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terça-feira, abril 29, 2008

José Rodrigues dos Santos

Tão simples, até nos pisca o olho e tudo!!! Entra-nos em casa, sem cerimónias, se deixarmos a TV ligada "àquela hora".
É, no entanto, um grande escritor, que estuda muito bem a "matéria" antes de deitar "mãos à obra". Procura as pessoas indicadas para colaborarem com ele na pesquisa e na veracidade do que nos transmite e admite-o, em cada uma das obras publicadas. Estão lá os agradecimentos (o reconhecimento também) a todos os que com ele se empenham em nos fazer chegar tanta informação preciosa. Leiam só um dos livros e vejam lá se não tenho razão!!!

E, já agora, um pouco da sua biografia:

Anos iniciais em África
Natural da província de Sofala, cidade da Beira, na antiga colónia de
Moçambique, mudou-se ainda bebé para a cidade de Tete onde permaneceu até aos nove anos, convivendo com a Guerra Colonial. Tal como a esmagadora maioria dos portugueses, alguns dos seus antepassados estiveram envolvidos na Primeira Guerra Mundial, na Flandres e na Guerra Colonial em África, sendo que o seu segundo romance, intitulado "A Filha do Capitão" é assumido como um tributo que lhes é prestado.
Percurso durante a adolescência
A difícil adaptação do pai a terras lusas motivou a partida para
Macau. Já no oriente, o jovem J.R. dos Santos participou na elaboração de um jornal escolar, que despertou o interesse dos responsáveis da rádio local e levou o jovem estudante a ser entrevistado por uma jornalista que acabara de chegar a Macau: Judite de Sousa, hoje sua colega na RTP. Em 1981, aos 17 anos, José Rodrigues dos Santos iniciou-se verdadeiramente no Jornalismo, ao serviço da Rádio Macau.
Carreira como jornalista
Em
1983, regressou a Portugal para frequentar o curso de Comunicação Social da Universidade Nova de Lisboa. Terminado o curso, candidatou-se a um estágio na BBC, a bem conhecida emissora britânica de televisão. A resposta é positiva , mas não lhe é concedido qualquer financiamento. Aplicou então a herança do pai, entretanto falecido, em três meses de experiência profissional em Inglaterra.
Regressou a Portugal, onde obteve duas distinções: o
Prémio Ensaio do Clube Português de Imprensa, em 1986 e o Prémio de Mérito Académico do American Club of Lisbon, em 1987. Devido a essas credenciais foi convidado pela BBC World Service para trabalhar em Londres, onde ficou durante três anos, até 1990.
Da BBC seguiu para a
RTP, onde começou a apresentar o noticiário "24 Horas". Em 16 de Janeiro de 1991, as forças coligadas de 28 países liderados pelos Estados Unidos da América dão início ao bombardeio aéreo de Bagdad, no Iraque, dando início à Primeira Guerra do Golfo. José Rodrigues dos Santos protagonizou então uma maratona televisiva de cerca de 10 horas, sobre o ataque americano ao Iraque, acabando posteriormente por se tornar o rosto mais conhecido da televisão pública.
Em
1991 passou para a apresentação do diário "Telejornal" e tornou-se colaborador permanente da CNN (Cable News Network), a cadeia norte americana de informação em contínuo, de 1993 a 2002. Hoje continua a apresentar o telejornal, em conjunto com Judite de Sousa e José Alberto Carvalho.
Doutorado em Ciências da Comunicação, com uma tese sobre reportagem de guerra, é professor da
Universidade Nova de Lisboa e jornalista da RTP. É um dos mais premiados jornalistas portugueses, tendo sido galardoado, além dos prémios já referidos, com o Grande Prémio de Jornalismo, em 1994, atribuído pelo Clube Português de Imprensa. Internacionalmente, venceu três prémios da CNN: o Best News Breaking Story of the Year, em 1994, pela história "Huambo Battle" relacionada com a Guerra de Angola; o Best News Story of the Year for the Sunday, em 1998, pela reportagem "Albania Bunkers"; e o Contributor Achievement Award, em 2000, pelo conjunto do seu trabalho, aquele que é considerado o Pullitzer do jornalismo televisivo.



