Páginas

sábado, junho 19, 2010

ANJO

Um anjo apanha estrelas, devagar,
Uma a uma, grão a grão...
Leva já a cesta quase cheia e, sem notar,
Desvia-se do caminho e do luar,
Levado, assim, por ignota mão.

Quem o olha não consegue imaginar
Figura mais bela, mais celeste...
E o pequeno anjo continua a caminhar,
Com estrelas na cesta, nos olhos, e, sem notar,
Vai desbravando, assim, a paisagem agreste.

As asas de prata, descaídas, rutilantes,
Vibram golpes de cor e harmonia,
E, de quando em quando, por breves instantes,
Uma borboleta crê que os diamantes
Das suas penas são o sol e a luz do dia.

O anjinho adormece, cansado da caminhada,
Banhado pela luz brilhante do luar...
Adormece levemente, e a terra e a estrada
São, de repente, a mais fofa almofada
Que Deus lhe envia para o confortar.

Sofia Pedro

4 comentários:

solange disse...

Que bonito, Sofia!!! :-))

maria eduarda disse...

Também gostei! ;))))

solange disse...

Sofia, este teu poema fez-me lembrar um outro, publicado aqui, há mais de um ano, pela Dinamene (está no tema "dedico").
Como calculo que n o conheças, aqui vai, p ti. Se procurares no blog, encontrarás c a bela foto que o ilustrou.
Um bjo p ti.

"As roupas dos ANJOS"

NUM DIA ENCOBERTO, SEM CHUVA,
ESTAVA A PASSAR NUMA RUA,
QUANDO DE REPENTE OLHEI PARA O CÉU E VI,
SUSPENSAS NUM ESTENDAL, AS ROUPAS DOS ANJOS…
NÃO ERAM MUITAS, NEM TINHAM PLUMAS, NEM BRILHANTES!
AS CORES ERAM ESCURAS, DESBOTADAS,
ALGUMAS PARECIAM REMENDADAS….
ESVOAÇAVAM VACILANTES PARA CÁ E PARA LÁ….
NUMA DANÇA DE EMBALAR, NO CÉU CARREGADO DE NUVENS!

REGRESSEI A CASA PENSANDO QUE,
AFINAL, OS ANJOS VESTIAM-SE SIMPLES,
EM PURO ALGODÃO,
TINHAM ROUPAS DE TRABALHO, RELAVADAS E ESFREGADAS,
SEM PLUMAS, NEM BRILHANTES!

NOUTRO DIA,
PASSEANDO AO CALOR DO SOL,
PASSEI, NOVAMENTE, NAQUELA RUA
E VI ENTÃO, ATÓNITA, A SILHUETA DE UM ANJO,
CONTORNADO PELO SOL QUE O ILUMINAVA,
PENDURANDO, NUM BRILHO DELICADO, ROUPAS NO ESTENDAL!

ACENOU-ME COM A MÃO E PERPLEXA ME APROXIMEI,
VERIFICANDO QUE O ANJO NÃO TINHA ASAS E
TINHA OS PÉS BEM ASSENTES NUM TERRAÇO ALTO,
ONDE SE PRENDIA O ESTENDAL.

RI-ME ESTUPEFACTA E DUVIDEI SE SERIA HOMEM OU SER CELESTIAL…
GRISALHOS OS CABELOS, BRANCA, BRANCA A CURTA BARBA,
A PELE MUITO ENRUGADA,
NUM OLHAR TREMELICANTE, QUASE NUM PISCAR DE OLHO,
DESCOBRI, JUNTO ÀS PESTANAS, UM BRILHO ESPECIAL…
TALVEZ UM SINAL!?
UMA LÁGRIMA CRISTALIZADA, PROVANDO QUE OS ANJOS SÃO FEITOS
DE CHOROS, DE SUORES, DE RISOS E CANSAÇOS, DE TRABALHO,

DE VIDA, DE VIDA VIVIDA!

Dinamene

Sofia disse...

Obrigada pelas belas palavras. Este poema foi inspirado num quadro de Almada Negreiros, cujo nome não me lembro agora, mas que é um anjinho a apanhar estrelas do chão. Obrigada por te mostrado este belo poema de Dinamene, Solange. É realmente muito belo e revela a perfeição que se pode esconder dentro de cada ser humano, na mais pequena coisa que faz. Afinal, somos nós os anjos na terra.
Bjs grandes!