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sexta-feira, dezembro 19, 2008




Branco






Visto-me de branco…
Que se há um fim também há começo.
E danço a branca eternidade…

Lembro-me do dourado solar dos seus cabelos,
Que teimava em domar , prendendo os caracóis em ganchos,
Sinto falta do seu ondulado sorriso, espontâneo e sincero…
Das gargalhadas,
Da voz rouca, sempre alta,

Nesse volume que a todos permite ouvir.
Por vezes vislumbro-a, elegante sempre, bonita, airosa…
Recordo-me do carinho que nos tinha,

Da mãe que era também para os sobrinhos…
Dos seus segredos, que não tinha pudor em revelar!
Da energia que emanava, da alegria que parecia carregar.
Já não me lembro de quando foi a última vez que a abracei,
Nem da última vez que rimos juntas… Sinto saudades!

Ainda recordo as lágrimas que começaram a escorrer-me,
Rebeldes a mim, que não queria chorar, no dia em que partiu…
Não chorei muitas,

Lutei contra a tristeza porque ela era alegria…
Porque queria que partisse sem dor…
Porque a despedida se é um fim é um recomeço!
E quando algo acaba, alguma coisa se inicia…
Visto-me de branco,
Em mim iniciou-se um caminho de saudades e memórias,
Em ti, tia, a branca eternidade.



Muitas vezes estás comigo,
Segredando-me alegrias e teimosias, impelindo-me a lutar!...
Empurrando-me para a frente com garra e energia.

Canto a vida, visto-me de branco…
Danço a branca eternidade!


Dinamene

2 comentários:

didium disse...

Continua a dançar, amiga!
A tua mãe vai comover-se muito quando ler este post.Ela está ainda a aprender a vestir-se de branco!
Tenho saudades, mas de branco estou vestida, branco também da cor da saudade, que nunca passará.
Bjs

solange disse...

Tens razão, querida amiga. A emoção está-me sempre à flor da pele. Mas estas "coisas" que a Dinamene escreve, e tu também, ajudam muito a continuar a dança, a VIDA! E visto-me, sim, de branco!!!
E não posso deixar de pôr aqui o texto que a Dinamene escreveu há seis anos e que a minha irmã Anita iria adorar, "vaidosa" como ela era, de signo Leão, com um coração que abarcava o mundo.

«De que somos feitos?!...
De corpo?!...E de espírito!
...De emoções, pensamentos, palavras, de risos e de lágrimas,
Também de sonhos, de lembranças, de tudo...e de nada?!...
Conheço uma pequena parte de ti...que és imensa!...
Conheço todas as partes de mim, até as que desconheço!
Sei como é a tia, a amiga...
Mas como é a mãe, a avó, a mulher, a filha, a irmã Anita?
Juntando a pequena parte que lhe conheço com todas as que conheço de mim, conheço-a por inteiro! Como te conheço a ti.
Sei que é divertida, que gosta de uma anedota picante, que é meiga e liberal, que tem doçura na voz, que às vezes zangada nos grita, que gosta de estar bonita, de não passar despercebida... e muito mais!
Sei que a morte não é um fim, é só uma parte de um ciclo interminável que experimentamos desde antes de ter nascido.
Conheço as tuas lágrimas, são a saudade, o medo de que não seja suportável não tocar-lhe mais, não a olhar, não ouvir a sua voz doce ou aos gritos, não rir até às lágrimas com ela...
Chorar é bom, lava, acalma...
Mas depois limpa a água e o sal, deixa-te iluminar por um sorriso e diz-lhe: “ Estou aqui contigo Anita...bonita, amiga, mãe, avó, mulher, filha, irmã, tia... Sei que também estás aqui!”
Amo-a muito, amo-vos a todos, amo-me também.... Somos fortes, os pequenos momentos de felicidade, e também os de dor, continuarão a manter-nos juntos e no caminho....»