Os Prémios Nobel da Literatura desde 1901

1901 Sully-Prudhomme (França)
1902 Theodor Mommsen (Alemanha)
1903 Bjørnstjerne Bjørnson (Noruega)
1904 José Echegaray y Eizaguirre (Espanha) e Frédéric Mistral (França)
1905 Henryk Sienkiewicz (Polónia)
1906 Giosuè Carducci (Itália)
1907 Rudyard Kipling (Grã-Bretanha)
1908 Rudolf Eucken (Alemanha)
1909 Selma Lagerlöf (Suécia)
1910 Paul Heyse (Alemanha)
1911 Maurice Maeterlinck (Bélgica)
1912 Gerhart Hauptmann (Alemanha)
1913 Rabindranath Tagore (Índia)
1915 Romain Rolland (França)
1916 Carl Gustaf Verner von Heidenstam (Suécia)
1917 Karl Gjellerup (Dinamarca) e Henrik Pontoppidan (Dinamarca)
1919 Carl Friedrich Georg Spitteler (Suíça)
1920 Knut Pedersen Hamsun (Noruega)
1921 Anatole France (França)
1922 Jacinto Benavente (Espanha)
1923 William Butler Yeats (Irlanda)
1924 Wladyslaw Stanislaw Reymont (Polónia)
1925 George Bernard Shaw (Grã-Bretanha)
1926 Grazia Deledda (Itália)
1927 Henri Bergson (França)
1928 Sigrid Undset (Noruega)
1929 Thomas Mann (Alemanha)
1930 Sinclair Lewis (Estados Unidos)
1931 Erik Axel Karlfeldt (Suécia)
1932 John Galsworthy (Grã-Bretanha)
1933 Ivan Alekseyevich Bunin (apátrida, residente em França)
1934 Luigi Pirandello (Itália)
1936 Eugene O'Neill (Estados Unidos)
1937 Roger Martin du Gard (França)
1938 Pearl S. Buck (Estados Unidos)
1939 Frans Eemil Sillanpää (Finlândia)
1944 Johannes V. Jensen (Dinamarca)
1945 Gabriela Mistral (Chile)
1946 Hermann Hesse (Suíça)
1947 André Gide (França)
1948 Thomas Stearns Eliot (Grã-Bretanha)
1949 William Faulkner (Estados Unidos)
1950 Bertrand Russel (Grã-Bretanha)
1951 Pär Lagerkvist (Suécia)
1952 François Mauriac (França)
1953 Winston S. Churchill (Grã-Bretanha)
1954 Ernest Hemingway (Estados Unidos)
1955 Halldor Laxness (Islândia)
1956 Juan R. Jiménez (Espanha)
1957 Albert Camus (França)
1958 Boris Pasternak (União Soviética)
1959 Salvatore Quasimodo (Itália)
1960 Saint-John Perse (França)
1961 Ivo Andric (Jugoslávia)
1962 John Steinbeck (Estados Unidos)
1963 Giorgos Seferis (Grécia)
1964 Jean-Paul Sartre (França)
1965 Michail Aleksandrovich Sholokhov (União Soviética)
1966 Nelly Sachs (Alemanha/Suécia) e Samuel Josef Agnon (Israel)
1967 Miguel Angel Asturias (Guatemala)
1968 Yasunari Kawabata (Japão)
1969 Samuel Becket (Irlanda)
1970 Aleksandr Isaevich Solzhenitsyn (União Soviética)
1971 Pablo Neruda (Chile)
1972 Heinrich Böll (Alemanha)
1973 Patrick White (Austrália)
1974 Eyvind Johnson (Suécia) e Harry Martinson (Suécia)
1975 Eugenio Montale (Itália)
1976 Saul Bellow (Estados Unidos)
1977 Vicente Aleixandre (Espanha)
1978 Isaac Singer (Estados Unidos)
1979 Odysseas Elytis (Grécia)
1980 Czeslaw Milosz (Polónia)
1981 Elias Canetti (Grã-Bretanha)
1982 Gabriel García Márquez (Colômbia)
1983 William Golding (Grã-Bretanha)
1984 Jaroslav Seifert (Checoslováquia)
1985 Claude Simon (França)
1986 Wole Soyinka (Nigéria)
1987 Joseph Brodsky (Estados Unidos)
1988 Nagib Mahfus (Egipto)
1989 Camilo José Cela (Espanha)
1990 Octavio Paz (Méxiko)
1991 Nadine Gordimer (África do Sul)
1992 Derek Walcott (Santa Lúcia)
1993 Toni Morrison (Estados Unidos)
1994 Kenzaburo Oe (Japão)
1995 Seamus J. Heaney (Irlanda)
1996 Wislawa Szymborska (Polónia)
1997 Dario Fo (Itália)
1998 José Saramago (Portugal)
1999 Günter Grass (Alemanha)
2000 Gao Xingjian (China)
2001 Sir Vidiadhar Surajprasad Naipaul (Trinidad)
2002 Imre Kertész (Hungria)
2003 John Maxwell Coetzee (África do Sul)
2004 Elfriede Jelinek (Áustria)
2005 Harold Pinter (Grã-Bretanha)
2006 Orhan Pamuk (Turquia)
2007 Doris Lessing (Reino Unido)

sábado, abril 26, 2008

Obrigada!


Quero deixar aqui o meu muito obrigada ao meu mano Xinho, sempre pronto a esclarecer as minhas dúvidas, quanto à construção do blogue.Tem-me ajudado bastante.

Thanks, Danke, Gracias, Merci, Obrigada...
maria eduarda

Santa ignorância!!!

Entristece-me a atitude de algumas pessoas que querem pavonear-se nos degraus da vida, conscientemente, mas ignorando o quão ignorantes são.Talvez saibam que são ignorantes e a sua conduta seja uma defesa para ocultar a dita ignorância: o resultado é colocarem em evidência a "mente pequenina" que possuem.

O ser humano é muito complexo, nós sabemos, e lidar diariamente com o outro, às vezes é difícil, porque o que transparece de alguém, afinal, não é.Pessoas vazias, tristes de espírito!

Outra característica dos seres descritos acima, é a importância que os próprios conferem ao que os seus interlocutores dizem, fazem, e ainda mais grave , quando colocam a mentira ao serviço dos seus comentários.Essa característica está certamente aliada ao muito tempo que devem ter desocupado, sem objectivos.

Por tudo isto, caríssimos transeuntes da palavra feita , preencham o vosso tempo, LEIAM POR FAVOR!!!

maria eduarda

quinta-feira, abril 24, 2008

Para comemorar o Dia Mundial do Livro, 23 de Abril, destaco os livros de José Rodrigues dos Santos

