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sexta-feira, julho 31, 2009

Enfermidade


Sei-te longe,
naquela distância
entre saber-me
neste chão,
e pressupor-te
nalguma razão.

Estar enferma
nesta libertação
que me cerca,
me tolhe,
me impede
de seguir,
me recolhe
na hesitação.

maria eduarda

“Respiro”

Respiro,
Se me inspiro no calor de beijos redondos
E expiro ternura morna, alegria.

Respiro,
Se me inspiro nos sorrisos dos outros
E expiro risos em mim espelhados.

Respiro,
Se me inspiro nas crianças a brincar
E expiro gestos infantis e sonhos de arco-íris.

Respiro,
Se me inspiro descalça na areia da praia
E expiro a certeza de ser parte do “Oceano”.

Respiro,
Se me inspiro no toque morno do sol dourado do entardecer
E expiro um profundo entusiasmo por viver.

Respiro,
Se me inspiro num belo texto, verdadeiro,
E expiro palavras que são chão e fazem caminho.

Respiro,
Porque me inspiro de vida e vida expiro!
Inspiro-me de doce e salgado, de luz e de sombras, e vida expiro...

Com a guerra,
com a fome,
com a dor e o desespero,
com a poluição, a exploração,
com o vazio de espírito,
com o egocentrismo, a futilidade, o materialismo,
não me inspiro,
não expiro,
não respiro...
Suspiro!

Dinamene
Inspirada num post da Lita…
O que (mais) me inspira…

...É o frio e o calor, o dia e a noite, o sol e a lua, os dias felizes e os dias difíceis (que nos fazem crescer), o mar e areia, as crianças e os seus risos, as pessoas que sonham, lutam e acreditam com esperança, os amigos, a família, os meus filhos, todas as formas de amor, os animais e as plantas, a terra, a chuva, o vento, o fogo… Inspiram-me certas palavras, muitas poesias, algumas músicas, as cores, todos os tons, alguns sons (as cigarras em noites estreladas, os risos, o cantar dos pássaros, as ondas do mar…), os cheiros (da manhã, do café, da relva acabada de cortar, da terra molhada, do pescocinho do Artur, do cabelo da Luna,…) , os sabores (do beijo, da fruta, do mar, da água e da cerveja gelada em dia de calor…) as texturas ( o toque da pele, o pelo do Pingo, a areia entre os dedos, o gelo, o pão quente, o barro,…)….

quinta-feira, julho 30, 2009


«Só o que sonhamos é o que verdadeiramente somos, porque o mais, por estar realizado, pertence ao mundo e a toda a gente.»



Fernando Pessoa “O livro do desassossego”

Parabéns Vasco

Pela primeira vez longe,
redobro a vontade
de um desejo forte
de sucesso,
numa nova etapa
da tua vida!

maria eduarda
(parabéns Filho!)

terça-feira, julho 28, 2009

Como se constrói o amor?

Como se constrói o amor?
Com pequenos gestos,
doces desejos,
muita partilha
e enorme tolerância!

Uma vida é
uma soma de momentos,
uns felizes, com esperança,
outros preocupantes, com certezas.
E assim se constrói o amor.

Sonhar, acreditando,
Esperar, concretizando,
Questionar, aceitando,
Falar, ouvindo,
Construindo em cada dia,
o dia de amanhã.

segunda-feira, julho 27, 2009

Para quê o Viajar?

