Então, escolhia um outro miúdo para ir passear com ele ao café Tirol, que ficava em frente. Ia para a janela, para verificar os trajectos e o cumprimento das ordens. Uma vez calhou-me. Sob pena de ser castigada também, acompanhei um colega com uns chifres de impala na testa. Era impossível a rebelião, havia sempre um possível tormento maior para os dois. A nossa professora primária era terrível, mas aprendíamos e todos passávamos nos difíceis exames nacionais, porque não aprender até chegava mesmo a doer. Nesta singular escola, andavam os alunos mais cábulas, desinteressados, preguiçosos, rebeldes, mal-educados e aqueles que por via familiar iam lá parar com esses irmãos que professavam o desespero dos pais. Entrei aos cinco anos para este tipo de ensino, por causa do meu irmão que queria ser um bicho cego, surdo e mudo para não ter de estudar. Um dia não me apeteceu fazer bem os deveres para casa, a minha cópia parecia escrita por um míope, as letras ocupavam cinco e seis linhas de uma só vez. Na outra manhã lá estava a palmatória elevada no ar, pela primeira e última vez dirigida às minhas mãos pequeninas da primeira classe. O meu olhar aterrorizado salvou-me do impacto. A professora perdoou-me porque só encostou a face do instrumento às linhas do meu destino, depois só ralhou infinitamente. A professora tinha um marido bonzinho. Tinha perdido um olho e usava um pano preto, a tapar a assustadora cavidade. Às vezes, ela pedia-lhe ajuda para fazer um ditado. Ele dizia vagarosamente todas as palavras e ela deitava-lhe um vociferar de zanga. A professora também cuidava de nós do lado de fora da escola, enquanto esperávamos os nossos pais no passeio, perto das janelas da sua casa. Num Carnaval, deitámos serpentinas para dentro de um carro estacionado. A nossa professora viu tudo, desde a sua cortina afastada. Obrigou-nos a esperar pelo dono do veículo, a pedir-lhe desculpa e a apanhar todos os papelinhos com que tão traquinamente nos tínhamos divertido. Era uma professora muito atenta.Os nossos pais gostavam, agradeciam-lhe todos os castigos, menos quando falhava a palmatória e apanhava o pulso do aluno ou então tinham de lhe pedir, por favor ao meu filho não lhe puxe as orelhas porque sofre de otite, no resto está à vontade, aplique-lhe os curativos… Nós sabíamos que os nossos pais, tinham-na envolta num grande respeito, porque todos aprendíamos. Na modesta casinha verde, era a nossa primeira escola de verdade, lá viviam também a nossa professora, o seu marido bonzinho com o pano preto na falta do seu olho, e os seus gatos muito educados. Um dia eles morreram e ficámos todos tristes.Muitos de nós terminámos a primária, numa escola oficial onde já não batiam nem ralhavam, mas nós já não gostávamos tanto da professora. Já não era nossa.

Ser criança, assim...

Criança és!
Onde é o teu seio?
Se o amor é o teu meio,
então, o mundo tens aos pés.
Se, na pobreza, na doença,
na ausência de calor
apareceste,
onde está a crença?
Onde está o valor?
Criança não és!
Terás que sofrer,
que lutar,
que chorar,
que crescer,
rápido, sem saber.
O mundo apanhar-te-á,
à menor distracção,
e tu,
lutarás ou não,
consoante a tua condição.

maria eduarda

Em Louvor das Crianças

Se há na terra um reino que nos seja familiar e ao mesmo tempo estranho, fechado nos seus limites e simultaneamente sem fronteiras, esse reino é o da infância. A esse país inocente, donde se é expulso sempre demasiado cedo, apenas se regressa em momentos privilegiados — a tais regressos se chama, às vezes, poesia. Essa espécie de terra mítica é habitada por seres de uma tão grande formosura que os anjos tiveram neles o seu modelo, e foi às crianças, como todos sabem pelos evangelhos, que foi prometido o Paraíso. A sedução das crianças provém, antes de mais, da sua proximidade com os animais — a sua relação com o mundo não é a da utilidade, mas a do prazer. Elas não conhecem ainda os dois grandes inimigos da alma, que são, como disse Saint-Exupéry, o dinheiro e a vaidade. Estas frágeis criaturas, as únicas desde a origem destinadas à imortalidade, são também as mais vulneráveis — elas têm o peito aberto às maravilhas do mundo, mas estão sem defesa para a bestialidade humana que, apesar de tanta tecnologia de ponta, não diminui nem se extingue. O sofrimento de uma criança é de uma ordem tão monstruosa que, frequentemente, é usado como argumento para a negação da bondade divina. Não, não há salvação para quem faça sofrer uma criança, que isto se grave indelevelmente nos vossos espíritos. O simples facto de consentirmos que milhões e milhões de crianças padeçam fome, e reguem com as suas lágrimas a terra onde terão ainda de lutar um dia pela justiça e pela liberdade, prova bem que não somos filhos de Deus.
Eugénio de Andrade, in 'Rosto Precário'