No Dia Mundial do Livro e dos direitos do autor, quero destacar o jornalista/escritor José Rodrigues dos Santos, que consegue, com palavras simples, sensibilidade e rigor científico, trazer-nos, através dos seus romances, que li e aconselho, temas tão variados como a I Guerra Mundial, a Época dos Descobrimentos, com a descoberta da identidade de Cristóvão Colombo, a “prova” da existência de Deus e, no seu último livro, a ameaça à sobrevivência do nosso lindo planeta azul.
"A Ilha das Trevas", o único que ainda não li, é o romance de estreia de José Rodrigues dos Santos, precursor de grandes êxitos como A Filha do Capitão, O Codex 632, A Fórmula de Deus e O Sétimo Selo.
“A Filha do Capitão” - Tendo como pano de fundo o cenário trágico da participação de Portugal na I Guerra Mundial, encanta-nos com a emocionante história de uma paixão impossível entre um oficial português e uma bonita francesa. A descrição dos festejos do 1º aniversário da inauguração da torre Eiffel é imperdível!!! A descrição dos momentos difíceis, vividos por um punhado de soldados portugueses nas trincheiras da Flandres, é fascinante, pelo pormenor, pela realidade que, através das suas palavras, conseguimos ver e sentir.
“O Codex 632” – A personagem principal é Tomás de Noronha, professor de História da Universidade Nova de Lisboa e perito em criptanálise e línguas antigas. Este livro desvenda-nos o segredo mais bem guardado dos Descobrimentos: a verdadeira identidade de Cristóvão Colombo.No entanto, não quero deixar de salientar que o fio condutor, a vida de Tomás, conduz-nos a uma série de emoções, sentidas pelos pais de uma criança que sofre do Síndrome de Down (trissomia do cromossomo 21) . A criança, filha de Tomás, sábia e encantadora, dá-nos grandes lições e enternece-nos ao longo de toda a história.
“A Fórmula de Deus” – Tomás de Noronha, separado da mulher, vive outra história de amor. Há também mistério, intriga, traição, e há, sobretudo, uma busca espiritual que nos dá a conhecer a mais espantosa revelação de todos os tempos - a prova científica da existência de Deus. Neste livro, J.R. dos Santos apresenta-nos os pais de Tomás. O pai está doente e nós vamos acompanhá-lo nos seus últimos momentos. O sofrimento do pai, o sofrimento da família, a dor do inevitável.Este livro é baseado nas últimas e mais avançadas descobertas científicas nos campos da física, da cosmologia e da matemática, pelo que nos transporta às origens do tempo, à essência do universo e ao sentido da vida.
“O Sétimo Selo” – Tomás de Noronha está, de novo, metido em apuros. Desta vez vai longe, de Portugal à Sibéria, da Antárctida à Austrália. Neste romance, somos alertados para as maiores ameaças à nossa sobrevivência, nomeadamente as alterações climatéricas. Baseado em informação científica, o autor provoca uma reflexão sobre o futuro da humanidade e do nosso planeta. Também neste livro, José Rodrigues dos Santos traz-nos situações comuns a tantas famílias. A doença de Alzheimer e, ainda, a difícil necessidade que tantos filhos têm de “colocarem” os seus pais num Lar.
Os três últimos livros, para além dos temas de fundo, conseguem comover-nos através das situações familiares que a personagem vive, levando-nos a pensar no passado, no presente e também no futuro. Este escritor é FASCINANTE!!!
Este autor, perante os sérios problemas de um mundo em constantes convulsões, não perde o sentido de humor, sendo-lhe atribuída a frase irónica: "Ainda não percebo porque é que o meu boneco do Contra Informação tem as orelhas tão grandes..."
Solange

A leitura cativa as crianças


Ontem foi o Dia Mundial do Livro e gostaria de ter deixado uns comentários para celebrar a data, mas não foi possível, porque os dias são feitos de leituras, escritas e muitas outras coisas que nos absorvem.

...Como todos os dias são bons para ler, aqui fica a minha homenagem aos pequenos e grandes leitores! E os meus parabéns à Eduarda e Solange por partilharem connosco as suas leituras e também as suas criações.

A leitura estimula-se, incentiva-se e faz crescer nos mais pequeninos o gosto pelos livros, pelas histórias, abrindo-lhes portas à sua imaginação e criatividade.

A minha filha mais velha anda agora no 3º ano do primeiro ciclo e adora ler! Também escreve bem, com criatividade e muita maturidade para os seus poucos anitos e sem dúvida que as leituras têm contribuído muito para estimular essa sua capacidade. Começou com os livros para bebés, de diferentes materiais, formas, cores, com sons ou cheiros.... Livros que estimulam os sentidos. Íamos à biblioteca, ou melhor, à bebéteca, e esse hábito contribuiu para que os livros fizessem parte do seu dia a dia! Penso que no mundo acelerado, materialista e consumista em que nos inserimos, é importante dar aos nossos filhos presentes que os façam viajar, sonhar, conhecer um mundo imenso que povoa as histórias e os seus espíritos! Já há bonecas que andam, falam, comem e tudo o que se possa imaginar. Há computadores, jogos, internet, muito "fast food" televisivo!... Por isso mesmo, os livros continuam a ser um presente que aconselho, porque ainda permite aos mais pequeninos imaginar sem que esteja tudo pronto. Há livros para todas as idades e gostos. Com imagens, só com letras, histórias reais ou surreais... vão à bibliotecas, às livrarias, às feiras dos livros... folheiem, escolham e divirtam-se.

Livros que têm passado mais recentemente pela sua mesa de cabeceira:

"Lídia e a Planta Misteriosa" e outros da colecção Disney Fadas da Verbo;
"O rapaz e o robôt" de Luísa Ducla Soares (e outros da autora);
"Uma Aventura no Carnaval" de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada e outros da mesma colecção;
"História do Tempo Vai, Tempo Vem" de Maria Alberta Menéres (entre outros da mesma autora);
"O Principezinho" de Saint-Exupéry.

Também livros da nossa autora Alice Vieira continuam a aguçar a curiosidade dos mais pequenos.

Leiam e ajudem os vossos filhos, netos, sobrinhos a ganhar o hábito da leitura.... Com histórias antes de ir dormir, com idas semanais à biblioteca, que não custa dinheiro.
Dinamene

