fotografia de maria eduarda
****
Poema 1
*
tenho nos olhos acesas
as estrelas que lá colocaste
numa outra Primavera
era Dezembro.
hoje
em Março
no tempo e no espaço
a Primavera é real
porque de andorinhas
tem sido feito
o nosso percurso.
espero que a vida
não nos gele as asas
num golpe de vento polar.
Em@
Poema 2
*
Eu sei...
o luar chegará
num lago de feitiços
onde os meus olhos
banharão os sonhos.
Agora...
o sol ainda é festa
e a primavera rainha.
O meu tempo...
será outro.
(Graça Arrimar, 21-03-2010)
*
Poema 3
no meu céu...
Os céus cinzentos
Fazem-me aconchegar
No calor dos corações
E pintar a saudade das estrelas
Os céus cinzentos
Fazem-me procurar a musa dos céus
E espelhar-me na sua candura
Os céus cinzentos
Fazem-me volver as marés
E escrever na areia molhada
Os céus que fazem cantar
A voz mais sombria
Onde apenas a luz atrevida
Se solta em plena noite a sussurrar
Andy
*
Poema 4
Quando a noite se levantou havia orvalho feito poema em cada pétala aguardada; em sua cama de seda e alecrim aconchegou a alma em busca das respostas do poeta… poeta vadio, arredio que pelas notas do luar transportou néctares fecundos de esperança… servidos como um banquete nos cálices feitos poema. Amanhã … depois do luar, nova poesia irá crescer e outros prados conquistar…
Aida Beirão
*
Poema 5
O que dizer
quando o dizer
não é bastante ?
Indaga-se a alma
no silêncio do olhar
e diz-se tudo
o que está aquém e além
do nomear
jad
*
Poema 6
Venho de longe,
deixei o sorriso escarlate,
na acácia ao rubro,
ao fundo do meu quintal.
Vesti um outro sorriso,
decalcado do primeiro,
não me deixa, não o deixo,
até ao dia esperado,
quando o resgatar,
e sorrir então inteira,
no sonho de lá estar.
.
Dudú
(maria eduarda)
*
Poema 7
Camuflagem
Posso ser
Uma flor (que cheiras com entusiasmo),
Uma nuvem (andando apressada),
Uma gota (que cai sobre ti),
Um pensamento (perdido no espaço),
Um livro (que guardas na estante),
Um dedo (na direcção do horizonte),
Uma pestana (que te concede o desejo),
Uma chave (que abre todas as portas),
Posso ser o que quiser…
Porque eu sou parte de tudo
E tudo faz parte de mim..
Flávia Teodorico.
*
Poema 8
O tempo não pára
e nós continuamos
o nosso caminho
alheios a tudo aquilo
que ainda está por vir.
Embora tão perto,
somos tão distantes
uns dos outros…
Então,
estendemos a mão,
numa tentativa frustrada
de mostrar sorrisos e lágrimas
que as nossas máscaras não deixam ver.
Despreocupados
e indiferentes,
caímos nas malhas do tempo
e rodamos conforme o vento
quer que rodemos.
Felizes…
E tristes…
Nesta nossa teia,
tão frágil,
mas ao mesmo tempo
capaz de suportar tanto.
Flávia Teodorico.
*
Poema 9
Resgatei
o meu sorriso,
transformei-o
em gargalhadas
límpidas,
espampanantes,
sem idade.
E dancei,
dancei contigo,
um tango excêntrico,
sob uma amendoeira
em flor..
Anabela Magalhães
*
Poema 10
A noite profunda, infinita vibra:
sozinha, ferida, dilacerada.
Mas chegará a ver sua ferida cicatrizar.
E eis que o sol voa, nasce.
Vira um crematório para as trevas,
assim como os anos para os sentimentos.
E o dia está claro.
Mas na sua luz intensa ficam espalhadas sombras,
ossos da escuridão.
Assim permanece a dor
mesmo nas esperanças mais lindas.
E depois o ocaso persegue e junta as sombras,
para restabelecer as trevas
no circular da vida...
O verdadeiro medo está no esperar
e na nossa idéia de agonia, que cedo ou tarde acontecerá.
Há uma ponte que liga as partículas do nosso corpo
aos inatingíveis espaços siderais: o movimento infinito.
E a velocidade é o caminho que nos funde
com tudo.
Mas algum dia o universo desfalecerá
e voltarão para trás, infinitamente em si, os movimentos
e a matéria, a nossa vontade cega.
