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quarta-feira, maio 26, 2010

Voar

Talvez me sente
a contemplar as nuvens,
almofadas de algodão,
onde aconchego
os meus sonhos.
Talvez assim,
neste macio sentir,
adormeça as asas,
ávidas de voar,
ou
talvez lhes dê
um corpo de pássaro,
na aprendizagem
do voo prometido.

maria eduarda

Utopia


"A utopia está lá, no horizonte.
Aproximo-me dois passos, ela afasta-se dois passos.
Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos.
Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei.
Para que serve a utopia?
Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar."
Itálico

Eduardo Galleano

quinta-feira, maio 20, 2010

Ecos

E é tudo,
quando nada
se tem.

E é nada,
quando se instala
o vazio.

E o vazio?

É o nada
de tudo.

maria eduarda

terça-feira, maio 18, 2010

.. Dos lugares onde lemos

Todas as minhas melhores leituras aconteceram na casa de banho. Há excertos de «Ulisses» que apenas na casa de banho se podem ler se quisermos saborear completamente o seu conteúdo.
Henry Miller.

Não tenho dúvidas de que esta citação é verdadeira, ainda para mais sabendo de quem vem. Também eu admito ter tido momentos de leitura na casa de banho. Mas não a ler os clássicos gregos. Quando muito, contemplei as legendas de um busto feminino da estatuária da antiguidade clássica, estampado nalgum livro escolar. Todos os pretextos são bons para um rapaz adolescente se enfiar na casa de banho a ler. Seja como for, os lugares onde lemos parecem ter, para os estudiosos destas coisas, grande importância. O local pode influenciar de maneira significativa o prazer da leitura. Por exemplo, Marguerite Duras detestava ler na praia. Dizia ela: «Não se pode ler a duas luzes simultaneamente, a luz do dia e a luz do livro.» Omar Khayyam, apreciador dos prazeres da vida, recomendava a leitura de poesia ao ar livre, à sombra da ramagem de uma árvore, enquanto Shelley escreveu: «Tenho o hábito de tirar a roupa, sentar-me num penedo e ler Heródoto até parar de transpirar.» Eu, de gostos bastante mais prosaicos, onde de facto tiro maior prazer é na cama, a ler um qualquer clássico do século XVIII. Também o faço noutros sítios e com outros livros, mas prefiro fazê-lo na cama. Ler na cama é especial, tem-se maior privacidade, porque se é invisível aos olhos indiscretos, e, por se estar entre os lençóis, tem-se o sabor do picante das coisas proibidas e pecaminosas. A vida e a literatura estão cheias de relatos de escritores e leitores sobre as suas preferências quanto aos lugares e formas predilectas de leitura. No entanto, foi de um episódio da minha vida pessoal e não na literatura que retirei o melhor exemplo acerca da importância que pode ter o espaço circundante, o local onde se lê, o que se escolhe para ler, e o momento exacto para o fazer. Há uns meses, numa viagem que fiz em grupo ao Médio Oriente, partindo da grande metrópole africana que é a cidade do Cairo, no Egipto, passando pelo deserto da Península do Sinai, pernoitando em Taba, junto ao Mar Vermelho, depois de atravessarmos pelas estradas o Deserto da Judeia, chegámos ao Mar Morto, em território israelita. Desejosos de esticarmos as pernas, apreciarmos a paisagem, vestirmos o fato de banho, entrarmos na água para tirar a fotografia da praxe, flutuando com um livro na mão, como só se pode fazer nas águas saturadas do Mar Morto, reparo que um dos companheiros de viagem se afasta do resto do grupo. Completamente alheado da paisagem, vestido de calças e blazer, pega num banco, tira um livro de um dos bolsos e começa, sem perder tempo, a ler. Surpreendido com aquela reacção e, perante tal gesto, não pude deixar de pensar, imediatamente, que estava perante um verdadeiro intelectual. Aquele homem só pode ter, de certeza absoluta, uma exigência, uma sensibilidade muito pouco comum quanto aos locais que escolhe para ler. O que estaria ele a ler, naquele local carregado de história e religião, não muito longe de onde dizem que Moisés recebeu as Tábuas dos Dez Mandamentos? Pensei que fosse o que fosse que estivesse a ler teria de ter alguma ligação com lugar, talvez um texto bíblico, ou os Manuscritos do Mar Morto? Não resistindo à curiosidade, dirigi-me a ele:-Posso perguntar-lhe o que lê?Meio atrapalhado, o meu companheiro de viagem olhou para o livro como se não soubesse o título que estava a ler e respondeu:- On the Meaning of Life.- Eu sabia que o título teria a ver com o local!- Como descobriu?Pergunta o meu companheiro de viagem, perplexo.- Não podia ser outra coisa.- Mas como pôde, apenas pelo título do livro, que eu escolhi aleatoriamente, descobrir que o utilizo como disfarce para ver discretamente as miúdas em biquini?

Jaime Bulhosa
Publicada por Pó dos Livros em 5/06/2010
Etiquetas: Pequenas estórias

segunda-feira, maio 17, 2010

Da luz

A luz

escondeu-se

do meu horizonte

crepuscular.