Porque, enfim, para quê o viajar? Todos os filósofos e todos os donos de hotéis são unânimes em dizer que se viaja para ver o que há de interessante no mundo. Ora, no mundo, só há de interessante, verdadeiramente, o Homem e a Vida. Mas para gozar a vida duma sociedade, é necessário fazer parte dela e ser um actor no seu drama: de outro modo, uma sociedade não é mais do que uma sucessão de figuras sem significação que nos passa diante dos olhos: Quando falo de sociedade não me refiro àquela que vem no High Life do Ilustrado: refiro-me às Sociedades, no plural e com S grande. Já o bom Flaubert falava da «melancolia das multidões estranhas». Essa melancolia é a mesma que se sente em vir de longe, para olhar para uma porta fechada. Quem for de Marco de Canavezes e queira gozar a vida, que fique em Marco de Canavezes, na Assembleia, na botica, e nos chás das Macedos! Se vier a Hyde Park ou aos Champs Elysées, vê só a Vida por fora, nos seus contornos exteriores. É como estar a mirar as paredes escuras de um teatro, onde se está a passar, por dentro e em grande luz, uma interessante comédia. Por isso, nós, os Portugueses, pessoas infinitamente filosóficas, chamamos ao viajar: andar por fora. Expressão perfeita e profunda. Andar por fora, que melancolia, que desconsolação, quando estar por dentro é que é o interessante! Dir-me-ão os donos dos hotéis e as companhias de caminhos de ferro que é necessário ir ver a Civilização. De acordo. Mas o que é a civilização de Paris? É o romance de Zola, e a descoberta de Pasteur, e o bom dito de Rochefort: e isso tudo vai ter connosco, onde quer que estejamos, pelo paquete. A melhor maneira de gozar a civilização, é ao canto do lume, de chinelas. Dir-me-ão ainda os donos dos hotéis que se devem admirar os monumentos e que Notre-Dame e Westminster são um elemento de educação. De acordo, estalajadeiros, de acordo! Para isso se inventou a fotografia. E, em resumo, meu querido Bernardo, grande foi a tua sabedoria em não querer andar por fora.

Eça de Queirós, in "Correspondência"

domingo, julho 26, 2009

ABAT-JOUR

From Dusk like Candl...
Timothy Sorsdahl


A lâmpada acesa
(Outrem a acendeu)
Baixa uma beleza
Sobre o chão que é meu

No quarto deserto
Salvo o meu sonhar,
Faz no chão incerto
Um círculo a ondear.

E entre a sombra e a luz
Que oscila no chão
Meu sonho conduz
Minha inatenção.

Bem sei... Era dia
E longe de aqui...
Quando me sorria
O que nunca vi!

E no quarto silente
Com a luz a ondear
Deixei vagamente
Até de sonhar...

Fernando Pessoa 28-2-1929

Parabéns Sofia

Durante anos

fui a tua luz

sempre incidente,

que te guiava,

resplandecente.


Hoje és tu,

a luz, em mim,

quando te noto

feliz, sorridente.

(Parabéns filha!)
maria eduarda

quinta-feira, julho 23, 2009

Realidade

Sim, passava aqui frequentemente há vinte anos...
Nada está mudado - ou, pelo menos, não dou por isto - Nesta localidade da cidade...

Há vinte!...
O que eu era então! Ora, era outro...
Há vinte anos, e as casas não sabem de nada...
Vinte anos inúteis (e sei lá se foram!
Sei eu o que é útil ou inútil?)...
Vinte anos perdidos (mas o que seria ganhá-los?)

Tento reconstruir na minha imaginação
Quem eu era e como era quando por aqui passava
Há vinte anos...
Não me lembro, não me posso lembrar.

O outro que aqui passava então,
Se existisse hoje, talvez se lembrasse...
Há tanta personagem de romance que conheço
melhor por dentro
De que esse eu-mesmo que há vinte anos
passava aqui!

Sim, o mistério do tempo.
Sim, o não se saber nada,
Sim, o termos todos nascido a bordo.
Sim, sim, tudo isso, ou outra forma de o dizer...
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Houve um dia em que subi esta rua pensando
alegremente no futuro,
Pois Deus dá licença que o que não existe seja
fortemente iluminado,
Hoje, descendo esta rua, nem no passado penso alegremente.
Quando muito, nem penso...
Tenho a impressão que as duas figuras se cruzaram
na rua, nem então nem agora,
Mas aqui mesmo, sem tempo a perturbar o cruzamento.

Olhamos indiferentemente um para o outro.
E eu o antigo lá subi a rua imaginando um futuro girassol
E eu o moderno lá desci a rua não imaginando nada.
Talvez isso realmente se desse...
Verdadeiramente se desse...
Sim, carnalmente se desse...

Sim, talvez...

