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sábado, março 13, 2010

Expressões e Palavras da nossa terra

http://www.camacupa.com/dnn/Gentes/Cultura/ExpressõesePalavras/tabid/432/Default.aspx

1 comentário:

www.angeloochoa.net disse...

...a propósito, Eduarda:
...de email recebido agora de meu afilhado Zeferino Ferreira de Alfândega da Fé:
«Se me dissessem - define património - ficaria certamente sem pio nem improviso, ou então rodopiaria o miolo de forma tão desconcertante
até assentar raciocínio numa ideia já arquivada na memória das minhas definições. Provavelmente diria : - O património é tudo o que resta
dum povo, nação ou religião, desde o imemorável até ao último dia do agora. Estava dito. Inexplicavelmente pronunciado ou como se a
chancela da censura recaísse novamente em forma de borrão sobre o papel do criativo. Mas não. O património é muito mais que uma
simples construção de palavras bonitas e adjectivos estoicamente colocados. O património somos nós, a cultura que nos moldou, o pão que comemos na infância, a reminiscência da origem, as ruas que pisamos, o vinho que bebemos, o assobiar de cada alvorada, o tecto e a telha que nos cobriram, o cheiro a mosto e aguardente, a luz do azeite, a torrada do bagaço, todos os que morreram, a recordação eterna, os bois suados, as malhadas, o incansável alecrim em cada Primavera…tudo, no passado e no agora, no sempre de cada dia, na nossa forma de amar a terra, na força dum abraço ao amigo. O azeite é sagrado de povo, sem metafísica, misticismo ou dogma. A oliveira é património puro e o azeite é a cultura. O lagar del’rei ou republicano é o mesmo suor cintilante do oiro verde em cima da água fumegante. A cultura do azeite que foi a nossa vida ainda tem muito pão para matar a fome. Erguemo-la. Em livros, em teatros, em poemas, em cânticos, em luz, em festa ao mais puro e fino dos óleos milenares. Virgem, extra virgem, inexplorado, incansável, a caminho de Santiago ou em Jeruzalém, no prato do rico ou no pão do pobre, na farmácia em Hamburgo ou por excelência em Haia, o seu paladar divino e purificador é como um piano a teclar uma sinfonia eterna. Cultura é o monte, o aroma florido, as oliveiras. Escreva-se teatro. Palco de giestas, Garcia Lorca, verde que te quiero verde. Ao longe o horizonte escurece na tarde. O silêncio da cultura. Conhecer as pedras, saber o nome das ervas, inventar alegria, correr em liberdade, gostar da chuva, amar a água como paixão, aqui. Cultura é o sim e o não, afirmar e negar, raios de claridade opostos. A cultura inventa-se nas palavras, escreve-se na imaginação, repete-se em livros, conta-se em romances, anima-se
em cinema, bonecos de luz, Romeu Correia. Depois canta-se, povo que lavas no rio, receita para fazer um herói, Reinaldo Ferreira.
Ou então cala-se num silêncio filosófico, escuta Zé Ninguém, William Reicht, Arquipélago de Gulag. Entre o forte e o débil a lei
liberta e a liberdade oprime, La Cordaire. Contra senso. Contraponto musical em Viena, filarmónica de Revelhe, realejo de pastor
ou concerto dos Depeche Mode. Prefiro realejo e ovelhas, soprar e balir, numa sinfonia que os outros não ouvem. A cultura agora.
A cultura, sim. Honrar o passado, proteger a natureza. O modernismo é inventar mais pão e distribui-lo por todas as bocas. Cala-te.
Refugia-te no silêncio porque a tua voz é demasiado auditiva. A cultura. O pão dos intelectuais, a demência dos incompreendidos,
o orgasmo cerebral dos palermas, o silêncio dos sábios, o coito do silêncio. A cultura é salada de azedas, apanhá-la, limpá-la
dos lagartos, cortá-la e comê-la com cebola, azeitonas e azeite. Sentir devoção. Infância e qualquer coisa com pão. Cultura é não
esquecer. Amar o monte. Sentir o terreno pisado pelos nossos pés. Correr em liberdade. Imaginar-se pássaro azul e confundir-se
no firmamento. A festa do azeite, em torradas e batatas cozidas. Pão com azeitonas. Sempre.
Zeferino»
postado em meu «blog»
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