terça-feira, fevereiro 24, 2009

Ler

«L’artiste est celui qui nous montre du doigt une parcelle du monde.»
Jean-Marie Gustave le Clézio in O êxtase da matéria

segunda-feira, fevereiro 23, 2009

Da minha Mãe


Das estrelas adquiro a luz,
que me conduz à tranquilidade;
Das trevas, o silêncio,
onde aguardo com serenidade;
Da lua, agarro a paz, a cor branca,
e coloco-a no estar, no ser franca;
Do sol abrasador, o calor,
que reflicto no amor;
Da chuva, recolho a pureza,
a limpidez,utilizada na sensatez.
Mas, do céu límpido,deixo ficar o azul,
que é o eterno olhar
daquela que em mim,
tem sempre um lugar
impossível de selar.
(23 de Fevereiro de 1931)
maria eduarda

domingo, fevereiro 22, 2009

Um pedaço de nós

Um filho
Um filho, um pedaço de nós!

Faz sol,
Faz frio lá fora,
E o calor de um abraço,
A alegria enorme num largo sorriso.

Tanta felicidade contida
No nascimento
De uma criança,
Fruto de um amor sentido.

O amor, a esperança e
A certeza de ver
Crescer um filho
É o maior prazer!!!

Com essa certeza,
Com essa esperança,
Com esse amor,
Vamos festejar!

Vivemos para os momentos futuros, e não o presente

A ânsia de matar tempo, de liquidar o espaço de dias entre um acontecimento e o que lhe sucede, transmite, tanto em casos de amor como em outros, fins importantes, um estado de alma que se preocupa exclusivamente em atingir esse alvo previamente estabelecido. Não se pensa em mais nada. Semelhante à situação criada quando se sabe de antemão que se vai encontrar determinada pessoa que nos interessa muito. Fica-se incapaz de articular palavra, de estreitar vínculo com quem quer que seja que se nos atravesse no caminho. Está-se a viver em outrem, num estado fora da relação humana do dia a dia. Nem sequer ouvimos os sons, arrepiamos a pele ao tomar conhecimento consciente de notícias que já sabíamos de antemão pertencerem ao domínio público. Esta é também a ânsia do suicida que nada mais faz entre a decisão de cometer o homicídio e a prática do acto extremo.


A. Ruben in "O Mundo À Minha Procura I"

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Fragilidades

No sobressalto da espera,
mantém a lucidez,
aperta a ferida a abrir e,
nas dores resgatadas,
aguarda a tua vez.
Na hora do atropelo,
recoloca os senãos,
os óbvios, os talvez.
Renega o iludido,
o mentido, o falso admitido,
a ilusão transmissora
de uma paz redutora.
Enfrenta a luta,
salta para a arena,
recomeça a disputa.
Então, dos talvez admitidos,
opera numa outra razão,
encara de vez a certeza,
a verdadeira crueza
da verdade primeira,
que te destrói a leveza,
te deixa prostrado no chão.
Espera que venha a razão,
que te alivie a dureza
de uma dor sem senão.


maria eduarda

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

A experiência de Agostinho da Silva

Como resumiria a sua experiência?


«Dizendo que vale a pena jogar na confiança; que é bom estar de sobreaviso quando tudo nos corre bem; que o máximo da maré baixa é a véspera exacta do encher da maré; que não é mau cantar-se quando chove; que não façamos muito má cara às nossas fraquezas, porque nos pode ficar o rosto demasiado franzido perante as fraquezas dos outros; que não prejudica bater às portas, quer se abram ou não; que não julguemos ser senhores da verdade; que nada excluamos em nós para ficarmos mais belos, porque nos arriscamos a ser as galinhas tristes que os jardineiros de mau gosto talham dos fortes buxos; e, finalmente, que não demos importância às conclusões que tiraram os outros de suas experiências: para nós só são fecundas e válidas as que nós próprios tivermos.»
Prof. Agostinho da Silva

domingo, fevereiro 15, 2009

Do amor..