quarta-feira, abril 23, 2008

No Dia Mundial do Livro, José Saramago, o nosso NOBEL



Neste dia, não podemos deixar de homenagear o nosso prémio Nobel, o português internacional, José Saramago.
Ainda não era premiado e já eu devorava os seus livros. O primeiro que li e que me fascinou foi, sem dúvida, o ” Memorial do Convento”, publicado em 1982. Para mim, é um dos melhores livros que li até hoje. No entanto, por ser, talvez, o mais conhecido, prefiro debruçar-me um pouco sobre “A Caverna” e deixar os amores de Baltasar e de Blimunda, tal como a construção do convento de Mafra, para alguém especialista no assunto (Quem será?). José Saramago recebeu o Prémio Nobel da Literatura em 1998. Em 2000, um ano depois do nascimento da minha neta Luna, na passagem do milénio, foi publicado o romance “A Caverna”.
A acção desenvolve-se em torno da família de Cipriano Algós (Cipriano, já viúvo, a filha e o genro) que, vivendo, até então, do fabrico de bonecos artesanais, dá-se conta das dificuldades resultantes das regras impostas pela nova realidade consumista. São uma família de oleiros que, de um dia para outro, dá-se conta que deixa de ser necessária ao mundo. A sua vida é transformada com a construção/inauguração de um Centro Comercial, um shopping, na cidade.
Nesta obra ressurge o mito de Platão para discutir o capitalismo, numa sociedade em que as pessoas se tornam apenas profissões, isto é, sombras. Somos alertados para o processo acelerado da desumanização de que somos vítimas. A família Algós tenta resistir e sobreviver à ameaça das grandes superfícies, enquanto o Centro Comercial personifica o consumo desenfreado que caracteriza os nossos dias.
Realmente, a indiferença perante o fim do negócio artesanal que é o ganha-pão daquela gente, choca-nos!
Por tudo o que o livro transmite, mas sobretudo pelos sentimentos que estão presentes em cada linha, este é um livro excepcional. A relação entre o pai viúvo e a filha é comovente, do princípio ao fim. Até o envolvimento de toda a família com o cão, mostra-nos a sensibilidade do autor que muitos julgam ser “duro”, azedo, pouco sociável. Também o relacionamento do viúvo com a vizinha é muito engraçado e, através desta família terna e simpática, somos “obrigados” a reflectir sobre esta sociedade que se vai tornando, cada vez mais, tão diferente da dos nossos pais. Melhor? Eu não creio!!! Mas continuo a ter esperança num mundo melhor.
Solange

terça-feira, abril 22, 2008

A estrada que escolhemos percorrer

Percorremos este caminho que é a vida, uns dias com mais afinco, outros tacteando timidamente as bermas desta estrada.
Para muitos, a estrada é sinuosa, sem norte, sem aquela luz, que dizem costumar vislumbrar-se ao fundo do túnel, quando ainda há esperança! Para outros, essa estrada é ampla, cheia de luz e então ,não há necessidade de esperar pela tal luz ao fundo, ela já existe em todo o seu esplendor!
E, se no caminho a percorrer encontramos uma mão amiga, que nos acena, então a viagem torna-se agradável, lenta, porque não há pressa em atingir a meta da vida.

A vida merece ser vivida em toda a sua plenitude, com garra, mesmo para aqueles que teimam em querer desistir a meio do percurso.
Existe sempre, para esses, a possibilidade de alcançarem a tal luz, que os orientará para um outro caminho diferente do então vivido. Afinal, trata-se somente de escolher o caminho a percorrer e mesmo encontrando precipícios, ter a coragem de os contornar e olhar sempre em frente.
A luz há-de aparecer, a seguir a uma qualquer curva sinuosa!

O que interessa é acreditar na nossa força anímica e NUNCA desistir!

maria eduarda

sexta-feira, abril 18, 2008

Acabei de ler


A Senhora do Monte abriu o livro e disse na sua voz serena: “ A Vendedora de Sonhos”.

