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sábado, abril 10, 2010

Laços

Já me despedi de pessoas muito queridas, de lugares que julgava de mim inseparáveis, de cumplicidades inquestionáveis.
Os meus braços continuam a abarcar o que deixei, o que me foi retirado. Impossibilitada estou de baixar os braços, porque desse modo é como se desistisse do aconchego do laço, fizesse deslizar por mim a ternura com que os relembro. Neste afago persisto, insisto e resisto.
maria eduarda

segunda-feira, junho 15, 2009

Alado


Reparei que os filhos trazem coladas, talvez desde crianças, umas asas incolores. Digo isto porque eu não as vejo, mas existem na certa.
Um dia eles aprendem a voar, e partem, saem do ninho que lhes construímos e mimámos, mas partem...
E eu fico a pensar nas tais asas, que nunca vi, mas que sei existirem.
Como voariam sem a sua ajuda? E devem ser grandes, agora, poderosas, do tamanho do seu crescimento!

E hoje, o meu filho voltou a voar, porque este ninho, este aconchego, é temporário, já é nómada nele.

Voou rápido, porque em segundos, deixei de o avistar, mas também em segundos, o vazio instalou-se em mim, e no ninho que lhe criei.

E sinto cá dentro uma ferida, que só eu sei que existe, que me dói. Também sei que esta ferida vai fechando lentamente, porque o vi voar seguro e feliz.

Já tentei fotografar essas asas, mas encontram-se dentro dele, e só se abrem na altura certa, no momento da despedida, do adeus, do até breve.
E eu fiquei a vê-lo, ao longe, já um pontinho... mas asseguro-vos, era o meu filho, era ele que voava...

maria eduarda

terça-feira, dezembro 02, 2008

Escrevo hoje, não o farei dia 11!

Pai,
Parece-me que foi ontem! E eu, que não aprecio frases feitas, mas esta é real, ou talvez não.
Parece-me que não foi ontem, nem nunca. Parece-me que estás aí, em tua casa ou nos teus Bombeiros.
Pois, parece-me!
Afinal, realmente, não estás!
Partiste, e eu fico sem saber para onde foste. É sempre assim, vão para longe ou perto e nada nos dizem!
Porque não queres?
Porque não podes?
Porque sim?
Porque não?
Dizem-me, a vida é mesmo assim. Assim como? A acabar assim? Será que é o fim?
Pois é, meu querido Pai, se eu tinha tantas dúvidas, desde que partiste, mais dúvidas tenho.
Dizem que toda a gente é substituível, e isso, sei-o, é mentira. Podem ser substituídos no emprego, por exemplo, mas mesmo assim há especificidade em cada ser humano que faz dele um ser único no Mundo.
Mas olha, continuo a sentir saudades de ouvir a tua voz, de ver o teu sorriso, e de ouvir uma frase dita inúmeras vezes por ti, durante o ano de 2007: "-Olá filha!"
Só não gostei que não te tivesses queixado, declarado guerra ao Mundo, à vida, a tudo.
Mas tu és mesmo assim, pacífico, humano, tolerante. Sempre encaraste os revezes que te apareceram ao longo da vida, e lutaste sempre!
Estás em falta!
Rendeste-te no final, pela primeira vez não foste capaz de lutar, e abdicaste.O Mundo estava a ruir em cima de ti, e já era difícil reconstruí-lo.
Por tudo isto Pai, és insubstituível, agora e sempre! E já agora, olha Pai, quero dizer-te também, agora e sempre:

"Olá Pai!"

maria eduarda

domingo, maio 11, 2008

Ao meu Pai - um Comandante na Vida!

Dedico ao Homem determinado, corajoso e destemido perante a vida, que partiu, faz hoje cinco meses, esta singela Homenagem.
Desde miúda que me lembro do meu Pai, garboso, dentro da sua farda de Comandante dos Bombeiros Voluntários. Sempre preocupado em servir, em ajudar os outros, sempre pronto!
Lembro-me de um Homem muito trabalhador, preocupado com o conforto da sua família, um Homem lutador, um Comandante na vida, sempre!!!
Refiro-me a um Comandante que foi capaz de decidir o caminho a seguir e ir sempre em frente, sem medo, com muita convicção. Um Homem que lutou até ao último instante da sua vida, sempre com vontade de viver!