Berlim 2008
Foto:G.Ludovice


Aferramo-nos à crença, de que alguém algures, nos ama o suficiente para se nos agarrar, para evitar que sejamos arrebatados. Mas a crença é falsa. Todo o amor é moderado,no fim. Ninguém virá connosco. A história de Euridice foi mal interpretada. O tema da história é a solidão da morte. Euridice está no inferno com a sua mortalha. Acredita que Orfeu a ama o suficiente para ir salvá-la. E de facto Orfeu vem. Mas no final o amor que Orfeu sente não é suficientemente forte. Orfeu deixa a amada e regressa à sua própria vida. A história de Euridice recorda-nos que a partir do momento da morte perdemos todo o poder de escolhermos os nossos companheiros. Somos precipitados no destino que nos está traçado; não nos cabe a nós decidirmos ao lado de quem viremos a passar a eternidade.
J.M.Coetzee, Diário de um mau ano, D.Quixote, 2008

sábado, fevereiro 14, 2009

Identidade

Não sei mover-me assim,
no intervalo dos sorrisos,
que no instante são precisos
para se mostrarem a mim.

Não sei estar assim,
ouvindo o desassossego
e o desalento afim,
a colidir no meu sossego.

Não sei mostrar-me outra
que não eu, assim, natural,
meu semblante, minha montra,
fiel ao meu sentir real.

Não sei, não quero
alimentar a fogueira,
esperar o fogo fero,
e aguardar a braseira.

Sou eu, desta maneira,
com defeitos, qualidades,
transparente em sobranceira,
leal às minhas vaidades.

maria eduarda

Co a breca!

Caranguejola

Ah, que me metam entre cobertores, E não me façam mais nada!... Que a porta do meu quarto fique para sempre fechada, Que não se abra mesmo para ti se tu lá fores! Lã vermelha, leito fofo. Tudo bem calafetado... Nenhum livro, nenhum livro à cabeceira... Façam apenas com que eu tenha sempre a meu lado Bolos de ovos e uma garrafa de Madeira. Não, não estou para mais; não quero mesmo brinquedos. Pra quê? Até se mos dessem não saberia brincar... Que querem fazer de mim com estes enleios e medos? Não fui feito pra festas. Larguem-me! Deixem-me sossegar!... Noite sempre plo meu quarto. As cortinas corridas, E eu aninhado a dormir, bem quentinho - que amor!... Sim: ficar sempre na cama, nunca mexer, criar bolor - Plo menos era o sossego completo... História! Era a melhor das vidas... Se me doem os pés e não sei andar direito, Pra que hei-de teimar em ir para as salas, de Lord? Vamos, que a minha vida por uma vez se acorde. Com o meu corpo, e se resigne a não ter jeito... De que me vale sair, se me constipo logo? E quem posso eu esperar, com a minha delicadeza? Deixa-te de ilusões, Mário! Bom édredon, bom fogo - E não penses no resto. É já bastante, com franqueza... Desistamos. A nenhuma parte a minha ânsia me levará Pra que hei-de então andar aos tombos, numa inútil correria? Tenham dó de mim. Co a breca! levem-me prá enfermaria - Isto é: pra um quarto particular que o meu pai pagará. Justo. Um quarto de hospital - higiénico, todo branco, moderno e tranquilo; Em Paris, é preferível, por causa da legenda... De aqui a vinte anos a minha literatura talvez se entenda; E depois estar maluquinho em Paris, fica bem, tem certo estilo... Quanto a ti, meu amor, podes vir às quintas-feiras, Se quiseres ser gentil, perguntar como eu estou. Agora no meu quarto é que tu não entras, mesmo com as melhores maneiras. Nada a fazer, minha rica. O menino dorme. Tudo o mais acabou.
Mário de Sá Carneiro



"Recomeça...

Se puderes,

Sem angústia e sem pressa.

E os passos que deres,

Nesse caminho duro

Do futuro,

Dá-os em liberdade.

Enquanto não alcances

Não descanses.

De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,

Vai colhendo

Ilusões sucessivas no pomar.

Sempre a sonhar

E vendo,Acordado,

O logro da aventura.