Todos os dias, uma hora antes do pôr-do-sol, as crianças subiam o monte e lá iam, curiosas por mais uma história que a senhora lhes leria.
Senhora do Monte... Chamavam-lhe assim, porque vivia numa casinha de granito, bem lá no cimo. Ninguém sabia o seu verdadeiro nome, porque ela dizia sempre que tinha o nome que lhe quisessem dar, hoje podia ser Maria, amanhã Rosalina, depois Esmeralda... Era à escolha do freguês! Mas todos lhe chamavam “Senhora do Monte” e talvez fosse esse o seu verdadeiro nome.
Ano após ano, trazia sempre histórias diferentes, que falavam de outros lugares da Terra, e até do espaço, que falavam de homens e mulheres, de animais, dos rios e do mar, da vida e dos sonhos. Nesse Verão, a Senhora do Monte trouxera um livro enorme, cheio de muitos contos, de palavrinhas encantadas e desenhos fantásticos. O Grande Livro tinha escrito na capa “Estórias da Trofa”. E os olhinhos das crianças brilhavam ao vê-lo e ao ouvirem as palavras que saíam, cheias de magia.
– Hoje vou começar a ler-vos a história da Vendedora de Sonhos. – dizia a Senhora, fitando os meninos e as meninas nos olhos.
Margarida nasceu num dia de Primavera, no campo, entre as flores. A sua mãe só teve tempo de se encostar a uma velha oliveira e dar à luz, entre os bem-me-queres e as margaridas, a sua Margarida . Nesse dia, a mãe estava a colher flores para vender no mercado, quando a menina deu sinal de querer sair. Na família, todos eram ou tinham sido feirantes: os pais, os tios e os primos, os avós, os bisavós, os trisavós, e por aí fora!... E foi assim que Margarida cresceu, entre as flores, os mercados, as feiras, as viagens de terra em terra. Margarida sabia que, um dia, quando fosse crescida, também seria feirante, só não sabia o que o destino lhe reservara para vender nos mercados das cidades ou aldeias. Do monte via-se, ao longe, o mar e a aldeia lá em baixo, no vale, junto à ribeira.
Ao entardecer, o sol dourava todas as coisas, as crianças e a Senhora do Monte, sentados em círculo, no chão ou em banquinhos de pedra. Como por magia, todos se sentiam parte da história que ouviam e “viviam”. Uma vez por outra, uma vozinha interrompia com uma pergunta, ou um risinho, e a história prosseguia. Depois, quando o sol começava a querer esconder-se, do outro lado, para dar lugar à noite, os meninos e as meninas desciam até ao vale e iam para casa. Pelo caminho, conversavam uns com os outros.
– O quê que tu achas que a Margarida irá vender às feiras? – perguntou alguém.
À noite, em casa, as crianças jantavam com as famílias que tinham...
– Então, Ana, gostaste da história que foste ouvir ao monte? – queria saber, às vezes, a mãe da menina.
– Gostei, é muito bonita! – respondia Ana, enquanto comia as batatas e o feijão.
– Essa Senhora do Monte é muito estranha, só vem cá no Verão, parece que nem tem família e, com uma idade daquelas... Depois, estar sempre a contar histórias, não deve fazer muito bem à cabecinha... – resmungava o pai de Ana, já com um copito a mais.
Ana só tinha sete anos, mas era a mais velha das seis meninas filhas do casal Raposo. As mais pequeninas, com um aninho e pouco, eram três gémeas idênticas, que davam muito trabalho à família. Ana ajudava a mãe, cuidando das meninas. Mas, quando podia, lembrava-se das histórias da Senhora do Monte... e sonhava...
Num sorriso e num brilhar de olhos, a Senhora do Monte contava:
Pois é, um dia, já Margarida era uma mulher, o avô disse-lhe:
– Chegou a altura de começares a trabalhar e de teres uma banca só tua. Já viste que o negócio das flores não nos dá grande lucro, por isso, peço-te que penses no que gostavas de vender nas feiras e nos mercados.
Margarida ficou, um dia e tal, aflita, sem saber o que poderia um dia vender.
Até que, a conversar com um amigo cigano, também filho de feirantes, surgiu a ideia:
– Oh Margarida, porque não vendes farturas e sonhos?!...
–Sonhos?????? – pensou Margarida em voz alta – É isso mesmo, serei vendedora de sonhos!!!...
Foi logo ao encontro do avô, entusiasmada:
– Avô! Avô! Vou vender sonhos às pessoas... Vou vendê-los baratinhos, mas tristonhas como andam, vais ver que até farão fila à entrada da minha banca!
– Sonhos, Margarida?!.... Ninguém tem falta desses doces fritos! Não sei porque te deu para aí!
– Avô Manel, não percebes?!... Não são sonhos para comer... São sonhos para sonhar!
- Hã?!... Quê???... Valha-me Deus, não estás boa da cabeça!
– Ainda não reparaste que as pessoas andam de olhos baços, postos no chão?!... Que se enchem de preocupações: o trabalho, as contas para pagar, os filhos, as compras supérfluas, para esconder a tristeza?! Pois eu acho que precisam de sonhar... Como quando eram crianças e faziam viagens em dragões voadores, e conheciam fadas e duendes da floresta, e salvavam o mundo, e criavam personagens imaginárias para lhes fazerem companhia!
- Hummm.... Talvez! Mas como vais tu vender sonhos às pessoas?
– É simples. Basta dizerem-me com o que querem sonhar e eu começo a contar-lhes o seu próprio sonho... Como uma história! Vais ver que tenho jeito.
– Está bem, vamos experimentar! Agora, na banca das flores, também venderemos sonhos. Se
resultar, terás a tua própria banca!
Calmamente, a Senhora do Monte fechou o livro, distribuiu leite e bolachas com mel por todos, e as vozinhas doces das crianças juntaram-se, em confusão de perguntas e respostas. As conversas misturaram-se com o vento, cruzaram-se com o chilrear dos pássaros que esvoaçavam para as árvores, onde iam descansar nessa noite.
Os olhos escuros e grandes de Ana olhavam atentamente para a Senhora do Monte e redescobriam nela “A contadora de sonhos”.
O Chico fazia mais uma das suas traquinices e rebolava pela terra, aos murros carinhosos, com o seu amigo de luta, Pedro. Tinham os dois tanta energia, que só mesmo as histórias da Senhora do Monte os deixavam algum tempo, enquanto durassem, sossegados!... Ana pegou pela mão a irmã de seis anos e lá foram, descendo o monte, saltitando e rindo.
Ao contrário de Ana, que só tinha irmãs, o Chico só tinha irmãos. Eram quatro rapazes que viviam todos com o pai. Talvez porque o Chico e a mãe se vissem raras vezes, ele tinha por ela um carinho muito especial e desmedido. Nem em dias de calor, como aqueles, largava o cachecol que esta lhe tinha feito. Parecia ser uma espécie de talismã. Também ele gostava das histórias da Senhora do Monte, mas nunca o dizia a ninguém, aparecia sorrateiro ou às lutas com os companheiros e ia, de olhar tímido e baixo. Mas à noite, debaixo dos lençóis, fechava os olhos ...e sonhava...
Uma manhã, quando acordou, comeu, à pressa, o pão com manteiga e saiu a correr... Tinha combinado ir com o Pedro nadar à ribeira. Nas férias, as crianças iam muitas vezes até à ribeira, quase sempre sozinhas ou com outras crianças mais velhas.
A maioria dos pais trabalhava e os miúdos ficavam por sua conta ou sob vigilância de algum avô, ou avó, ou tios... Só os pais de Pedro já estavam reformados. Até já eram avós! E ficavam a tomar conta do filho, das netinhas e de um ou outro coleguinha que aparecesse.
Depois de terem nadado no rio e capturado insectos e pequenos répteis, os dois amigos foram almoçar a casa dos pais de Pedro, que apesar da pouca paciência, tinham sempre uma sopa quente. A pedido dos velhotes, levaram ao campo meia dúzia de ovelhas que o casal possuía. Com eles, ia o cachorrinho Leão, peludo e sujo, que estava sempre de olho no reduzido rebanho. O Pedro era um menino risonho e traquina, que adorava trepar às árvores, puxar a lã às ovelhas, atirar pedras aos meninos que não gostava. Às vezes, os seus olhinhos contemplavam o horizonte e parecia-lhe ouvir a voz da amiga do monte... e então, o Pedro...sonhava...
