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quinta-feira, dezembro 18, 2008

Coisas que se pensam quando qualquer outra coisa seria menos inútil

Pintura: GUIDO SIEBER

Foi assim que amou a mulher após não achar em vez dela uma outra, a sua preferida, a quase real e que no entanto se mantinha no limiar de alheios cuidados para consigo, como um acto carinhoso num sonho, entristecendo-se então com esse seu reparo e tentando resolvê-lo rodando o botão de programação do canal televisivo, chamando àquele gesto afoito, a busca do calor que pretendia ali haver tanto quanto a favorita mulher.
Também foi assim que o ser humano começou a olhar para si mesmo como achando-se valioso, dando por falta de coisas na sua proximidade; então os objectos foram atrelados a um estatuto similar ao dos animais domésticos, e até usurparam importâncias em relação aos últimos, porque não sujavam e só se não mantinham limpos autonomamente, não importando o tempo que ocupavam. A seguir foram inventados mais uns males de alma, decerto com cura.

1 comentário:

didium disse...

Muito bonito!
Sorte a daqueles que vivem bem com o seu presente,com o que têm e ambicionavam ser seu!
Bjo