És homem, não te esqueças!

Só é tua a loucura

Onde, com lucidez, te reconheças."


Miguel Torga

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Menina!Dia 13, de sol brilhante, manhã cedo,
Ia contente, receosa, expectante,
Não sabia se menino, se menina.
Apenas sonhava um bebé perfeito, normal.
Menina! – disse a parteira.
E a alegria enorme de ser mãe.
Numa mistura de sentimentos sublimes,
Emoção, amor incondicional, entrega total!


Parece que foi ontem,
Ano após ano, tanta cumplicidade,
Risos, choros, momentos partilhados,
Amizade sem idade, mas com verdade!
Bom aniversário, muitos anos felizes,
É o que mais te desejo,
Neste dia teu e meu, tão especial,
Sonhos realizados e muitos mais ainda sonhados.

Cartas de amor


Ao longo dos anos, as cartas entre nós foram uma constante, sobretudo porque saíste de casa muito cedo, rumo à capital.
Aqui em casa, enquanto cá estiveste, todas as noites, quando eu e o pai nos vínhamos deitar, encontrávamos sempre, porque te recolhias primeiro, uma cartinha ou postal escritos a preceito, com ilustrações, quando havia tempo, mais à pressa, nos dias de muito sono, mas sempre com a indicação da hora de acordar. São, como é de calcular, muitas e muitas cartinhas dessas. Fomos, durante os cinco anos que viveste aqui em casa, o teu “despertador”.
Depois, já longe da nossa vista, mas não do coração, chegaram sempre muitas cartas, muitas, muitas, que fui guardando.

Comecei por numerá-las, a certa altura deixei de o fazer. O teu dia a dia chegava em envelopes decorados por ti, com muita criatividade e, alguns, muito engraçados até. Às vezes, pensava no que pensariam os carteiros, perante envelopes com frases e desenhos tão originais!
Tenho algumas cartas escritas também, estando tu cá em casa, connosco, porque querias transmitir algo que te seria mais fácil fazê-lo por escrito. Deixavas a mensagem por aí, para que a descobríssemos. Assim aconteceu em vários aniversários teus, em que, logo de manhã, éramos nós os primeiros a ser felicitados por tu teres acontecido. É verdade que me emocionaste sempre, ainda hoje isso acontece, com os teus mimos e a tua enorme sensibilidade. Dessas cartinhas de aniversário, tenho presente uma que me marcou bastante, no entanto, por mais voltas que dê, porque a tinha separado das outras num outro sítio, julguei que mais privilegiado, não a encontro. Paciência!!! Quando aparecer, porque está cá, estará sempre a tempo de passar de manuscrita por ti, a teclada por mim.
Procurei-a muito, tive de ler uma e outra carta, e outra, e acabei por encontrar uma que, não tendo sido escrita em dia de aniversário, parece que o foi. Mas não, foi em Setembro, quando tinhas 15 anos, antes de deixares esta casa, para ires estudar fora.
Deixaste-a, no teu quarto, para que eu a lesse mais tarde.
E diz assim:
« Mamã
Durante nove meses sentiste o crescer do meu ser
e, antes mesmo de me conheceres,
já me tinhas amor.
Todas as noites, o teu coração batia forte
e adormecias a pensar em mim.
Ainda não sabias como eu era,
mas deixavas-te levar pela imaginação.
... Sonhos mágicos onde ambas aparecíamos!
A tua vida tornou-se um mundo maravilhoso e misterioso.
E o aumentar da barriga parecia
o crescer da felicidade.
Eu vivia dentro do calor do teu corpo,
estava mais perto de ti do que qualquer outro ser.
Cada dia gostavas mais de mim,
e eu estava presa a ti por um frágil
cordão umbilical.
Foi assim até ao dia em que os teus sonhos se concretizaram.
Não precisaste de puxar mais pela imaginação,
porque eu era real.
Alguém cortou o cordão que nos unia
e, ao contrário do que se possa pensar,
ficámos ainda mais unidas.
A primeira palavra que eu disse foi “mamã”!
E a “mamã” era para mim mais que tudo, mais que a vida.
Fui crescendo entre beijos e abraços.
Fui aprendendo o que é certo e o que é errado.
Tive momentos de alegria... momentos de tristeza...
E hoje, quinze anos passados,
estou aqui, a escrever o que me dita o coração.
Escrevo porque vou partir...
Pela primeira vez!
Vou deixar de dormir no quarto ao lado do teu.
Vou deixar de te dar um beijo antes de me deitar.
Vou deixar...
Vou deixar...
Vou deixar...
Tenho medo!
Será que é possível viver longe de ti?!
Vou tentar!!...
E não vou deixar de te amar!!!!!
Um xi <3
(assinado Dinamene

Neste dia especial

Para ti Dinamene,minha nova amiga, neste teu dia especial, aqui vai uma flor de maraqujá.