Mas, nesse dia, o Pedro nem teve tempo de começar a sonhar, porque quem lhes dava as boas tardes, e estava mesmo ali à sua frente, era a Senhora do Monte.
– Então meninos, não sabia que guardavam ovelhas!...
– Guardamos ovelhas só às vezes, quando o meu pai está cansado! – exclamou, com um sorriso maroto, o Pedro.
– E vocês gostam?! – perguntou a Senhora.
– Sim, podemos passear e ninguém manda em nós! – explicou o Chico, com os olhinhos espertos, mas tímidos.
– Nós é que mandamos nas ovelhas! – riu-se o Pedro.
Ficaram algum tempo a falar do trabalho dos pastores, da casmurrice de algumas ovelhas e de outros pormenores, até que o Chico olhou intrigado para a Senhora e perguntou-lhe:
– E tu? Que fazes aqui?
– Eu?!... Olha, Chico, vim apanhar flores para pôr numa jarra. Gosto muito das flores do campo! Aqui, no vale, há flores com cores tão bonitas!...Observa esta!
– É lilás! – afirmou o Chico.
– Não é nada, é roxa!!... Não é, Senhora do Monte?!
– A mim, parece-me púrpura ...como o céu ao entardecer!
– Vieste apanhar flores, como na história da Margarida! – lembrou o Pedro.
– É verdade. E não as vendo no mercado, mas encho a minha casa com as suas cores...
– A tua casa parece um arco-íris. – disse, sorrindo, o Chico.
E riram os três.
– Tu não tens família?
– Tenho, Pedro, tenho filhos já crescidos que, agora, têm a sua própria vida!... Por isso não vêm comigo nas férias!...E também tenho uma neta que se chama Maria, que é muito meiguinha e gosta de histórias...como vocês!
– Porque não trouxeste a Maria contigo?
– Porque a Maria só tem dois anos, prefere ficar com os pais.
– E o teu marido?
– São muito curiosos, vocês!...Sabes, Chico, o meu marido é marinheiro, passa muito tempo a navegar ...Agora está lá para os mares do Norte.
– Ele vê baleias e golfinhos? – interrogou, atento, o Chico.
– Claro que sim. Diz que são muito bonitos e simpáticos.
– Eu quero ser tratador de golfinhos!
– E tu, Pedro? O que queres ser?!
– Bombeiro!
– Gostava de saber por que nunca falaste da tua vida antes. – indagou o Chico.
– Porque nunca me tinham perguntado. E porque gosto de vos contar histórias... Porque nas histórias que vos conto, também está um pouquinho da minha vida e das vossas!... Porque as histórias têm magia e vocês conhecem-me através delas... O som da minha voz, o meu sorriso, o meu amor, não é bom?
– Sim. – responderam os dois em simultâneo.
Nesse dia, a Senhora do Monte acompanhou os meninos até à casa dos pais de Pedro e foi com eles deixar as ovelhas no curral. Depois, subiram juntos o monte e, ao chegarem lá ao cimo, encontraram-se com mais sete crianças, que esperavam a continuação da história da vendedora de sonhos. A Senhora do Monte abriu o livro, mais uma vez, e as suas vidas voltaram a ser vividas no mundo de Margarida.
Margarida acordou cedo, vestiu-se bonita, fez duas tranças grandes no seu cabelo ruivo e, sorridente, encaminhou-se para o mercado. Começou a enfeitar a banca com conchas, missangas coloridas, desenhos, pedras semi-preciosas e outros pequenos tesouros que possuía.
Quando a avó chegou com as flores, já se lia num bonito cartaz, feito à mão “VENDEM-SE SONHOS”. A avó olhou admirada para a decoração e começou a colocar as suas flores para vender.
Logo apareceu o senhor Fausto, que trabalhava numa fábrica ali na Trofa e, todos os dias, levava uma rosa vermelha à sua colega Rosa Maria, por quem se dizia apaixonado.
– Bom dia, minhas meninas!
- Bom dia, senhor Fausto, então a dona Rosa já se enamorou de si? – perguntou a avó.
- Ai a Rosinha...eu sei que ela gosta de mim, mas a viúva não se quer juntar de novo! Diz-me que é mulher de um homem só. Qualquer dia desisto de lhe fazer a corte!... Mas ainda não é hoje, levo esta flor para lhe oferecer.
– Leve também um sonho para si. Ainda tem uns minutos?!
Pois é, o senhor Fausto foi o primeiro comprador de sonhos da Margarida. Pediu-lhe um com muitos beijos da Rosinha, com passeios à beira rio e sonhou o Amor. Foi um sonho de cinco minutos, que o homem tinha de ir trabalhar .... Mas valeu-lhe um começar do dia mais sorridente e mais esperançoso.
Depois dele, muitos se seguiram...uns sonhavam poder voar, outros ficar ricos, outros ter muitos filhos, outros conhecer o mundo todo... havia sonhos para todos os gostos, e sem desgostos!
– Eu queria conhecer uma terra cheia de calor e sol...
– Margarida, hoje faz-me voar com asas de algodão.
– Era bom que o meu vinho fosse o melhor do ano. O melhor da Trofa!
E por aí fora, seguiam-se muitos sonhos, mais possíveis ou mais impossíveis!... Margarida deixava todos com um pé na terra e outro voando em busca de ilusões.
A banca das flores vendia sonhos e Margarida sentia-se satisfeita com o seu trabalho.
Um dia, o senhor Fausto deixou de comprar sonhos “cor de rosa” a Margarida, pois que a dona Rosa da fábrica resolvera juntar os trapinhos com ele. A partir daí, todas as manhãs, aparecia ele lustroso e sorridente, para comprar uma rosa flor à Rosa mulher.
– E que sonho tinha a Margarida? – perguntou a Ana.
– Pois é, Ana, a Margarida também tinha um sonho...
Queria navegar, ir por esse mar, ver golfinhos a saltar.
Com o tempo, conseguiu ter a sua própria banca, onde até um sofá de veludo havia, para que as pessoas descansassem, enquanto sonhavam. Margarida sentia que tinha este trabalho por herança, porque o destino de todos, na sua família, era vender nas feiras.
Claro que Margarida gostava de vender magia, era amor que dava às pessoas e o trabalho tornava-se muito criativo. Porém, o sonho de Margarida era ser marinheira. Desde pequenina que queria estar em alto mar e deliciava-se com as aventuras de Cousteau e as histórias de Moby Dick. Embora vendesse sonhos às pessoas, Margarida não acreditava na realização do seu próprio sonho. Até ao dia em que apareceu, na banca dos sonhos, um jovem simpático, com a pele bronzeada e sorridente, que sonhava levar Margarida no seu veleiro, a conhecer a calmar
ia e a tempestade dos Oceanos.
De repente levantou-se um vento forte no monte e, dos céus, desceu uma nuvem que parecia um barquinho . A Senhora do Monte entregou o Grande Livro de Estórias a Ana e subiu para a nuvem azul, acenando com a mão. E subiu, subiu, subiu... e os meninos e as meninas perderam-na de vista, como quando os balões sobem tão alto que deixam de ser um pontinho lá em cima. Do céu caíram minúsculas gotas de água, com sabor a sal. Não sei se chuva, não sei se mar ...Talvez minúsculas sementes de amor e saudade, caindo dos olhos da Senhora do Monte.
As crianças entreolharam-se espantadas!... Estariam a sonhar?!...
– Cá para mim a Senhora do Monte foi de boleia num sonho azul! – exclamou o Pedro, rindo.
– Ah!!!... Se contamos isto a alguém, não acreditam em nós! – garantiu o Chico.
– Pouco importa, fica um segredo... dizemos que a Senhora se foi embora e nos deixou o livro... – sugeriu a Ana.
– E até que é verdade. – concordou o Chico.
– Acho que ela era bruxa, ou fada, ou qualquer coisa assim... De tanto ler histórias, parece que se tornou personagem de uma.
– Vejam, a Senhora do Monte deixou-nos uma mensagem no livro!
E a Ana leu:
“Não se esqueçam que sonhar faz parte de nós, como a realidade, e que, às vezes, os sonhos e a realidade se misturam. Nos sonhos está sempre um pouco da nossa realidade, tal como, no dia a dia, também estão os nossos sonhos. Quando lês uma história, descobres um mundo novo que existe, que te é dado a conhecer, escrito no papel, e do qual passas a fazer parte. Também as nossas vidas são belas histórias, que nós próprios temos o poder de transformar, consoante os nossos desejos e os nossos sonhos”. A partir desse dia as crianças continuaram a encontrar-se na casa “abandonada” do monte e a contar histórias ao entardecer.
A Ana tornou-se escritora, o Pedro... bombeiro, e o Chico, treinador de golfinhos.