E até a escuridão se apagará.
.
©Mari Amorim
*
Poema 11
Liberation
I can see it coming,
I can see it!
It comes fast, so fast
The Dark…
The abyss lies before me
It is black, dark, and terrible!
I cannot escape it!
I cannot evade it!
It engulfs me in its darkness…
I am consumed…
I am destroyed!
Yet defeat,
I accept it not!
I fight again, and again
I scream, I yell, I cry!
I put all my strength forward…
And the Dark begins to waver…
It fears the power of life
The will of life!
Like a phoenix,
I am reborn!
I’m free from the grasp of the Dark!
My yearn for the Light is greater,
And it cannot be stopped!
I shall be free!
I will be free!
I am free!
Be gone you! Dark!
Be gone!
Elenáro
*
Poema 12
"Deixa-me alvorecer o teu delírio,
Entregar-te a carta de recomendação
Para que entres no céu.
Eu sei o segredo da tua doçura
Tu sabes onde em mim buscar o mel.
Deixa-me delirar no teu alvorecer,
Fazer contigo a poesia
Com que entraremos no céu."
.
Luís F. de A. Gomes
*
Poema 13
Salmo:
Fecha-se o livro, solta-se louvor:
Cheio é o Orbe das Tuas maravilhas,
Santo, Imenso e Bom Senhor.
Criaturas aladas, levai meu ai.
Névoas, neblinas, regatos, ribeiras,
anjos, e meninos, bendizei.
Mártires d’amor, cantai.
Poetas, aedos, bailarins expressem
minuciosas belezas inumeráveis.
Seja desmesuradamente prolongado
o saltério aOs Celestes Prodígios.
Arquitectos, artistas, dramaturgos, cinéfilos,
informáticos, jornalistas Te proclamem.
Urzes, giestas, estevas, tílias, margaridas, lilases,
fremi a única alegria.
Aragens, brisas, fogueiras anunciem O Pleno.
Relâmpagos, raios, tempestades, gritai.
Répteis, peixes, batráquios, fugitivos animais, louvai.
Luz matinal, aclama O Que Em Ti.
Pedras, terras, orlas, explodi um canto novo.
Flores, verduras e florestas, mares e nuvens, esplendei.
Luzeiros, astros, sóis, estrelas, clareiras e galáxias, ecoai.
Abscôndito, em Teu Nome houvemos força.
Onde haja torpor nos fira incólume Teu sorriso.
A que resulte, para o peregrino, renascido amor.
A que não esqueça Lázaro:
Tenha abertas as portas da choupana.
Filho de David, reencontra as reses desgarradas.
Traz a teu redil quantos Te magoam.
Teu entranhado Enlevo seja comum bênção.
Como algodão hidrófilo, Teu jugo;
pacientíssima, até aos fins,
Tua expectativa quanto a cada um.
Entreguemos na raiz da Cruz tribulações:
Provê, a todos, o melhor bem:
A rodos derrames consolação.
P’los agradabilíssimos Átrios,
Te elevemos diferente Louvor.
Bebamos Vaso Pleno.
AjudasTe-nos quando o Egipto sofremos;
saciasTe-nos com A Terra Prometida.
EndireitasTe-nos os molestos ossos;
guardasTe-nos
no coração
do coração.
.
Angelo Ochoa,
Simples Orações,
in
Sonhadas Palavras,
2ª Edição
(...)
*
Poema 14
Fogo Nu
Trago as palavras na voz
sem máscaras
sem sinónimos
muito menos antónimos
apenas signos surdos.
dobram-se sobre mim
num bailado lascivo
que percorre as veias
(que diagonal é aquela
que acende o rastilho das nuvens?),
os seus passos
são linhas curvas riscando a areia
num regresso a um mar
onde o fogo e a tempestade
são apenas presságio.
aguardo que a maré regresse às mãos
e que a água inunde a folha;
na rebentação do corpo
redescubro o que perdi
e perco o que não descobri;
na rebentação da tinta
toco a poesia.
Jorge Pimenta
*
Poema 15
.
Retrato
.
No teu retrato a fragrância
de um presente já perdido...
no passado.
No teu retrato a distância
de um futuro já sofrido...
no presente.
No teu retrato esta ânsia
de um passado reflectido...
no futuro.
No teu retrato a relevância
Do fulgor comprometido...
na relatividade do tempo.
Miguel Loureiro