"A felicidade de um amigo deleita-nos. Enriquece-nos. Não nos tira nada. Caso a amizade sofra com isso, é porque não existe."

Jean Cocteau
A quem faz pão ou poema
só se muda o jeito à mão
e não o tema.

Atingira um silêncio tão de espanto
que era todo universo à sua volta
um seduzido canto.

E posto que viver me é excelente
cada vez gosto mais de menos gente.
Não sei quem manda na vida
mas a quem for eu me entrego
e o que queira me decida.

Pé firme leve dança
que o saber seja adulto
mas o brincar de criança.

in Uns Poemas de Agostinho, de Agostinho da Silva; edições Ulmeiro
Ser intransigente com os outros não tem grande sentido;
eles são o que podem ser e creio bem que seriam melhores se o pudessem !
Agostinho da Silva



quinta-feira, fevereiro 12, 2009


A biblioteca multimédia online da Europa, "Europeana", está acessível ao público, que através da Internet , poderá aceder a mais de dois milhões de obras dos 27 Estados-membros da União Europeia.
Esta biblioteca virtual conta com livros, mapas, gravações, fotografias, documentos de arquivo, pinturas e filmes do acervo das bibliotecas nacionais e instituições culturais dos 27 Estados-Membros da UE, tendo por exemplo de Portugal a Carta plana de parte da Costa do Brasil, um mapa de 1784.

Acessível, em todas as línguas da UE, através do endereço (www.europeana.eu ), a biblioteca multimédia europeia conta com material fornecido por mais de 1000 organizações culturais de toda a Europa, incluindo Museus, como o Louvre de Paris, que forneceram digitalizações de quadros e objectos das suas colecções.

200 anos do nascimento de Darwin





"Terá sido o horror à escravatura o motor da investigação de Darwin sobre a origem e a transformação de todos os seres vivos?"



Quando Darwin publicou o livro que o transformou num ícone da ciência moderna – Sobre a Origem das Espécies através da Selecção Natural (tradução literal da obra publicada em Portugal pela D. Quixote com o título A Origem das Espécies)-, propondo um mecanismo natural como motor da evolução, em 1858, discutia-se se os seres humanos seriam apenas uma espécies única, em todo o mundo, ou se os negros, asiáticos e demais tipos humanos eram espécies separadas. A visão de um mundo onde cada espécie foi criada autonomamente, no local onde se encontra hoje, favorecia a política esclavagista.

(Jornal Público)

quarta-feira, fevereiro 11, 2009

Cicatrizar

Apreciai o tempo,
mesmo aquele adulterado,
mistura de feridas e cicatrizes,
de momentos nulos ou felizes,
do ser e do viver.
Encontrai as sequelas e,
aprendei a ver nelas,
gozos, dores, de crescimento,
na pele do amadurecimento.
Avançai mais um degrau,
confiante, exuberante,
esquecido o corrimão.
Atentai nos outros lances,
onde deixareis as marcas
indeléveis ou nuances,
do caminhar exultante,
do existir desejoso,
do transferir, qual mutante,
o gosto, ao sequioso,
da água que sai jorrante.

maria eduarda

O Barão Trepador

"Subi eu, pela escada.
- Cosimo - comecei a dizer-lhe -, sessenta e cinco anos já lá vão passados, definitivamente passados. Como podes continuar aí em cima? Já disseste a todos aquilo que pretendias dizer, todos nós te compreendemos. A tua força de vontade foi uma força de vontade indómita e grande. Sempre a mantiveste até ao fim. Podes descer agora. Até mesmo para os que passam uma vida no mar, chega uma idade em que ficam a viver em terra. Mas qual! Fez-me sinal de que não, com um gesto. Já quase não falava."
"Assim desapareceu Cosimo, e nem tão-pouco nos deu a satisfação de voltar a terra, mesmo morto. No túmulo da família há uma estrela e uma incrição: Cosimo Piovasco de Rondó - Viveu sobre as árvores - Amou sempre a terra - Subiu para o Céu."
Italo Calvino, "O Barão Trepador"