Álvaro de Campos

quarta-feira, julho 22, 2009

Anseio

Premedita o ensaio,
coloca os galardões,
aqueles que sustentas,
e ninguém os vê.
Aligeira o passo,
roça a suavidade,
tempera-te de ternura.
Aguarda pelo reparo,
intenta a audácia,
ladeia o incomun,
vive,
respira,
solta-te!

maria eduarda

Aprender a Ver

Aprender a ver - habituar os olhos à calma, à paciência, ao deixar-que-as-coisas-se-aproximem-de-nós; aprender a adiar o juízo, a rodear e a abarcar o caso particular a partir de todos os lados. Este é o primeiro ensino preliminar para o espírito: não reagir imediatamente a um estímulo, mas sim controlar os instintos que põem obstáculos, que isolam.
Aprender a ver, tal como eu o entendo, é já quase o que o modo afilosófico de falar denomina vontade forte: o essencial nisto é, precisamente, o poder não «querer», o poder diferir a decisão. Toda a não-espiritualidade, toda a vulgaridade descansa na incapacidade de opor resistência a um estímulo — tem que se reagir, seguem-se todos os impulsos.
Em muitos casos esse ter que é já doença, decadência, sintoma de esgotamento, — quase tudo o que a rudeza afilosófica designa com o nome de «vício» é apenas essa incapacidade fisiológica de não reagir.
Uma aplicação prática do ter-aprendido-a-ver: enquanto discente em geral, chegar-se-á a ser lento, desconfiado, teimoso. Ao estranho, ao novo de qualquer espécie, deixar-se-á aproximar-se com uma tranquilidade hostil, — afasta-se dele a mão.
O ter abertas todas as portas, o servil abrir a boca perante todo o facto pequeno, o estar sempre disposto a meter-se, a lançar-se de um salto para dentro de outros homens e outras coisas, em suma, a famosa «objectividade» moderna é mau gosto, é algo não aristocrático par excellence.
Friedrich Nietzsche, in "Crepúsculo dos Ídolos"

terça-feira, julho 21, 2009

Em busca

Procurei-te

na ausência.

Encontrei-te

no silêncio

do pensamento.

Pudémos olhar-nos,

falar-nos,

enquanto durou

esse silêncio.

Perdi-te,

na presença!

maria eduarda

domingo, julho 19, 2009

Ainda, as asas

Aninhei dois passarinhos
recém-nascidos, hesitantes,
vi-os nas suas asas,
erguerem-se triunfantes,
aligeirarem-se ao vento,
enfrentarem tempestades.

Por perto, orientei-os,
aconcheguei-os nos braços,
Do colo, fiz-lhes morada.

Um dia, o mais forte
olhou-me pronto, seguro,
e bateu as suas asinhas.
O outro, o mais novito,
aconchegou-se no ninho,
mas, de quando em vez,
as suas asitas brilhantes
batem na leveza do voo.

Um dia, essas outras asas
baterão com mais força,
e partirão também.
O ninho de então, desfi-lo,
já lá não habitam
os seres indefesos.
Nas suas asas,
dobram o vento,
rasam a tristeza,
voam na alegria,
também na incerteza,
mas voam...

Continuo por aqui,
à espera de um voo
rasante, no meu aconchego.

maria eduarda

sábado, julho 18, 2009



«Paciência e nada de pressas fazem mais do que a força e a ira.»

La Fontaine, Jean de

quinta-feira, julho 16, 2009

Nova Janela


Desculpem-me a “ausência”, não é por mal…. Falta-me tempo para tudo o que gosto, inclusive para “ganhar” um bocado do meu tempo aqui, convosco… Tenho saudades vossas... Leio-vos à pressa! Mas estou bem...

É que abri uma nova janela no meu percurso profissional…
E vejam lá se não são belas as vistas sobre Lisboa, que se tem do 8º andar onde fica o laboratório de investigação de onde me deslumbro com olhares ao Tejo ….




segunda-feira, julho 13, 2009

A tua voz fala amorosa...

The Kiss
Gustav Klimt

A tua voz fala amorosa...
Tão meiga fala que me esquece
Que é falsa a sua branda prosa.
Meu coração desentristece.

Sim, como a música sugere
O que na música não 'stá,
Meu coração nada mais quer
Que a melodia que em ti há...

Amar-me? Quem o crera? Fala
na mesma voz que nada diz
Se és uma música que embala.
Eu ouço, ignoro, e sou feliz.