Conto infantil/juvenil de Dinamene Ribeiro de Sousa

quinta-feira, abril 17, 2008

O menino negro - texto escrito por mim nos anos 70 e guardado num rascunho de folha de bloco!


Chove!

Os pingos de água caem na tua carita negra que sorri ao vento. Pisas o chão que é tão teu, e consegues senti-lo com os teus deditos nus e magoados.

És o garoto do bairro de lata, da miséria, do sofrimento.

Tens as mãos cheias de nada!

O dia está cinzento, feio, e cobre de bolor e solidão a tua casa de lata. Mas... tu sorris com inocência perante um presente cruel e devastador que dia a dia corrói a tua esperança.

Mas... não desistas, menino negro! Continua a sorrir e conseguirás vencer.Então os teus deditos não tornarão a pisar o chão frio que os enregela!

Lamentos amargos de uma solidão roída pelo tempo, tal parede, bloco que separa o jardim de jasmim aberto à vida!
maria eduarda

quarta-feira, abril 16, 2008

"Já escrevi isto amanhã" de António Lobo Antunes

Escrevo esta crónica num caderno pautado, eu que nunca escrevo em papel pautado porque me lembra a escola, e volto a ter uma caligrafia infantil.
Era uma escola pequena, a minha, com um professor tirânico que puxava pêlos do nariz: ramal da Beira Baixa, afluentes da margem esquerda do Tejo, o nome predicativo do sujeito.
- Diz o nome predicativo do sujeito, idiota
e nós lá gaguejávamos o nome predicativo do sujeito, cheios de dúvidas, a hesitar. O professor escolhia um pêlo, desprezando-nos
- Nunca hás-de ser ninguém na vida e o facto do nome predicativo do sujeito me impedir de ser alguém na vida preocupava-me. Que raio de importância tão grande o nome predicativo do sujeito tem? Ou o ramal da Beira Baixa? Ou os afluentes da margem esquerda do Tejo? Meu Deus a quantidade de coisas que existem entre mim e o meu futuro. Outras frustrações: não usar óculos, nunca ter partido uma perna.
Aparelho para os dentes sim, o que me compensava um bocadinho.
E uma funda para a hérnia, mas isso era um adereço invisível, sobretudo comparado com uma perna em gesso, com os dedos do pé de fora, de unhas sujas de branco. E canadianas, que sorte. E coxear, que felicidade. E a maravilha de poder dar com elas num rabo a jeito. E autografarem-me o gesso. Olha, uma mosca pequenina agora, à volta da minha mão. Igual às grandes mas minúscula. Poisada na caneca. Poisada no tampo. Poisada na manga do blusão.
O mapa ao lado do quadro, com os países de cores diferentes. A Alemanha amarela, a Noruega roxa. Portugal não me recordo. Uma bolinha com um ponto ao centro em Lisboa, uma bolinha menor, com um ponto também ao centro, no Porto. O mar azul. Ilhas e ilhas: os Açores, Madagáscar.
A Indonésia dúzias. O professor
Estás a olhar para ontem, idiota?
E é verdade, estou a olhar para ontem, sempre olhei para ontem. Até o amanhã é ontem às vezes. Charlie Parker interrompeu uma vez uma gravação, atirando com o saxofone, a gritar Já toquei isto amanhã e ninguém foi capaz de convencê-lo a continuar. Como eu o compreendo, como às vezes sinto Já escrevi isto amanhã e rasgo tudo. Um trabalho difícil, quase tão difícil como viver. Acho que não sei viver. Acho que não sei viver? Acho que não sei viver como os outros vivem. Que dias os meus, repletos de surpresas, de mistérios. De espantos.
Sou um saloio: não há montra de loja que não me encante, sobretudo as lojinhas minúsculas de certos bairros, mercearias, roupas, brinquedos.
Apetece-me logo comprar vassouras, aipo, um macaco de corda, a camisa mais feia que descobrir na montra. A beleza das coisas feias fascina-me. O seu ar de desamparo, coitadas. A cinquenta metros da casa dos meus pais existia um estabelecimento de vestidos e artigos correlativos chamado Marijú. O Paraíso deve ser no género da Marijú, com empregadas a cheirarem bem que me faziam cócegas na alma. Não se calcula o que a Marijú alegrou a minha infância. A Marijú, do meu ponto de vista, era o centro do quarteirão. Para indignação minha a minha mãe considerava a Marijú o supra-sumo do horrível, a ignorante. Em matéria de gosto os meus pais, aliás, deixavam imenso a desejar: detestavam quadros com gatinhos a saírem de botas velhas, palhaços de porcelana a chorarem, dálmatas cromados em tamanho natural. Onde se viu tanta cegueira? Serras do sistema galaico-duriense: Peneda, Soajo, Gerez, Larouco, Falperra, etc. Ficou tudo na minha cabeça graças ao medo do professor, conhecimentos utilíssimos, até ele apreciava a Marijú: tenho de concordar que em espírito artístico superava os meus pais. O problema era o nome predicativo do sujeito. Sem o nome predicativo do sujeito a minha infância teria sido perfeita. Pretéritos, pronomes, tabuada. E os olhos de Charlie Parker tristíssimos nas fotografias. Escrever como ele toca. Vá, António, levanta-te do papel com as palavras: quem disse que não eras capaz, és capaz, levanta-te do papel com as palavras. Fecha os olhos e elas saem sozinhas. As palavras são notas, repara. Não penses em nada, abandona-te. O mundo inteiro está dentro de ti. Anteontem almoçaste com os teus camaradas.
Faltava o Zé
(duas fotografias dele à minha frente)
estamos amputados do Zé, mas que milagre de sintonia entre nós desde os confins de Angola. Que nenhum de vocês se atreva a morrer como o Zé, ouviram? Primeiro mato-vos outra vez e a seguir ralho-vos. Não quero ficar mais pobre ainda. O Zé fardado de coronel na participação do jornal, com versos de Goethe por baixo. A propósito: nunca falamos de Goethe, pois não?
A Marijú. O ramal da Beira Baixa. A primeira vez que vi uma mulher nua e me apeteceu ajoelhar: não tocar-lhe, não beijá-la, ajoelhar apenas. E ficar que tempos assim.
O único milagre que conheço. O professor
- Estás a olhar para ontem?
e estou de facto. Neste preciso momento, senhor professor, só me apetece olhar para ontem.
António Lobo Antunes