Neste livro, a imaginação supera a realidade! Ficamos fascinados com a vida do Barão Cosimo Piovasco de Rondó, contada pelo seu irmão, Biaggio Piovasco de Rondó. O barão passa 65 anos da sua vida em cima das árvores, sem nunca pôr os pés no chão. Ainda jovem, decide contrariar a família e isolar-se em cima de uma árvore. Aí vive muitas aventuras, passando de umas árvores para outras. Conhecemos o seu profundo humanismo e as reflexões que faz do mundo que o rodeia. Estamos perante uma sátira sobre a sociedade ideal. A sua revolta contra o modo de viver da época, leva-o a libertar-se da monotonia terrestre, iniciando entre troncos e folhagens uma existência marcada por aventuras extraordinárias, levando-nos com ele a situações nunca antes imaginadas. Um livro fantástico, por vezes dramático, por vezes divertido, que nos leva a reflectir sobre o que está certo e o que está errado. Eu li e gostei. É mágico!!!
“Solarizem”

OK “miúdos”, convenceram-me!!!
...Hoje não é dia para ficar em casa a ler, nem no pc…

nem para ficar a ver o dia pela janela!

Está sol!!! É dia de aproveitar e sair! Estacionar o carro… Andar a pé!

Aproveitem que ainda têm umas horas de sol!





terça-feira, fevereiro 10, 2009

Pipas de Massa



“Se partilhares o que tens e puseres os outros em primeiro lugar,

encontrarás a felicidade.”

A democracia e o passatempo...


Auto-foto

(…)Hoje em dia ninguém tem em tão alto valor a palavra escrita como os regimes policiais.(…) Que dado permite distinguir melhor as nações em que a literatura goza de verdadeira consideração do que as verbas aplicadas no seu controle e repressão? Onde é objecto de tais atenções, a literatura adquire uma autoridade extraordinária, inimaginável nos países onde a deixam vegetar como um passatempo inócuo e sem riscos.(…)
Ítalo Calvino, Se numa noite de Inverno um viajante, Col. Mil folhas

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Negação

Não digas, nunca mais,
não abraces a negação,
vive agora, já,
não repudies jamais
o momento, o dia, a acção.
Não intentes contra o tempo,
pois perderás a razão.
Que fazer, porém?
Aceitar mais este dia,
acreditar no teu dar
e no receber, que ficou
algures, no tempo que acabou.
É tempo de outro tempo,
de continuar a dar,
de esperar receber,
de abraçar com prazer,
quem, por nós,
nos instiga
a continuar a viver,
a dar,
e às vezes,
receber!


maria eduarda

“Conversas com Deus”

“A primeira coisa a entender sobre o universo é que não há estados bons nem maus. São apenas isso, estados. Portanto, deixa de fazer juízos de valor.
A segunda coisa a saber é que todos os estados são temporários. Nada é imutável, nada permanece estático. A forma como uma coisa muda depende de ti”
“A alma deixa ficar muito claro que o seu propósito é a evolução. É esse o seu único propósito – e o seu íntimo propósito. Não tem nada a ver com as realizações do corpo ou com o desenvolvimento da mente. Para a alma, nada disso tem importância.”
“O que a Iluminação te pede para fazer é saber algo que não tenhas experienciado e, por conseguinte, experienciá-lo. O saber abre a porta à experiência – e tu pensas que é ao contrário.”
“O objectivo da vida não é chegar a um lado qualquer – é saber que já lá estás e sempre estiveste. Estás, sempre e eternamente, no momento de pura criação. O objectivo da vida é, portanto, criar – quem e aquilo que és e depois experienciá-lo.”
“O que está a acontecer é apenas o que está a acontecer. A forma como vocês encaram isso é outra questão.”
“Há acontecimentos que vocês provocam voluntariamente e outros que atraem para vós – de uma forma mais ou menos inconsciente.”
“Estou certo que são os vossos juízos que vos privam da alegria , que são as vossas expectativas que vos tornam infelizes.”
"Não devemos criar expectativas, mas aceitar o que a vida nos dá como se fosse o melhor que nos pudesse acontecer."
"Somos os únicos responsáveis por aquilo que nos acontece."
Neale Donald Walsch, excertos do livro 1