Nem há felicidade falsa,
enquanto dura é verdadeira.
Que importa o que a verdade exalça
Se sou feliz desta maneira?

Fernando Pessoa 22-1-1929

sábado, julho 11, 2009

Estar

No espaço que me move,
deixo marcas em registo.
Para uns, não sou,
para outros, existo!

E neste tocar, partilhar,
enriqueço-me, abasteço-me,
de vidas, de saberes,
de palavras dirigidas,
de gestos afáveis,
de abraçar a vida,
que vibra e me pede,
continuação na ida!

maria eduarda

O livro tibetano da vida e da morte

"Meditar é trazer a mente de volta a casa e isso é conseguido através da prática da tomada de consciência.

Uma vez, uma mulher idosa foi ter com Buda e perguntou-lhe como meditar. Buda disse-lhe que tomasse consciência de todos os movimentos das suas mãos quando tirava água do poço, porque sabia que se ela assim o fizesse, em breve se encontraria naquele estado de atenta e espaçosa calma, que é a meditação.

A prática da tomada de consciência, trazendo de volta a mente dispersa e, portanto, focando também os diferentes aspectos do nosso ser, é denominada "permanência calma" e leva a cabo três coisas: em primeiro lugar, todos os aspectos fragmentados de nós mesmos que estiveram em guerra uns com os outros arrumam-se, dissolvem-se e tornam-se amigos, e é essa arrumação que nós começamos a compreender um pouco melhor e por vezes, até temos relances da radiância da nossa natureza fundamental.

Em segundo lugar, a prática desarma a nossa negatividade, a agressão e as emoções turbulentas, que podem ter acumulado grande poder ao longo de muitos anos de vida. Aqui, em vez de suprimir ou saciar as emoções é importante encará-las - e aos pensamentos e tudo o mais que possa surgir - como a aceitação e generosidade tão abertas e amplas quanto possível. Os mestres tibetanos dizem que esta sábia atitude tem o sabor dos espaços infindáveis, tão calorosos e confortáveis que nos sentimos rodeados e protegidos por eles, como se estivéssemos envoltos por um cobertor de luz do sol.

Gradualmente, enquanto permanecemos abertos e atentos, e nos servimos de uma das técnicas para focar a mente, que explicarei mais adiante, a nossa negatividade irá sendo desarmada lentamente, dando lugar a um bem estar do ser ou, como dizem os franceses, être bien dans sa peau (sentir-se bem na sua própria pele). É daqui que surge a libertação, e também um profundo à vontade, e penso que esta prática é a mais eficiente forma de terapia e auto-cura.

Em terceiro lugar, esta prática põe a descoberto o bom coração essencial, uma vez que dissolve e remove a antipatia ou o mal que existe em nós, pois só assim conseguimos ser verdadeiramente úteis para os outros. Graças a esta prática e à gradual remoção do que nos possa haver de mau ou desagradável, permitimos que o nosso bom coração verdadeiro, ou seja, que a bondade fundamental que há em nós e que é a nossa verdadeira natureza, brilhe para o exterior e se torne no clima mais quente em que florescerá o nosso verdadeiro ser."

Rinpoche, Sogyal, "O Livro Tibetano da Vida e da Morte", Lisboa, Difusão Cultural, 1992

quinta-feira, julho 09, 2009

Coisas que se pensam quando qualquer outra coisa seria menos inútil

E que bela outra vantagem tirar das viagens, senão permanecer desinstalada como se a vida fosse um corpo inteiro só porque é colado?

quarta-feira, julho 08, 2009

Opção

Parti a tampa do frasco de vidro, estilhaçada em mil cacos de esperança, raiada de verde. Do chão, varri-os para fora de mim. Optei pela garrafa branca, destapada de outra cor, na brancura opaca da paz, por desvendar.

maria eduarda

segunda-feira, julho 06, 2009

Coisas que se pensam quando qualquer outra coisa seria menos inútil

Penso e tudo o que é em mim uma linha se acanha como se quisesse ser curta.
Coloco com ainda toda a vontade, a razão dentro desse fio que parece dobrar-se sobre si próprio, num lance último de perspicácia ou de aflição.