domingo, abril 13, 2008

A leitura do meu sobrinho Guilherme


Espero que os pais do Guilherme o incentivem sempre para a necessidade da leitura, principalmente porque ele pertence à geração do "boom" das novas tecnologias.
maria eduarda

sexta-feira, abril 11, 2008

Fernando Pessoa, SEMPRE!!!

Passar a limpo a Matéria
Repor no seu lugar as cousas que os homens desarrumaram
Por não perceberem para que serviam
Endireitar, como uma boa dona de casa da Realidade,
As cortinas nas janelas da Sensação
e os capachos às portas da Percepção
Varrer os quartos da Observação
E limpar o pó das ideias simples...
Eis a minha vida, verso a verso.

O que vale a minha vida? No fim (não sei que fim)
Um diz: ganhei trezentos contos,
Outro diz: tive três mil dias de glória,
Outro diz: estive bem com a minha consciência e isso é bastante...
E eu, se lá aparecerem e me perguntarem o que fiz,
Direi: olhei para as cousas e mais nada.
E por isso trago aqui o Universo dentro da algibeira.
E se Deus me perguntar: e o que viste tu nas cousas?
Respondo: apenas as cousas...Tu não puseste lá mais nada.
E Deus, que é da mesma opinião, fará de mim uma nova espécie de santo.

Medo da morte?
Acordarei de outra maneira,
Talvez corpo, talvez continuidade, talvez renovado,
Mas acordarei.
Se até os átomos não dormem, por que hei-de ser eu só a dormir?
Então os meus versos têm sentido e o Universo não há-de ter sentido?
Em que geometria é que a parte excede o todo?
Em que biologia é que o volume dos orgãos
Tem mais vida que o corpo?

Alberto Caeiro

(Poema inédito de Fernando Pessoa, até Outubro de 2001. Descobri-o na "Visão")

Obrigada

Querida Maria Eduarda
Agradeço o convite. Sabes que adoro ler e que contribuirei, sempre que puder, para que este blog, que criaste, seja útil e fonte de saber para quem quiser "espreitar". Acredito que nos vai dar muito gozo e ocupar, também, algumas horas, mas acho que vai valer a pena.
Quando assino Solange Maria, é só para ti, porque me tratas assim e eu gosto!!!
Um abraço,

Solange

quarta-feira, abril 09, 2008

Prémio Nobel da Literatura 2007


Doris Lessing, escritora britânica ganhou este prémio. A Academia Sueca aponta como razão determinante, a existência na sua obra, de características que fazem dela "a contadora épica da experiência feminina.
"The golden notebook" de 1962, a sua obra-prima, conta a história de uma escritora de sucesso em forma de diário íntimo.
Doris Lessing é a 11ª mulher a ganhar este galardão, nos seus 89 anos de vida!

Uma colaboradora preciosa




Convidei a minha amiga Solange a ser colaboradora deste blogue e ela aceitou.


Conhecemo-nos há muitos anos, somos ambas oriundas de Angola, temos a mesma profissão e sentimos um grande prazer em ler e dar a conhecer novas leituras...
Vamos tentar criar aqui um espaço de aprendizagens.

maria eduarda


segunda-feira, abril 07, 2008

Ler sempre


Porque a leitura não satisfaz plenamente,num momento, mas vai satisfazendo, daí a necessidade de não parar de ler, de ir além de nós próprios. É preciso cada vez mais abrir horizontes, saber mais, sempre mais.

O leitor apaixonado, na leitura encontra um dos seus prazeres.
maria eduarda