O meu Pai dizia sempre esta frase: "É tão bom viver!", e mesmo já doente, quando eu lhe perguntava: "Então, Pai?", ele respondia pronto :"Cá estamos, filha!". E eu ficava triste, amargurada, porque sentia que ele lutava, enfrentava a vida, mas aos poucos, esta virava-lhe as costas
Mas ele continuava, firme, sempre com vontade de partilhar connosco o mesmo caminho!
Foi assim, durante muitos meses, o meu Pai a agarrar os minutos, as horas, os dias, e o tempo a fugir-lhe, um bocadinho de cada vez...
Mesmo perto do fim, o meu Pai olhou para nós, e falou, falou, falou, mas a voz já enfraquecida, não soou, e ficámos sem saber o que ele nos quis dizer... Penso que nos quis sossegar, porque ele preocupava-se connosco. Porque sabia que não estava sozinho e que o carinho, a ternura com que o envolvíamos, era imensa.
Este Comandante nunca se queixou, nunca se lastimou, esteve sempre firme, sempre corajoso, até ao fim!
Aprendemos muito com ele, porque nos fez passar a vivência de um Homem honesto, trabalhador, lutador e vitorioso na VIDA!

Lamento profundamente, até chego a sentir revolta, a agonia em que viveu durante meses, o sofrimento pelo qual passou sem se queixar, sem dramatizar.
O meu Pai sempre foi um homem de carácter, apaixonado pela Vida, só partiu, porque o cansaço começou a apoderar-se dele , porque as armas que tinha para lutar , eram-lhe roubadas, aos poucos, todos os dias, e ele capitulava ... Como lutar, então?
A saudade é imensa e será sempre, até ao fim das nossas vidas!

Eduardinha (era assim que o meu Pai me chamava)

sexta-feira, maio 09, 2008

À minha Mãe - a doce Judith!

A ela, à mãe que partiu muito cedo, para um lugar desconhecido, quando os filhos ainda aprendiam a caminhar sozinhos!
Os anos vão passando, e já são muitos, mas a memória é de ontem e dolorosa!
Parece incrível, depois destes anos todos, ser possível ainda sentir tanta saudade da doce mãe!
Não há dia nenhum, e já lá vão 36 anos, que me esqueça que ela é a mãe que eu sempre quis ter! Não há dia nenhum que eu não sinta a falta dela! Não há dia nenhum em que, quando me olho no espelho, não a consiga rever, num sorriso, num esgar, num olhar!

Minha doce mãe ! Nunca deu um sinal, por mais pequeno que fosse, para eu acreditar nalguma coisa depois da morte, NADA, nem um indício de nada...
Ela foi uma mãe exemplar, sempre atenta à família, muitas vezes esquecendo-se dela própria, muitas vezes! Mas era assim que a doce Judith gostava de viver, para o marido e para os filhos, e foi assim que ela viveu, enquanto teve força e ânimo!

E já doente, nunca se queixou, nunca se lastimou, a doce Judith só se preocupava em saber se estava tudo bem, e perguntava:" Eduardinha, como estão as coisas em casa, está tudo bem?"
E é assim que eu a revejo, doce, bela, com os seus olhos azuis, de um azul suave, brilhante, e é assim que me lembro de Angola, do Lubango, onde ela ficou, na terra que a viu nascer e onde ela foi feliz!
Continuo a sentir por ela tanta ternura, que muitas vezes parece que o peito rebenta com falta de espaço para abarcar tanto afecto! Mas há sempre espaço, quando se gosta muito de alguém ,e agora, nesse espaço, está também o meu pai, abafado em ternura.


Vamos em frente, porque eu sei que, se por acaso a minha doce mãe estiver algures por aí, gostaria de nos ver felizes, os seus filhos e os seus netos, que nunca conheceu.

Eduardinha (era assim que a minha Mãe me chamava)