Sou ave de novo.

Alcançar

Nem sempre
passo a meta que me traçam,
algumas vezes
tacteio-a e detenho-me.
Muitas vezes
perco-me a meio do caminho.
Poucas vezes
eu a alcanço
e a ultrapasso
sem grandes esforços.
Limito-me a ser eu,
inúmeras vezes
à procura
de uma meta no caminho!
maria eduarda

domingo, julho 05, 2009

Just Girls


Porque só à última da hora souberam que iam actuar ao vivo as meninas dos “Morangos com Açúcar”, as duas, depois de um dia conturbado e de uma viagem de mais de 2h, decidiram (a tempo) ir ao concerto.
Uma, para fazer a vontade à neta, outra porque é fã… Sabe as letras, dança com coreografias pré-definidas, vibra com as Just Girls.

Nem sei como a avó encontra assim tanta energia para acompanhar a miúda…. Deve ser a força do Amor, a vontade de ver piscar de brilhos os olhos da netinha… É que, nesse dia, antes da viagem, a avó tinha acordado bem cedo para dar atenção aos pais, já numa idade em que se pedem muitos mimos e se requerem cuidados especiais. Estava cansada, claro... Só quase à 1h da manhã terminava o concerto e recolhiam a casa para um descanso merecido.

Mais um sonho que a avó concretizou à neta. Têm uma relação íntima, especial, belíssima.... E são LINDAS!
Os dois tão desajeitados
O triciclo e as muletas com os seus ocupantes.
É isso a inocência motora.

sexta-feira, julho 03, 2009

97


Hoje celebrámos os 97 anos do meu avô João Ribeiro, que soprou as velas com um sorriso no rosto…

Tantas histórias e afectos que ele tem, que davam para escrever mais que um livro!!
Que pena que tenho de não poder escrevê-las todas, porque não possuo as suas memórias e, apesar de ter ouvido muitas, me lembro de muito poucas. Não saberia descrevê-las com os pormenores e a emoção com que sempre as contou aos netos. Um dia escreverei alguma….

Agora, ao aproximar-se mais dos 100, já se curva perante a Vida, aninha-se no seu corpo vivido mas vulnerável numa posição (quase) fetal, como um bebé, tão aparentemente frágil, tão grandioso.
Sempre lúcido, atento, agora mais virado para ele próprio, ele que sempre nos deu tanto, tanto, TANTO.

Parabéns Avô!

Dinamene
«O meu olhar desce até ao sexo dos amantes:
olhamo-nos,
dizemos algo de escuro,
amamo-nos como papoila e memória,
dormimos como vinho nas conchas,
ou o mar no brilho-sangue da lua.
Ficamos abraçados à janela, olham para nós da rua: é tempo que se saiba!
É tempo que a pedra se decida a florir, que ao desassossego palpite um coração.
É tempo que seja tempo. É tempo.»

Paul Celan

Em silêncio

Há palavras
majestosas, inaudíveis,
porque se proferidas,
perdem o significado,
o encanto, o pecado
de não serem entendidas
em pleno, assim requeridas.

Assim, o silêncio
reveste a grandiosidade
do acto, do consentimento,
entendido de verdade
como o querer autêntico,
vindo de dentro,
calado na fala,
revelado no olhar
expectante, traduzível
nessa variante,
em momento não audível.

maria eduarda

quinta-feira, julho 02, 2009

Felicidade Eterna

Antigamente todos os contos para crianças terminavam com a mesma frase, foram felizes para sempre, isto depois de o Príncipe casar com a Princesa e de terem muitos filhos.
Na vida, é claro, nenhum enredo remata assim. As Princesas casam com os guarda-costas, casam com os trapezistas, a vida continua, e os dois são infelizes até que se separam. Anos mais tarde, como todos nós, morrem.

Só somos felizes, verdadeiramente felizes, quando é para sempre, mas só as crianças habitam esse tempo no qual todas as coisas duram para sempre.

José Eduardo Agualusa, in 'O Vendedor de Passados'

quarta-feira, julho 01, 2009



Viver apenas um dia ou ouvir um bom ensinamento

é melhor do que viver um século sem conhecer tal ensinamento.

Sakyamuni