Levo o laranja,

dobro-o

na bainha

dos meus lençóis,

da cor da paz.

maria eduarda

sexta-feira, maio 14, 2010

Ler

Ler, consola-me na minha reforma; alivia-me o peso de uma ociosidade sufocante e pode sempre livrar-me de companhias que me enfastiam. Acalma as punhaladas da dor quando esta não é lancinante e extrema. Para me distrair de pensamentos sombrios basta-me recorrer aos meus livros.
Montaigne

segunda-feira, maio 10, 2010

Prémio oferecido pela Em@

Mais um selo oferecido pela minha patrícia lá do Sul, de seu nome Em@
Ela não se vai aborrecer comigo por não nomear blogs, dado que dedico este prémio a todos os blogs que deixam rasto neste espaço. Obrigada.

Do ventre

As pegadas
que marco
na passagem
deste chão,
desfazem-se
ao vento,
em grãos luzidios.
Caminham sem mim,
rumo ao Sul,
de onde parti.
Lá,
procuram irmãos,
de marcas passadas,
profundas, visíveis,
inolvidáveis.
maria eduarda

domingo, maio 09, 2010

O valioso tempo dos maduros

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui
para a frente do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.
As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam
poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram,
cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir
assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar
da idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafectos que brigaram pelo majestoso cargo
de secretário geral do coral.
'As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência,
minha alma tem pressa...
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana,
muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com
triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade,
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,
O essencial faz a vida valer a pena.
E para mim, basta o essencial!

Mário de Andrade

Coisas que se pensam quando qualquer outra coisa seria menos inútil

A coragem de criar abismos ou o abismo por criar coragens?  Parecem associados como a palma da mão ao tampo de algo, onde se pode ela recostar depois que tamborilou um sonho sobre essa superfície, mas nunca sobre uma qualquer  pele ainda que com forma bela, pois que quando os olhos desejam o mais longe há coisas que se evitam, se não ecoam um semelhante dentro, não servem.

terça-feira, maio 04, 2010

Intenção

Não tenho de mim,
senão eu...
Tantas vezes
incrédula,
tantas vezes
em busca!
E sou eu,
em vários estares
que me surpreendem,
na vontade que me habita
de ser sempre eu,
ontem como agora,
amanhã como outrora.
Ter força para voar,
firmeza em saber planar,
e voltar,
num sereno aterrar.

maria eduarda

segunda-feira, maio 03, 2010

Um país de contos de fadas

Isto é um país de contos de fadas. Nunca imaginei tanta beleza junta. A paisagem é deslumbrante. Os jardins, os campos de relva e flores, muitas flores, às molhadas. Vejam só! Árvores enormes que dão flores enormes. Nem se lhes vêem, a partir de agora, as folhas. Só flores, azuis, rosas, vermelhas, amarelas, matizadas e brancas. As árvores estão vestidas de noiva. Lindas! Esta tarde não me apetecia sair, tinha frio. Eles, cá, andam de t-shirt e calções e eu de camisola e casaco. Convenceram-me a sair, para ver as belezas. Poderíamos ficar no carro. Rios e lagos, jardins, barcos e castelos, aos “montes”. Gente a passear à vontade. Está sol, mas eu tenho frio, sinto-o nos ossos. Não resisti e houve um momento em que tive de enfrentar a temperatura para melhor abranger a paisagem. Só beleza!”

“No regresso, aqui perto de casa, um jardim, ou seja, um parque de nome Vitória. O chão é pintado e os canteiros, repletos de florinhas. As árvores, percebe-se pelas raízes, devem ser centenárias, mas dão flores aos cachos, como árvores de fruto. Trouxemos um raminho cor-de-rosa.”

“Ontem fomos comprar terra para as plantas do quintal. Acorda-se um dia com as plantas secas, no outro estão em botão e ao terceiro dia em flor. É a renovação da natureza!”

“Este país parece de contos de fadas. Palácios, igrejas e a Natureza, q se manifesta até nas pessoas boas e «enormes»”.

“O tempo está bom. O ventinho é que é frio. Os naturais andam d t-shirt e chinelinhas de enfiar o dedo. Com a manta de gordura q têm, n sentem frio.”

(Abril 2010-excertos de cartas da minha mãe, em Cardiff, há quase dois meses)

A todas Mães....


A todas as Mães, no geral, e à minha, em especial....

Ser Mãe é ter um Amor desmedido
por algo que ainda é semente,
dentro do ventre,
e imaginação,
futuro...

É ter um Amor infinito
pelo ser que à vida vem fruto de si,
madura Mãe...

As Mães costumam ter uma capacidade rara
de Amar profundamente,
com os sentidos,
com o corpo
e o espírito!

É um compromisso emocional,
uma entrega,
uma escolha...
Ser Mãe é continuar a ter sonhos e projectos
mas muito para além de si mesma,
é querer a felicidade,
num tempo em que não importa
se ainda permanece presente....

As Mães são os seres mais perfeitos do mundo
(culpa da biologia que as doou de poderes inimagináveis)...
A minha Mãe é perfeita.

Hoje também é dia da Mãe,
como ontem,
como no dia em que nascem os filhos,
como será sempre,
amanhã...
quando os filhos forem a conctretização dos sonhos
das Mães ausentes....

Hoje é dia da Mãe,
porque hoje é o dia (como todos os outros)
em que a Mãe se lembra primeiro dos filhos,
ausente de si mesma,
presente neles...

A minha Mãe é o ser mais perfeito do mundo ;)
Dinamene

domingo, maio 02, 2010

Dia da Mãe


Mãe,


Falta-me o céu

quando o olho,

porque tu o preenches!


maria eduarda