INSCRIÇÃO


Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto ao mar

O POEMA


O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê
O poema alguém o dirá
Às searas
Sua passagem se confundirá
Com o rumor do mar com o passar do vento
O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento
No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas
(Ó antigas ó longas Eternas tardes lisas)
Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas
E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo
Sophia de Mello Breyner

As últimas vontades

Deixa ficar a flor,
a morte na gaveta,
o tempo no degrau.
Conheces o degrau:
o sétimo degrau
depois do patamar;
o que range ao passares;
o que foi esconderijo
do maço de cigarros
fumado às escondidas...
Deixa ficar a flor.
E nem murmures.
Deixa o tempo no degrau,
a morte na gaveta.
Conheces a gaveta:
a primeira da esquerda,
que se mantém fechada.
Quem atirou a chave
pela janela fora?
Na batalha do ódio,
destruam-se,
fechados, sem tréguas,
os retratos!
Deixa ficar a flor.
A flor?
Não a conheces?
Bem sei.
Nem eu.
Ninguém.
Deixa ficar a flor.
Não digas nada.
Ouve. Não ouves o degrau?
Quem sobe agora a escada?
Como vem devagar!
Tão devagar que sobe...
Não digas nada.
Ouve: é com certeza alguém,
alguém que traz a chave.
Deixa ficar a flor.

David Mourão-Ferreira

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

A história do Hidroavião

Em «A história de um hidroavião», A. Lobo Antunes semeia o néctar da lucidez, de como a vida dos cruéis obstáculos pode ser tão bem contada. Raízes de África (haverá raíz mais instintiva na sua prosa?) numa Lisboa demasiado descolorada pela vontade de fuga, de regresso, no direito da árvore voltar à raiz, do homem cego a tactear a luz do útero. Numa Lisboa que nunca pertence a quem não a deseja. E, no caso extremo da personagem cega que ilumina o texto, a quem nem a conseguiu ver.
A história do Hidroavião é uma crónica maior – por ser (também) para os mais pequenos, desconfio. É a síntese implacável da incapacidade humana em adaptar-se (conformar-se) a destinos afastados do coração, da trágica obsessão por nunca desistir, mesmo que tal signifique perder-se no azul, agarrado a um balão de sonho.
Lobo Antunes ajustou a sua sensibilidade às ventoinhas de um hidroavião imprevisível. Vitorino, o indomável cantautor, deu tons, linhas e cor à imprevisibilidade do aparelho. O hidroavião e a sua história são a prova irrefutável de que qualquer carcaça, desde que sonhadora, tem como génese um vírus de voo.


(texto de Sílvio Mendes, 2006)

Reflexões sobre arte

A arte é apenas e simplesmente a expressão de uma emoção. Um grito, uma simples carta pertencem um à arte de cantar, à literatura a outra, inevitavelmente.
O próprio gesto é artístico segundo é ou não interpretação de uma emoção. Porque no gesto há o fim do gesto e a expressão desse fim. Uma cousa reporta-se à vontade, outra à emoção. Elegância ou deselegância de um gesto significam conformidade ou não-conformidade com a emoção que exprime. Assim uma estátua da dor é a fixação dos gestos que mostram a dor - e será tanto mais bela quanto mais justa e exactamente representar por esses gestos a emoção da dor, quanto mais adaptados em tudo forem essses gestos ao mostrar essa emoção.

Fernando Pessoa

Este texto, presumivelmente de 1910, tem a antecedê-lo a indicação H of a D ou Estética. Deverão as iniciais referir-se ao livro sobre a Ditadura de João Franco(History of a Dictatorship), pois que era um dos projectos do autor e de que este escrito constitui decerto um fragmento.

segunda-feira, fevereiro 02, 2009


"A vida é a infância da nossa imortalidade."



Goethe

domingo, fevereiro 01, 2009

Indolência

A brisa ganhou velocidade,
e, na sua leveza,
abandonou a suavidade.
Cavalgou repentinamente
no vento forte, gélido,
espalhou-se qual semente
atirada, desmesuradamente.
Não aquece a alma,
aperta-a, atropela-a,
em censura,
numa amálgama de sopros,
numa vontade fria.
Tapo-a,envolvo-a, aqueço-a,
nesta manhã,de quente, vazia.
Aguardo pela tarde,
talvez morna,talvez breve.
Então, soltarei a brisa
aprisionada,
em mim acalentada.

maria eduarda