Se me dissessem, há dias atrás, que teria um gato em casa, não iria acreditar!!!
Eu???? Isso é que era bom! Muito lindos, os gatinhos, não digo que não, mas em casa dos outros, nos filmes, nos postais.
Quando a minha neta me falou da hipótese dela e família adoptarem um gatinho “liiiinnndo, liiinnndo, avó”, eu fiquei estupefacta, escandalizada, para não dizer em estado de choque, pois sei que já têm um cão, também “liiiinnnndo” e indisciplinado q.b., que lhes dá “água pela barba”!
Perante o choque que me provocaram, não voltaram a falar-me dos gatinhos da vizinha, raçados de persa e siamês, que a sair à mãe, seriam encantadores.
Ponto final. Férias. Praia. Descontracção.
Um dia, a boca da minha neta fugiu-lhe para a novidade pós-férias (além da entrada no 2.º ciclo). A vizinha já tinha dito à mãe que o gatinho estava quase em condições de ir lá para casa.
As sensações repetiram-se. E a minha ladainha: "Um gato é uma prisão, o cão já vos dá trabalho, preocupações e despesas, não podemos ter tudo o que nos apetece".
Mas a mãe da minha neta já se tinha encantado com o gato. Para todos, lá em casa, o gato era uma óptima ideia. “É bom as crianças convirem com animais e partilharem com eles brinquedos e brincadeiras, aprender também a tratar deles, ajudar na sua higiene, etc”.
Calei-me. A casa não é minha, o meu conselho não funcionava, o melhor era ignorar e calar-me de vez sobre tal assunto, para não me consumir com preocupações que não eram minhas.
Entretanto o gato foi lá para casa e lá vêm as sms e os mails com as novidades: as gracinhas do “bebé” de um mês, “liiinndo, liiindo”, mas que não podia passar dos quartos para a sala e cozinha. A aversão que o Pinguinho, agora circunscrito a uma parte da casa, manifestara pelo novo inquilino, poder-lhe-ia ser fatal. Como resolver?! Ir aproximando o gato do cão, ao colo, devagarinho, até que chegasse o momento de empatia e a vontade de admitir que o gatinho até poderia coabitar naquele espaço que a ele pertencia.
Mas, qual quê!!! O cão transformava-se numa fera indomável só de ver o cão ao colo, só de o cheirar ali perto! Num instante, “Era uma vez um gato…”
As informações chegam-me em catadupa. As crianças iriam assistir, se houvesse uma distracção (abre porta, fecha porta, abre porta, fecha porta), à terrível cena do cão “tão liiindo” a abocanhar o gato “tão liiiindo”???
Proponho, pelo telefone, na tentativa de ajudar “Então, quando passarmos por aí, trazemos o Pingo!”
“O Pinguinho não, é o meu cão, não posso ficar sem o meu «penguenho»!”
Sim, realmente seria uma injustiça e, sobretudo, anti-pedagógico. Levaria a garota a “abandonar” o seu cãozinho, para ficar com o “brinquedo” novo. Na verdade, completamente fora de questão.
Então???!!! Quando passámos por lá, vivia-se o problema, sem solução à vista.
“Dás o gato a alguém que queira e conheças, poderás ir visitá-lo sempre que quiseres!”, sugiro eu.
“Ah, mas não é isso que eu quero, o gato é nosso, assim vou ficar sem o gato. Leva tu o gato, avó!”
“Eu??? O gato não! Se fosse o cão, sim, mas gatos, nem pensar.”
“Mas o gato é tão lindo, não te vai dar trabalho, a sério. E assim vai continuar nosso!”
“Levo o cão. Dás o gato. Quando nós cá voltarmos, daqui a quinze dias, trazemos-te o teu Pinguinho, porque entretanto o gato já está noutra casa.”
“Não! Eu gosto do cão e gosto do gato!!!”
O tempo a passar e nenhuma decisão. Iam ficar com os dois “liiiinnnndos” em casa, numa casa dividida ao meio para impedir um cão de matar um gato indefeso, bebé de um mês e uma semana.
Diz o avô “Eu n saio daqui enquanto não levar um, não quero receber um telefonema a dizer que deixaram a porta aberta e que o Pingo está com o gato pendurado pelo pescoço!”
Silêncio.
E o avô continua “ Então, como é?! Nós levamos o gato. Pode ser que depois de crescido o cão já o aceite e fica tudo resolvido!”
E eu de boca aberta, sem palavras, incrédula, a tentar perceber o que “me” estava a acontecer!
“Vá, levamos o gato!”
P.S. Quem quer o gato?!